"Alfa" é ambientado na Era Glacial europeia, 20.000 anos atrás. Sua história, embora convencional, começa com rituais que abordam o amadurecimento e a transição de um jovem para a fase adulta.
O que importa no filme vem depois dessa prática tribal, quando o garoto, dado como morto, sobrevive a uma queda de penhasco. No intuito de retornar a sua tribo, ele inicia uma jornada de aprendizado e sobrevivência em meio a uma natureza hostil. Para isso, ele conta com a presença de um lobo ferido com quem passa a se relacionar. Começa, aí, uma bela amizade entre esse animal e o homem, uma menção aos primórdios da domesticação canina e a interação de sentimentos entre os seres.
"Alfa" impressiona por sua estética. Arrisco a dizer que está entre os longas mais bonitos de 2018. Há belíssimas cenas em câmera lenta, uma reconstituição de época realista e convincente, bons efeitos visuais e paisagens espetaculares que merecem ser emolduradas.
A direção de Albert Hughes ("O Livro de Eli") é impecável ao contemplar a plasticidade e o suspense, porém peca pela desarmonia entre o frágil roteiro e a dramaticidade de cena. Há uma carência de elipses em alguns momentos e isso prejudica a construção da emoção que merecia ser mais genuína.
Ainda que o terceiro ato seja previsível, há um detalhe que pode surpreender o público. No geral, é um bom 'filme família'.
Em tempos de filmes de ação genéricos, “O Protetor” (2014), baseado na série televisiva estadunidense de sucesso nos anos 80 “The Equalizer”, remou contra a corrente e entregou tramas amarradinhas, situações bem desenvolvidas e impactantes cenas de pancadaria. A direção impecável e estilosa de Antoine Fuqua e o protagonista ‘badass’ vivido pelo sempre carismático Denzel Washington contribuíram para contagiar e surpreender o público. Com o bom resultado nas bilheterias (custou US$ 55 milhões, faturou mundialmente US$ 192 milhões - US$ 101 milhões apenas nos EUA), era inevitável que surgisse uma sequência.
Em “O Protetor 2”, a narrativa mostra o dia-a-dia do emblemático Robert McCall (Washington), um metódico ex-oficial das forças especiais norte-americanas que pratica pequenas ‘ações humanitárias’. Ele ‘compra’ as dores de vítimas de alguma situação trágica e as vinga de maneira silenciosa. O problema começa quando sua ex-chefe e melhor amiga é assassinada. Para vingá-la, ele decide investigar sua morte e exterminar os culpados.
O que poderia ter sido melhor em “O Protetor 2” é o roteiro. Embora revele algumas novidades do protagonista sem tirar o ar enigmático do mesmo, há furos na história que podem incomodar aos mais atentos, principalmente por não desenvolver os antagonistas e suas motivações como deveriam. Sem uma base sólida para os vilões, as ações ficam mais genéricas e menos nobres.
Entretanto, a manutenção de Antoine Fuqua na direção é benéfica. O estilo, a ideologia e as qualidades técnicas e visuais implantados no antecessor são preservados, tais como ritmo cadenciado, o senso de ética e justiça (radical) do personagem principal, algumas câmeras lentas que valorizam a dramaticidade das cenas, as excelentes coreografias nas lutas e boas doses de tensão e sanguinolência. Destaque para uma sequência de uma briga dentro de um carro e do tenso clímax com requintes de bangue-bangue.
O único deslize de Fuqua, no entanto, foi a utilização tímida da trilha sonora. Isso era uma assinatura no filme anterior que enaltecia a essência ‘badass’ de Robert McCall. Aqui, há uma carência da música-tema para tornar as cenas mais empolgantes. Apesar disso, “O Protetor 2” vale como um bom entretenimento.
A regra de que uma continuação deve ser maior e melhor que a antecessora é seguida quase à risca pela franquia “Missão: Impossível”. O quesito 'melhor' pode até não fazer jus à cartilha, isso depende da opinião de cada um, mas não podemos negar que a cada filme lançado as missões encaradas pelo agente Ethan Hunt, protagonizado pelo incansável Tom Cruise, ficam absurdamente mais perigosas.
Este sexto longa, “Missão: Impossível - Efeito Fallout”, quebra alguns paradigmas da cinessérie ao repetir o diretor (Christopher McQuarrie - as cinco primeiras produções foram dirigidas por cineastas diferentes), ao reutilizar protagonista feminina (Rebecca Ferguson), ao reprisar o antagonista e, também, ao dar continuidade aos eventos da narrativa anterior. Falando nisso, a trama coloca Hunt no meio de uma disputa entre agências nacionais de espionagem, CIA (representada pela figura de Henry Cavil) e IMF, que precisam lidar com uma ameaça nuclear ligada ao grupo terrorista Apóstolos, entidade liderada pelo vilão, já preso, Solomon Lane (Sean Harris).
Ainda que o roteiro não seja lá uma maravilha, o legal de “Missão: Impossível” é a organização e a ousadia de tentar entregar situações novas e bem realizadas. Pelo menos, alguma coisa deve impressionar o espectador, seja pelas eficientes reviravoltas ou pelas invasões em locais ultra seguros e aparentemente impenetráveis ou com o perigo extremo em grandes altitudes. Lutas bem coreografadas, perseguições (embora repetitivas) de tirar o fôlego e referências aos outros longas também estão presentes.
Assim como na quinta parte “Nação Secreta”, Christopher McQuarrie demonstra segurança e competência na direção ao imprimir ritmo dinâmico e ao entregar longas sequências de ação de qualidade. Ele trabalha bem o posicionamento de câmeras, há poucos cortes e a geografia das cenas é sempre nítida. Além disso, o mise-en-scène é impecável, principalmente ao trabalhar diversos planos e movimentos para criar profundidade (favorecendo o 3D) e tensão.
Outro ponto positivo é o trabalho de som com inserções pontuais da trilha sonora e dos efeitos sonoros. Nas cenas de ação, por exemplo, há ausência de música e muita sonoplastia. Isso ajuda a prender a atenção do espectador.
Tudo isso acontece devido ao comprometimento de Tom Cruise, o ‘dono de toda a brincadeira’. E ele faz diferença, não por sua atuação dramática (que é OK), mas por sua participação ativa na maioria das cenas de perigo sem precisar de dublês. Isso proporciona verossimilhança nas sequências de ação e contribui para que as situações exageradas se tornam aceitáveis, realistas e divertidas de se ver.
Enfim, “Missão: Impossível - Efeito Fallout” cumpre o que promete. Não é nada memorável, mas é o entretenimento descompromissado perfeito para quem procura uma boa aventura.
É importante informar que a narrativa de “Homem-Formiga e a Vespa” não faz referências aos eventos de “Vingadores: Guerra Infinita”. A única ligação entre os filmes se resume, apenas, a uma cena entre os créditos finais que, diga-se de passagem, é uma das melhores pontes sobre uma futura produção no Universo Cinematográfico da Marvel (MCU). Portanto, esqueça Thanos e se divirta com uma deliciosa comédia de ação que é tão boa quanto a original.
A narrativa mostra Scott Lang (novamente vivido por Paul Rudd) utilizando uma tornozeleira eletrônica e em prisão domiciliar devido aos acontecimentos de “Capitão América: Guerra Civil”. Ele é procurado pelos foragidos Hope van Dyne (Evangeline Lilly) e Hank Pym (Michael Douglas), que juntam esforços para criar uma conexão e uma forma de resgatar Janet van Dyne, perdida por décadas na dimensão quântica, aquela já visitada por Scott no clímax do longa anterior. No entanto, todos são ameaçados pela vilã Fantasma (Hannah John-Kamen), que precisa roubar uma tecnologia dentro do laboratório de Hank Pym para tentar se curar de uma anomalia que a faz desaparecer e aparecer de maneira incontrolável.
A tal dimensão quântica (ou reino quântico) pode ser ingressada quando se fica muito, mas muito pequeno. Com o tamanho microscópico de um ser, determinadas leis naturais não existem ou não se aplicam permitindo, assim, que quem estiver por lá tenha acesso a outras dimensões, ao vórtex temporal (viagens no tempo), a outras formas de energias e a manipulação de realidades. Até então, dentro da idealização cinematográfica da Marvel, somente dois heróis conseguem entrar nesse ‘universo’: o Homem-Formiga através da ciência e o Doutor Estranho por meio de magia.
“Homem-Formiga e a Vespa”, novamente dirigido por Peyton Reed, é o 20º filme do MCU inspirado nas histórias em quadrinhos criadas por Stan Lee, Jack Kirby e Larry Lieber. O longa é uma das produções mais divertidas de super-heróis. Há um excelente humor, seja visual, situacional ou easter eggs, que brinca com os tamanhos dos personagens e de objetos. Esta continuação ainda apresenta melhorias significativas em relação ao seu antecessor, como cenas de ação mais inventivas e efeitos, concepções e proporções de escalas mais aprimorados.
Se no filme anterior a narrativa trouxe uma atmosfera dos subgêneros de ‘assaltos’, aqui o estilo gato-e-rato impera por toda a projeção. Os protagonistas estão sempre em fuga, ou de bandidos que querem o laboratório de Hank Pym para faturarem alguma grana ou do FBI, que pretendem ‘cumprir a lei’. Esse corre-corre traz dinamismo e, aliado com a comicidade, ajuda a propiciar um clima mais leve e divertido ao longa.
O grande destaque é Evangeline Lilly que interpreta a Vespa, a primeira protagonista feminina no MCU. Ela tem bom tempo de tela, sua participação na trama é bastante relevante e, claro, possui uma veia ‘bad ass’ que a faz ser mais imponente que o próprio Homem-Formiga. Dentre os coadjuvantes, ainda que o ótimo Michael Douglas tenha, também, uma presença maior, quem rouba a cena é o divertido Michael Peña. Ele demonstra ainda mais irreverência e carisma ao interpretar Luis, o amigo trambiqueiro de Scott Lang. Há, ainda, a figura de Laurence Fishburne que desempenha o papel de Golias, um importante personagem que tenta ajudar a Fantasma.
Apesar de o trailer ‘entregar demais’ e de alguns detalhes narrativos merecessem explicações mais consistentes, talvez possam ser melhores esclarecidos em um terceiro filme ou na quarta parte de “Vingadores”, “Homem-Formiga e a Vespa” é uma das boas aventuras do ano e entretém na medida certa.
Obs.: “Homem-Formiga e a Vespa” funciona perfeitamente sozinho, mas é inevitável não pensar em “Vingadores: Guerra Infinita”. A falta de referência aos eventos catastróficos de Thanos pode causar estranheza. Se o filme fosse lançado pouco antes do terceiro “Vingadores”, essa sensação de que 'todos desconhecem a tal ameaça extraterrestre' não existiria. Para que a aventura funcione sem frustrações, é preciso deixar de lado a “Guerra Infinita”.
Finalmente! Após hiato de 14 anos, a Disney/Pixar nos entrega a tão esperada continuação de “Os Incríveis” (2004) que ainda é, diga-se de passagem, uma das melhores produções de super-herói sem pertencer ao 'eixo' Marvel/DC Comics. “Os Incríveis 2” retoma e amplia o conceito de família discutido no longa anterior, e o resultado é tão bom quanto.
A trama se inicia logo após os eventos do primeiro longa, com a família Pêra tentando impedir a ameaça de um misterioso escavador, aquele com cara de toupeira.
Depois de um rastro de destruição e de uma frustrada ação sobre esse vilão, toda aquela atmosfera criada no filme original, de que a sociedade não precisa de super-heróis, volta a atingir os protagonistas que passam a viver, novamente, no anonimato.
É a partir daí que o roteiro toma novos rumos, quando Helena, a Mulher-Elástico, é escolhida por um milionário para iniciar uma campanha que visa a resgatar a concepção de que os heróis são importantes e necessários para combater o mal. Com isso, Beto Pêra, o Senhor Incrível, se encarrega dos afazeres domésticos e, principalmente, de cuidar do bebê Zezé que surpreende ao demonstrar inúmeros superpoderes.
Um dos fatores que favorecem o acerto de “Os Incríveis 2” é a manutenção do competente diretor e roteirista Brad Bird, que também exerceu essas funções no original. O clima descontraído, o delicioso ambiente sessentista, as piadas situacionais pontuais e o dinamismo entre os personagens continuam sendo um ótimo alicerce para a narrativa.
O assunto 'família', que, inevitavelmente, desencadeia várias e proveitosas ‘sub discussões’ sobre comportamentos e relacionamentos, está mais em evidência. Isso comprova que o filme 'envelheceu' bem ao contextualizar algumas situações como, por exemplo, a inserção do empodeiramento feminino. Além de dar foco maior na Mulher-Elástico, o roteiro brinca com a inversão de papéis nas famílias modernas. Embora não tenha tanta profundidade, já que se trata de uma produção infantil, essa circunstância é apresentada sem quaisquer atritos e com muito bom humor.
Apesar não ter o frescor da novidade como no original, já que essa sequência surge após o 'boom' do subgênero de super-heróis, “Os Incríveis 2” possui um texto equilibrado, boas cenas de ação e segue tendo um timing cômico que agrada crianças e adultos na mesma intensidade. Destaque para o bebê Zezé, que rouba a cena em diversos momentos!
"Oito mulheres e um segredo" é a versão feminina de "Onze homens e um segredo" e o quarto filme da franquia iniciada por Steven Soderbergh sobre grandes roubos (que, por vez, é uma refilmagem de "Ocean's Eleven" estrelado por Frank Sinatra, em 1960). Aqui, Soderbergh assina a produção, mas não é o suficiente para que a trupe feminil tenha um desempenho satisfatório como o seu ‘irmão’ mais velho de 2001.
