"Lion " é uma jornada sobre perda e busca de origens. Na trama, um garotinho indiano, Saroon, se perde da família e andarilha pelo submundo da Índia. Adotado por um casal australiano, Saroon cresce com a nova família e se esquece de seu passado. Após 25 anos, em um momento de descontração com amigos ele se lembra de sua infância e busca, freneticamente, informações que levam a seus parentes biológicos.
Inspirado em fatos reais, o longa se divide em duas partes: o drama e os maus bocados de Saroon na Índia e sua vida de adulto na Austrália. A grande valia do filme, além do clímax, é sua primeira metade que possui bom ritmo e uma belíssima e contagiante fotografia que retrata, de maneira artística e realista, o submundo indiano pelos olhos de uma criança. A iluminação e os enquadramentos de câmera fazem toda a sujeita e pobreza em cena se tornarem belas, algo parecido com o termo a 'cosmética da fome' que vimos em "Cidade de Deus".
O roteiro de Luke Davies, que adapta o livro "Uma Longa Jornada para Casa", do próprio Saroo Brierley, faz com que o espectador crie um vinculo emotivo muito forte com o protagonista. As situações criadas por Davies são convincentes, tensas e de grande apelo familiar, principalmente no que diz respeito a gênese (raízes familiares), a adoção (visto como uma oportunidade de progredir na vida e ser amado) e a procura incessante pelos entes biológicos.
Tudo isso entra em harmonia na projeção por causa do diretor Garth Davis. É ele quem dá o tom dramático ao longa ao interagir os recursos técnicos que compõem uma representação cinematográfica. Ainda que o visual seja realista e o espectador ficar rodeado de tristeza, a atmosfera do longa nunca fica pesada. Isso acontece muito em função de estarmos acompanhando os acontecimentos pelo ponto de vista de uma criança, a inocência que Davis transpõe para as cenas com muita sutileza.
Além da ótima fotografia e do bom roteiro, o diretor também insere de forma pontual a sensível trilha sonora. Ela, diga-se de passagem, ajuda o clímax ficar ainda mais emocionante e, claro, contribui para o filme ser arrebatador. Destaque para as atuações seguras dos coadjuvantes Dev Patel e Nicole Kidman.
"Moonlight - Sob a Luz do Luar" é uma singela história de amor repleta de muita tristeza e solidão. O filme acompanha o introspectivo protagonista nas três fases da vida: infância, adolescência e adulta. Nas duas primeiras, Chiron sofre com bullying na escola e com o drama da mãe drogada. A vida do garoto muda quando é 'apadrinhado' pelo traficante 'gente boa' da região onde mora. Será ele sua principal inspiração para a vida adulta. Já a história de amor, se eu contar será spoiler! O filme tem bom ritmo e é muito bem dirigido e escrito por Barry Jenkins.
O roteiro, que faz um consistente estudo de personagem, é encaixadinho e possui bons diálogos, porém falha em sua conclusão por não ter, de fato, um final. Ou melhor, é o espectador quem irá imaginar a catarse que deveria ter no desfecho. Destaque para as atuações dos coadjuvantes Mahershala Ali (o traficante do primeiro ato) e Naomie Harris (mãe de Chiron).
"Manchester à beira mar" é um filme sobre rotinas, perdas e recomeço. A narrativa retrata o cotidiano do zelador Lee Chandler (Casey Affleck). Introspectivo e de estopim curto, sua vida muda após a morte do irmão e, também, por 'herdar' a guarda de seu sobrinho Patrick (Lucas Hedges), um jovem que, aparentemente, não sofreu com o falecimento do pai.
O que mais importa no longa é saber o porque de Lee Chandler ter um comportamento tão reprimido. O roteiro, com atmosfera fria e angustiante, apresenta o personagem por meio de flashbacks espalhados pela história e o espectador descobre, aos poucos, os tristes motivos pelos quais o levaram a ser o que é.
O ponto alto em que retrata a grande prostração de Lee é perturbador ao extremo e a cena dessa desolação é genialmente dirigida por Kenneth Lonergan, que também assina o roteiro. Inicialmente, a lentidão imposta por Lonergan incomoda, mas após as primeiras cenas do passado de Lee o ritmo melhora, principalmente quando o seu sobrinho Patrick começa a fazer parte de seu dia a dia.
O ator Casey Affleck está em uma atuação contida e convincente, porém quem rouba a cena, de fato, é Lucas Hedges que equilibra muito bem a pseudo independência de seu personagem com a tristeza da dor da perda e com a maturidade da superação. O auge de ambas as interpretações acontecem quando tio e sobrinho entram em discussão por motivos visivelmente fúteis, mas de grande apelo familiar.
Apesar da mão pesada de Lonergan em alguns momentos, as situações criadas pelo roteiro são bem resolvidas pelo diretor e estão longe de serem piegas e melodramáticas. Entretanto, faltou uma catarse melhor para finalizar o arco do protagonista. Claro, há certa empatia e muitas pessoas devem se identificar com Lee, mas não há a emoção suficiente para que o personagem se torne, digamos, inesquecível.
Como é bom saber que Mel Gibson está de volta como diretor de um filme! Longe dos holofotes a quase 10 anos por causa de problemas pessoais e polêmicas em seu passado, como infelizes declarações anti-semitas e homofóbicas, seus últimos longas na direção foram os excelentes "A Paixão de Cristo" (2004) e "Apocalypto" (2006). Em "Até o último homem", o ator e cineasta regressa com um bom trabalho, apenas atrás das câmeras, e prova que ainda pode nos proporcionar boas produções.
Baseado em fatos reais e permeado de misticismo, o bom roteiro de Andrew Knight e Robert Schenkkan conta a história do Desmond T. Doss (Andrew Garfield), um jovem que se tornou médico no exército e ajudou a salvar dezenas de vidas em um confronto sangrento contra os japoneses na Batalha de Okinawa, em 1945, pela Segunda Guerra Mundial. O curioso é que Doss foi para o campo de guerra sem pegar em uma arma e se tornou o primeiro Opositor Consciente da história norte-americana a receber a Medalha de Honra do Congresso por seu heroísmo.
A narrativa se divide em três partes: antes da guerra mostrando as inspirações de Doss e seu relacionamento com uma enfermeira; o treinamento no exército
e o sangrento campo de batalha. Essa última parte, Gibson demonstra que ainda está em plena forma e brinda os fãs do gênero com cenas de combate bem conduzida e de qualidade.
Tudo tem um realismo impressionante, bastante tensão e muita sanguinolência. Tecnicamente, o filme é arrebatador, em especial a maquiagem e a fotografia que proporcionam verossimilhança ao retratarem a dor e o desespero da guerra com cores acinzentadas (com detalhes em vermelho) e mutilações realistas. A dramatização possui edição ágil, muita emoção e tomadas de câmeras sempre em plano médio que faz o espectador acompanhar de perto a tragédia vivida pelos personagens.
"Até o último homem" pode não ser tão intenso ou marcante como os últimos trabalhos de Gibson, mas é uma boa retomada do cineasta ao cinema após um longo hiato na carreira. Além da excelente direção, outro destaque é Andrew Garfield que está em grande atuação. Para quem achou que a temática estava saturada se enganou. Ainda há muitas histórias ou pontos de vista sobre a Segunda Guerra que podem ser explorados.
A comédia musical “La La Land: Cantando Estações” é, de fato, muito bela. Além de estar recheado de referências sutis aos musicais clássicos, o filme é tecnicamente impecável. Méritos para o diretor Damien Chazelle, o mesmo do ótimo “Whiplash”, que faz um trabalho extraordinário, principalmente no que diz respeito à cinematografia.
Os números musicais e as coreografias de dança são bem ensaiadas e todos são rodados em longos planos sequências. Sempre com poucos cortes e movimentos de câmera que não cansam, esses planos são filmados com certa distância que dão verossimilhança e credibilidade aos esforços dos atores. O interessante é ver que tudo isso acontece na sua frente sem a interferência de artimanhas de edição. É naturalmente convincente.
As cores e as iluminações de cena são harmônicos, em especial quando a luz fica focada no ator quando o mesmo precisa cantar. Falando nisso, Emma Stone e Ryan Gosling (não sei se ele realmente toca piano, mas está bastante crível) soltam a voz com boa afinação e fazem bonito ao interpretarem belas canções. Inclusive, o casal demonstra carisma, o que é essencial em produções musicais para se criar empatia com o público.
