"Em ritmo de fuga" é um exemplo de criatividade para o cinema contemporâneo. Tudo é convencional, mas é feito de maneira pouco comum. Méritos para o diretor e roteirista Edgar Wright que teve o cuidado de deixar o longa redondinho e com pouquíssimas falhas.
A trama mostra a vida do jovem Baby (em ótima atuação de Ansel Elgort), um excelente motorista de fuga que para de prestar seus serviços para o crime. Como diz o ditado, 'você sai do crime, mas o crime não sai de você', ele é convencido pelo seu ex-chefe a fazer outro trabalho. Quando um assalto dá errado, Baby deve fugir de bandidos e, também, da polícia para não ser preso. O curioso é que ele precisa ouvir músicas o tempo todo para silenciar o zumbido que o perturba decorrente de um acidente na infância.
"Em ritmo de fuga" é pulsante, esperto e divertido, tanto nas boas piadas situacionais como nas referências a cultura pop. Além disso, há ótimos diálogos, todo o elenco está muito bem, a edição é inventiva e as sequências de ação são empolgantes.
Outro destaque é o som. Será uma injustiça se o filme não for indicado ao Oscar nessa categoria. É um trabalho brilhante, tanto na escolha das músicas como na orquestração das mesmas como parte da narrativa. Isso faz o longa ter uma atmosfera cool, além de proporcionar ao espectador uma experiência sonora incrível.
Fazia tempo que não surgia um produto cinematográfico 'cult instantâneo'.
O diretor, roteirista e produtor, Christopher Nolan, é um dos poucos cineastas da atualidade que tem apoio de um grande estúdio (Warner) além de ter a liberdade de criação e execução. Ou seja, tem a grana necessária para fazer o filme que quiser. O que ele faz em "Dunkirk" é primoroso e, provavelmente, será a melhor experiência sensorial cinematográfica de 2017.
"Dunkirk" é um longa de guerra que possui uma estrutura narrativa que foge do convencional em relação ao gênero. É uma história de 'fuga/resgate' com premissa simples, mas que se torna interessante pela não linearidade do roteiro, que narra um evento com vários pontos de vista.
Baseado em fatos reais, Dunkirk é uma cidade portuária ao norte da França que presenciou uma debandada do exército britânico e francês na Segunda Guerra Mundial, em 1940. Esse acontecimento ficou conhecido como Operação Dínamo. Enquanto mais 300 mil soldados aguardavam navios em uma praia da região para voltarem à Grã-Bretanha, caças alemães sobrevoavam metralhando e bombardeando o local.
O que tornou a situação dramática foi o fato de a praia ser muito rasa, o que impedia a aproximação da frota. Isso fez com que o exército aliado ficasse, praticamente, encurralado sendo alvo fácil dos nazistas. Diante disso, há três perspectivas na história que se cruzam em determinados momentos da projeção: a de um soldado na praia, de um civil britânico que ajudou no resgate com seu barco e de um piloto de avião que deu suporte aéreo na operação.
"Dunkirk" é um filme de poucos diálogos e muito audiovisual. A dramaticidade em cena se constrói de modo mais sensorial do que pela atuação do elenco, no entanto isso não dispensa as interpretações dos atores. Embora não tenham um destaque, estão todos com performances convincentes e são fundamentais para retratar, não só o episódio, mas a estupidez da guerra, que pode gerar tragédias irreparáveis.
Entretanto, o que contagia o espectador é a harmonia técnica entre ritmo intenso, som e imagem. Há sempre uma sensação de ápice contínuo e isso se deve a edição esperta e, sobretudo, ao tom de urgência da excelente trilha sonora de Hans Zimmer. Aliada a isso, a engenharia de som é impecável, ao trabalhar cada ruído, tiros e explosões em sua devida faixa de áudio. Sem falar na inserção de sons repentinos (que ocasionam em sustos) e na utilização constante das caixas de subwoofer que fazem os espectadores vibrarem com os graves, ajudando ainda mais no exercício de tensão e na experiência de imersão.
A fotografia, assinada pelo holandês Hoyte Van Hoytema (o mesmo de "Interestelar"), cria uma eficiente atmosfera desoladora de tons acinzentados. Para maximizar a desesperança, 75% das cenas foram rodadas com câmeras Imax. Quando não estão na terra ou no mar, as lentes captam belas tomadas aéreas sempre com poucos cortes para que o espectador tenha tempo de apreciar toda a misancene.
"Dunkirk", ainda que tenha um vilão sempre oculto e careça da violência gráfica peculiares do gênero, é um dos melhores exemplares de guerra dos últimos anos. Certamente, será um forte candidato aos principais prêmios do cinema norte-americano.
Muita gente torceu o nariz quando surgiu a notícia de que haveria uma nova série de filmes baseada no clássico "Planeta dos Macacos" (1968). Não foi muito animador, tendo em vista o fracasso crítico de outras cinco produções sobre o tema que sucederam o original.
Mal sabiam os pessimistas que a nova trilogia agregaria valor ao longa de 1968 ao contar a origem do domínio símio na Terra. Em momento algum os recentes filmes tinham a pretensão de serem melhores ou superiores ao clássico, ao contrário do remake de Tim Burton (2001) que falhou ao reinventar o enredo com um novo plot twist.