A premissa segue praticamente a mesma fórmula do original. Recém-saída da prisão, a trambiqueira Debbie Ocean, irmã de Danny Ocean (que foi interpretado por George Clooney nos filmes anteriores), planeja executar um roubo de uma valiosa joia que é extremamente bem protegida em Nova York. Para isso, ela conta com o apoio de outras sete mulheres, cada uma com sua respectiva especialidade, para executar o assalto.
A ideia de aproveitar o momento 'girl power' no cinema para modernizar histórias de sucesso é bem vinda. No entanto, o roteiro falha ao copiar demais a estrutura narrativa de sua fonte de inspiração e acaba carecendo de alguma originalidade. Além disso, falta um desenvolvimento melhor na interação entre as coadjuvantes e, principalmente, de construções de elipses que expliquem determinadas ações e soluções (por exemplo, em momento algum vemos um treinamento para a execução do plano). Isso faz com que o tal roubo passe a impressão de pouca engenhosidade.
Um fator utilizado de maneira econômica é o suspense. A sensação de perigo iminente é quase nula. A produção ainda possui outras fragilidades que comprometem o longa, como o da direção pouco inspirada de Gary Ross ("Jogos Vorazes") e da edição excessivamente burocrática. A falta de criatividade na montagem de cenas gera consequências no ritmo, que se arrasta na primeira hora, e na alma do filme ao entregar uma elegância sem charme. Elegância, charme e engenhosidade, inclusive, são qualidades de "Onze homens e um segredo" que fascinaram o público em 2001.
No final das contas, ainda que tenha um elenco feminino de excelentes nomes (destaque para Sandra Bullock e Anne Hathaway - é uma pena que Cate Blanchett tenha sido mal aproveitada), "Oito mulheres e um segredo" consegue prender a atenção no bom clímax. Não surpreende como deveria, mas, pelo menos, diverte no último ato.
“Vingadores: Guerra Infinita” é o clímax de um ousado projeto da Marvel Studios/Disney, que celebra 10 anos em 2018. Tal concepção reúne os principais heróis de histórias em quadrinhos da editora em um filme evento (talvez seja a maior produção já feita), que promete trazer grandes reviravoltas narrativas para o MCU (Marvel Cinematic Universe/Universo Cinematográfico da Marvel).
Para facilitar o entendimento desta 19ª produção da franquia, é imprescindível que o espectador assista, ao menos, a “Capitão América: Guerra Civil”, “Guardiões da Galáxia Vol. 2” e “Thor: Ragnarok”. Muitos detalhes narrativos aqui, principalmente o início da trama, estão presentes nessas produções. No decorrer do filme, ainda há conexões importantes com “Capitão América: O Primeiro Vingador” e “Pantera Negra”. De um modo geral, “Guerra Infinita” é a consequência de pequenas sementes plantadas ao longo de uma década nas histórias da Marvel Studios, as quais cresceram entrelaçadas para ajudar na construção dessa terceira parte de “Vingadores”.
Uma dessas sementes é o vilão Thanos (interpretado pelo ótimo Josh Brolin),o qual já foi citado ou apareceu em pequenas cenas de outros longas do estúdio. Ele e sua jornada são as principais coisas de “Guerra Infinita”. Aqui, há um excelente desenvolvimento de personagem, bons diálogos, com arco dramático e conexões emocionais bem estruturados. Thanos, embora seja odiável, intimidante e ameaçador, é carismático, sensato e suas determinações, princípios e motivações são claramente eloquentes. Sua missão é conquistar todas as joias do infinito (seis poderosas pedras cósmicas que dão controle total sobre tudo que existe para quem as possuir) no intuito de destruir a metade do universo com a finalidade de trazer equilíbrio para assim dominá-lo como um Deus.
Falando nas tais pedras, que são acomodadas por Thanos em uma manopla, cinco delas já apareceram. A joia do espaço (vulgo Tesseract, é capaz de criar ‘buracos de minhoca’ e faz seu portador estar em qualquer lugar que desejar), de cor azulada, foi vista em “Capitão América: O Primeiro Vingador”; a joia do poder (ou Orbe, dá acesso a toda energia existente), de cor roxa, apareceu em “Guardiões da Galáxia Vol.1”; a joia do tempo (ou Olho de Agamotto, proporciona total domínio sobre a dimensão temporal), de cor esverdeada, surgiu em “Doutor Estranho”; a joia da mente (foi a gema do Cetro Chitauri de Loki e agora está na testa do Visão – dá acesso a todos os pensamentos e sonhos de qualquer ser), de cor amarelada, esteve em “Vingadores”; e a joia da realidade (ou Éter, pode quebrar qualquer lei do universo físico), de cor avermelhada, foi revelada em “Thor: O Mundo Sombrio”. A sexta joia, a da alma, de cor alaranjada, é a única que falta aparecer e é o grande mistério a ser desvendado (ainda que merecia ter uma explicação melhor, a aparição de seu guardião deixará muita gente surpresa).
Embora Thanos tenha uma participação expressiva na narrativa, ainda há espaços para encaixar dezenas de heróis em cena (somente dois deles, infelizmente, não aparecem e a presença do Gigante Esmeralda é econômica). E o fator ‘organização’ é algo que fascina tanto pelo roteiro de Christopher Markus e Stephen McFeely, que é inspirado na mitologia criada por Stan Lee e Jack Kirby, como na direção dos Irmãos Joe e Anthony Russo, os mesmos que estiveram à frente de “Capitão América: Soldado Invernal” e “Capitão América: Guerra Civil”.
Há uma harmonia na exposição de subtramas os quais são organizadas em núcleos de ações que promovem crossovers inéditos de personagens. O mais interessante é que o roteiro diverte o público com essas interações e se adequa ao tom já estabelecido de cada herói, sem perder o espírito de equipe. Por exemplo, quando os Guardiões e Thor estão em cena, há uma atmosfera de zoeira; quando Wakanda está em foco, há sobriedade na narrativa; quando Bruce Banner, Tony Stark, Peter Parker e Doutor Estranho aparecem, há muita descontração; e, quando é preciso se ter mais seriedade na história, essa essência é inserida em momentos pontuais, em especial quando a trama valoriza o protagonismo de Thanos.
Equilíbrio, também, é a palavra que define a direção dos Irmãos Russo. Toda ação é bem amarrada e realizada de maneira tensa e grandiosa. Há momentos espetaculares que empolgarão os espectadores, seja em micro ou em macro escala. Assim, do mesmo modo, são tratadas as consequências que são catastróficas, impactantes e surpreendentes, o que contribui para que “Guerra Infinita” ganhe status de épico. Tudo isso é orquestrado por um ritmo incansável que farão as 2 horas e 30 minutos de duração passarem em um 'estalar de dedo'.
Como nos filmes anteriores, o longa é tecnicamente formidável (os efeitos visuais, em especial a maquiagem digital de Thanos, são bastante convincentes - há poucos momentos em que o CGI e as cenas em chroma key ficam artificiais) e traz novidades tecnológicas de alguns heróis, como as novas armaduras de Homem de Ferro e Homem-Aranha, os escudos do Capitão América e a nova arma de Thor. Enfim, “Vingadores: Guerra Infinita” é um filme episódico e, portanto, vamos conhecer o final desta história somente em sua quarta parte já anunciada para maio de 2019, que dará o pontapé inicial no desenvolvimento e na interação de novos personagens dentro do MCU, que o diga a única cena pós-crédito!
Já não é de hoje que o conceito de ‘terror’ no cinema anda meio banalizado. A maioria dessas produções não se preocupa tanto em desenvolver narrativas e/ou concepções no intuito de provocar reações emocionais genuinamente incômodas nos espectadores. Em outras palavras, não há uma eficiência em causar o ‘medo’ em quem assiste ao filme. Devido a isso, muitos longas optam pelo ‘caminho mai$ fácil’ ao investirem em criaturas bizarras, em histórias rasas, na repugnância, na sanguinolência e em ‘jump scare’ (susto) gratuitos para promoverem o gênero.
Nos últimos anos, poucos foram as obras cinematográficas que aliaram bom conteúdo com apuro técnico para criarem atmosferas que fazem jus ao conceito do ‘terror’. Exemplos disso são “Corra!”, “Invocação do mal”, “Corrente do mal” entre outros. Há diversos estilos dentro dessa categoria e é comum encontrarmos longas que utilizam entidades demoníacas, psicopatas ou monstros ameaçadores como vilões.
No entanto, não é fácil de encontrar boas produções que fomentam o ‘medo’ por meio do ‘suspense psicológico’ cujo conceito se aplica a partir da vulnerabilidade da mente humana sobre situações implicitamente misteriosas. Algo como ‘você não vê, mas a sua mente sente’, ideia genialmente trabalhada em clássicos como “Tubarão” e “Alien – O oitavo passageiro” e, também, é executada de maneira magistral em “Um lugar silencioso”.
Dirigido, co-escrito e protagonizado por John Krasinski (“13 Horas - Os Soldados Secretos de Benghazi” e série “The Office”) e produzido por Michael Bay (!), “Um lugar silencioso” alia os estilos ‘criaturas amedrontadoras’ com ‘suspense psicológico’ na dose certa. A narrativa é simples, mas não menos curiosa, e acompanha o ponto de vista de uma família que tenta sobreviver em uma casa de campo no interior dos Estados Unidos após o mundo ter sido devastado por uma invasão alienígena. Eles devem viver em absoluto silêncio e se comunicam através de gestos e sinais. Isso porque os tais extraterrestres, que são cegos e possuem uma super audição, matam qualquer coisa que emita barulho.
A trama, com traços de distopia, inicia já com a invasão em andamento. Embora o espectador seja contextualizado em alguns momentos sobre os acontecimentos por meio de recortes de jornais, os alienígenas são tratados como uma ameaça desconhecida. Não conhecemos os motivos de estarem na Terra e mal vemos seus corpos. A única coisa que sabemos é que eles são atraídos pelo som e são hostis ao extremo.
Essa característica antagonista favorece na construção de uma atmosfera silenciosa e ininterruptamente tensa. Isso mesmo, a principal ferramenta para se criar um ‘terror psicológico’ é a falta de som em boa parte da projeção. O silêncio, trabalhado como um personagem na história, é executado de forma criativa por John Krasinski que, também, utiliza de maneira eficaz a impecável engenharia sonora que o filme possui. A inserção de qualquer ruído, sejam sussurros, chiados, diálogos, som ambiente ou trilha sonora, é encaixada de forma pontual. Além disso, há excelentes situações de encurralamento dos personagens e construções eficientes de ‘jump scare’, que nunca são repentinos ou pré-anunciados pela trilha sonora como muitas produções do gênero fazem.
Para completar a missão de fazer o espectador imergir na hisória, os personagens transmitem uma empatia ímpar. Sempre nos importamos com eles e sentimos suas dores e agonias. Mais um ponto positivo para a direção de Krasinski que demonstra competência no trabalho com o elenco. Todos os protagonistas, sem exceção, estão notáveis! Além de Emily Blunt (que é a esposa do diretor, o que ajuda na naturalidade do casal em cena), destaques também para Noah Jupe, o ator mirim coadjuvante em “Extraordinário”, e Millicent Simmonds, uma atriz com deficiência auditiva que interpreta uma garota com o mesmo problema.
O roteiro, escrito também por Bryan Woods e Scott Beck, traz reflexões interessantes sobre família, responsabilidades e, claro, discute o valor de se ter silêncio e a necessidade de se expressar e de ser ouvido, seja com barulho ou não. Sem falar que há uma interessante construção de uma lógica, visual e comportamental, no cuidado que os personagens devem ter ao evitar emitir sons. Tudo isso contribui para que “Um lugar silencioso” seja autêntico em todos os sentidos e figure entre os melhores suspenses dos últimos anos.
A evolução dos efeitos visuais proporciona ao cinema tornar possível tudo aquilo que era considerado impossível. No entanto, O uso excessivo dessa tecnologia faz com que diversos longas fiquem cada vez mais artificiais. Neste contexto, "Mad Max: A Estrada da Fúria", o quarto filme da saga apocalíptica criada e dirigida por George Miller, é um respiro ao investir mais em efeitos práticos na ação que intervenções digitais.
Miller criou um gigantesco set de filmagens e abusou de coreografias bem elaboradas (e em alta velocidade!), da presença de dublês, de explosões reais e de cenários tangíveis (incluindo os estilosos veículos) para nos entregar uma ação real de cair o queixo.
A grandiosidade do filme lembra, bastante, a estrutura que os grandes épicos de antigamente tinham para criar algo crível e genuinamente impressionante. Além disso, "Mad Max: A Estrada da Fúria" é um dos destaques na questão do empoderamento feminino no cinema. A poderosa e destemida personagem Furiosa, interpretada com muito vigor por Charlize Theron, é mais importante que o próprio Max (Tom Hardy) na trama. Isso fez consolidar e alavancar ainda mais o movimento 'girl power' em outras produções subsequentes.
O que fica de lição? O cinema não pode perder sua essência prática e deve caminhar de mãos dadas com a tecnologia para fazer aflorar a diegese no espectador.
Tudo visto aqui, em termos de estrutura de narrativa, não é novidade. O que torna "Avatar" um espetáculo é a originalidade e a riqueza de seus elementos fantásticos criados de maneira factível. Isso vai desde o visual nativo dos Na’Vi (raça 'alienígena' que vive no planeta Pandora), a criação de um dialeto completo até os detalhes da biodiversidade multicolorida do tal planeta.