Tudo é muito bonito e bem escrito. Além disso, o humor rasteiro é pontual, há bela trilha sonora jazz e o longa possui uma atmosfera nostálgica leve e deliciosa. Contudo, faltou um ‘gran finale’ com mais emoção. O filme merecia uma conclusão surpreendente e isso quase acontece. Entretanto, isso não tira o brilho da produção que homenageia Los Angeles ( o 'La La' do título) e sua Hollywood que já nos agraciou com inúmeros e inesquecíveis musicais.
Todo filme tem que funcionar independente de sua fonte de inspiração. As boas adaptações, assim como qualquer outra obra que possui enredo, devem usufruir das características narrativas para contar uma história, sejam elas fieis ou não. O importante é proporcionar argumentos convincentes (dentro da lógica de cada proposta) e, claro, coerência.
No cinema, longas baseados em games são 'tiros no escuro'. Além de serem caros e pouco rentáveis, essas produções até podem agradar aqueles que não têm afinidade com a obra original, mas podem desagradar o seu público alvo por não inserir detalhes narrativos que são importantes dentro do universo do jogo.
Como os games não são muito a minha praia, não posso fazer comparações entre as mídias em torno de "Assassin's Creed", o mais novo filme inspirado em um jogo de sucesso. Contudo, posso apreciá-lo como um produto cinematográfico. A premissa é interessante e passa por todas as linhas temporais para desenvolver a história: a trama é narrada no presente, há toques futurísticos e toda a ação é realizada no passado.
O filme fala de Callum Lynch (em boa atuação de Michael Fassbender), um assassino que é preso e serve como cobaia para um experimento tecnológico e revolucionário que destrava memórias genéticas. O futurismo está aí, quando uma máquina o faz viajar no tempo e experimentar as aventuras de seu ancestral Aguilar, na Espanha do século XV, onde descobre ser descendente de uma misteriosa sociedade secreta. A ação discorre, claro, por causa de interesses de uma organização que usa Callum Lynch para atingir outros objetivos.
Tecnicamente, "Assassin's Creed" é bastante eficiente. A fotografia utiliza diversos tons para situar os momentos temporais e entrega um visual caprichado, em especial quando se trata dos figurinos e da direção de arte que retratam a Espanha do século XV. Ainda que haja bons efeitos visuais e belos travellings, as cenas de ação são legais, mas não empolgam como prometia o trailer. Em algumas sequências há um excesso de cortes rápidos na edição. Isso prejudica a leitura de cena e pode não convencer, principalmente nas lutas, em que a câmera fica muito próxima dos personagens e não valoriza a maneira estilosa dos assassinos.
O roteiro possui problemas. Ele começa e termina de maneira compreensível, mas é confuso em muitos momentos de seu miolo. Algumas ideias e passagens não foram explicadas com clareza. Talvez, falte um pouco mais de didatismo em relação a detalhes que somente os fãs do game possam entender. No geral, "Assassin's Creed" é uma aventura competente e cumpre o que promete, pelo menos para aqueles que não conhecem o jogo: entretenimento.
"Kickboxer: A Vingança do Dragão" não é uma continuação de "Kickboxer - O Desafio do Dragão" (1989), estrelada por Jean-Claude Van Damme. Trata-se de uma refilmagem que também traz Van Damme no elenco. Aqui ele é o mestre que ajudará o protagonista (Alain Moussi) a vingar a morte do irmão, assassinado pelo temível Tong Po (Dave Bautista). A premissa é a mesma do original e sua contextualização poderia tido melhor sorte se não fosse o péssimo roteiro que não desenvolve os personagens e situações como deveria. As cenas de luta, que seriam o grande chamativo, são irregulares - ora atrai ora são inverossímeis - e mal editadas. Pelo menos, a canastrice de Van Damme diverte ao esbanjar irreverência e ao demonstrar que ainda está em forma para dar seus famosos 'chutinhos'.
Paulo Gustavo é, realmente, talentoso. De todos os personagens que interpreta, o melhor é a hilária Dona Hermínia, figura inspirada na própria mãe e que é a 'alma do negócio' na sequência do sucesso "Minha mãe é uma peça". Aqui, o ator atende o chamado do público fã do original: entretenimento mais do mesmo.
Esta continuação tem mais tagarelice da protagonista, diversos momentos cômicos, mais dramaticidade e tecnicamente é melhor que o antecessor. O roteiro acerta na comédia (o humor parece esquetes sequenciadas) e na premissa que coloca Hermínia diante da síndrome do ninho vazio, mas escorrega no desenvolvimento de algumas situações.
É claro que o roteiro de Paulo Gustavo, co-escrito por Fil Braz ("Tô Ryca"), é mais complexo que o anterior. Há certa dificuldade em equilibrar o foco em relação as inúmeras circunstâncias que surgiram após o primeiro filme. Antes o núcleo era a convivência conturbada entre pais (mãe, no caso) e filhos. Aqui, o argumento que dá dramaticidade ao filme é a síndrome do ninho vazio, quando Juliano e Marcelina se mudam de Niterói para São Paulo onde conseguem trabalho.
Além dos filhos, Dona Hermínia deve conciliar seu novo problema com outros obstáculos, como o programa de TV, a convivência com o netinho levado, a recepção da irmã 'chata' que mora nos Estados Unidos e o drama que envolve a tia Zélia, talvez o único fato que parece estar mais deslocado na trama no que se refere às pretensões do script.
No entanto, a personagem que poderia ter um desenvolvimento melhor é a Marcelina. É por causa dela que a narrativa se inspira para ter algum rumo, mas a fragilidade de seu desdobramento faz o filme ter um clímax ruim, pouco emotivo e com uma conclusão repentina.
No geral, "Minha mãe é uma peça 2" é uma ótima diversão e faz o espectador rir bastante das várias situações cômicas que surgem na tela de maneira pontuais.
De vez em quando, o cinema sul-coreano costuma nos brindar com algumas pérolas (como "Oldboy", "O caçador", entre outros), e "Invasão Zumbi" é uma delas. Mesmo tendo como tema os famigerados 'mortos-vivos', a produção não deixa nada a desejar com relação aos filmes hollywoodianos. Inclusive, pode-se considerar um dos melhores do subgênero.
A trama, que parece um spin-off de "Guerra Mundial Z", mostra a evolução da epidemia sob o ponto de vista de uma família. Pai e filha embarcam em um trem em Seul para a garota visitar a mãe em Busan, do outro lado do país. Durante a viagem, os passageiros são transformados em zumbis e um pequeno grupo tenta se proteger para não ser mordido e contaminado.
Atualmente, produções sobre zumbis estão mais que batidas. O que diferencia um filme do outro, sem entrar no mérito técnico e no alto investimento que pode proporcionar qualidade visual, é a forma como o roteiro expõe a premissa e trabalha os clichês. "Invasão Zumbi" tira isso de letra!
O diretor e roteirista Yeun Sang-Ho esbanja criatividade ao criar pontos de vista e cenas de tensão incomuns e com bastante emoção. Até no trivial desenvolvimento de personagens - o pai ausente, o casal de namorados, o brutamontes, a grávida e a criança em perigo, o individualista -, o cineasta consegue fazer com que todos tenham arcos dramáticos bem definidos sem ser piegas.
A qualidade visual também não fica para trás. Além dos efeitos especiais e maquiagens convincentes, a fotografia também ajuda a criar o clima de suspense. Os enquadramentos de câmera eficientes, o bom uso da iluminação e o cenário apocalíptico bem feito proporcionam uma atmosfera claustrofóbica ímpar de dar inveja em muitas produções estadunidenses.
Certamente, "Invasão Zumbi" é uma das melhores produções sobre 'mortos-vivos' dos últimos anos!
"Doutor Estranho" talvez seja o filme que mais foge do convencionalismo que estamos acostumados a ver no subgênero nas produções Marvel. Isso também não quer dizer muita coisa. A concepção mística e o visual psicodélico dão certa pseudoprofundidade e beleza ao filme. Benedict Cumberbatch é um monstro na atuação. Os toques matrixianos na distorção da realidade e os efeitos visuais que nos remetem a "A origem" contagiam o público. No entanto, tudo isso não fica marcante para o espectador. Se a premissa e o visual são os trunfos, a execução soa um tanto quanto burocrática. O longa tem potencial para ser ainda maior e melhor, porém se aliena demais ao 'padrão Marvel de fazer cinema'. Tudo está encaixadinho e com os pingos nos 'is', inclusive o didatismo do roteiro incomodou parte da crítica, mas faltou ser mais emblemático.