Tudo começou com "Planeta dos Macacos - A Origem" quando cientistas descobrem que a droga que pode trazer a cura para o Alzheimer é a mesmo que desenvolve a inteligência e emoções humanas em macacos. É aí que conhecemos o chimpanzé César, a cobaia de um cientista, que é domesticado e possui grandes avanços intelectuais em relação aos outros de sua espécie.
Um incidente acontece com César e faz com que ele fique preso em um local com dezenas de macacos cobaias. Nessa ocasião, ele organiza uma rebelião e foge com todos os primatas. Isso gera o primeiro conflito entre humanos e símios. Ao mesmo tempo, uma epidemia viral se alastra no planeta exterminando milhões de humanos. Os sobreviventes ou são imunes ao vírus ou acabam perdendo suas funções intelectuais.
Em "Planeta dos Macacos - O Confronto", César é o grande líder e o mais evoluído da capela formada em São Francisco, nos Estados Unidos. Ele não é a favor da guerra, mas se vê obrigado a guerrear contra o seu braço direito Koba, macaco que o trai, toma seu posto de líder e provoca uma batalha sangrenta contra os humanos sobreviventes que estão fortemente armados.
"Planeta dos Macacos - A Guerra" inicia com uma tentativa 'diplomática' de paz entre as raças. No entanto, um coronel (brilhantemente interpretado por Woody Harrelson), que lidera uma resistência humana, não aceita tal trégua e ainda causa uma tragédia na vida pessoal de César. Isso faz com que o símio tenha ódio pelos humanos e saia em uma caçada ao coronel para se vingar.
O terceiro ato da nova trilogia é de uma beleza técnica e dramática impressionante. O diretor Matt Reeves, que também dirigiu "O Confronto", passeia por vários gêneros e referências do cinema para finalizar o arco dramático de César. Tudo está em harmonia e as situações, sejam elas em momentos de tensão, na ação e no humor, aparecem de forma pontuais na tela.
Reeves conduz os dramas de César com uma sensibilidade ímpar, assim como o ritmo do longa que é ora lento no desenvolvimento de personagens ora ágil nas boas sequências de ação. A fotografia trabalha com paisagens florestais em tons escuros e de aspectos frios e melancólicos. Os enquadramentos de câmeras, principalmente quando estão em primeiro e médio planos, destacam o visual gráfico dos macacos, que está em um nível de realismo que beira à perfeição.
Os efeitos gráficos, inclusive, dão verossimilhança à narrativa e ajudam a transcender a espetacular performance do ator Andy Serkis. Todos os seus trejeitos faciais, corporais e emocionais podem ser vistos com nitidez mesmo sob a maquiagem digital de César. Não é apenas uma simples captura de movimentos, mas uma interpretação apaixonada, convincentemente tocante e digna de Oscar.
O roteiro ainda traz, além de uma conexão satisfatória com o clássico de 1968, uma excelente reviravolta no clímax, que valoriza ainda mais a crítica social proposta pelo filme original. A metaforização da inversão de valores sobre o conceito de humanidade transforma o homem em um animal selvagem e intelectualmente fraco para resolver seus problemas de forma respeitosa e civilizada.
"Planeta dos Macacos - A Guerra" é o ponto final de uma das melhores, mais humanas e mais bem trabalhadas trilogias das últimas décadas. Certamente, será um dos melhores filmes de 2017.
Filme bonitinho. Apesar de ter vários problemas de roteiro, o longa consegue transmitir sua bela mensagem, ainda que seja de maneira lúdica. Visualmente é bem feito. O super porco ficou convincente. Lamento, apenas, a atuação de Jake Gyllenhaal, caricata ao extremo. Chega a ser constrangedor em alguns momentos. Merece uma framboesa. No geral, é um bom passatempo.
"Michelle e Obama", escrito e dirigido por Richard Tanne, tem a pegada da trilogia "Antes do Amanhecer", "Antes do Pôr-do-Sol" e "Antes da Meia-Noite", do diretor Richard Linklater, em que a narrativa acompanha os protagonistas em um dia de eventos. O longa, de ritmo lento, mostra o primeiro encontro do famoso casal, em 1989. O roteiro costura bons e longos diálogos que reforçam a personalidade e a breve história de cada um. No entanto, há uma carência de surpresas, mais por parte dele.
Vemos um Obama praticamente pronto. Se você espera ver como surgiram suas inspirações para se tornar o homem político que é, pode esquecer. Isso é subentendido no decorrer da história com um Obama, embora estudante, com grande potencial intelectual e já popular entre brancos e negros em seu 'micro ambiente'. Já a construção de Michelle é mais sutil. O apreço e a tímida paixão por ele, aliada a sua forte personalidade, aparecem de forma crescente, o que a torna mais interessante na trama.
A escolha dos atores, Parker Sawyers e Tika Sumpter, foi certeira e suas performances e trejeitos impressionam pelas semelhanças. Enfim, "Michelle e Obama" pode decepcionar aqueles que esperam reviravoltas políticas, entretanto pode agradar aos espectadores que compreendem que há mais política do que se imagina na construção de uma relação, principalmente se o vínculo for amoroso.