A exuberância do complexo ecossistema é fascinante e todo o desenvolvimento desse universo se deve ao cineasta James Cameron. Ele, inclusive, gosta de inovar no cinema, que o diga os legados tecnológicos de seus trabalhos anteriores "O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final" e "Titanic". O que torna o "Avatar" revolucionário é a tecnologia 3D criada especialmente para o filme para conseguir o realismo que Cameron tanto desejava.
Câmeras 3D foram reinventadas para aperfeiçoar a captura de movimentos. Além disso, a recepção do efeito também sofreu uma inovação ao utilizar lentes duplas para que as imagens exibidas não causassem desconfortos aos espectadores. Foi o adeus aos óculos de lentes bicolores. "Avatar" é uma experiência imersiva arrebatadora.
Se "Blade" demonstrou que adaptações de quadrinhos ainda eram uma boa fonte de inspirações para o cinema, "X-Men - O filme", dirigido por Brian Singer, foi o empurrão que faltava para os super-heróis e mutantes correrem soltos e se consolidarem dentro de Hollywood.
O longa, que traz interessantes críticas sociais sobre a inclusão da diversidade no mundo moderno, foi a realização do sonho de diversos fãs sobre uma das super trupes mais populares das HQs da Marvel. Sucesso nas revistas e em séries animadas para a TV, "X-Men" também foi bem recebido nas bilheterias e isso impulsionou a criação de diversos outros produtos licenciados, além, é claro, de outras sequências cinematográficas sobre esses mutantes.
Foram 10 filmes divididos em 3 trilogias e um, digamos, avulso ("Deadpool"). Uma delas é sobre o personagem mais popular da franquia, o Wolverine. E esse universo não para. Já estão previstos mais 3 longas derivados para 2018 e 2019: "Deadpool 2", "Fênix Negra" e "Os novos mutantes".
Uma das marcas de Hollywood no passado era a especialidade de fazer filmes de época, com cenários que representavam a Idade Média, o Feudalismo ou o Império Romano. Curiosamente, houve um hiato desse subgênero nos anos 80 e 90. A impressão é que esse tipo de produção estava saturada e o público desinteressado. Os poucos longas que mergulhavam em narrativas épicas não conseguiam se destacar.
Tudo isso mudou quando surgiu "Gladiador", de Ridley Scott, que retomou o subgênero em uma realização moderna e empolgante sobre um general do exército romano que tem sua família morta por um príncipe corrupto que mata o pai para se tornar Imperador. Após quase ser morto, ele é resgatado por escravos e passa a se esconder sob a identidade de um gladiador. Depois de várias vitórias em arenas pequenas, ele consegue uma luta no Coliseu, onde terá a oportunidade de voltar à Roma e se vingar.
Assim como "Matrix", filmes épicos existem antes e depois de "Gladiador", cuja técnica de direção e o trabalho estético caprichado serviram de inspiração para muitas outras produções posteriores.
Revolucionou o cinema ao implantar novas tecnologias e ao misturar efeitos práticos e gráficos com eficácia. Filmes de ação e ficção existem antes e depois de "Matrix". Além disso, o conceito e a riqueza de sua narrativa, que costura diversos temas e gêneros (religiões, filosofias, mangás, kung fu, informática, cultura cyber punk, música eletrônica e ficção científica), servem de inspiração até hoje para as novas obras.
Desde "Blade Runner - O Caçador de Androides" um longa não tinha tanto impacto e inovações como "Matrix". Novas técnicas de direção surgiram nessa produção dos irmãos, agora irmãs, Wachowski, como o efeito 'bullet time' que foi incansavelmente copiado.
A repercussão foi estrondosa e o filme se tornou um fenômeno midiático que impulsionou inúmeras tendências. Na trama, Keanu Reeves vive um hacker que descobre que a realidade em que vive não passa de uma simulação de computador controlada por máquinas dotadas de inteligência artificial.
O sucesso da produção rendeu mais duas sequências filmadas simultaneamente e lançadas nos cinemas em 2003 com intervalo de alguns meses, "Matrix Reloaded" e "Matrix Revolutions". Ambas, embora sejam inferiores ao original, também trouxeram alguma evolução como a cinematografia digital, que permitiu o aperfeiçoamento na execução de ângulos considerados impossíveis.
Após "Batman & Robin" (1997) quase enterrar a ideia de levar as histórias em quadrinhos para as telas do cinema, "Blade - O Caçador de Vampiros" surgiu no ano seguinte para acalmar os ânimos e dar um novo pontapé nas adaptações cinematográficas originadas de HQs. Blade é um híbrido de homem e vampiro da editora Marvel. Ele possui todas as qualidades de ser um 'sanguessuga', como a força aumentada e sentidos aprimorados. No entanto, sofre pela sede de sangue que é controlada por uma substância injetável. O fato de poder conter o ponto fraco do vampirismo, o de ser imune a luz solar, por exemplo, o credencia a ser um justiceiro para caçar vampiros que subvertem a ordem da cidade onde vive. O longa, além de ser o primeiro protagonizado por um herói negro, foi bem recebido pelo público e consolidou a carreira de Wesley Snipes.
Tecnicamente falando, é o melhor filme de guerra de todos os tempos. Vinte anos se passaram e o longa ainda é um exemplo de cinematografia a ser seguida, em especial, na implantação de realismo (câmera na mão e violência crua) nas cenas de guerra. A produção fala da missão de um grupo de soldados que é designado a encontrar e levar para casa o tal soldado Ryan, em plena Segunda Guerra Mundial. Um dos destaques é a sequência de abertura que mostra o fatídico 'Dia D', um dos momentos mais tensos, sanguinolentos e espetaculares da história do cinema. A direção de Steven Spielberg é primorosa e ele foi justamente oscarizado por seu trabalho.
"Jumanji: Bem-Vindo à Selva" é o típico filme para se desligar o cérebro e curtir a aventura de maneira mais descompromissada possível. No entanto, como se trata de uma continuação de um longa de 1995 estrelado por Robin Williams, um dos clássicos do gênero da década de 90, é preciso observar a coerência da fantasia entre as produções antes de colocarmos a cabeça em 'off'.
A dinâmica do roteiro é praticamente a mesma do original. Ao descobrirem e jogarem um misterioso jogo de nome 'Jumanji', um grupo de jovens é transportado para a realidade da 'brincadeira' onde vivem diversas aventuras em uma selva repleta de perigos. Lá, eles conhecem um jogador que está preso e desaparecido por anos com o qual devem se aliar para finalizarem o jogo e voltarem para a casa.
Há erros e acertos nesta continuação dirigida por Jake Kasdan. A contextualização de "Jumanji" (1995), de transformar a plataforma do jogo de tabuleiro em videogame (assim como a inserção de avatares dos protagonistas) é bem vinda. O problema é que o roteiro não desenvolve com eficiência determinados detalhes dessa transformação e força o espectador a aceitar ações que fogem da lógica proposta. A falta de clareza das regras e objetivos a serem seguidos são exemplos.
Além disso, pelo orçamento de 90 milhões de dólares gastos na produção, as cenas aventurescas (incluindo os efeitos visuais em alguns momentos) mereciam ser mais bem elaboradas. Tudo parece estar no piloto automático e não há nenhuma sequência que impressione.
Por outro lado, "Jumanji: Bem-Vindo à Selva" compensa as confusões textuais e situações inconvincentes com o bom humor bem encaixado e, claro, com o carisma de seu elenco. Há boas circunstâncias cômicas protagonizadas, em especial, por Kevin Hart e Jack Black. Já Dwayne Johnson faz o seu papel de sempre, o brutamonte gente boa, e Karen Gillan, a menos conhecida da trupe, é a única que não se destaca tanto.
No fim das contas, embora falte alma ao filme (tem corpo, mas não tem essência), "Jumanji: Bem-Vindo à Selva" cumpre o que promete, o de proporcionar uma divertida aventura descartável para quem procura apenas um passatempo.
O diretor e roteirista Alexander Payne ("Nebraska" e "Os Descendentes") é um expert em dramas existenciais. Seus filmes anteriores discutem, de maneira sempre original, o valor da vida nos momentos de adversidades. "Pequena Grande Vida" é mais um exemplar de tema peculiar do cineasta que entra de cabeça em uma 'nano fantasia' que transpira criatividade, mas não consegue ser 'grande o bastante' para ser marcante.
A narrativa coloca o espectador em um mundo que enfrenta uma escassez de recursos minerais e naturais. Com isso, cientistas estão à procura de uma solução para garantir a sobrevivência ou a longevidade da humanidade. Até que uma nova tecnologia é criada e provoca o encolhimento corporal do ser humano. Um homem de 1,80 metro, por exemplo, ficará com o tamanho de 12 centímetros de altura e, assim, haverá menos produção de lixo, o dinheiro será mais rentável e os poucos recursos se tornarão duradouros por décadas.
A premissa é interessantíssima. A escolha de Payne em optar pela complexidade do gênero drama é notável, o que lhe garante alguma originalidade ao transmitir boas mensagens sobre sustentabilidade e ao discutir assuntos importantes como o preço da felicidade e os valores humanos.
O roteiro introduz o assunto de forma incrivelmente contagiante no primeiro ato. Todo o cuidado mostrado nos bastidores do encolhimento humano, o humor situacional rasteiro e as metáforas nas comparações de escalas de tamanho com a situação do protagonista são deliciosamente divertidos.
Entretanto, o discurso proposto na introdução do longa, o tom de sátira social, assim como a inventividade de mostrar as peculiaridades do mundo pequenino, se perdem no segundo e terceiro atos. Toda a utopia, que participava ativamente da história, se torna coadjuvante.
Payne muda a chave da narrativa para dar mais foco no existencialismo. Com isso, personagens secundários e novos rumos são inseridos na trama e desenvolvidos de maneira confusa e inconsistentes. É uma pena que o diretor falhe no conteúdio em que mais se destaca.
Por outro lado, a execução técnica do filme é formidável, em especial o trabalho da fotografia. A todo o momento, temos a impressão de ver tudo miniaturizado. O longa está repleto de planos plongées e de enquadramentos com os personagens em primeiro plano com o cenário em profundidade, sempre em grande escala, estourando a tela. Isso tudo, aliado a um equilíbrio com os efeitos visuais, nos faz acreditar que todos ali são, de fato, pessoas encolhidas.
No final das contas, embora Payne atinja seu objetivo textual aos trancos e barrancos, fica a frustração do espectador de o diretor não ter optado por uma aventura. “Querida, encolhi as crianças” (1989), por exemplo, é mais empolgante e consegue ser mais eficiente ao transmitir mensagens semelhantes sendo dramaticamente menos complexo. Ah, sim, quase não percebi. Matt Damon está ‘OK’.
“Pantera Negra” é uma celebração, uma energia singular dentro do Universo Cinematográfico Marvel (MCV). O longa é diferente visualmente, sobretudo politicamente, de outros exemplares de super-heróis, porém é estruturalmente igual a qualquer outra superprodução do estúdio Disney/Marvel ao ser fiel à sua fórmula.
A narrativa começa após os incidentes de “Capitão América: Guerra Civil”, com a morte do rei T'Chaka e o retorno de T'Challa (interpretado pelo competente Chadwick Boseman) a Wakanda. Com a morte do rei e a incerteza sobre a capacitação do príncipe em governar o país, uma das nações tecnologicamente mais avançadas do planeta e rica em metais, algumas pessoas se armam para tentar assumir o poder. Uma delas é Erik Killmonger (personagem do ótimo Michael B. Jordan), que diverge de várias convicções sobre os rumos de sua terra natal e quer, a todo custo, assumir o trono.
“Pantera Negra” não foi o primeiro super-herói negro a ter algum prestígio no cinema. Anteriormente, “Steel - O Homem de Aço” (1997), com Shaquille O'Neal, e “Blade - O Caçador de Vampiros” (1998), com Wesley Snipes, ganharam visibilidade no passado. Desses, somente o “Blade” obteve êxito. Curiosamente, no início dos anos 90, Snipes tentou levar o Pantera Negra para as telonas, mas não conseguiu.
Criado por Stan Lee e Jack Kirby, o personagem nasceu em 1966 para uma participação especial em uma aventura de “Quarteto Fantástico”. Em 1968, ele se tornou membro fixo dos Vingadores e só ganhou uma história em quadrinhos em 1977, período do Blaxploitation que ocorreu nos anos 70.
A expressão, que é a junção de ‘black’ (negro) e ‘explotaition’ (exploração), foi um movimento cinematográfico nos Estados Unidos em que os filmes eram dirigidos e protagonizados apenas por negros. Tal representatividade, que exaltava em tela a cultura negro-africana em meio às transformações políticas estadunidenses na época, ganha uma bela referência aqui, seja por sua essência visual/política ou pelo elenco quase todo afrodescendente (incluindo o diretor).
Não teve época melhor para a Disney/Marvel em lançar “Pantera Negra” no cinema. Atualmente, o mundo tem lutado cada vez mais contra o racismo e a intolerância e valorizado, na mesma intensidade, os movimentos a favor da diversidade e do respeito. E essa essência é notória e contextualizada pelo roteiro do longa dirigido pelo promissor Ryan Coogler (“Fruitvale Station” e “Creed”).
Ainda que a fantástica Wakanda se diferencie de outras nações africanas pelo avanço tecnológico e no desenvolvimento social, o país é de regime monarca, possui sistema político ditatorial (ultrapassado, porém ideal para proteger seus segredos) e tem suas fronteiras fechadas. Aliada com sua modernização, Wakanda torna-se invisível, literalmente, para outros povos para não atiçar possíveis interesses por suas grandes reservas de Vibranium (metal fictício que é considerado o mais resistente do mundo e usado para fazer o escudo do capitão América e, também, as garras e uniforme do Pantera).