"Deadpool" é a maior surpresa do ano, tanto na bilheteria como na execução. Inspirado em um curta metragem que viralizou na internet, Deadpool é um anti-herói (que se tornou herói) do universo dos X-Men que quebra a quarta parede e conversa com o espectador. Além disso, o filme é a prova que esse subgênero pode ser, sim, 'para maiores'. Personagem desbocado, piadas de humor negro inseridas de maneira pontuais e o alto nível de violência conquistaram o público. Talvez, o que poderia ser melhorado no longa é a estrutura narrativa. É um lá-e-cá em flashbacks para explicar o passado do protagonista que pode incomodar os mais exigentes. Entretanto, isso não atrapalhou o brilho do filme que rendeu milhões de fãs pelo mundo. Proporcionalmente falando, "Deadpool" foi o que melhor faturou dentre os longas de super heróis em 2016. Custou pouco e rendeu muito. Por causa disso, já garantiu continuações.
A expectativa foi grande, principalmente pelo sucesso do filme anterior "Dias de um futuro esquecido" e pelo grande vilão que se anunciou. No final das contas, o filme está longe de ser ruim e diverte bastante, mas não surpreendeu e os clichês prevaleceram. Dos longas de super-heróis de 2016, esse foi o único que fracassou nos Estados Unidos e não conseguiu se pagar na terra do Tio Sam. Precisou dos cifrões internacionais para cobrir o orçamento e faturar. Com Brian Singer novamente na direção, o cineasta demonstrou ter boa mão para comandar cenas de ação (a sequência do Mercúrio é uma das mais espetaculares do ano), porém nem tanto para desenvolver o roteiro. O filme prometeu ser bem maior nos trailers, mas não é isso o que vemos. É uma pena que seja raso em discutir suas tradicionais alegorias. No geral, é uma boa sessão da tarde.
Dos filmes de super-heróis de 2016, "Esquadrão Suicida" foi o único ruim. A ideia era excelente, mas a execução foi abaixo da média. O motivo? Talvez seja a recepção negativa da crítica sobre o co-irmão "Batman Vs Superman", que estreou meses antes, e a comparação esdrúxula entre os universos da DC Comics (sombrio) e da Marvel (divertido). A falta de uma atmosfera mais leve obrigou os produtores da Warner a refazerem diversas cenas na pós produção inserindo mais situações cômicas e mais cores. Além disso, toda a campanha de marketing sofreu alterações e aumentou ainda mais a expectativa do público para com o filme. O resultado? Foi bem nas bilheterias, mas um insucesso ainda maior da crítica especializada que já havia 'rebaixado' "Batman Vs Superman". De fato, poucas coisas se salvam, como os personagens do Pistoleiro e Arlequina que possuem arcos dramáticos interessantes e a participação do Batman de Ben Affleck. O resto, incluindo o esquisito Coringa, infelizmente, não colou. Direção e roteiros ruins foram comprometidos pela ganância de seus produtores.
"Sully: O herói do rio Hudson" é uma cinebiografia de Capitão Chesley "Sully" Sullenberger. Ele foi o piloto do Airbus A320 que teve de fazer um pouso de emergência no Rio Hudson, em Nova Iorque, em 2009, após um bando de aves colidir com a aeronave que comandava. Suas decisões e experiência na aviação diante do momento crítico fizeram dele um heroi nacional, principalmente por ter salvo toda a tripulação.
O foco aqui não é o 'Milagre no Hudson', como o episódio ficou conhecido, que transformou o comandante em 'herói celebridade', mas os eventos por trás do fato heroico antes, durante e depois do incidente. Para amarrar todas as pontas dessa dramaticidade, nada melhor que um roteiro redondinho de Todd Komarnicki e contar com as presenças do competente Tom Hanks no elenco (em uma performance séria e contida) e com um Clint Eastwood perfeccionista na direção.
Clint, inclusive, foi detalhista ao explorar a história de Sully, que participou da pré produção, para que tudo saísse de forma realista, sem ser piegas e com muita sutileza. Ele encaixa todas as situações de maneira pontuais. Até nos bons momentos de tensão e nas cenas espetaculares (vide os primeiros minutos), há uma sensibilidade que nos contagia.
O filme, embora tenha uma premissa semelhante com "O voo", de Robert Zemeckis, não fica restrito ao drama da queda da aeronave sobre o rio Hudson, que é reconstituída de forma eficiente pela bela fotografia acinzentada e pelos bons efeitos visuais. O roteiro vai além do 'momento tragédia': aborda a transformação de uma pessoa comum em herói nacional pela mídia; retrata situações pós traumáticas de Sully, sobretudo pela demora em assimilar tudo o que acontece, e a investigação sofre o acidente que tenta desconstruir a reputação do protagonista. O processo de averiguação, embora faça parte do protocolo em acidentes aéreos, chega a ser um antagonista diante das ações de Sully e, também, da aclamação popular que o considera um ícone pela proeza.
A introspecção do personagem principal aliada a sua humildade e ao profissionalismo é que fazem emocionar. Sully, apesar de ter salvo 155 vidas em uma situação inacreditável, se tornou notável pelo simples fato de exercer sua função com perfeição e frieza, ao fazer a coisa certa na hora certa.
Essa sequência de "Independence Day" (1996) até tem uma premissa condizente, mas o roteiro subestima demais a inteligência do espectador. Há muitas falhas de elipses, inúmeros personagens mal desenvolvidos e a trama sofre com várias soluções fáceis e repentinas. É um filme que tem corpo de adulto e mentalidade de adolescente. Embora seja tecnicamente moderno e bem feito, Roland Emmerich estiliza a direção como se estivesse no anos 90, quando os longas aventurescos pouco se importavam com quaisquer coerências narrativas. As duas coisas que fazem compensar os 120 minutos de projeção são os espetaculares efeitos visuais e o ritmo dinâmico que Emmerich proporciona nas cenas de ação. Não precisa ser diferente, basta ser bem feito. É isso que vemos aqui, mais do mesmo com doses cavalares de destruição.
Há quem goste do estilo filosófico do cineasta Terrence Malick ("A árvore da vida" e "Amor Pleno"). Não me incomodo com o excesso de lirismo que se mistura ao show de imagens para contar uma história, desde que sua proposta esteja clara, o que não acontece aqui. A estrutura narrativa se assemelha aos últimos trabalhos: ritmo lento, inúmeras metáforas, poucos diálogos e muita narração em off. O maior problema é o roteiro confuso de tom extremamente depressivo. Nunca há um equilíbrio para tratar de temas tão profundos, como desavenças familiares, dramas existenciais, relacionamentos infrutíferos e riqueza que não traz felicidade. Em certos momentos não sabemos o que são lembranças e presente do protagonista. Isso faz de "Cavaleiro de copas" ser cansativo, pobre na identificação de personagens e ruim de conteúdo reflexivo.
É quase impossível não comparar o clássico de 1959, até hoje considerado o maior épico da história do cinema, com essa releitura de "Ben-Hur". Ainda assim, é preciso um pouco de esforço para analisar essa nova versão, dirigida por Timur Bekmambetov, que não é ruim, mas esquecível.
"Ben-Hur" é tecnicamente espetacular. Direção de arte, figurinos e efeitos visuais atualizam com boa qualidade estética a reconstituição de época. Apesar de o elenco atual não ser tão carismático (Jack Huston até se esforça, mas não é um Charlton Heston), o que mais difere da versão de 1949 em relação a trama é o foco.
Enquanto a produção dirigida por William Wyler dramatizava as situações com boas pitadas religiosas, aqui o enfoque é na aventura. Claro, também há passagens bíblicas e uma participação maior de Jesus Cristo que está bem interpretado por Rodrigo Santoro, mas os momentos em cena do nazareno não são emblemáticos como no clássico.
"Ben-Hur" tem fôlego, mas não é grandioso como deveria ser. Isso se deve a direção burocrática de Bekmambetov. A impressão é que o cineasta evitou a criatividade visual que lhe foi tão peculiar em seus longas anteriores e respeitou o legado do clássico ao trabalhar em cima de uma cartilha pronta. Por isso vemos um certo convencionalismo aplicado à fotografia, nos planos e enquadramentos de câmera, nada que outros épicos não tenham mostrado antes.