Homem-Aranha, o alter ego de Peter Parker, é um dos super-heróis mais populares no universo das histórias em quadrinho. Criado por Stan Lee e Steve Ditko, em meados dos anos 60, o personagem caiu na graça do público pela simplicidade de seus arcos dramáticos. A imaturidade, a timidez, a ingenuidade, a humildade, as trapalhadas, o descobrimento de seus poderes (juntamente com as dificuldades de lidar com eles) e o espírito 'nerd jovial escolar' fizeram muita gente se identificar com o 'amigão da vizinhança'.
Depois de conquistar o sucesso nas HQs da Marvel e nos desenhos animados, era questão de tempo para que o aracnídeo fizesse o mesmo no cinema. Apesar da desconfiança do subgênero, que quase foi enterrado pelos fracassos de "Batman Eternamente" (1995) e "Batman & Robin" (1997), os êxitos de "Blade - O Caçador de Vampiros" (1998) e "X-Men: O Filme" (2000) foram a motivação para que "Homem-Aranha" surgisse nas telonas em 2002, sob o comando de Sam Raimi e protagonizado por Tobey Maguire.
O sucesso foi absurdo. Orçado em US$ 139 milhões, o filme faturou em solo norte-americano mais de US$ 403 milhões. Somando com os US$ 418 milhões nas bilheterias ao redor do mundo, o longa finalizou a carreira nos cinemas com mais de US$ 821 milhões arrecadados. "Homem-Aranha", além de impulsionar duas sequências bem sucedidas financeiramente, foi a fagulha que faltava para incendiar o cinema com a retomada das adaptações cinematográficas das HQs de super-heróis.
Com o passar dos anos, a Sony, detentora dos direitos de Homem-Aranha nos cinemas, decidiu fazer uma releitura do personagem com "O Espetacular Homem-Aranha" (2012) e "O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro" (2014), ambos protagonizados por Andrew Garfield e dirigidos por Marc Webb. Os dois longas tiveram bons resultados nas bilheterias, mas foram fracassos críticos. Ao mesmo tempo, a Marvel Studios e a Disney estavam se dando bem ao criarem o Universo Cinematográfico Marvel. No entanto, a figura que faltava para deixar o tal universo ainda mais atrativo era o aracnídeo.
Um acordo histórico entre estúdios fez o sonho se tornar realidade. Em 2016, o Homem-Aranha roubou a cena em "Capitão América: Guerra Civil" e o melhor, teve seu comando intelectual à disposição da Marvel, que apresentou o personagem da forma que os fãs queriam. Em 2017, surge o esperado filme, com um título pra lá de adequado: "Homem-Aranha: De Volta ao Lar", protagonizado pelo excelente e carismático Tom Holland.
"Homem-Aranha: De Volta ao Lar" deixa de lado as origens do personagem, que todos já sabem, e dialoga com sua simplicidade e pureza. O filme começa após os eventos de "The Avengers - Os Vingadores" (2012) e logo conhecemos Adrian Toomes (otimamente interpretado pelo "Birdman" Michael Keaton), um sujeito que tem aversão a ricos e poderosos e se apodera de destroços alienígenas da batalha de Nova Iorque, para poder fabricar e vender poderosas armas no mercado negro. Anos mais tarde, aparece Peter Parker. Empolgado ao ser recrutado por Tony Stark para a batalha do aeroporto contra a trupe do Capitão América, Parker filma sua participação no confronto com seu celular e fica famoso na internet como Homem-Aranha.
De volta ao lar, no bairro do Queens, em Nova Iorque, onde mora com sua tia, May (novamente interpretada por Marisa Tomei), Parker vive à expectativa do contato de Stark para ser chamado para a ação novamente e tem que lidar com seus afazeres escolares e dilemas. Em uma de suas noites em que tenta 'ajudar a vizinhança' como Homem-Aranha, ele acaba entrando no caminho do vilão Abutre, alter ego de Adrian Toomes.
"Homem-Aranha: De Volta ao Lar" acerta em cheio ao desenvolver a personalidade e comportamento de Peter Parker, que são oriundos das HQs. Além disso, o filme possui uma atmosfera sempre alegre e nos diverte o tempo todo de inúmeras maneiras: seja por suas referências a outros filmes do teioso, pelo ambiente estudantil que nos remete aos anos 80 (essência inspirada nas produções de John Hughes), pelo relacionamento com o melhor amigo Ned, pelas trapalhadas e ingenuidades de Parker ou pelas gags pontuais do roteiro que brincam o tempo todo com o personagem e seu traje tecnológico.
A narrativa simples e descomplicada favorece a identificação do público com o protagonista, o que nos deixa com o desejo de ficar vendo somente as peripécias e enrascadas (vide a ótima reviravolta no início do terceiro ato) do 'jovem aranha'. O ritmo é tão delicioso que nem nos preocupamos com a aparição do Homem de Ferro. Tony Stark, diga-se de passagem, tem uma participação curta, porém crucial, no longa. Ele é quase uma figura paterna (que substitui o tio Ben no filme original) para Peter e é o responsável por inspirar a maturidade e a responsabilidade de um super-herói no garoto.
Tecnicamente falando, "Homem-Aranha: De Volta ao Lar" poderia ser melhor. Ainda que tenha bons efeitos visuais, as grandes cenas de ação não empolgam como deveriam. Há boas idéias para o desenvolvimento das sequências, mas nenhuma se torna memorável, o que deixa a sensação de falta criatividade na direção de Jon Watts.