Esse é motivo, pelo qual, vemos um dos antagonistas, o mercenário Garra Sônica (visto por último em “Vingadores: Era de Ultron” e vivido novamente pelo excelente Andy Serkis), que tem planos de roubar um lote do tal metal. Sua ação ainda contribui para colocar mais ‘lenha na fogueira’ sobre a delicada situação política do lugar.
A tecnologia, inclusive, é um ponto interessantíssimo em “Pantera Negra”. Há uma mescla curiosa entre futurismo e saudosismo que proporciona uma atmosfera tecno-utópica incomum no MCV sem perder a identificação nativa. Além disso, o visual multicolorido de traços africanos e os figurinos tribais folclóricos são deslumbrantes.
Ryan Coogler, ainda que não tenha a mesma inspiração de seus longas anteriores, equilibra bem o desenvolvimento da mitologia do herói, proporciona bom tempo de tela para a maioria dos personagens (com destaques para a força feminina do grupo Dora Milage e para Erik Killmonger, o melhor vilão desde Loki, cujos ideais são convincentes e cria empatia com o público) e capricha nas ações que, diga-se de passagem, são bem idealizadas, vide as perseguições de carro e a cena do cassino. Um dos poucos problemas é que há momentos com excesso de efeitos gráficos que deixam algumas sequências com aparência artificial ou borrachuda.
A ‘fórmula Marvel’ segue presente nos filmes do estúdio, assim como os inúmeros easter eggs (seja referências a outros longas, aos quadrinhos ou ao mundo real), e aqui não é diferente ao mostrar os conflitos de T'Challa em sua jornada para superar as adversidades. Claro, não pode faltar o humor peculiar da Marvel que é inserido de maneira pontual ao longo da projeção. Não é comédia com aventura como em vimos recentemente em “Thor: Ragnarok” e que causou certa polêmica, é uma aventura com momentos cômicos bem encaixados.
Enfim, “Pantera Negra” é um longa afro emblemático, imponente e um dos melhores do Universo Cinematográfico Marvel. É uma pena que seja uma produção um pouco isolada de seus coirmãos, principalmente por ser um dos palcos do aguardado “Vingadores: Guerra Infinita”, mas não deixa de ser um entretenimento obrigatório.
É impressionante como o título de filmes no Brasil pode ser, muitas vezes, revelador. Esta produção do cinema russo é um exemplo. Apesar disso, a expressão 'sem amor' pode ser interpretada como a moral da história ao representar a falta de benevolência da sociedade nos dias de hoje diante da relação entre pais e filhos.
A narrativa mostra o casal Zhenya e Boris que estão em meio a uma separação. Ambos já possuem novos parceiros e não vêem a hora de vender o atual apartamento para seguirem em diante com suas vidas. Após uma briga entre eles, o filho Alyosha, de 12 anos, foge de casa e desaparece.
"Sem amor" possui um tema de extrema importância para o mundo contemporâneo ao criticar a falta de responsabilidade da família que 'abandona' seus filhos. Esse afastamento pode acontecer de diversas formas, como o desinteresse, a ausência, o maltrato e, também, o esquecimento da existência de uma criança quando as brigas de uma separação tendem visar mais o interesse individual de cada um. Com isso, ninguém se importa com o psicológico ou a imaturidade dos jovens, que podem ficar confusos por estarem vivendo em um lar (o 'porto seguro') ou uma casa (lugar transitório).
Tudo isso é trabalhado pelo diretor Andrey Zvyagintsev ("Leviatã") de maneira fria, lenta e sensivelmente provocadora. Aqui, ele retrata o desamor de forma poética com câmeras estáticas, diversos planos abertos com paisagens melancólicas de cores saturadas, quase desbotadas, e muitas cenas que possuem zumbidos hipnotizantes ou silêncios 'ensurdecedores'.
O filme possui duas partes: a primeira estabelece os interesses e o confronto do casal; a segunda os une à procura pelo garoto. É curioso notar que Zvyagintsev foca de forma tão intensa as vidas paralelas dos protagonistas que até esquecemos do sumiço do menino. Quando o casal nota o desaparecimento do filho, isso se torna um plot twist eficiente. Por causa disso, além de nos surpreendermos com o fato, passamos a nos importar com o pequeno personagem e a refletir sobre a falta de amor dos pais que deixaram a tal situação acontecer.
É perturbador ver o aparente desinteresse da família na busca por Alyosha. Quando 'cai a ficha' na cabeça do casal separado, já é tarde demais e o impacto é irreversível. Destaque para a cena em que a filha diz à mãe sobre o desaparecimento do neto. É quase um clímax no meio do filme.
O diretor e roteirista Alexandre Payne é um expert em dramas existenciais. Seus filmes anteriores discutem, de maneira sempre original, o valor da vida nos momentos de adversidades. "Pequena Grande Vida" é mais um exemplar de tema peculiar do cineasta que entra de cabeça em uma 'nano fantasia' que transpira criatividade, mas não consegue ser 'grande o bastante' para ser marcante.
A narrativa coloca o espectador em um mundo que enfrenta uma escassez de recursos minerais e naturais. Com isso, cientistas estão à procura de uma solução para garantir a sobrevivência ou a longevidade da humanidade. Até que uma nova tecnologia é criada e provoca o encolhimento corporal do ser humano. Um homem de 1,80 metro, por exemplo, ficará com o tamanho de 12 centímetros de altura e, assim, haverá menos produção de lixo, o dinheiro será mais rentável e os poucos recursos se tornarão duradouros por muitas décadas.
A premissa é interessantíssima. A escolha de Payne em optar pela complexidade do gênero drama é notável, o que lhe garante alguma originalidade ao transmitir boas mensagens sobre sustentabilidade e ao discutir assuntos importantes como o preço da felicidade e os valores humanos.
O roteiro introduz o assunto de forma incrivelmente contagiante no primeiro ato. Todo o cuidado mostrado nos bastidores do encolhimento humano, o humor situacional rasteiro e as metáforas nas comparações de escalas de tamanho com a situação do protagonista são deliciosamente divertidos.
Entretanto, o discurso proposto na introdução do longa, assim como a inventividade de mostrar as peculiaridades do mundo pequenino, se perdem no segundo e terceiro atos. Toda a utopia, que participava ativamente da história, se torna coadjuvante.
Payne muda a chave da narrativa para dar mais foco no existencialismo. Com isso, personagens secundários e novos rumos são inseridos na trama e desenvolvidos de maneira confusa e inconsistente. É uma pena que o diretor falhe no conteúdio em que mais se destaca.
Por outro lado, a execução técnica do filme é formidável, em especial o trabalho da fotografia. A todo o momento, temos a impressão de ver tudo miniaturizado. O longa está repleto de planos plongées e de enquadramentos com os personagens em primeiro plano com o cenário em profundidade, sempre em grande escala, estourando a tela. Isso tudo, aliado a um equilíbrio com os efeitos visuais, nos faz acreditar que todos ali são, de fato, pessoas encolhidas.
No final das contas, embora Payne atinja seu objetivo textual nos trancos e barrancos, fica a frustração do espectador de que era melhor o diretor ter optado por uma aventura. “Querida, encolhi as crianças” (1989), por exemplo, é mais empolgante e consegue ser mais eficiente ao transmitir mensagens semelhantes sendo dramaticamente menos complexo. Ah, sim, quase não percebi. Matt Damon está ‘OK’.
Ambientado no subúrbio de Orlando, na Flórida, o longa acompanha o cotidiano de crianças que moram em um hotel que abriga famílias pobres da região.Uma delas é Moonee (Brooklynn Prince), a filha de seis anos da politicamente incorreta Halley (Bria Vinaite). Enquanto a mãe vive praticando pequenos golpes e recebendo ajuda de amigos para sobreviver, a menina, sempre travessa, aproveita sua infância e não mede esforços para brincar com os amigos, mesmo que tenha que perturbar a ordem do lugar onde mora.
O grande triunfo de "Projeto Flórida", dirigido e roteirizado por Sean Baker ("Tangerine"), é o elenco desconhecido. O único famoso é Willem Dafoe, que interpreta com muito carisma o dedicado gerente do tal hotel. É impressionante a naturalidade das crianças em cena, em especial de Brooklynn Prince, que consegue apresentar níveis dramáticos incrivelmente eficientes ao ser irritantemente atrevida e emocionalmente fofa. A atuação que ela nos entrega no clímax é de arrepiar!
A simplicidade de "Projeto Flórida" também é outro destaque. A fotografia aposta no estilo marginal, com tomadas em locações, iluminação muitas vezes natural e câmera sempre na mão, para proporcionar verossimilhança. Além disso, o realismo é tão bem trabalhado nos planos e enquadramentos que Baker consegue nos envolver facilmente com os personagens como se fôssemos um morador do local.
Com isso, a história aparentemente simples ganha alguma complexidade quando passamos a nos importar com as pessoas, gerando sentimentos como a gratidão (pelo esforço do gerente em preservar a ordem, a segurança e o cuidado para com todos), a preocupação (pela preservação do aspecto lúdico para com as crianças) e a esperança por dias melhores. Se estamos vivos, projetamos o crescimento e a felicidade, mesmo que tenhamos de enfrentar as adversidades que a vida nos impõe.
"Trama Fantasma", dirigido e roteirizado por Paul Thomas Anderson (PTA) e protagonizado por Daniel Day-Lewis, embarca no cenário da glamorosa moda britânica nos anos 50. A narrativa foca na vida Reynolds Woodcock (Lewis), um renomado e meticuloso costureiro que faz vestidos para realezas e socialites. Ao se apaixonar pela musa e ajudante Alma (Vicky Krieps), sua vida toma um rumo inesperado. Quanto mais se esforça para evitar mudanças em seu cotidiano, mais ele fica preso ao amor que Alma tem a oferecer.
A direção de PTA, assim como seu roteiro, segue impecavelmente o seu estilo cinematográfico. Ele evita o convencionalismo, imprime o habitual ritmo lento e esbanja a sensibilidade e a elegância de sempre ao desenvolver, não só a complexidade de seus personagens, mas a ambientação que se propõe a retratar. É contagiante a forma que ele apresenta os universos em que trabalha.
O roteiro, que parece se inspirar em "O Mestre", "Embriagado de Amor" (ambos do próprio PTA) com pitadas de "Louca Obsessão", mostra as adversidades e as hipocrisias de um relacionamento. Tudo acontece de maneira silenciosa ao enfatizar o confronto entre um poderoso e egocêntrico homem e uma humilde e ambiciosa mulher. Ela sempre acata suas ordens, mas é a única que desafia sua autoridade para tentar levar mais 'texturas coloridas', não só para a vida dele, mas também para uma casa de essência metódica e insossa.
A fotografia investe em muitos planos próximos (detalhe e primeiro plano) e tomadas internas da casa de Reynolds. Isso causa uma atmosfera claustrofóbica que faz o espectador sentir o clima sufocante causado pelo protagonista ao sugar as energias das pessoas com quem ele trabalha. O curioso é que o diretor contrasta esse ambiente com a bela e pontual trilha sonora de Jonny Greenwood. Ao invés de criar suspense ou agonia, o som instrumental do piano traz uma certa calmaria que pode ser interpretada como uma representação da paciência de Alma diante de sua situação asfixiante.
Além da performance brilhante de Daniel Day-Lewis, o destaque é a atuação de Vicky Krieps. Ela é o coração do filme. Sua participação começa tímida e ingênua e, após o longo primeiro ato, sua personagem ganha intensidade e força ao costurar temas que transpiram paixão, amor, trabalho, individualismo e ódio. "Trama Fantasma", ainda que não seja o melhor filme de Paul Thomas Anderson, é uma obra autêntica e um respiro diferente para quem está cansado das tendências do cinema norte-americano.
"A grande jogada", dirigido e roteirizado por Aaron Sorkin (escreveu o premiado "A Rede Social") e protagonizado por Jessica Chastain, é inspirado na vida de Molly Bloom, uma esquiadora que abandonou a profissão esportiva por causa de um grave acidente e se tornou milionária promovendo jogos de poker.
Os destaques são o roteiro afiado e detalhista de Sorkin e a boa edição não linear. A montagem, inclusive, é ágil e proporciona bom ritmo ao longa, principalmente ao dinamizar os diálogos e as ações da protagonista.
As interlocuções, no entanto, possuem um excesso de velocidade em alguns momentos. Embora seja uma peculiaridade de Sorkin (que se assemelha com "A Rede Social"), isso pode incomodar 'aos mais lentos', mas não prejudica no entendimento da narrativa.
Apesar disso e da longa duração, o filme nunca fica cansativo e a trama contagia o espectador pelos rumos que toma e, também, ao adentrar no curioso universo do poker. Ah, claro, a atuação de Jessica Chastain está notável e faz, aqui, o melhor trabalho da carreira.
Alfa
3.4 296 Assista Agora"Alfa" é ambientado na Era Glacial europeia, 20.000 anos atrás. Sua história, embora convencional, começa com rituais que abordam o amadurecimento e a transição de um jovem para a fase adulta.
O que importa no filme vem depois dessa prática tribal, quando o garoto, dado como morto, sobrevive a uma queda de penhasco. No intuito de retornar a sua tribo, ele inicia uma jornada de aprendizado e sobrevivência em meio a uma natureza hostil. Para isso, ele conta com a presença de um lobo ferido com quem passa a se relacionar. Começa, aí, uma bela amizade entre esse animal e o homem, uma menção aos primórdios da domesticação canina e a interação de sentimentos entre os seres.