Ao menos, o roteiro e a montagem não decepcionaram em relação a objetividade narrativa e nas sequências de ação, principalmente na tensa batalha naval e na famosa corrida de bigas, tão boa e longa como àquela de 1959. No geral, "Ben-Hur" é um entretenimento correto, tem lá sua emoção e não pretende ser melhor que a obra de inspiração, que ainda é a grande referência sobre o simbólico personagem-título.
"Demônio de Neon", dirigido por Nicolas Winding Refn (NWR), do premiado "Drive", traz o que o cineasta tem de melhor: apuro técnico. Entretanto, o roteiro, escrito por ele, que retrata de forma curiosa e obscura os bastidores da indústria da moda, com ponto de vista de uma modelo iniciante, pode causar incômodo em seu terceiro ato pelo radicalismo na transição de gêneros.
Até que a reviravolta aconteça, o filme é envolvente ao apresentar uma estética de cores fortes, ritmo lento, enquadramentos estáticos, tomadas em slowmotion e movimentos singelos de câmera. Aliado a esse conjunto que de características que compõe a bela fotografia do longa, há uma trilha sonora interessante de Cliff Martinez que imersa o espectador em músicas eletrônicas de tons progressivos que remete ao estilo musical dos anos 80.
Para quem curte o feitio de NWR pode ficar extasiado com a plasticidade bem conduzida por ele. Além disso, o cineasta dinamarquês trabalha com eficiência o mistério e a tensão ao descrever a jornada da jovem e promissora modelo - bem interpretada por Elle Fanning, que parece ser um 'demônio' para as concorrentes.
O conceito do título se aplica a qualquer personagem que aparece durante a projeção. Todos são retratados de forma sombria e com cara de poucos amigos, o que garantem a aura enigmática do longa. Tal particularidade da trama contribui para dar intensidade ao clímax perturbador.
A grande manobra do roteiro pode dividir opiniões, principalmente por jogar na tela de forma repentina um gênero terror ‘hardcore’ que, de certa forma, não foi sugerido ao longo da narrativa. O desfecho é um conceito alegórico de representar a moral da história que pode causar estranheza pelas bizarrices em cena. Se isso funciona ou não, dependerá da apreciação de cada um.
"Pets - A vida secreta dos bichos" tem uma premissa original e uma execução convencional. A ideia em retratar o que o bichinho de estimação fica fazendo quando seus donos saem de casa é incomum e curiosa, mas o que vemos após o primeiro ato é uma aventura clichê que foge completamente da proposta inicial. Claro, toda fábula mostra um pouco dessa concepção, mas é raro vermos um foco tão autêntico como o que prometia a campanha de marketing de "Pets". Apesar disso, o longa tem bom ritmo, um visual bacana multicolorido, diversos personagens adoráveis e é divertidíssimo. Para quem possui algum pet em casa vai se identificar com várias situações. As peculiaridades de cães e gatos sozinhos em apartamentos nova-iorquinos (que está muito bem feita digitalmente) geram piadas criativas e muito humor situacional. "Pets" é bom, mas fica a sensação de que poderia ser ainda melhor.
Bom filme esse "Mais forte que o mundo", a cinebiografia do lutador de MMA José Aldo, o primeiro brasileiro a conquistar o cinturão no UFC. O elenco está ótimo, com destaque para José Loreto, e há um apuro técnico interessante, principalmente ao montar as sequencias de lutas - o que indica que a recente estadia do diretor Afonso Poyart em Hollywood foi bem aproveitada.
O longa só não é excelente porque o roteiro 'não deixa'. Por mais que a obra possa ter retratada de maneira fiel as duras situações vividas por Aldo, faltou criatividade para fugir do lugar comum. Até há um certo lirismo na narrativa
quando o protagonista tem que vencer a si próprio e superar seu passado
, mas não é o suficiente para a premissa ser, digamos, diferente. Histórias iguais as essas no cinema (com ambientação em subúrbios ou favelas) têm aos montes e o que vemos não causa tanto impacto.
Entretanto, o longa surpreende nos quesitos técnicos. Além da coreografia convincente das lutas, a direção competente de Poyart imprime ritmo ágil, trabalha com uma montagem eficiente, encaixa bem a trilha sonora e a fotografia é contagiante. Os enquadramentos que fogem do convencional (com direito a vários travelings circulares) e os bons momentos de câmeras lentas dão realismo nas ações dentro dos ringues. O slow motion, inclusive, espetaculariza algumas sequências e faz o filme ficar mais cool. Essa ferramenta funciona de forma pontual na maioria das cenas, algo raro de se ver no cinema brasileiro. No geral, "Mais forte que o mundo" cumpre o que promete: entretenimento!
Comédia e ação são gêneros que nunca se esgotam, principalmente quando ambos se juntam. No entanto, nem todos os filmes dão liga. A boa notícia é que "Um espião e meio" funciona. Os protagonistas Kevin Hart e Dwayne Johnson têm boa química, há boas piadas e um 'The Rock', em pancadaria estilo "Jason Bourne", com excelente timing cômico. Entretanto, o que sobra de conteúdo anedótico no roteiro, com gags situacionais pontuais e humor negro sem ser escrachado, falta na trama de espionagem que se mostra confusa e inconsistente. Pelo menos, o longa traz uma mensagem legal contra o bullying (apesar de dramática, a caracterização de um Johnson mais jovem ficou hilária!). Dos filmes desse subgênero 'comédia de ação', ainda prefiro "A hora do Rush" e "A espiã que sabia de menos". No geral, é um divertido entretenimento perfeito para as tardes de domingo!
Ainda mais forçado e inconvincente que o primeiro filme. Se o antecessor tinha, ao menos, um enredo interessante que trazia um embate entre 'ciência x religião', "Deus não está morto 2" subestima a inteligência do espectador com um argumento banal sobre um julgamento de contornos dramáticos inverossímeis e de péssima execução.
O embate entre a 'lei de Deus x lei dos homens', motivado por uma passagem bíblica citada por uma professora aos seus alunos e que não agradou a cúpula de sua escola, não cola. Além disso, o fraco roteiro erra a mão em quase tudo, principalmente ao jogar certas situações sem desenvolver uma introdução para o seu surgimento em tela. Isso traz uma série de diálogos ocos e expõe a fragilidade do roteiro ao amarrar suas subtramas de forma, muitas vezes, incongruentes.
O filme possui uma premissa que não justifica o título e as atuações são caricatas ao extremo. Embora seja essencialmente evangélico, "Deus não está morto 2" carece de qualidade em quase todos os aspectos. Há excelentes produções com temáticas religiosas, como "Milagres do paraíso" e "90 minutos no paraíso", que são muito mais cinema (no sentido de realização) e transmitem o poder da 'palavra de Deus' sem exageros narrativos.
"Em nome da lei" possui excelente premissa policial, mas péssima execução. Os caminhos que o roteiro toma ao decorrer da narrativa ficam cada vez mais convencionais, novelescos e inconvincentes. Nenhum personagem tem um desenvolvimento satisfatório, as atuações têm timing televisivo (Chico Díaz é o único que se sobressai diante dos demais) e a construção da tal cidade Fronteira é confusa e grotesca. As reviravoltas parecem plagiar o clima de tensão na fronteira EUA e México (traficantes, matadores de aluguel e corrupção) e a maioria da dramaticidade mostrada é mal dirigida. Há boa intenção de valorizar o poder da lei, mas a aplicação da mesma carece de verossimilhança.
Lion: Uma Jornada para Casa
4.3 1,9K Assista Agora"Lion " é uma jornada sobre perda e busca de origens. Na trama, um garotinho indiano, Saroon, se perde da família e andarilha pelo submundo da Índia. Adotado por um casal australiano, Saroon cresce com a nova família e se esquece de seu passado. Após 25 anos, em um momento de descontração com amigos ele se lembra de sua infância e busca, freneticamente, informações que levam a seus parentes biológicos.