"Homem-Aranha: De Volta ao Lar" não é o melhor filme de super-herói, mas, certamente, é um dos mais divertido deles, o que dá novo fôlego para as próximas aventuras de Peter Parker.
As sequências de filmes surgem com vários propósitos e as principais vertentes disso são o retorno financeiro (tanto de bilheteria como de produtos licenciados) e a ampliação da história original. As continuações costumam pecar na qualidade da narrativa quando há um descuido dramático na tentativa de aumentar os graus de ameaças e ações para surpreender o público. A animação "Meu Malvado Favorito 3" compartilha dessa cartilha, no entanto, se destaca por não se preocupar somente com o lado financeiro.
A história de Gru recebe boas doses familiares, principalmente quando conhece Dru, seu irmão gêmeo que quer entrar para o universo dos vilões e fazer jus ao legado da família. Paralelamente, Lucy tenta se adaptar a maternidade juntamente com as filhas adotivas Agnes, Margo e Edith. Em meio a isso, surge o vilão Balthazar Bratt, uma figura que foi astro mirim da televisão nos anos 80 e que ficou desprestigiado ao crescer fazendo o mesmo personagem. Além de manter o visual, ter objetos e costumes da cultura pop oitentista, ele viu na vilania uma saída para ganhar dinheiro e seu grande plano é roubar um enorme diamante. Entre uma ação e outra, ainda temos os deliciosos Minions, que abandonam Gru por não ser mais um vilão e saem em busca de outras figuras más.
As subtramas são diversas, mas nenhuma se perde. Apesar do ritmo frenético das ações, o bom humor, seja situacional, visual (como as ótimas referências aos anos 80), sarcástico ou com um viés mais rasteiro para as criançadas, continua equilibrado e agradarão a todos. Com tantas situações a serem exploradas, é uma pena que os Minions tenham um tempo de tela menor. Entretanto, as mensagens transmitidas são sempre bem vindas e estão longe de serem gratuitas, ainda que falte mais tempo para que elas tenham uma qualidade dramática melhor.
No geral, "Meu Malvado Favorito 3" agrada bastante, seja pelo divertido visual caricato multicolorido, pela harmonia cômica e pela atmosfera sempre simpática. Que venha a quarta parte!
A adaptação cinematográfica do seriado televisivo "Power Rangers" começa de maneira promissora com uma premissa interessante e surpreende pela parte técnica (o acidente de carro no início é muito bem feito). Os protagonistas, que aparecem aos poucos, são carismáticos, a direção é criativa em um primeiro momento, há uma boa atmosfera colegial e o roteiro gasta um certo tempo para desenvolver determinadas situações de origens.
Todo esse cuidado para falar dos heróis coloridos estava bom demais para ser verdade. Entretanto, tudo começa a ruir quando se inicia o segundo ato. Muitos furos de roteiro, ações mal coreografadas, questionamentos sem respostas e saltos temporais pipocam na tela. A qualidade do filme, em quase todos os aspectos, cai vertiginosamente.
O que seria algo promitente se rende aos exageros técnicos de produções televisivas que não se preocupam com a coerência narrativa e nem com a eficiência na edição. A impressão é que não houve dinheiro suficiente para se fazer um filme competente e o que sobrou depois de 40 minutos de projeção foi feito nas 'cochas', de forma econômica e de ritmo alucinante. É uma pena, pois o visual dos Power Rangers não ficou ruim e a idéia de retratá-los no cinema poderia proporcionar um longa melhor.
Ficou a cargo de Mulher-Maravilha recolocar o universo DC Comics/Warner no cinema de volta aos trilhos após os insucessos críticos de "Batman Vs Superman - A origem da justiça", filme em que roubou a cena, e "Esquadrão Suicida". A boa notícia é que ela conseguiu! A maior heroína de todos os tempos ganha um longa de origem competente e surpreende com eficiência narrativa e muita beleza em cena.
A conexão de "Mulher Maravilha" com o universo DC no cinema é a tal foto em que a protagonista aparece na época da Primeira Guerra Mundial e que intriga Bruce Wayne, em "Batman Vs Superman". O arco de origem é objetivo: com começo, meio e fim sem deixar pontas soltas sobre a heroína.
A introdução nos mostra o refúgio das mitológicas Amazonas, que moram em uma ilha paradisíaca chamada Themyscira que foi escondida pelos deuses do Olimpo. A história é sobre Diana (Gal Gadot), uma jovem princesa superprotegida pela mãe, Rainha Hippolyta (Connie Nielsen), que não a quer ver como guerreira. Sua insistência em se tornar uma lutadora aliada ao incentivo da tia Antiope (Robin Wright), faz com que ela se torne uma das maiores gladiadoras de sua terra. Sua missão começa quando o Capitão Steve Trevor (Chris Paine) cai na ilha em um avião e as Amazonas conhecem a temível grande guerra no começo do século 20. Isso inspira Diana a sair de seu refúgio para caçar Ares, o Deus da Guerra, com o intuito de tentar acabar com o conflito e evitar que mais inocentes morram.
A diretora Patty Jenkins não inova, mas faz um trabalho consistente e emblemático sobre a Mulher-Maravilha cuja essência remete a "Superman" (1978), dirigido por Richard Donner e protagonizado por Christopher Reeves. Jenkins acerta no bom ritmo e, também, no tom harmônico, principalmente ao retratar a forte personalidade de Diana e sua pureza em relação ao primeiro contato com a vida alheia dos humanos, o que gera leveza ao longa. A química e o carisma dos ótimos Gal Gadot e Chris Paine ajudam na descontração.