"Alfa" impressiona por sua estética. Arrisco a dizer que está entre os longas mais bonitos de 2018. Há belíssimas cenas em câmera lenta, uma reconstituição de época realista e convincente, bons efeitos visuais e paisagens espetaculares que merecem ser emolduradas.
A direção de Albert Hughes ("O Livro de Eli") é impecável ao contemplar a plasticidade e o suspense, porém peca pela desarmonia entre o frágil roteiro e a dramaticidade de cena. Há uma carência de elipses em alguns momentos e isso prejudica a construção da emoção que merecia ser mais genuína.
Ainda que o terceiro ato seja previsível, há um detalhe que pode surpreender o público. No geral, é um bom 'filme família'.
O Protetor 2
3.5 409 Assista AgoraEm tempos de filmes de ação genéricos, “O Protetor” (2014), baseado na série televisiva estadunidense de sucesso nos anos 80 “The Equalizer”, remou contra a corrente e entregou tramas amarradinhas, situações bem desenvolvidas e impactantes cenas de pancadaria. A direção impecável e estilosa de Antoine Fuqua e o protagonista ‘badass’ vivido pelo sempre carismático Denzel Washington contribuíram para contagiar e surpreender o público. Com o bom resultado nas bilheterias (custou US$ 55 milhões, faturou mundialmente US$ 192 milhões - US$ 101 milhões apenas nos EUA), era inevitável que surgisse uma sequência.
Em “O Protetor 2”, a narrativa mostra o dia-a-dia do emblemático Robert McCall (Washington), um metódico ex-oficial das forças especiais norte-americanas que pratica pequenas ‘ações humanitárias’. Ele ‘compra’ as dores de vítimas de alguma situação trágica e as vinga de maneira silenciosa. O problema começa quando sua ex-chefe e melhor amiga é assassinada. Para vingá-la, ele decide investigar sua morte e exterminar os culpados.
O que poderia ter sido melhor em “O Protetor 2” é o roteiro. Embora revele algumas novidades do protagonista sem tirar o ar enigmático do mesmo, há furos na história que podem incomodar aos mais atentos, principalmente por não desenvolver os antagonistas e suas motivações como deveriam. Sem uma base sólida para os vilões, as ações ficam mais genéricas e menos nobres.
Entretanto, a manutenção de Antoine Fuqua na direção é benéfica. O estilo, a ideologia e as qualidades técnicas e visuais implantados no antecessor são preservados, tais como ritmo cadenciado, o senso de ética e justiça (radical) do personagem principal, algumas câmeras lentas que valorizam a dramaticidade das cenas, as excelentes coreografias nas lutas e boas doses de tensão e sanguinolência. Destaque para uma sequência de uma briga dentro de um carro e do tenso clímax com requintes de bangue-bangue.
O único deslize de Fuqua, no entanto, foi a utilização tímida da trilha sonora. Isso era uma assinatura no filme anterior que enaltecia a essência ‘badass’ de Robert McCall. Aqui, há uma carência da música-tema para tornar as cenas mais empolgantes. Apesar disso, “O Protetor 2” vale como um bom entretenimento.
Missão: Impossível - Efeito Fallout
3.9 788A regra de que uma continuação deve ser maior e melhor que a antecessora é seguida quase à risca pela franquia “Missão: Impossível”. O quesito 'melhor' pode até não fazer jus à cartilha, isso depende da opinião de cada um, mas não podemos negar que a cada filme lançado as missões encaradas pelo agente Ethan Hunt, protagonizado pelo incansável Tom Cruise, ficam absurdamente mais perigosas.
Este sexto longa, “Missão: Impossível - Efeito Fallout”, quebra alguns paradigmas da cinessérie ao repetir o diretor (Christopher McQuarrie - as cinco primeiras produções foram dirigidas por cineastas diferentes), ao reutilizar protagonista feminina (Rebecca Ferguson), ao reprisar o antagonista e, também, ao dar continuidade aos eventos da narrativa anterior. Falando nisso, a trama coloca Hunt no meio de uma disputa entre agências nacionais de espionagem, CIA (representada pela figura de Henry Cavil) e IMF, que precisam lidar com uma ameaça nuclear ligada ao grupo terrorista Apóstolos, entidade liderada pelo vilão, já preso, Solomon Lane (Sean Harris).
Ainda que o roteiro não seja lá uma maravilha, o legal de “Missão: Impossível” é a organização e a ousadia de tentar entregar situações novas e bem realizadas. Pelo menos, alguma coisa deve impressionar o espectador, seja pelas eficientes reviravoltas ou pelas invasões em locais ultra seguros e aparentemente impenetráveis ou com o perigo extremo em grandes altitudes. Lutas bem coreografadas, perseguições (embora repetitivas) de tirar o fôlego e referências aos outros longas também estão presentes.
Assim como na quinta parte “Nação Secreta”, Christopher McQuarrie demonstra segurança e competência na direção ao imprimir ritmo dinâmico e ao entregar longas sequências de ação de qualidade. Ele trabalha bem o posicionamento de câmeras, há poucos cortes e a geografia das cenas é sempre nítida. Além disso, o mise-en-scène é impecável, principalmente ao trabalhar diversos planos e movimentos para criar profundidade (favorecendo o 3D) e tensão.
Outro ponto positivo é o trabalho de som com inserções pontuais da trilha sonora e dos efeitos sonoros. Nas cenas de ação, por exemplo, há ausência de música e muita sonoplastia. Isso ajuda a prender a atenção do espectador.
Tudo isso acontece devido ao comprometimento de Tom Cruise, o ‘dono de toda a brincadeira’. E ele faz diferença, não por sua atuação dramática (que é OK), mas por sua participação ativa na maioria das cenas de perigo sem precisar de dublês. Isso proporciona verossimilhança nas sequências de ação e contribui para que as situações exageradas se tornam aceitáveis, realistas e divertidas de se ver.
Enfim, “Missão: Impossível - Efeito Fallout” cumpre o que promete. Não é nada memorável, mas é o entretenimento descompromissado perfeito para quem procura uma boa aventura.
Homem-Formiga e a Vespa
3.6 988 Assista AgoraÉ importante informar que a narrativa de “Homem-Formiga e a Vespa” não faz referências aos eventos de “Vingadores: Guerra Infinita”. A única ligação entre os filmes se resume, apenas, a uma cena entre os créditos finais que, diga-se de passagem, é uma das melhores pontes sobre uma futura produção no Universo Cinematográfico da Marvel (MCU). Portanto, esqueça Thanos e se divirta com uma deliciosa comédia de ação que é tão boa quanto a original.
A narrativa mostra Scott Lang (novamente vivido por Paul Rudd) utilizando uma tornozeleira eletrônica e em prisão domiciliar devido aos acontecimentos de “Capitão América: Guerra Civil”. Ele é procurado pelos foragidos Hope van Dyne (Evangeline Lilly) e Hank Pym (Michael Douglas), que juntam esforços para criar uma conexão e uma forma de resgatar Janet van Dyne, perdida por décadas na dimensão quântica, aquela já visitada por Scott no clímax do longa anterior. No entanto, todos são ameaçados pela vilã Fantasma (Hannah John-Kamen), que precisa roubar uma tecnologia dentro do laboratório de Hank Pym para tentar se curar de uma anomalia que a faz desaparecer e aparecer de maneira incontrolável.
A tal dimensão quântica (ou reino quântico) pode ser ingressada quando se fica muito, mas muito pequeno. Com o tamanho microscópico de um ser, determinadas leis naturais não existem ou não se aplicam permitindo, assim, que quem estiver por lá tenha acesso a outras dimensões, ao vórtex temporal (viagens no tempo), a outras formas de energias e a manipulação de realidades. Até então, dentro da idealização cinematográfica da Marvel, somente dois heróis conseguem entrar nesse ‘universo’: o Homem-Formiga através da ciência e o Doutor Estranho por meio de magia.
“Homem-Formiga e a Vespa”, novamente dirigido por Peyton Reed, é o 20º filme do MCU inspirado nas histórias em quadrinhos criadas por Stan Lee, Jack Kirby e Larry Lieber. O longa é uma das produções mais divertidas de super-heróis. Há um excelente humor, seja visual, situacional ou easter eggs, que brinca com os tamanhos dos personagens e de objetos. Esta continuação ainda apresenta melhorias significativas em relação ao seu antecessor, como cenas de ação mais inventivas e efeitos, concepções e proporções de escalas mais aprimorados.
Se no filme anterior a narrativa trouxe uma atmosfera dos subgêneros de ‘assaltos’, aqui o estilo gato-e-rato impera por toda a projeção. Os protagonistas estão sempre em fuga, ou de bandidos que querem o laboratório de Hank Pym para faturarem alguma grana ou do FBI, que pretendem ‘cumprir a lei’. Esse corre-corre traz dinamismo e, aliado com a comicidade, ajuda a propiciar um clima mais leve e divertido ao longa.
O grande destaque é Evangeline Lilly que interpreta a Vespa, a primeira protagonista feminina no MCU. Ela tem bom tempo de tela, sua participação na trama é bastante relevante e, claro, possui uma veia ‘bad ass’ que a faz ser mais imponente que o próprio Homem-Formiga. Dentre os coadjuvantes, ainda que o ótimo Michael Douglas tenha, também, uma presença maior, quem rouba a cena é o divertido Michael Peña. Ele demonstra ainda mais irreverência e carisma ao interpretar Luis, o amigo trambiqueiro de Scott Lang. Há, ainda, a figura de Laurence Fishburne que desempenha o papel de Golias, um importante personagem que tenta ajudar a Fantasma.
Apesar de o trailer ‘entregar demais’ e de alguns detalhes narrativos merecessem explicações mais consistentes, talvez possam ser melhores esclarecidos em um terceiro filme ou na quarta parte de “Vingadores”, “Homem-Formiga e a Vespa” é uma das boas aventuras do ano e entretém na medida certa.
Obs.: “Homem-Formiga e a Vespa” funciona perfeitamente sozinho, mas é inevitável não pensar em “Vingadores: Guerra Infinita”. A falta de referência aos eventos catastróficos de Thanos pode causar estranheza. Se o filme fosse lançado pouco antes do terceiro “Vingadores”, essa sensação de que 'todos desconhecem a tal ameaça extraterrestre' não existiria. Para que a aventura funcione sem frustrações, é preciso deixar de lado a “Guerra Infinita”.
Os Incríveis 2
4.1 1,4K Assista AgoraFinalmente! Após hiato de 14 anos, a Disney/Pixar nos entrega a tão esperada continuação de “Os Incríveis” (2004) que ainda é, diga-se de passagem, uma das melhores produções de super-herói sem pertencer ao 'eixo' Marvel/DC Comics. “Os Incríveis 2” retoma e amplia o conceito de família discutido no longa anterior, e o resultado é tão bom quanto.
A trama se inicia logo após os eventos do primeiro longa, com a família Pêra tentando impedir a ameaça de um misterioso escavador, aquele com cara de toupeira.
Depois de um rastro de destruição e de uma frustrada ação sobre esse vilão, toda aquela atmosfera criada no filme original, de que a sociedade não precisa de super-heróis, volta a atingir os protagonistas que passam a viver, novamente, no anonimato.
É a partir daí que o roteiro toma novos rumos, quando Helena, a Mulher-Elástico, é escolhida por um milionário para iniciar uma campanha que visa a resgatar a concepção de que os heróis são importantes e necessários para combater o mal. Com isso, Beto Pêra, o Senhor Incrível, se encarrega dos afazeres domésticos e, principalmente, de cuidar do bebê Zezé que surpreende ao demonstrar inúmeros superpoderes.
Um dos fatores que favorecem o acerto de “Os Incríveis 2” é a manutenção do competente diretor e roteirista Brad Bird, que também exerceu essas funções no original. O clima descontraído, o delicioso ambiente sessentista, as piadas situacionais pontuais e o dinamismo entre os personagens continuam sendo um ótimo alicerce para a narrativa.
O assunto 'família', que, inevitavelmente, desencadeia várias e proveitosas ‘sub discussões’ sobre comportamentos e relacionamentos, está mais em evidência. Isso comprova que o filme 'envelheceu' bem ao contextualizar algumas situações como, por exemplo, a inserção do empodeiramento feminino. Além de dar foco maior na Mulher-Elástico, o roteiro brinca com a inversão de papéis nas famílias modernas. Embora não tenha tanta profundidade, já que se trata de uma produção infantil, essa circunstância é apresentada sem quaisquer atritos e com muito bom humor.
Apesar não ter o frescor da novidade como no original, já que essa sequência surge após o 'boom' do subgênero de super-heróis, “Os Incríveis 2” possui um texto equilibrado, boas cenas de ação e segue tendo um timing cômico que agrada crianças e adultos na mesma intensidade. Destaque para o bebê Zezé, que rouba a cena em diversos momentos!
Oito Mulheres e um Segredo
3.6 1,1K Assista Agora"Oito mulheres e um segredo" é a versão feminina de "Onze homens e um segredo" e o quarto filme da franquia iniciada por Steven Soderbergh sobre grandes roubos (que, por vez, é uma refilmagem de "Ocean's Eleven" estrelado por Frank Sinatra, em 1960). Aqui, Soderbergh assina a produção, mas não é o suficiente para que a trupe feminil tenha um desempenho satisfatório como o seu ‘irmão’ mais velho de 2001.
A premissa segue praticamente a mesma fórmula do original. Recém-saída da prisão, a trambiqueira Debbie Ocean, irmã de Danny Ocean (que foi interpretado por George Clooney nos filmes anteriores), planeja executar um roubo de uma valiosa joia que é extremamente bem protegida em Nova York. Para isso, ela conta com o apoio de outras sete mulheres, cada uma com sua respectiva especialidade, para executar o assalto.