Inspirado em fatos reais, o longa se divide em duas partes: o drama e os maus bocados de Saroon na Índia e sua vida de adulto na Austrália. A grande valia do filme, além do clímax, é sua primeira metade que possui bom ritmo e uma belíssima e contagiante fotografia que retrata, de maneira artística e realista, o submundo indiano pelos olhos de uma criança. A iluminação e os enquadramentos de câmera fazem toda a sujeita e pobreza em cena se tornarem belas, algo parecido com o termo a 'cosmética da fome' que vimos em "Cidade de Deus".
O roteiro de Luke Davies, que adapta o livro "Uma Longa Jornada para Casa", do próprio Saroo Brierley, faz com que o espectador crie um vinculo emotivo muito forte com o protagonista. As situações criadas por Davies são convincentes, tensas e de grande apelo familiar, principalmente no que diz respeito a gênese (raízes familiares), a adoção (visto como uma oportunidade de progredir na vida e ser amado) e a procura incessante pelos entes biológicos.
Tudo isso entra em harmonia na projeção por causa do diretor Garth Davis. É ele quem dá o tom dramático ao longa ao interagir os recursos técnicos que compõem uma representação cinematográfica. Ainda que o visual seja realista e o espectador ficar rodeado de tristeza, a atmosfera do longa nunca fica pesada. Isso acontece muito em função de estarmos acompanhando os acontecimentos pelo ponto de vista de uma criança, a inocência que Davis transpõe para as cenas com muita sutileza.
Além da ótima fotografia e do bom roteiro, o diretor também insere de forma pontual a sensível trilha sonora. Ela, diga-se de passagem, ajuda o clímax ficar ainda mais emocionante e, claro, contribui para o filme ser arrebatador. Destaque para as atuações seguras dos coadjuvantes Dev Patel e Nicole Kidman.
Moonlight: Sob a Luz do Luar
4.1 2,4K Assista Agora"Moonlight - Sob a Luz do Luar" é uma singela história de amor repleta de muita tristeza e solidão. O filme acompanha o introspectivo protagonista nas três fases da vida: infância, adolescência e adulta. Nas duas primeiras, Chiron sofre com bullying na escola e com o drama da mãe drogada. A vida do garoto muda quando é 'apadrinhado' pelo traficante 'gente boa' da região onde mora. Será ele sua principal inspiração para a vida adulta. Já a história de amor, se eu contar será spoiler! O filme tem bom ritmo e é muito bem dirigido e escrito por Barry Jenkins.
O roteiro, que faz um consistente estudo de personagem, é encaixadinho e possui bons diálogos, porém falha em sua conclusão por não ter, de fato, um final. Ou melhor, é o espectador quem irá imaginar a catarse que deveria ter no desfecho. Destaque para as atuações dos coadjuvantes Mahershala Ali (o traficante do primeiro ato) e Naomie Harris (mãe de Chiron).
Manchester à Beira-Mar
3.8 1,4K Assista Agora"Manchester à beira mar" é um filme sobre rotinas, perdas e recomeço. A narrativa retrata o cotidiano do zelador Lee Chandler (Casey Affleck). Introspectivo e de estopim curto, sua vida muda após a morte do irmão e, também, por 'herdar' a guarda de seu sobrinho Patrick (Lucas Hedges), um jovem que, aparentemente, não sofreu com o falecimento do pai.
O que mais importa no longa é saber o porque de Lee Chandler ter um comportamento tão reprimido. O roteiro, com atmosfera fria e angustiante, apresenta o personagem por meio de flashbacks espalhados pela história e o espectador descobre, aos poucos, os tristes motivos pelos quais o levaram a ser o que é.
O ponto alto em que retrata a grande prostração de Lee é perturbador ao extremo e a cena dessa desolação é genialmente dirigida por Kenneth Lonergan, que também assina o roteiro. Inicialmente, a lentidão imposta por Lonergan incomoda, mas após as primeiras cenas do passado de Lee o ritmo melhora, principalmente quando o seu sobrinho Patrick começa a fazer parte de seu dia a dia.
O ator Casey Affleck está em uma atuação contida e convincente, porém quem rouba a cena, de fato, é Lucas Hedges que equilibra muito bem a pseudo independência de seu personagem com a tristeza da dor da perda e com a maturidade da superação. O auge de ambas as interpretações acontecem quando tio e sobrinho entram em discussão por motivos visivelmente fúteis, mas de grande apelo familiar.
Apesar da mão pesada de Lonergan em alguns momentos, as situações criadas pelo roteiro são bem resolvidas pelo diretor e estão longe de serem piegas e melodramáticas. Entretanto, faltou uma catarse melhor para finalizar o arco do protagonista. Claro, há certa empatia e muitas pessoas devem se identificar com Lee, mas não há a emoção suficiente para que o personagem se torne, digamos, inesquecível.
Até o Último Homem
4.2 2,0K Assista AgoraComo é bom saber que Mel Gibson está de volta como diretor de um filme! Longe dos holofotes a quase 10 anos por causa de problemas pessoais e polêmicas em seu passado, como infelizes declarações anti-semitas e homofóbicas, seus últimos longas na direção foram os excelentes "A Paixão de Cristo" (2004) e "Apocalypto" (2006). Em "Até o último homem", o ator e cineasta regressa com um bom trabalho, apenas atrás das câmeras, e prova que ainda pode nos proporcionar boas produções.
Baseado em fatos reais e permeado de misticismo, o bom roteiro de Andrew Knight e Robert Schenkkan conta a história do Desmond T. Doss (Andrew Garfield), um jovem que se tornou médico no exército e ajudou a salvar dezenas de vidas em um confronto sangrento contra os japoneses na Batalha de Okinawa, em 1945, pela Segunda Guerra Mundial. O curioso é que Doss foi para o campo de guerra sem pegar em uma arma e se tornou o primeiro Opositor Consciente da história norte-americana a receber a Medalha de Honra do Congresso por seu heroísmo.
A narrativa se divide em três partes: antes da guerra mostrando as inspirações de Doss e seu relacionamento com uma enfermeira; o treinamento no exército
(faltou mostrar sua capacitação mdica)
Tudo tem um realismo impressionante, bastante tensão e muita sanguinolência. Tecnicamente, o filme é arrebatador, em especial a maquiagem e a fotografia que proporcionam verossimilhança ao retratarem a dor e o desespero da guerra com cores acinzentadas (com detalhes em vermelho) e mutilações realistas. A dramatização possui edição ágil, muita emoção e tomadas de câmeras sempre em plano médio que faz o espectador acompanhar de perto a tragédia vivida pelos personagens.
"Até o último homem" pode não ser tão intenso ou marcante como os últimos trabalhos de Gibson, mas é uma boa retomada do cineasta ao cinema após um longo hiato na carreira. Além da excelente direção, outro destaque é Andrew Garfield que está em grande atuação. Para quem achou que a temática estava saturada se enganou. Ainda há muitas histórias ou pontos de vista sobre a Segunda Guerra que podem ser explorados.
La La Land: Cantando Estações
4.1 3,6K Assista AgoraA comédia musical “La La Land: Cantando Estações” é, de fato, muito bela. Além de estar recheado de referências sutis aos musicais clássicos, o filme é tecnicamente impecável. Méritos para o diretor Damien Chazelle, o mesmo do ótimo “Whiplash”, que faz um trabalho extraordinário, principalmente no que diz respeito à cinematografia.
Os números musicais e as coreografias de dança são bem ensaiadas e todos são rodados em longos planos sequências. Sempre com poucos cortes e movimentos de câmera que não cansam, esses planos são filmados com certa distância que dão verossimilhança e credibilidade aos esforços dos atores. O interessante é ver que tudo isso acontece na sua frente sem a interferência de artimanhas de edição. É naturalmente convincente.
As cores e as iluminações de cena são harmônicos, em especial quando a luz fica focada no ator quando o mesmo precisa cantar. Falando nisso, Emma Stone e Ryan Gosling (não sei se ele realmente toca piano, mas está bastante crível) soltam a voz com boa afinação e fazem bonito ao interpretarem belas canções. Inclusive, o casal demonstra carisma, o que é essencial em produções musicais para se criar empatia com o público.
Tudo é muito bonito e bem escrito. Além disso, o humor rasteiro é pontual, há bela trilha sonora jazz e o longa possui uma atmosfera nostálgica leve e deliciosa. Contudo, faltou um ‘gran finale’ com mais emoção. O filme merecia uma conclusão surpreendente e isso quase acontece. Entretanto, isso não tira o brilho da produção que homenageia Los Angeles ( o 'La La' do título) e sua Hollywood que já nos agraciou com inúmeros e inesquecíveis musicais.