Tecnicamente, o filme é deslumbrante. O destaque é a fotografia que esbanja plasticidade, seja nas paisagens ora alegres em Themyscira ora sombria com os tons acinzentados e alaranjados da guerra; nas cenas de lutas empolgantes - um verdadeiro balé de socos e chutes; e nas boas e espetaculares tomadas em câmeras lentas (com toques de Zack Snyder) em que vemos todos os detalhes de movimentos muito bem coreografados pelos atores. Além disso, há muita beleza e vigor em cena que valorizam as ações simbólicas de Diana, vide os momentos em que a Mulher-Maravilha aparece confrontando os alemães no segundo ato do filme ao som da música tema de Junkie XL. É arrepiar de emoção!
O roteiro de Allan Heinberg, que fez um delicioso 'feijão-com-arroz' sobre a 'jornada do herói', deixou o caldo azedar no que diz respeito ao desenvolvimento dos vilões. Os antagonistas foram retratados de maneira superficiais e caricatos ao extremo. Os poucos argumentos em cena não convencem sobre suas motivações, especialmente quando surge Ares, responsável pela confusa reviravolta no terceiro ato do longa.
No geral, "Mulher-Maravilha" acerta mais do que erra e isso a faz figurar entre os melhores filmes de super-heróis já feitos e o melhor baseado nas histórias em quadrinhos da DC Comics. Esse sucesso traz tranquilidade ao Universo DC Comics/Warner nos cinemas e aumenta as expectativas para a "Liga da Justiça" que está por vir.
"Piratas do Caribe" foi de uma simples atração no parque na Disney para uma fonte de dinheiro no cinema de aventura. O primeiro filme, "A maldição do Pérola Negra" (2003), que custou US$ 140 milhões, faturou nos Estados Unidos cerca de US$ 350 milhões e US$ 654 milhões em todo o planeta. O sucesso de crítica e bilheteria, além de impulsionar ainda mais a carreira do astro Johnny Deep, que foi indicado ao Oscar por interpretar o hilário pirata Jack Sparrow (que se tornou um fenômeno midiático), fizeram com que os produtores investissem em continuações.
A ideia foi certeira. A sequência "O baú da morte" (2006), orçado em US$ 225 milhões, fez US$ 423 milhões em solo americano e alcançou a casa do bilhão na bilheteria mundial com exatos US$ 1,066 bi. O terceiro filme, "No fim do mundo" (2007), custou US$ 300 milhões e engordou menos os cofres da Disney ao render US$ 309 milhões na bilheteria doméstica, porém totalizou a carreira nos cinemas em US$ 963 milhões ao redor do mundo se tornando um sucesso. Em 2011, aportou o quarto longa, "Navegando em águas misteriosas" (2011), e o resultado foi insatisfatório nos Estados Unidos, mas compensatório no globo. Os US$ 241 milhões de bilheteria na terra estadunidense foi um fracasso, já que a produção custou US$ 250 milhões. O alento para a Disney foi o faturamento mundial de US$ 804 milhões totalizando US$ 1,045 bilhões.
Desde "No fim do mundo", a franquia dava sinais de cansaço. Os filmes eram longos demais, Deep estava repetitivo e as narrativas estavam caindo de qualidade. O quarto longa decretou a mesmice e o insucesso crítico era inevitável. Apesar do marasmo, "Piratas" ainda tinha muita demanda e o pensamento capitalista dos produtores falou mais alto. Para faturar mais um pouco e 'recuperar o prestígio da série', surgiu a quinta parte da aventura de Jack Sparrow: "Piratas do Caribe - A vingança de Salazar".
Assim como as duas últimas produções, "A vingança de Salazar" não empolga como os dois primeiros filmes. Deep, no piloto automático, já não consegue mais surpreender com o seu timing cômico e as trapalhadas de Sparrow até divertem, mas não são tão engraçadas como antes. Além disso, faltou um roteiro com foco e profundidade melhores, sobretudo no argumento para as ações principais, na subtrama que envolve o Capitão Barbosa (novamente interpretado pelo ótimo Geoffrey Rush) e na construção do vilão Salazar (boa atuação de Javier Bardem), que está sempre em segundo plano e em nenhum momento demonstrou ser ameaçador ou assustador.
No entanto, o longa se mostra uma aventura competente para uma 'sessão da tarde'. Ainda que tenha uma direção burocrática da dupla Espen Sandberg e Joachim Rønning, responsáveis pelo longa norueguês de sucesso "Expedição Kon Tiki" (indicado ao Oscar de Filme Estrangeiro em 2013), a narrativa nunca fica cansativa e as cenas de ação espalhadas de forma equilibrada durante a projeção não deixam o ritmo cair. Além disso, os bons efeitos gráficos são convincentes e a engenharia de som é um primor. O uso constante de subwoofers e a edição de som ajudam no realismo e na espetacularização das cenas. Tecnicamente, não há de se queixar da produção que sempre apresenta maquiagens, figurinos e direção de arte impecáveis.
O único ponto técnico ruim é a trilha sonora de Geoff Zanelli que não consegue dar uma 'nova identidade sonora' ao longa. Os bons momentos da trilha é quando o tema original de Klaus Badelt aparece para nos lembrar que o que vemos é um produto "Piratas do Caribe".