A ideia de aproveitar o momento 'girl power' no cinema para modernizar histórias de sucesso é bem vinda. No entanto, o roteiro falha ao copiar demais a estrutura narrativa de sua fonte de inspiração e acaba carecendo de alguma originalidade. Além disso, falta um desenvolvimento melhor na interação entre as coadjuvantes e, principalmente, de construções de elipses que expliquem determinadas ações e soluções (por exemplo, em momento algum vemos um treinamento para a execução do plano). Isso faz com que o tal roubo passe a impressão de pouca engenhosidade.
Um fator utilizado de maneira econômica é o suspense. A sensação de perigo iminente é quase nula. A produção ainda possui outras fragilidades que comprometem o longa, como o da direção pouco inspirada de Gary Ross ("Jogos Vorazes") e da edição excessivamente burocrática. A falta de criatividade na montagem de cenas gera consequências no ritmo, que se arrasta na primeira hora, e na alma do filme ao entregar uma elegância sem charme. Elegância, charme e engenhosidade, inclusive, são qualidades de "Onze homens e um segredo" que fascinaram o público em 2001.
No final das contas, ainda que tenha um elenco feminino de excelentes nomes (destaque para Sandra Bullock e Anne Hathaway - é uma pena que Cate Blanchett tenha sido mal aproveitada), "Oito mulheres e um segredo" consegue prender a atenção no bom clímax. Não surpreende como deveria, mas, pelo menos, diverte no último ato.
Vingadores: Guerra Infinita
4.3 2,6K Assista Agora“Vingadores: Guerra Infinita” é o clímax de um ousado projeto da Marvel Studios/Disney, que celebra 10 anos em 2018. Tal concepção reúne os principais heróis de histórias em quadrinhos da editora em um filme evento (talvez seja a maior produção já feita), que promete trazer grandes reviravoltas narrativas para o MCU (Marvel Cinematic Universe/Universo Cinematográfico da Marvel).
Para facilitar o entendimento desta 19ª produção da franquia, é imprescindível que o espectador assista, ao menos, a “Capitão América: Guerra Civil”, “Guardiões da Galáxia Vol. 2” e “Thor: Ragnarok”. Muitos detalhes narrativos aqui, principalmente o início da trama, estão presentes nessas produções. No decorrer do filme, ainda há conexões importantes com “Capitão América: O Primeiro Vingador” e “Pantera Negra”. De um modo geral, “Guerra Infinita” é a consequência de pequenas sementes plantadas ao longo de uma década nas histórias da Marvel Studios, as quais cresceram entrelaçadas para ajudar na construção dessa terceira parte de “Vingadores”.
Uma dessas sementes é o vilão Thanos (interpretado pelo ótimo Josh Brolin),o qual já foi citado ou apareceu em pequenas cenas de outros longas do estúdio. Ele e sua jornada são as principais coisas de “Guerra Infinita”. Aqui, há um excelente desenvolvimento de personagem, bons diálogos, com arco dramático e conexões emocionais bem estruturados. Thanos, embora seja odiável, intimidante e ameaçador, é carismático, sensato e suas determinações, princípios e motivações são claramente eloquentes. Sua missão é conquistar todas as joias do infinito (seis poderosas pedras cósmicas que dão controle total sobre tudo que existe para quem as possuir) no intuito de destruir a metade do universo com a finalidade de trazer equilíbrio para assim dominá-lo como um Deus.
Falando nas tais pedras, que são acomodadas por Thanos em uma manopla, cinco delas já apareceram. A joia do espaço (vulgo Tesseract, é capaz de criar ‘buracos de minhoca’ e faz seu portador estar em qualquer lugar que desejar), de cor azulada, foi vista em “Capitão América: O Primeiro Vingador”; a joia do poder (ou Orbe, dá acesso a toda energia existente), de cor roxa, apareceu em “Guardiões da Galáxia Vol.1”; a joia do tempo (ou Olho de Agamotto, proporciona total domínio sobre a dimensão temporal), de cor esverdeada, surgiu em “Doutor Estranho”; a joia da mente (foi a gema do Cetro Chitauri de Loki e agora está na testa do Visão – dá acesso a todos os pensamentos e sonhos de qualquer ser), de cor amarelada, esteve em “Vingadores”; e a joia da realidade (ou Éter, pode quebrar qualquer lei do universo físico), de cor avermelhada, foi revelada em “Thor: O Mundo Sombrio”. A sexta joia, a da alma, de cor alaranjada, é a única que falta aparecer e é o grande mistério a ser desvendado (ainda que merecia ter uma explicação melhor, a aparição de seu guardião deixará muita gente surpresa).
Embora Thanos tenha uma participação expressiva na narrativa, ainda há espaços para encaixar dezenas de heróis em cena (somente dois deles, infelizmente, não aparecem e a presença do Gigante Esmeralda é econômica). E o fator ‘organização’ é algo que fascina tanto pelo roteiro de Christopher Markus e Stephen McFeely, que é inspirado na mitologia criada por Stan Lee e Jack Kirby, como na direção dos Irmãos Joe e Anthony Russo, os mesmos que estiveram à frente de “Capitão América: Soldado Invernal” e “Capitão América: Guerra Civil”.
Há uma harmonia na exposição de subtramas os quais são organizadas em núcleos de ações que promovem crossovers inéditos de personagens. O mais interessante é que o roteiro diverte o público com essas interações e se adequa ao tom já estabelecido de cada herói, sem perder o espírito de equipe. Por exemplo, quando os Guardiões e Thor estão em cena, há uma atmosfera de zoeira; quando Wakanda está em foco, há sobriedade na narrativa; quando Bruce Banner, Tony Stark, Peter Parker e Doutor Estranho aparecem, há muita descontração; e, quando é preciso se ter mais seriedade na história, essa essência é inserida em momentos pontuais, em especial quando a trama valoriza o protagonismo de Thanos.
Equilíbrio, também, é a palavra que define a direção dos Irmãos Russo. Toda ação é bem amarrada e realizada de maneira tensa e grandiosa. Há momentos espetaculares que empolgarão os espectadores, seja em micro ou em macro escala. Assim, do mesmo modo, são tratadas as consequências que são catastróficas, impactantes e surpreendentes, o que contribui para que “Guerra Infinita” ganhe status de épico. Tudo isso é orquestrado por um ritmo incansável que farão as 2 horas e 30 minutos de duração passarem em um 'estalar de dedo'.
Como nos filmes anteriores, o longa é tecnicamente formidável (os efeitos visuais, em especial a maquiagem digital de Thanos, são bastante convincentes - há poucos momentos em que o CGI e as cenas em chroma key ficam artificiais) e traz novidades tecnológicas de alguns heróis, como as novas armaduras de Homem de Ferro e Homem-Aranha, os escudos do Capitão América e a nova arma de Thor. Enfim, “Vingadores: Guerra Infinita” é um filme episódico e, portanto, vamos conhecer o final desta história somente em sua quarta parte já anunciada para maio de 2019, que dará o pontapé inicial no desenvolvimento e na interação de novos personagens dentro do MCU, que o diga a única cena pós-crédito!
Um Lugar Silencioso
4.0 3,0K Assista AgoraJá não é de hoje que o conceito de ‘terror’ no cinema anda meio banalizado. A maioria dessas produções não se preocupa tanto em desenvolver narrativas e/ou concepções no intuito de provocar reações emocionais genuinamente incômodas nos espectadores. Em outras palavras, não há uma eficiência em causar o ‘medo’ em quem assiste ao filme. Devido a isso, muitos longas optam pelo ‘caminho mai$ fácil’ ao investirem em criaturas bizarras, em histórias rasas, na repugnância, na sanguinolência e em ‘jump scare’ (susto) gratuitos para promoverem o gênero.
Nos últimos anos, poucos foram as obras cinematográficas que aliaram bom conteúdo com apuro técnico para criarem atmosferas que fazem jus ao conceito do ‘terror’. Exemplos disso são “Corra!”, “Invocação do mal”, “Corrente do mal” entre outros. Há diversos estilos dentro dessa categoria e é comum encontrarmos longas que utilizam entidades demoníacas, psicopatas ou monstros ameaçadores como vilões.
No entanto, não é fácil de encontrar boas produções que fomentam o ‘medo’ por meio do ‘suspense psicológico’ cujo conceito se aplica a partir da vulnerabilidade da mente humana sobre situações implicitamente misteriosas. Algo como ‘você não vê, mas a sua mente sente’, ideia genialmente trabalhada em clássicos como “Tubarão” e “Alien – O oitavo passageiro” e, também, é executada de maneira magistral em “Um lugar silencioso”.
Dirigido, co-escrito e protagonizado por John Krasinski (“13 Horas - Os Soldados Secretos de Benghazi” e série “The Office”) e produzido por Michael Bay (!), “Um lugar silencioso” alia os estilos ‘criaturas amedrontadoras’ com ‘suspense psicológico’ na dose certa. A narrativa é simples, mas não menos curiosa, e acompanha o ponto de vista de uma família que tenta sobreviver em uma casa de campo no interior dos Estados Unidos após o mundo ter sido devastado por uma invasão alienígena. Eles devem viver em absoluto silêncio e se comunicam através de gestos e sinais. Isso porque os tais extraterrestres, que são cegos e possuem uma super audição, matam qualquer coisa que emita barulho.
A trama, com traços de distopia, inicia já com a invasão em andamento. Embora o espectador seja contextualizado em alguns momentos sobre os acontecimentos por meio de recortes de jornais, os alienígenas são tratados como uma ameaça desconhecida. Não conhecemos os motivos de estarem na Terra e mal vemos seus corpos. A única coisa que sabemos é que eles são atraídos pelo som e são hostis ao extremo.
Essa característica antagonista favorece na construção de uma atmosfera silenciosa e ininterruptamente tensa. Isso mesmo, a principal ferramenta para se criar um ‘terror psicológico’ é a falta de som em boa parte da projeção. O silêncio, trabalhado como um personagem na história, é executado de forma criativa por John Krasinski que, também, utiliza de maneira eficaz a impecável engenharia sonora que o filme possui. A inserção de qualquer ruído, sejam sussurros, chiados, diálogos, som ambiente ou trilha sonora, é encaixada de forma pontual. Além disso, há excelentes situações de encurralamento dos personagens e construções eficientes de ‘jump scare’, que nunca são repentinos ou pré-anunciados pela trilha sonora como muitas produções do gênero fazem.
Para completar a missão de fazer o espectador imergir na hisória, os personagens transmitem uma empatia ímpar. Sempre nos importamos com eles e sentimos suas dores e agonias. Mais um ponto positivo para a direção de Krasinski que demonstra competência no trabalho com o elenco. Todos os protagonistas, sem exceção, estão notáveis! Além de Emily Blunt (que é a esposa do diretor, o que ajuda na naturalidade do casal em cena), destaques também para Noah Jupe, o ator mirim coadjuvante em “Extraordinário”, e Millicent Simmonds, uma atriz com deficiência auditiva que interpreta uma garota com o mesmo problema.
O roteiro, escrito também por Bryan Woods e Scott Beck, traz reflexões interessantes sobre família, responsabilidades e, claro, discute o valor de se ter silêncio e a necessidade de se expressar e de ser ouvido, seja com barulho ou não. Sem falar que há uma interessante construção de uma lógica, visual e comportamental, no cuidado que os personagens devem ter ao evitar emitir sons. Tudo isso contribui para que “Um lugar silencioso” seja autêntico em todos os sentidos e figure entre os melhores suspenses dos últimos anos.
Mad Max: Estrada da Fúria
4.2 4,7K Assista AgoraA evolução dos efeitos visuais proporciona ao cinema tornar possível tudo aquilo que era considerado impossível. No entanto, O uso excessivo dessa tecnologia faz com que diversos longas fiquem cada vez mais artificiais. Neste contexto, "Mad Max: A Estrada da Fúria", o quarto filme da saga apocalíptica criada e dirigida por George Miller, é um respiro ao investir mais em efeitos práticos na ação que intervenções digitais.
Miller criou um gigantesco set de filmagens e abusou de coreografias bem elaboradas (e em alta velocidade!), da presença de dublês, de explosões reais e de cenários tangíveis (incluindo os estilosos veículos) para nos entregar uma ação real de cair o queixo.
A grandiosidade do filme lembra, bastante, a estrutura que os grandes épicos de antigamente tinham para criar algo crível e genuinamente impressionante. Além disso, "Mad Max: A Estrada da Fúria" é um dos destaques na questão do empoderamento feminino no cinema. A poderosa e destemida personagem Furiosa, interpretada com muito vigor por Charlize Theron, é mais importante que o próprio Max (Tom Hardy) na trama. Isso fez consolidar e alavancar ainda mais o movimento 'girl power' em outras produções subsequentes.
O que fica de lição? O cinema não pode perder sua essência prática e deve caminhar de mãos dadas com a tecnologia para fazer aflorar a diegese no espectador.
Avatar
3.6 4,5K Assista AgoraTudo visto aqui, em termos de estrutura de narrativa, não é novidade. O que torna "Avatar" um espetáculo é a originalidade e a riqueza de seus elementos fantásticos criados de maneira factível. Isso vai desde o visual nativo dos Na’Vi (raça 'alienígena' que vive no planeta Pandora), a criação de um dialeto completo até os detalhes da biodiversidade multicolorida do tal planeta.
A exuberância do complexo ecossistema é fascinante e todo o desenvolvimento desse universo se deve ao cineasta James Cameron. Ele, inclusive, gosta de inovar no cinema, que o diga os legados tecnológicos de seus trabalhos anteriores "O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final" e "Titanic". O que torna o "Avatar" revolucionário é a tecnologia 3D criada especialmente para o filme para conseguir o realismo que Cameron tanto desejava.