Assassin's Creed
2.9 948 Assista AgoraTodo filme tem que funcionar independente de sua fonte de inspiração. As boas adaptações, assim como qualquer outra obra que possui enredo, devem usufruir das características narrativas para contar uma história, sejam elas fieis ou não. O importante é proporcionar argumentos convincentes (dentro da lógica de cada proposta) e, claro, coerência.
No cinema, longas baseados em games são 'tiros no escuro'. Além de serem caros e pouco rentáveis, essas produções até podem agradar aqueles que não têm afinidade com a obra original, mas podem desagradar o seu público alvo por não inserir detalhes narrativos que são importantes dentro do universo do jogo.
Como os games não são muito a minha praia, não posso fazer comparações entre as mídias em torno de "Assassin's Creed", o mais novo filme inspirado em um jogo de sucesso. Contudo, posso apreciá-lo como um produto cinematográfico. A premissa é interessante e passa por todas as linhas temporais para desenvolver a história: a trama é narrada no presente, há toques futurísticos e toda a ação é realizada no passado.
O filme fala de Callum Lynch (em boa atuação de Michael Fassbender), um assassino que é preso e serve como cobaia para um experimento tecnológico e revolucionário que destrava memórias genéticas. O futurismo está aí, quando uma máquina o faz viajar no tempo e experimentar as aventuras de seu ancestral Aguilar, na Espanha do século XV, onde descobre ser descendente de uma misteriosa sociedade secreta. A ação discorre, claro, por causa de interesses de uma organização que usa Callum Lynch para atingir outros objetivos.
Tecnicamente, "Assassin's Creed" é bastante eficiente. A fotografia utiliza diversos tons para situar os momentos temporais e entrega um visual caprichado, em especial quando se trata dos figurinos e da direção de arte que retratam a Espanha do século XV. Ainda que haja bons efeitos visuais e belos travellings, as cenas de ação são legais, mas não empolgam como prometia o trailer. Em algumas sequências há um excesso de cortes rápidos na edição. Isso prejudica a leitura de cena e pode não convencer, principalmente nas lutas, em que a câmera fica muito próxima dos personagens e não valoriza a maneira estilosa dos assassinos.
O roteiro possui problemas. Ele começa e termina de maneira compreensível, mas é confuso em muitos momentos de seu miolo. Algumas ideias e passagens não foram explicadas com clareza. Talvez, falte um pouco mais de didatismo em relação a detalhes que somente os fãs do game possam entender. No geral, "Assassin's Creed" é uma aventura competente e cumpre o que promete, pelo menos para aqueles que não conhecem o jogo: entretenimento.
Kickboxer: A Vingança do Dragão
2.5 101 Assista Agora"Kickboxer: A Vingança do Dragão" não é uma continuação de "Kickboxer - O Desafio do Dragão" (1989), estrelada por Jean-Claude Van Damme. Trata-se de uma refilmagem que também traz Van Damme no elenco. Aqui ele é o mestre que ajudará o protagonista (Alain Moussi) a vingar a morte do irmão, assassinado pelo temível Tong Po (Dave Bautista). A premissa é a mesma do original e sua contextualização poderia tido melhor sorte se não fosse o péssimo roteiro que não desenvolve os personagens e situações como deveria. As cenas de luta, que seriam o grande chamativo, são irregulares - ora atrai ora são inverossímeis - e mal editadas. Pelo menos, a canastrice de Van Damme diverte ao esbanjar irreverência e ao demonstrar que ainda está em forma para dar seus famosos 'chutinhos'.
Minha Mãe é Uma Peça 2
3.5 807Paulo Gustavo é, realmente, talentoso. De todos os personagens que interpreta, o melhor é a hilária Dona Hermínia, figura inspirada na própria mãe e que é a 'alma do negócio' na sequência do sucesso "Minha mãe é uma peça". Aqui, o ator atende o chamado do público fã do original: entretenimento mais do mesmo.
Esta continuação tem mais tagarelice da protagonista, diversos momentos cômicos, mais dramaticidade e tecnicamente é melhor que o antecessor. O roteiro acerta na comédia (o humor parece esquetes sequenciadas) e na premissa que coloca Hermínia diante da síndrome do ninho vazio, mas escorrega no desenvolvimento de algumas situações.
É claro que o roteiro de Paulo Gustavo, co-escrito por Fil Braz ("Tô Ryca"), é mais complexo que o anterior. Há certa dificuldade em equilibrar o foco em relação as inúmeras circunstâncias que surgiram após o primeiro filme. Antes o núcleo era a convivência conturbada entre pais (mãe, no caso) e filhos. Aqui, o argumento que dá dramaticidade ao filme é a síndrome do ninho vazio, quando Juliano e Marcelina se mudam de Niterói para São Paulo onde conseguem trabalho.
Além dos filhos, Dona Hermínia deve conciliar seu novo problema com outros obstáculos, como o programa de TV, a convivência com o netinho levado, a recepção da irmã 'chata' que mora nos Estados Unidos e o drama que envolve a tia Zélia, talvez o único fato que parece estar mais deslocado na trama no que se refere às pretensões do script.
No entanto, a personagem que poderia ter um desenvolvimento melhor é a Marcelina. É por causa dela que a narrativa se inspira para ter algum rumo, mas a fragilidade de seu desdobramento faz o filme ter um clímax ruim, pouco emotivo e com uma conclusão repentina.
No geral, "Minha mãe é uma peça 2" é uma ótima diversão e faz o espectador rir bastante das várias situações cômicas que surgem na tela de maneira pontuais.
E o brinde ao final do longa é a ponta para uma terceira parte das peripécias da Dona Hermínia.
Invasão Zumbi
4.0 2,0K Assista AgoraDe vez em quando, o cinema sul-coreano costuma nos brindar com algumas pérolas (como "Oldboy", "O caçador", entre outros), e "Invasão Zumbi" é uma delas. Mesmo tendo como tema os famigerados 'mortos-vivos', a produção não deixa nada a desejar com relação aos filmes hollywoodianos. Inclusive, pode-se considerar um dos melhores do subgênero.
A trama, que parece um spin-off de "Guerra Mundial Z", mostra a evolução da epidemia sob o ponto de vista de uma família. Pai e filha embarcam em um trem em Seul para a garota visitar a mãe em Busan, do outro lado do país. Durante a viagem, os passageiros são transformados em zumbis e um pequeno grupo tenta se proteger para não ser mordido e contaminado.
Atualmente, produções sobre zumbis estão mais que batidas. O que diferencia um filme do outro, sem entrar no mérito técnico e no alto investimento que pode proporcionar qualidade visual, é a forma como o roteiro expõe a premissa e trabalha os clichês. "Invasão Zumbi" tira isso de letra!
O diretor e roteirista Yeun Sang-Ho esbanja criatividade ao criar pontos de vista e cenas de tensão incomuns e com bastante emoção. Até no trivial desenvolvimento de personagens - o pai ausente, o casal de namorados, o brutamontes, a grávida e a criança em perigo, o individualista -, o cineasta consegue fazer com que todos tenham arcos dramáticos bem definidos sem ser piegas.
A qualidade visual também não fica para trás. Além dos efeitos especiais e maquiagens convincentes, a fotografia também ajuda a criar o clima de suspense. Os enquadramentos de câmera eficientes, o bom uso da iluminação e o cenário apocalíptico bem feito proporcionam uma atmosfera claustrofóbica ímpar de dar inveja em muitas produções estadunidenses.
Certamente, "Invasão Zumbi" é uma das melhores produções sobre 'mortos-vivos' dos últimos anos!
Doutor Estranho
4.0 2,2K Assista Agora"Doutor Estranho" talvez seja o filme que mais foge do convencionalismo que estamos acostumados a ver no subgênero nas produções Marvel. Isso também não quer dizer muita coisa. A concepção mística e o visual psicodélico dão certa pseudoprofundidade e beleza ao filme. Benedict Cumberbatch é um monstro na atuação. Os toques matrixianos na distorção da realidade e os efeitos visuais que nos remetem a "A origem" contagiam o público. No entanto, tudo isso não fica marcante para o espectador. Se a premissa e o visual são os trunfos, a execução soa um tanto quanto burocrática. O longa tem potencial para ser ainda maior e melhor, porém se aliena demais ao 'padrão Marvel de fazer cinema'. Tudo está encaixadinho e com os pingos nos 'is', inclusive o didatismo do roteiro incomodou parte da crítica, mas faltou ser mais emblemático.