No desfecho, quem se lembrar dos filmes anteriores, vai logo perceber a ponta para uma sexta aventura que pode sair logo dependendo do sucesso de "A vingança de Salazar", que teve orçamento de US$ 230 milhões. Não saia da sala de cinema sem antes assistir uma cena após os créditos finais.
"Corra!" é um suspense repleto de mistério que mostra um jovem negro, Chris, que está prestes a conhecer a família da namorada caucasiana Rose. Ao conhecer os pais e o irmão de sua garota, que são carinhosamente receptivos, ele desconfia que algo está errado e precisa fugir dali o quanto antes. A partir daí, tudo que for dito sobre a história será spoiler.
O filme começa lento e ganha cada vez mais ritmo quando novas caras aparecem em cena. Isso é proposital, já que o diretor estreante e roteirista Jordan Peele procura inserir o espectador no ambiente familiar e aconchegante de Rose para dar mais eficiência ao suspense. À medida que a trama se aprofunda no relacionamento entre os personagens, o roteiro joga na tela sinais da reviravolta que o protagonista sofrerá em seu surpreendente e perturbador terceiro ato.
O sucesso de "Corra!" é que tudo é bem trabalhado, simples, equilibrado e nunca subestima a inteligência do espectador com subtramas frágeis, sustos fáceis ou tensão gratuita. Embora pareça um produto original, o longa recicla os clichês do gênero com maestria e entrega um bom entretenimento com críticas sociais e raciais pra lá de excêntricas.
Uma misteriosa mulher é encontrada enterrada em uma cena de crime dentro de uma casa no interior dos Estados Unidos. Ela é levada pelo Xerife local para o necrotério da cidade para que seja feita uma autópsia. Quando os procedimentos médicos começam, os protagonistas se deparam com diversos acontecimentos estranhos que se intensificam com o avanço da necropsia.
A atmosfera claustrofóbica, sustos repentinos e muita tensão estão no filme que é bem dirigido por André Øvredal. O terror surge na tela de forma eficiente pela boa fotografia, pela maquiagem realista e, sobretudo, pela curiosa mitologia que cerca toda a pegada sobrenatural da trama.
O único problema é que o roteiro de Richard Naing possui argumentos dramáticos frágeis que não convencem, principalmente quando os arcos dos personagens se misturam com o fator sobre-humano da narrativa gerando alguns furos. No geral, "A autópsia" é uma boa pedida para quem curte o gênero.
O primeiro "Guardiões da Galáxia" foi uma surpresa. Ninguém esperava que uma aventura cinematográfica sobre os heróis da prateleira de baixo da Marvel fosse dar tão certo a ponto de o filme ser melhor que muitas produções dos heróis da prateleira de cima. Foi um sucesso de público, crítica e de bilheteria faturando mundialmente, em 2014, mais de US$ 773 milhões (só nos Estados Unidos foram US$ 333 milhões). Isso fez aumentar as expectativas sobre o "Volume 2" e, como o time que está ganhando não se mexe, a continuação veio tão boa quanto o original.
O diretor e roteirista James Gunn é um dos responsáveis pelo triunfo de "Guardiões da Galáxia". Talvez ele seja a pessoa que melhor pratica a cartilha Marvel no cinema. Em "Guardiões da Galáxia Vol. 2", o cineasta mantém o tom da aventura, responde algumas questões não respondidas do longa anterior e valoriza ainda mais o carisma de seu elenco. Além disso, Gunn aumenta as inserções de humor, proporciona ainda mais grandiosidade na ação e dá mais plasticidade ao entregar um visual deslumbrante multicolorido. Tudo isso em um tema simples, mas que nunca fica démodé: família.
Desta vez, Peter Quill conhece seu pai Ego, um planeta vivo, e suas origens. Um segredo revelado em um determinado momento da trama faz Peter conhecer as intenções de Ego que colocam em risco a sua vida e a de seus amigos. A história central é de Peter, porém todos possuem tempos de tela semelhantes e arcos dramáticos ligados ao tema bem desenvolvidos pelo roteiro: o confronto entre Gamora e sua irmã Nebula; a relação quase sentimental entre Drax e Mantis (nova e importante personagem); o carinho e preocupação que todos possuem, principalmente Rocket, com baby Groot; e a lealdade de Kraglin com o chefe Yondu.
Falando em Yondu, há uma emocionante afetividade com Peter que poderá arrancar lágrimas do espectador.
Apesar de seus 137 minutos de projeção, "Guardiões da Galáxia Vol. 2" tem um excelente ritmo e nunca fica cansativo. A todo momento, cenas de ação ou situações hilárias (roubadas sempre por Groot e Drax) ou enxurradas de referências pipocam de maneiras pontuais para divertirem o público. As inúmeras citações são do universo das HQs Marvel e dos anos 80, sobretudo pela contagiante seleção de hits musicais que dá o tom na composição sonora e dramática do longa.
Falando em ação, as sequências são visualmente fantásticas e recheadas de câmeras lentas. Ainda que não fujam tanto do que estamos acostumados a ver em aventuras espaciais, as cenas são bem dirigidas por James Gunn , que trabalha com interessantes escalas de tamanho entre os perigos que os 'pequenos' personagens correm diante de ameaças gigantescas. Destaque para o espetacular plano sequência em uma das cenas de abertura que esbanja criatividade e originalidade perante aos outros filmes Marvel.