Câmeras 3D foram reinventadas para aperfeiçoar a captura de movimentos. Além disso, a recepção do efeito também sofreu uma inovação ao utilizar lentes duplas para que as imagens exibidas não causassem desconfortos aos espectadores. Foi o adeus aos óculos de lentes bicolores. "Avatar" é uma experiência imersiva arrebatadora.
X-Men: O Filme
3.5 903 Assista AgoraSe "Blade" demonstrou que adaptações de quadrinhos ainda eram uma boa fonte de inspirações para o cinema, "X-Men - O filme", dirigido por Brian Singer, foi o empurrão que faltava para os super-heróis e mutantes correrem soltos e se consolidarem dentro de Hollywood.
O longa, que traz interessantes críticas sociais sobre a inclusão da diversidade no mundo moderno, foi a realização do sonho de diversos fãs sobre uma das super trupes mais populares das HQs da Marvel. Sucesso nas revistas e em séries animadas para a TV, "X-Men" também foi bem recebido nas bilheterias e isso impulsionou a criação de diversos outros produtos licenciados, além, é claro, de outras sequências cinematográficas sobre esses mutantes.
Foram 10 filmes divididos em 3 trilogias e um, digamos, avulso ("Deadpool"). Uma delas é sobre o personagem mais popular da franquia, o Wolverine. E esse universo não para. Já estão previstos mais 3 longas derivados para 2018 e 2019: "Deadpool 2", "Fênix Negra" e "Os novos mutantes".
Gladiador
4.2 1,7K Assista AgoraUma das marcas de Hollywood no passado era a especialidade de fazer filmes de época, com cenários que representavam a Idade Média, o Feudalismo ou o Império Romano. Curiosamente, houve um hiato desse subgênero nos anos 80 e 90. A impressão é que esse tipo de produção estava saturada e o público desinteressado. Os poucos longas que mergulhavam em narrativas épicas não conseguiam se destacar.
Tudo isso mudou quando surgiu "Gladiador", de Ridley Scott, que retomou o subgênero em uma realização moderna e empolgante sobre um general do exército romano que tem sua família morta por um príncipe corrupto que mata o pai para se tornar Imperador. Após quase ser morto, ele é resgatado por escravos e passa a se esconder sob a identidade de um gladiador. Depois de várias vitórias em arenas pequenas, ele consegue uma luta no Coliseu, onde terá a oportunidade de voltar à Roma e se vingar.
Assim como "Matrix", filmes épicos existem antes e depois de "Gladiador", cuja técnica de direção e o trabalho estético caprichado serviram de inspiração para muitas outras produções posteriores.
Matrix
4.3 2,5K Assista AgoraRevolucionou o cinema ao implantar novas tecnologias e ao misturar efeitos práticos e gráficos com eficácia. Filmes de ação e ficção existem antes e depois de "Matrix". Além disso, o conceito e a riqueza de sua narrativa, que costura diversos temas e gêneros (religiões, filosofias, mangás, kung fu, informática, cultura cyber punk, música eletrônica e ficção científica), servem de inspiração até hoje para as novas obras.
Desde "Blade Runner - O Caçador de Androides" um longa não tinha tanto impacto e inovações como "Matrix". Novas técnicas de direção surgiram nessa produção dos irmãos, agora irmãs, Wachowski, como o efeito 'bullet time' que foi incansavelmente copiado.
A repercussão foi estrondosa e o filme se tornou um fenômeno midiático que impulsionou inúmeras tendências. Na trama, Keanu Reeves vive um hacker que descobre que a realidade em que vive não passa de uma simulação de computador controlada por máquinas dotadas de inteligência artificial.
O sucesso da produção rendeu mais duas sequências filmadas simultaneamente e lançadas nos cinemas em 2003 com intervalo de alguns meses, "Matrix Reloaded" e "Matrix Revolutions". Ambas, embora sejam inferiores ao original, também trouxeram alguma evolução como a cinematografia digital, que permitiu o aperfeiçoamento na execução de ângulos considerados impossíveis.
Blade: O Caçador de Vampiros
3.2 356 Assista AgoraApós "Batman & Robin" (1997) quase enterrar a ideia de levar as histórias em quadrinhos para as telas do cinema, "Blade - O Caçador de Vampiros" surgiu no ano seguinte para acalmar os ânimos e dar um novo pontapé nas adaptações cinematográficas originadas de HQs. Blade é um híbrido de homem e vampiro da editora Marvel. Ele possui todas as qualidades de ser um 'sanguessuga', como a força aumentada e sentidos aprimorados. No entanto, sofre pela sede de sangue que é controlada por uma substância injetável. O fato de poder conter o ponto fraco do vampirismo, o de ser imune a luz solar, por exemplo, o credencia a ser um justiceiro para caçar vampiros que subvertem a ordem da cidade onde vive. O longa, além de ser o primeiro protagonizado por um herói negro, foi bem recebido pelo público e consolidou a carreira de Wesley Snipes.
O Resgate do Soldado Ryan
4.2 1,7K Assista AgoraTecnicamente falando, é o melhor filme de guerra de todos os tempos. Vinte anos se passaram e o longa ainda é um exemplo de cinematografia a ser seguida, em especial, na implantação de realismo (câmera na mão e violência crua) nas cenas de guerra. A produção fala da missão de um grupo de soldados que é designado a encontrar e levar para casa o tal soldado Ryan, em plena Segunda Guerra Mundial. Um dos destaques é a sequência de abertura que mostra o fatídico 'Dia D', um dos momentos mais tensos, sanguinolentos e espetaculares da história do cinema. A direção de Steven Spielberg é primorosa e ele foi justamente oscarizado por seu trabalho.
Jumanji: Bem-Vindo à Selva
3.4 1,2K Assista Agora"Jumanji: Bem-Vindo à Selva" é o típico filme para se desligar o cérebro e curtir a aventura de maneira mais descompromissada possível. No entanto, como se trata de uma continuação de um longa de 1995 estrelado por Robin Williams, um dos clássicos do gênero da década de 90, é preciso observar a coerência da fantasia entre as produções antes de colocarmos a cabeça em 'off'.
A dinâmica do roteiro é praticamente a mesma do original. Ao descobrirem e jogarem um misterioso jogo de nome 'Jumanji', um grupo de jovens é transportado para a realidade da 'brincadeira' onde vivem diversas aventuras em uma selva repleta de perigos. Lá, eles conhecem um jogador que está preso e desaparecido por anos com o qual devem se aliar para finalizarem o jogo e voltarem para a casa.
Há erros e acertos nesta continuação dirigida por Jake Kasdan. A contextualização de "Jumanji" (1995), de transformar a plataforma do jogo de tabuleiro em videogame (assim como a inserção de avatares dos protagonistas) é bem vinda. O problema é que o roteiro não desenvolve com eficiência determinados detalhes dessa transformação e força o espectador a aceitar ações que fogem da lógica proposta. A falta de clareza das regras e objetivos a serem seguidos são exemplos.
Além disso, pelo orçamento de 90 milhões de dólares gastos na produção, as cenas aventurescas (incluindo os efeitos visuais em alguns momentos) mereciam ser mais bem elaboradas. Tudo parece estar no piloto automático e não há nenhuma sequência que impressione.
Por outro lado, "Jumanji: Bem-Vindo à Selva" compensa as confusões textuais e situações inconvincentes com o bom humor bem encaixado e, claro, com o carisma de seu elenco. Há boas circunstâncias cômicas protagonizadas, em especial, por Kevin Hart e Jack Black. Já Dwayne Johnson faz o seu papel de sempre, o brutamonte gente boa, e Karen Gillan, a menos conhecida da trupe, é a única que não se destaca tanto.
No fim das contas, embora falte alma ao filme (tem corpo, mas não tem essência), "Jumanji: Bem-Vindo à Selva" cumpre o que promete, o de proporcionar uma divertida aventura descartável para quem procura apenas um passatempo.
Pequena Grande Vida
2.7 431 Assista AgoraO diretor e roteirista Alexander Payne ("Nebraska" e "Os Descendentes") é um expert em dramas existenciais. Seus filmes anteriores discutem, de maneira sempre original, o valor da vida nos momentos de adversidades. "Pequena Grande Vida" é mais um exemplar de tema peculiar do cineasta que entra de cabeça em uma 'nano fantasia' que transpira criatividade, mas não consegue ser 'grande o bastante' para ser marcante.
A narrativa coloca o espectador em um mundo que enfrenta uma escassez de recursos minerais e naturais. Com isso, cientistas estão à procura de uma solução para garantir a sobrevivência ou a longevidade da humanidade. Até que uma nova tecnologia é criada e provoca o encolhimento corporal do ser humano. Um homem de 1,80 metro, por exemplo, ficará com o tamanho de 12 centímetros de altura e, assim, haverá menos produção de lixo, o dinheiro será mais rentável e os poucos recursos se tornarão duradouros por décadas.
A premissa é interessantíssima. A escolha de Payne em optar pela complexidade do gênero drama é notável, o que lhe garante alguma originalidade ao transmitir boas mensagens sobre sustentabilidade e ao discutir assuntos importantes como o preço da felicidade e os valores humanos.
O roteiro introduz o assunto de forma incrivelmente contagiante no primeiro ato. Todo o cuidado mostrado nos bastidores do encolhimento humano, o humor situacional rasteiro e as metáforas nas comparações de escalas de tamanho com a situação do protagonista são deliciosamente divertidos.
Entretanto, o discurso proposto na introdução do longa, o tom de sátira social, assim como a inventividade de mostrar as peculiaridades do mundo pequenino, se perdem no segundo e terceiro atos. Toda a utopia, que participava ativamente da história, se torna coadjuvante.
Payne muda a chave da narrativa para dar mais foco no existencialismo. Com isso, personagens secundários e novos rumos são inseridos na trama e desenvolvidos de maneira confusa e inconsistentes. É uma pena que o diretor falhe no conteúdio em que mais se destaca.
Por outro lado, a execução técnica do filme é formidável, em especial o trabalho da fotografia. A todo o momento, temos a impressão de ver tudo miniaturizado. O longa está repleto de planos plongées e de enquadramentos com os personagens em primeiro plano com o cenário em profundidade, sempre em grande escala, estourando a tela. Isso tudo, aliado a um equilíbrio com os efeitos visuais, nos faz acreditar que todos ali são, de fato, pessoas encolhidas.
No final das contas, embora Payne atinja seu objetivo textual aos trancos e barrancos, fica a frustração do espectador de o diretor não ter optado por uma aventura. “Querida, encolhi as crianças” (1989), por exemplo, é mais empolgante e consegue ser mais eficiente ao transmitir mensagens semelhantes sendo dramaticamente menos complexo. Ah, sim, quase não percebi. Matt Damon está ‘OK’.
Pantera Negra
4.2 2,3K Assista Agora“Pantera Negra” é uma celebração, uma energia singular dentro do Universo Cinematográfico Marvel (MCV). O longa é diferente visualmente, sobretudo politicamente, de outros exemplares de super-heróis, porém é estruturalmente igual a qualquer outra superprodução do estúdio Disney/Marvel ao ser fiel à sua fórmula.
A narrativa começa após os incidentes de “Capitão América: Guerra Civil”, com a morte do rei T'Chaka e o retorno de T'Challa (interpretado pelo competente Chadwick Boseman) a Wakanda. Com a morte do rei e a incerteza sobre a capacitação do príncipe em governar o país, uma das nações tecnologicamente mais avançadas do planeta e rica em metais, algumas pessoas se armam para tentar assumir o poder. Uma delas é Erik Killmonger (personagem do ótimo Michael B. Jordan), que diverge de várias convicções sobre os rumos de sua terra natal e quer, a todo custo, assumir o trono.
“Pantera Negra” não foi o primeiro super-herói negro a ter algum prestígio no cinema. Anteriormente, “Steel - O Homem de Aço” (1997), com Shaquille O'Neal, e “Blade - O Caçador de Vampiros” (1998), com Wesley Snipes, ganharam visibilidade no passado. Desses, somente o “Blade” obteve êxito. Curiosamente, no início dos anos 90, Snipes tentou levar o Pantera Negra para as telonas, mas não conseguiu.
Criado por Stan Lee e Jack Kirby, o personagem nasceu em 1966 para uma participação especial em uma aventura de “Quarteto Fantástico”. Em 1968, ele se tornou membro fixo dos Vingadores e só ganhou uma história em quadrinhos em 1977, período do Blaxploitation que ocorreu nos anos 70.
A expressão, que é a junção de ‘black’ (negro) e ‘explotaition’ (exploração), foi um movimento cinematográfico nos Estados Unidos em que os filmes eram dirigidos e protagonizados apenas por negros. Tal representatividade, que exaltava em tela a cultura negro-africana em meio às transformações políticas estadunidenses na época, ganha uma bela referência aqui, seja por sua essência visual/política ou pelo elenco quase todo afrodescendente (incluindo o diretor).
Não teve época melhor para a Disney/Marvel em lançar “Pantera Negra” no cinema. Atualmente, o mundo tem lutado cada vez mais contra o racismo e a intolerância e valorizado, na mesma intensidade, os movimentos a favor da diversidade e do respeito. E essa essência é notória e contextualizada pelo roteiro do longa dirigido pelo promissor Ryan Coogler (“Fruitvale Station” e “Creed”).