Deadpool
4.0 3,0K Assista Agora"Deadpool" é a maior surpresa do ano, tanto na bilheteria como na execução. Inspirado em um curta metragem que viralizou na internet, Deadpool é um anti-herói (que se tornou herói) do universo dos X-Men que quebra a quarta parede e conversa com o espectador. Além disso, o filme é a prova que esse subgênero pode ser, sim, 'para maiores'. Personagem desbocado, piadas de humor negro inseridas de maneira pontuais e o alto nível de violência conquistaram o público. Talvez, o que poderia ser melhorado no longa é a estrutura narrativa. É um lá-e-cá em flashbacks para explicar o passado do protagonista que pode incomodar os mais exigentes. Entretanto, isso não atrapalhou o brilho do filme que rendeu milhões de fãs pelo mundo. Proporcionalmente falando, "Deadpool" foi o que melhor faturou dentre os longas de super heróis em 2016. Custou pouco e rendeu muito. Por causa disso, já garantiu continuações.
X-Men: Apocalipse
3.5 2,1K Assista AgoraA expectativa foi grande, principalmente pelo sucesso do filme anterior "Dias de um futuro esquecido" e pelo grande vilão que se anunciou. No final das contas, o filme está longe de ser ruim e diverte bastante, mas não surpreendeu e os clichês prevaleceram. Dos longas de super-heróis de 2016, esse foi o único que fracassou nos Estados Unidos e não conseguiu se pagar na terra do Tio Sam. Precisou dos cifrões internacionais para cobrir o orçamento e faturar. Com Brian Singer novamente na direção, o cineasta demonstrou ter boa mão para comandar cenas de ação (a sequência do Mercúrio é uma das mais espetaculares do ano), porém nem tanto para desenvolver o roteiro. O filme prometeu ser bem maior nos trailers, mas não é isso o que vemos. É uma pena que seja raso em discutir suas tradicionais alegorias. No geral, é uma boa sessão da tarde.
Esquadrão Suicida
2.8 4,0K Assista AgoraDos filmes de super-heróis de 2016, "Esquadrão Suicida" foi o único ruim. A ideia era excelente, mas a execução foi abaixo da média. O motivo? Talvez seja a recepção negativa da crítica sobre o co-irmão "Batman Vs Superman", que estreou meses antes, e a comparação esdrúxula entre os universos da DC Comics (sombrio) e da Marvel (divertido). A falta de uma atmosfera mais leve obrigou os produtores da Warner a refazerem diversas cenas na pós produção inserindo mais situações cômicas e mais cores. Além disso, toda a campanha de marketing sofreu alterações e aumentou ainda mais a expectativa do público para com o filme. O resultado? Foi bem nas bilheterias, mas um insucesso ainda maior da crítica especializada que já havia 'rebaixado' "Batman Vs Superman". De fato, poucas coisas se salvam, como os personagens do Pistoleiro e Arlequina que possuem arcos dramáticos interessantes e a participação do Batman de Ben Affleck. O resto, incluindo o esquisito Coringa, infelizmente, não colou. Direção e roteiros ruins foram comprometidos pela ganância de seus produtores.
Sully: O Herói do Rio Hudson
3.6 577 Assista Agora"Sully: O herói do rio Hudson" é uma cinebiografia de Capitão Chesley "Sully" Sullenberger. Ele foi o piloto do Airbus A320 que teve de fazer um pouso de emergência no Rio Hudson, em Nova Iorque, em 2009, após um bando de aves colidir com a aeronave que comandava. Suas decisões e experiência na aviação diante do momento crítico fizeram dele um heroi nacional, principalmente por ter salvo toda a tripulação.
O foco aqui não é o 'Milagre no Hudson', como o episódio ficou conhecido, que transformou o comandante em 'herói celebridade', mas os eventos por trás do fato heroico antes, durante e depois do incidente. Para amarrar todas as pontas dessa dramaticidade, nada melhor que um roteiro redondinho de Todd Komarnicki e contar com as presenças do competente Tom Hanks no elenco (em uma performance séria e contida) e com um Clint Eastwood perfeccionista na direção.
Clint, inclusive, foi detalhista ao explorar a história de Sully, que participou da pré produção, para que tudo saísse de forma realista, sem ser piegas e com muita sutileza. Ele encaixa todas as situações de maneira pontuais. Até nos bons momentos de tensão e nas cenas espetaculares (vide os primeiros minutos), há uma sensibilidade que nos contagia.
O filme, embora tenha uma premissa semelhante com "O voo", de Robert Zemeckis, não fica restrito ao drama da queda da aeronave sobre o rio Hudson, que é reconstituída de forma eficiente pela bela fotografia acinzentada e pelos bons efeitos visuais. O roteiro vai além do 'momento tragédia': aborda a transformação de uma pessoa comum em herói nacional pela mídia; retrata situações pós traumáticas de Sully, sobretudo pela demora em assimilar tudo o que acontece, e a investigação sofre o acidente que tenta desconstruir a reputação do protagonista. O processo de averiguação, embora faça parte do protocolo em acidentes aéreos, chega a ser um antagonista diante das ações de Sully e, também, da aclamação popular que o considera um ícone pela proeza.
A introspecção do personagem principal aliada a sua humildade e ao profissionalismo é que fazem emocionar. Sully, apesar de ter salvo 155 vidas em uma situação inacreditável, se tornou notável pelo simples fato de exercer sua função com perfeição e frieza, ao fazer a coisa certa na hora certa.
Independence Day: O Ressurgimento
2.7 868 Assista AgoraEssa sequência de "Independence Day" (1996) até tem uma premissa condizente, mas o roteiro subestima demais a inteligência do espectador. Há muitas falhas de elipses, inúmeros personagens mal desenvolvidos e a trama sofre com várias soluções fáceis e repentinas. É um filme que tem corpo de adulto e mentalidade de adolescente. Embora seja tecnicamente moderno e bem feito, Roland Emmerich estiliza a direção como se estivesse no anos 90, quando os longas aventurescos pouco se importavam com quaisquer coerências narrativas. As duas coisas que fazem compensar os 120 minutos de projeção são os espetaculares efeitos visuais e o ritmo dinâmico que Emmerich proporciona nas cenas de ação. Não precisa ser diferente, basta ser bem feito. É isso que vemos aqui, mais do mesmo com doses cavalares de destruição.
Cavaleiro de Copas
3.2 413 Assista AgoraHá quem goste do estilo filosófico do cineasta Terrence Malick ("A árvore da vida" e "Amor Pleno"). Não me incomodo com o excesso de lirismo que se mistura ao show de imagens para contar uma história, desde que sua proposta esteja clara, o que não acontece aqui. A estrutura narrativa se assemelha aos últimos trabalhos: ritmo lento, inúmeras metáforas, poucos diálogos e muita narração em off. O maior problema é o roteiro confuso de tom extremamente depressivo. Nunca há um equilíbrio para tratar de temas tão profundos, como desavenças familiares, dramas existenciais, relacionamentos infrutíferos e riqueza que não traz felicidade. Em certos momentos não sabemos o que são lembranças e presente do protagonista. Isso faz de "Cavaleiro de copas" ser cansativo, pobre na identificação de personagens e ruim de conteúdo reflexivo.
Ben-Hur
3.2 447 Assista AgoraÉ quase impossível não comparar o clássico de 1959, até hoje considerado o maior épico da história do cinema, com essa releitura de "Ben-Hur". Ainda assim, é preciso um pouco de esforço para analisar essa nova versão, dirigida por Timur Bekmambetov, que não é ruim, mas esquecível.
"Ben-Hur" é tecnicamente espetacular. Direção de arte, figurinos e efeitos visuais atualizam com boa qualidade estética a reconstituição de época. Apesar de o elenco atual não ser tão carismático (Jack Huston até se esforça, mas não é um Charlton Heston), o que mais difere da versão de 1949 em relação a trama é o foco.
Enquanto a produção dirigida por William Wyler dramatizava as situações com boas pitadas religiosas, aqui o enfoque é na aventura. Claro, também há passagens bíblicas e uma participação maior de Jesus Cristo que está bem interpretado por Rodrigo Santoro, mas os momentos em cena do nazareno não são emblemáticos como no clássico.