"Guardiões da Galáxia Volume 2" é um filme que não se conecta tanto com outros do Universo Cinematográfico Marvel. Claro, há alguma referência ao Thanos, mas nada mais. A pretensão de James Gunn é construir um universo próprio para os "Guardiões" com cores vibrantes, criaturas divertidamente bizarras e conteúdo de fácil entendimento com certa importância temática. Assim se faz um bom entretenimento, quando o trabalho técnico impecável se alia a uma essência de qualidade.
Assistam, se possível, em IMAX 3D ou em salas semelhantes. O filme foi pensado para esses formatos o que ajuda ainda mais na experiência de imersão. Não saia da sala sem antes ver todos os créditos finais. Diversas cenas estão lá para nos fazer desejar ainda mais por uma terceira parte. Que venha o Volume 3 e mais Groot!
Muito fraca essa tragicomédia. A essência dramática, que fala de celebridades deprimidas por causa da fama, é até interessante, mas não há quase nada de TOC, que seria o fio condutor do humor e que está totalmente deslocado na trama.
Os absurdos do roteiro deste oitavo longa incomodam, mas o que vale mesmo é o entretenimento. Ação, efeitos visuais de qualidade e o bom humor fazem valer a diversão. O sétimo ainda é o melhor e o mais espetacular da franquia.
Invasão alienígena na China em pleno Século XV. Essa é a estranha premissa que define "A Grande Muralha", uma co-produção entre norte-americanos e chineses. Enquanto Hollywood traz a experiência em realizar blockbusteres, os orientais contribuem com o que sabem fazer de melhor: beleza e organização.
A narrativa recria a origem da muralha. O objetivo da grande barreira chinesa não seria apenas proteger a população de qualquer inimigo humano, mas servir de um forte de guerra para evitar que uma raça alienígena hostil, que caiu na Terra em um meteoro há centenas de anos, destrua o país.
O diretor Zhang Yimou ("Flores do Oriente", "O Clã das Adagas Voadoras" e "Herói") faz aqui uma das mais bonitas 'sessões da tarde'. Apesar de estar longe da essência filosófica de seus filmes anteriores, peculiaridade que o levou ao estrelato, o cineasta não economiza na estética apurada. Os design de produção e os figurinos são impecáveis. Além disso, o sincronismo da ação, os bons movimentos de câmera e a organização de elementos a cada tomada impressionam pela plasticidade.
Falando em ação, as sequências são bem coreografadas, tensas e espetaculares. Yimou equilibra tudo isso em um ritmo dinâmico que faz prender a atenção do espectador. Algumas cenas parecem reciclar a ideia de correria e ferocidade dos zumbis de "Guerra Mundial Z" e de proteção à Rainha de "Independence Day - O Ressurgimento". Os efeitos gráficos também são caprichados e ajudam a valorizar o belo visual multicolorido da produção.
Embora o desenrolar da temática seja convencional e previsível, o longa é bem feito dentro de sua proposta. Isso faz de "A Grande Muralha" um excelente exemplo de clichês bem trabalhados que proporcionam um bom e velho entretenimento despretensioso. De vez em quando é preciso desligar o cérebro e se divertir com bobagens como esta, principalmente em 3D e em IMAX. Ah, Matt Damon faz um mercenário que... não importa.
"Aliados" é um filme de espionagem na Segunda Guerra Mundial que tem potencial para ser espetacular, mas não é. A trama gira em torno de dois espiões (Brad Pitt e Marion Cotillard) que se apaixonam e se casam após uma missão no Marrocos. A paz do casal acaba quando ele é informado por seus superiores que ela pode ser uma agente dupla.
Após um primeiro ato interessante e promissor, o frágil roteiro faz com que o restante do filme, repleto de mistério, se torne cansativo e pouco surpreendente. Se o script não ajuda tanto, uma direção mais criativa e menos burocrática poderia fazer a diferença, fato que, infelizmente, não acontece. E olha que estamos falando do ótimo Robert Zemeckis, o responsável por "Forrest Gump", "Náufrago", "O voo" entre outros!
O problema de "Aliados" é que tudo parece estar no piloto automático. Apesar de tantos renomes na produção, alguns bons momentos e de ser tecnicamente eficiente, vide a boa reconstituição de época promovida pela direção de arte e pelo figurino, a sensação de ter assistido a um filme mediano e caça níquel prevalece.
"John Wick - Um novo dia para matar", continuação de "De volta ao jogo", traz o bom Keanu Reeves novamente na pele do pistoleiro mais perigoso do mundo do crime. O filme amplia ainda mais a matança promovida pelo protagonista e, também, aumenta os detalhes narrativos a cerca do universo criminoso proposto pelo longa original.
Logo no início, é apresentado o principal argumento que faz John Wick 'voltar ao jogo' outra vez. A aposentadoria que ele havia conquistado na história anterior se deu ao executar com perfeição uma missão 'impossível' dada pelo chefe da máfia russa. Neste segundo filme, descobrimos que Wick teve a ajuda de um mafioso italiano para cumprir a tal missão. O acordo entre os dois gerou uma promissória que Wick terá de pagar para não morrer: matar a chefe da máfia italiana.