Ainda que a fantástica Wakanda se diferencie de outras nações africanas pelo avanço tecnológico e no desenvolvimento social, o país é de regime monarca, possui sistema político ditatorial (ultrapassado, porém ideal para proteger seus segredos) e tem suas fronteiras fechadas. Aliada com sua modernização, Wakanda torna-se invisível, literalmente, para outros povos para não atiçar possíveis interesses por suas grandes reservas de Vibranium (metal fictício que é considerado o mais resistente do mundo e usado para fazer o escudo do capitão América e, também, as garras e uniforme do Pantera).
Esse é motivo, pelo qual, vemos um dos antagonistas, o mercenário Garra Sônica (visto por último em “Vingadores: Era de Ultron” e vivido novamente pelo excelente Andy Serkis), que tem planos de roubar um lote do tal metal. Sua ação ainda contribui para colocar mais ‘lenha na fogueira’ sobre a delicada situação política do lugar.
A tecnologia, inclusive, é um ponto interessantíssimo em “Pantera Negra”. Há uma mescla curiosa entre futurismo e saudosismo que proporciona uma atmosfera tecno-utópica incomum no MCV sem perder a identificação nativa. Além disso, o visual multicolorido de traços africanos e os figurinos tribais folclóricos são deslumbrantes.
Ryan Coogler, ainda que não tenha a mesma inspiração de seus longas anteriores, equilibra bem o desenvolvimento da mitologia do herói, proporciona bom tempo de tela para a maioria dos personagens (com destaques para a força feminina do grupo Dora Milage e para Erik Killmonger, o melhor vilão desde Loki, cujos ideais são convincentes e cria empatia com o público) e capricha nas ações que, diga-se de passagem, são bem idealizadas, vide as perseguições de carro e a cena do cassino. Um dos poucos problemas é que há momentos com excesso de efeitos gráficos que deixam algumas sequências com aparência artificial ou borrachuda.
A ‘fórmula Marvel’ segue presente nos filmes do estúdio, assim como os inúmeros easter eggs (seja referências a outros longas, aos quadrinhos ou ao mundo real), e aqui não é diferente ao mostrar os conflitos de T'Challa em sua jornada para superar as adversidades. Claro, não pode faltar o humor peculiar da Marvel que é inserido de maneira pontual ao longo da projeção. Não é comédia com aventura como em vimos recentemente em “Thor: Ragnarok” e que causou certa polêmica, é uma aventura com momentos cômicos bem encaixados.
Enfim, “Pantera Negra” é um longa afro emblemático, imponente e um dos melhores do Universo Cinematográfico Marvel. É uma pena que seja uma produção um pouco isolada de seus coirmãos, principalmente por ser um dos palcos do aguardado “Vingadores: Guerra Infinita”, mas não deixa de ser um entretenimento obrigatório.
Sem Amor
3.8 319 Assista AgoraÉ impressionante como o título de filmes no Brasil pode ser, muitas vezes, revelador. Esta produção do cinema russo é um exemplo. Apesar disso, a expressão 'sem amor' pode ser interpretada como a moral da história ao representar a falta de benevolência da sociedade nos dias de hoje diante da relação entre pais e filhos.
A narrativa mostra o casal Zhenya e Boris que estão em meio a uma separação. Ambos já possuem novos parceiros e não vêem a hora de vender o atual apartamento para seguirem em diante com suas vidas. Após uma briga entre eles, o filho Alyosha, de 12 anos, foge de casa e desaparece.
"Sem amor" possui um tema de extrema importância para o mundo contemporâneo ao criticar a falta de responsabilidade da família que 'abandona' seus filhos. Esse afastamento pode acontecer de diversas formas, como o desinteresse, a ausência, o maltrato e, também, o esquecimento da existência de uma criança quando as brigas de uma separação tendem visar mais o interesse individual de cada um. Com isso, ninguém se importa com o psicológico ou a imaturidade dos jovens, que podem ficar confusos por estarem vivendo em um lar (o 'porto seguro') ou uma casa (lugar transitório).
Tudo isso é trabalhado pelo diretor Andrey Zvyagintsev ("Leviatã") de maneira fria, lenta e sensivelmente provocadora. Aqui, ele retrata o desamor de forma poética com câmeras estáticas, diversos planos abertos com paisagens melancólicas de cores saturadas, quase desbotadas, e muitas cenas que possuem zumbidos hipnotizantes ou silêncios 'ensurdecedores'.
O filme possui duas partes: a primeira estabelece os interesses e o confronto do casal; a segunda os une à procura pelo garoto. É curioso notar que Zvyagintsev foca de forma tão intensa as vidas paralelas dos protagonistas que até esquecemos do sumiço do menino. Quando o casal nota o desaparecimento do filho, isso se torna um plot twist eficiente. Por causa disso, além de nos surpreendermos com o fato, passamos a nos importar com o pequeno personagem e a refletir sobre a falta de amor dos pais que deixaram a tal situação acontecer.
É perturbador ver o aparente desinteresse da família na busca por Alyosha. Quando 'cai a ficha' na cabeça do casal separado, já é tarde demais e o impacto é irreversível. Destaque para a cena em que a filha diz à mãe sobre o desaparecimento do neto. É quase um clímax no meio do filme.
Pequena Grande Vida
2.7 431 Assista AgoraO diretor e roteirista Alexandre Payne é um expert em dramas existenciais. Seus filmes anteriores discutem, de maneira sempre original, o valor da vida nos momentos de adversidades. "Pequena Grande Vida" é mais um exemplar de tema peculiar do cineasta que entra de cabeça em uma 'nano fantasia' que transpira criatividade, mas não consegue ser 'grande o bastante' para ser marcante.
A narrativa coloca o espectador em um mundo que enfrenta uma escassez de recursos minerais e naturais. Com isso, cientistas estão à procura de uma solução para garantir a sobrevivência ou a longevidade da humanidade. Até que uma nova tecnologia é criada e provoca o encolhimento corporal do ser humano. Um homem de 1,80 metro, por exemplo, ficará com o tamanho de 12 centímetros de altura e, assim, haverá menos produção de lixo, o dinheiro será mais rentável e os poucos recursos se tornarão duradouros por muitas décadas.
A premissa é interessantíssima. A escolha de Payne em optar pela complexidade do gênero drama é notável, o que lhe garante alguma originalidade ao transmitir boas mensagens sobre sustentabilidade e ao discutir assuntos importantes como o preço da felicidade e os valores humanos.
O roteiro introduz o assunto de forma incrivelmente contagiante no primeiro ato. Todo o cuidado mostrado nos bastidores do encolhimento humano, o humor situacional rasteiro e as metáforas nas comparações de escalas de tamanho com a situação do protagonista são deliciosamente divertidos.
Entretanto, o discurso proposto na introdução do longa, assim como a inventividade de mostrar as peculiaridades do mundo pequenino, se perdem no segundo e terceiro atos. Toda a utopia, que participava ativamente da história, se torna coadjuvante.
Payne muda a chave da narrativa para dar mais foco no existencialismo. Com isso, personagens secundários e novos rumos são inseridos na trama e desenvolvidos de maneira confusa e inconsistente. É uma pena que o diretor falhe no conteúdio em que mais se destaca.
Por outro lado, a execução técnica do filme é formidável, em especial o trabalho da fotografia. A todo o momento, temos a impressão de ver tudo miniaturizado. O longa está repleto de planos plongées e de enquadramentos com os personagens em primeiro plano com o cenário em profundidade, sempre em grande escala, estourando a tela. Isso tudo, aliado a um equilíbrio com os efeitos visuais, nos faz acreditar que todos ali são, de fato, pessoas encolhidas.
No final das contas, embora Payne atinja seu objetivo textual nos trancos e barrancos, fica a frustração do espectador de que era melhor o diretor ter optado por uma aventura. “Querida, encolhi as crianças” (1989), por exemplo, é mais empolgante e consegue ser mais eficiente ao transmitir mensagens semelhantes sendo dramaticamente menos complexo. Ah, sim, quase não percebi. Matt Damon está ‘OK’.
No Limite
2.8 50 Assista AgoraÉ o primo pobre e conservador, mas gente boa, de "Velozes e Furiosos". Sua aparência engenhosa pode agradar aos menos exigentes. Sessão da tarde.
Projeto Flórida
4.1 1,0KAmbientado no subúrbio de Orlando, na Flórida, o longa acompanha o cotidiano de crianças que moram em um hotel que abriga famílias pobres da região.Uma delas é Moonee (Brooklynn Prince), a filha de seis anos da politicamente incorreta Halley (Bria Vinaite). Enquanto a mãe vive praticando pequenos golpes e recebendo ajuda de amigos para sobreviver, a menina, sempre travessa, aproveita sua infância e não mede esforços para brincar com os amigos, mesmo que tenha que perturbar a ordem do lugar onde mora.
O grande triunfo de "Projeto Flórida", dirigido e roteirizado por Sean Baker ("Tangerine"), é o elenco desconhecido. O único famoso é Willem Dafoe, que interpreta com muito carisma o dedicado gerente do tal hotel. É impressionante a naturalidade das crianças em cena, em especial de Brooklynn Prince, que consegue apresentar níveis dramáticos incrivelmente eficientes ao ser irritantemente atrevida e emocionalmente fofa. A atuação que ela nos entrega no clímax é de arrepiar!
A simplicidade de "Projeto Flórida" também é outro destaque. A fotografia aposta no estilo marginal, com tomadas em locações, iluminação muitas vezes natural e câmera sempre na mão, para proporcionar verossimilhança. Além disso, o realismo é tão bem trabalhado nos planos e enquadramentos que Baker consegue nos envolver facilmente com os personagens como se fôssemos um morador do local.
Com isso, a história aparentemente simples ganha alguma complexidade quando passamos a nos importar com as pessoas, gerando sentimentos como a gratidão (pelo esforço do gerente em preservar a ordem, a segurança e o cuidado para com todos), a preocupação (pela preservação do aspecto lúdico para com as crianças) e a esperança por dias melhores. Se estamos vivos, projetamos o crescimento e a felicidade, mesmo que tenhamos de enfrentar as adversidades que a vida nos impõe.
Trama Fantasma
3.7 803 Assista Agora"Trama Fantasma", dirigido e roteirizado por Paul Thomas Anderson (PTA) e protagonizado por Daniel Day-Lewis, embarca no cenário da glamorosa moda britânica nos anos 50. A narrativa foca na vida Reynolds Woodcock (Lewis), um renomado e meticuloso costureiro que faz vestidos para realezas e socialites. Ao se apaixonar pela musa e ajudante Alma (Vicky Krieps), sua vida toma um rumo inesperado. Quanto mais se esforça para evitar mudanças em seu cotidiano, mais ele fica preso ao amor que Alma tem a oferecer.
A direção de PTA, assim como seu roteiro, segue impecavelmente o seu estilo cinematográfico. Ele evita o convencionalismo, imprime o habitual ritmo lento e esbanja a sensibilidade e a elegância de sempre ao desenvolver, não só a complexidade de seus personagens, mas a ambientação que se propõe a retratar. É contagiante a forma que ele apresenta os universos em que trabalha.
O roteiro, que parece se inspirar em "O Mestre", "Embriagado de Amor" (ambos do próprio PTA) com pitadas de "Louca Obsessão", mostra as adversidades e as hipocrisias de um relacionamento. Tudo acontece de maneira silenciosa ao enfatizar o confronto entre um poderoso e egocêntrico homem e uma humilde e ambiciosa mulher. Ela sempre acata suas ordens, mas é a única que desafia sua autoridade para tentar levar mais 'texturas coloridas', não só para a vida dele, mas também para uma casa de essência metódica e insossa.
A fotografia investe em muitos planos próximos (detalhe e primeiro plano) e tomadas internas da casa de Reynolds. Isso causa uma atmosfera claustrofóbica que faz o espectador sentir o clima sufocante causado pelo protagonista ao sugar as energias das pessoas com quem ele trabalha. O curioso é que o diretor contrasta esse ambiente com a bela e pontual trilha sonora de Jonny Greenwood. Ao invés de criar suspense ou agonia, o som instrumental do piano traz uma certa calmaria que pode ser interpretada como uma representação da paciência de Alma diante de sua situação asfixiante.
Além da performance brilhante de Daniel Day-Lewis, o destaque é a atuação de Vicky Krieps. Ela é o coração do filme. Sua participação começa tímida e ingênua e, após o longo primeiro ato, sua personagem ganha intensidade e força ao costurar temas que transpiram paixão, amor, trabalho, individualismo e ódio. "Trama Fantasma", ainda que não seja o melhor filme de Paul Thomas Anderson, é uma obra autêntica e um respiro diferente para quem está cansado das tendências do cinema norte-americano.
A Grande Jogada
3.7 342 Assista Agora"A grande jogada", dirigido e roteirizado por Aaron Sorkin (escreveu o premiado "A Rede Social") e protagonizado por Jessica Chastain, é inspirado na vida de Molly Bloom, uma esquiadora que abandonou a profissão esportiva por causa de um grave acidente e se tornou milionária promovendo jogos de poker.
Os destaques são o roteiro afiado e detalhista de Sorkin e a boa edição não linear. A montagem, inclusive, é ágil e proporciona bom ritmo ao longa, principalmente ao dinamizar os diálogos e as ações da protagonista.
As interlocuções, no entanto, possuem um excesso de velocidade em alguns momentos. Embora seja uma peculiaridade de Sorkin (que se assemelha com "A Rede Social"), isso pode incomodar 'aos mais lentos', mas não prejudica no entendimento da narrativa.
Apesar disso e da longa duração, o filme nunca fica cansativo e a trama contagia o espectador pelos rumos que toma e, também, ao adentrar no curioso universo do poker. Ah, claro, a atuação de Jessica Chastain está notável e faz, aqui, o melhor trabalho da carreira.