"Ben-Hur" tem fôlego, mas não é grandioso como deveria ser. Isso se deve a direção burocrática de Bekmambetov. A impressão é que o cineasta evitou a criatividade visual que lhe foi tão peculiar em seus longas anteriores e respeitou o legado do clássico ao trabalhar em cima de uma cartilha pronta. Por isso vemos um certo convencionalismo aplicado à fotografia, nos planos e enquadramentos de câmera, nada que outros épicos não tenham mostrado antes.
Ao menos, o roteiro e a montagem não decepcionaram em relação a objetividade narrativa e nas sequências de ação, principalmente na tensa batalha naval e na famosa corrida de bigas, tão boa e longa como àquela de 1959. No geral, "Ben-Hur" é um entretenimento correto, tem lá sua emoção e não pretende ser melhor que a obra de inspiração, que ainda é a grande referência sobre o simbólico personagem-título.
Demônio de Neon
3.2 1,2K Assista Agora"Demônio de Neon", dirigido por Nicolas Winding Refn (NWR), do premiado "Drive", traz o que o cineasta tem de melhor: apuro técnico. Entretanto, o roteiro, escrito por ele, que retrata de forma curiosa e obscura os bastidores da indústria da moda, com ponto de vista de uma modelo iniciante, pode causar incômodo em seu terceiro ato pelo radicalismo na transição de gêneros.
Até que a reviravolta aconteça, o filme é envolvente ao apresentar uma estética de cores fortes, ritmo lento, enquadramentos estáticos, tomadas em slowmotion e movimentos singelos de câmera. Aliado a esse conjunto que de características que compõe a bela fotografia do longa, há uma trilha sonora interessante de Cliff Martinez que imersa o espectador em músicas eletrônicas de tons progressivos que remete ao estilo musical dos anos 80.
Para quem curte o feitio de NWR pode ficar extasiado com a plasticidade bem conduzida por ele. Além disso, o cineasta dinamarquês trabalha com eficiência o mistério e a tensão ao descrever a jornada da jovem e promissora modelo - bem interpretada por Elle Fanning, que parece ser um 'demônio' para as concorrentes.
O conceito do título se aplica a qualquer personagem que aparece durante a projeção. Todos são retratados de forma sombria e com cara de poucos amigos, o que garantem a aura enigmática do longa. Tal particularidade da trama contribui para dar intensidade ao clímax perturbador.
A grande manobra do roteiro pode dividir opiniões, principalmente por jogar na tela de forma repentina um gênero terror ‘hardcore’ que, de certa forma, não foi sugerido ao longo da narrativa. O desfecho é um conceito alegórico de representar a moral da história que pode causar estranheza pelas bizarrices em cena. Se isso funciona ou não, dependerá da apreciação de cada um.
Pets: A Vida Secreta dos Bichos
3.5 936 Assista Agora"Pets - A vida secreta dos bichos" tem uma premissa original e uma execução convencional. A ideia em retratar o que o bichinho de estimação fica fazendo quando seus donos saem de casa é incomum e curiosa, mas o que vemos após o primeiro ato é uma aventura clichê que foge completamente da proposta inicial. Claro, toda fábula mostra um pouco dessa concepção, mas é raro vermos um foco tão autêntico como o que prometia a campanha de marketing de "Pets". Apesar disso, o longa tem bom ritmo, um visual bacana multicolorido, diversos personagens adoráveis e é divertidíssimo. Para quem possui algum pet em casa vai se identificar com várias situações. As peculiaridades de cães e gatos sozinhos em apartamentos nova-iorquinos (que está muito bem feita digitalmente) geram piadas criativas e muito humor situacional. "Pets" é bom, mas fica a sensação de que poderia ser ainda melhor.
Mais Forte Que o Mundo: A História de José Aldo
3.6 267Bom filme esse "Mais forte que o mundo", a cinebiografia do lutador de MMA José Aldo, o primeiro brasileiro a conquistar o cinturão no UFC. O elenco está ótimo, com destaque para José Loreto, e há um apuro técnico interessante, principalmente ao montar as sequencias de lutas - o que indica que a recente estadia do diretor Afonso Poyart em Hollywood foi bem aproveitada.
O longa só não é excelente porque o roteiro 'não deixa'. Por mais que a obra possa ter retratada de maneira fiel as duras situações vividas por Aldo, faltou criatividade para fugir do lugar comum. Até há um certo lirismo na narrativa
quando o protagonista tem que vencer a si próprio e superar seu passado
Entretanto, o longa surpreende nos quesitos técnicos. Além da coreografia convincente das lutas, a direção competente de Poyart imprime ritmo ágil, trabalha com uma montagem eficiente, encaixa bem a trilha sonora e a fotografia é contagiante. Os enquadramentos que fogem do convencional (com direito a vários travelings circulares) e os bons momentos de câmeras lentas dão realismo nas ações dentro dos ringues. O slow motion, inclusive, espetaculariza algumas sequências e faz o filme ficar mais cool. Essa ferramenta funciona de forma pontual na maioria das cenas, algo raro de se ver no cinema brasileiro. No geral, "Mais forte que o mundo" cumpre o que promete: entretenimento!
Um Espião e Meio
3.2 346 Assista AgoraComédia e ação são gêneros que nunca se esgotam, principalmente quando ambos se juntam. No entanto, nem todos os filmes dão liga. A boa notícia é que "Um espião e meio" funciona. Os protagonistas Kevin Hart e Dwayne Johnson têm boa química, há boas piadas e um 'The Rock', em pancadaria estilo "Jason Bourne", com excelente timing cômico. Entretanto, o que sobra de conteúdo anedótico no roteiro, com gags situacionais pontuais e humor negro sem ser escrachado, falta na trama de espionagem que se mostra confusa e inconsistente. Pelo menos, o longa traz uma mensagem legal contra o bullying (apesar de dramática, a caracterização de um Johnson mais jovem ficou hilária!). Dos filmes desse subgênero 'comédia de ação', ainda prefiro "A hora do Rush" e "A espiã que sabia de menos". No geral, é um divertido entretenimento perfeito para as tardes de domingo!
Jogo do Dinheiro
3.4 401 Assista AgoraBom filme e com tensão contagiante! No entanto, prefiro "O quarto poder", de Costa-Gavras.
Deus Não Está Morto 2
3.3 193 Assista AgoraAinda mais forçado e inconvincente que o primeiro filme. Se o antecessor tinha, ao menos, um enredo interessante que trazia um embate entre 'ciência x religião', "Deus não está morto 2" subestima a inteligência do espectador com um argumento banal sobre um julgamento de contornos dramáticos inverossímeis e de péssima execução.
O embate entre a 'lei de Deus x lei dos homens', motivado por uma passagem bíblica citada por uma professora aos seus alunos e que não agradou a cúpula de sua escola, não cola. Além disso, o fraco roteiro erra a mão em quase tudo, principalmente ao jogar certas situações sem desenvolver uma introdução para o seu surgimento em tela. Isso traz uma série de diálogos ocos e expõe a fragilidade do roteiro ao amarrar suas subtramas de forma, muitas vezes, incongruentes.
O filme possui uma premissa que não justifica o título e as atuações são caricatas ao extremo. Embora seja essencialmente evangélico, "Deus não está morto 2" carece de qualidade em quase todos os aspectos. Há excelentes produções com temáticas religiosas, como "Milagres do paraíso" e "90 minutos no paraíso", que são muito mais cinema (no sentido de realização) e transmitem o poder da 'palavra de Deus' sem exageros narrativos.
Em Nome da Lei
3.0 72"Em nome da lei" possui excelente premissa policial, mas péssima execução. Os caminhos que o roteiro toma ao decorrer da narrativa ficam cada vez mais convencionais, novelescos e inconvincentes. Nenhum personagem tem um desenvolvimento satisfatório, as atuações têm timing televisivo (Chico Díaz é o único que se sobressai diante dos demais) e a construção da tal cidade Fronteira é confusa e grotesca. As reviravoltas parecem plagiar o clima de tensão na fronteira EUA e México (traficantes, matadores de aluguel e corrupção) e a maioria da dramaticidade mostrada é mal dirigida. Há boa intenção de valorizar o poder da lei, mas a aplicação da mesma carece de verossimilhança.