O roteiro encaixa bem o argumento para prosseguir com a história de John Wick. Além disso, há bons diálogos, a cordialidade e a elegância entre criminosos são sempre interessantes e o exagero de detalhes no tal universo do crime insere bom humor na trama de forma pontual. A demasia, inclusive, faz com que o longa tenha uma atmosfera utópica divertida quase 'matrixiana', principalmente pela ponta de Laurence Fishburne, como o Rei dos mendigos (o reencontro de 'Neo e Morpheus' possui diálogos que remete a "Matrix") e do poder de Winston, o personagem mainframe organizador de regras responsável pela zona neutra entre matadores e mafiosos.
O que importa mesmo em "John Wick" é a matança desenfreada. As cenas de ação estão excelentes! Os inúmeros tiroteios, com direito a muitos tiros à queima roupa, e as lutas otimamente coreografadas elevam o nível de violência em relação a produção anterior. As longas sequências possuem poucos cortes de câmera e isso valoriza a verossimilhança.
O diretor Chad Stahelski, que retorna ao cargo, ainda proporciona mais plasticidade em cena e deixa o balé com armas e lutas ainda mais bonitos. Embora seja um filme noturno e com muitos ambientes escuros, a fotografia proporciona uma luminosidade atraente, com muito neon, e as cenas são sempre nítidas. A beleza dos cenários, inclusive, hipnotiza o espectador e ajuda a aumentar o grau de tensão. Exemplo disso é o clímax que remete a "Operação Dragão".
Se você acha que está mais difícil se aposentar no Brasil de hoje é por que não conhece a história de John Wick! Certamente, "John Wick - Um novo dia para matar" será um dos melhores exemplares de ação de 2017.
“A chegada” parece um filme sobre invasão alienígena, mas não é. Se invasão é acompanhada sempre de hostilidade, então o longa passa longe do gênero ação. Não há guerras e nem tentativa para ‘dominar a Terra’, mas há muito mistério e reflexão. Só por não ter as características triviais envolvendo extraterrestres, a produção já se mostra uma ficção científica original.
Na trama, várias naves interplanetárias chegam a Terra. Nenhuma toca o solo e ficam estáticas, a poucos metros do chão, em diversos pontos do planeta. Um desses pontos, claro, é nos Estados Unidos, o que faz o exército contratar uma especialista em linguística, Dra. Louise Banks (em ótima atuação de Amy Adams), e um matemático, Ian Donnelly (Jeremy Renner), para se comunicarem com os desconhecidos seres que são, aparentemente, inofensivos. O objetivo de ambos é estudar e desvendar os estranhos sinais emitidos pelos ‘visitantes’ para saber se os mesmos representam uma ameaça ou não.
Tecnicamente, “A chegada” é de encher os olhos. O cineasta canadense Denis Villeneuve (“Sicário – Terra de Ninguém”) faz tudo ao seu estilo e com maestria. Ele impõe o tradicional ritmo lento que valoriza o desenvolvimento de personagens e situações. Além disso, Villeneuve conduz a dramaticidade da história de maneira sensível e abusa da excelente fotografia de Bradford Young para dar plasticidade ao longa (destaque para a iluminação precisa e os bons enquadramentos de câmera). A beleza, em muitos momentos, lembra muito o visual natural que o cineasta Terrence Malick tanto gosta de trabalhar.
O roteiro de Eric Heisserer joga para o espectador um quebra-cabeça não-linear repleto de tensão e mistério (lembra muito “Contato”, com Jodie Foster). É um enigma que só será desvendado por completo, provavelmente, em uma catarse pós-filme em boas reflexões. Heisserer insere signos e estudo de padrões de linguagem de forma pontuais na narrativa para transmitir, basicamente, que a humanidade está um caos e precisa ser reorganizada. É uma inteligente crítica sobre os seres humanos em uma ficção científica nada convencional.
"Um limite entre nós", produção baseada em peça teatral e dirigida e protagonizada por Denzel Washington, traz o drama de Troy, um jogador de beisebol aposentado e alcoólatra que sobrevive como coletor de lixo. Embora não seja pobre, ele vive de forma humilde em uma casa com sua esposa Rose e com seu filho Cory. Por causa de sua forte personalidade e de uma 'recaída', Troy acaba entrando em complexos conflitos familiares e pode pôr tudo a perder.
Ainda que a primeira hora seja chata e exaustiva, momentos em que vemos em cena a construção do personagem principal, o longa ganha forma e ritmo a partir de seu segundo ato quando acontecem as conversas litigiosas recheadas de excelentes diálogos e interpretações inspiradíssimas, em especial a performance emotiva de Viola Davis.
O roteiro de August Wilson, que impõe o tom teatral ao filme, trabalha as discussões de maneira quase poéticas trazendo à tona conceitos de respeito, hierarquia e patriarquismo. Embora isso fique contido entre as 'cercas' (tradução literal do título original) da casa, a moral familiar transmitida nos mostra que o legado de alguém pode nos ensinar ou nos encorajar a transcender limites.
A direção de Denzel Washington mostra-se burocrática, porém segura. Nunca há desvio de foco. Ele também está ótimo como protagonista em uma atuação convincente. Apesar da longa duração e de não ter um tema surpreendente, "Um limite entre nós" é um bom filme e pode provocar diversas reflexões.
Uma história pouco conhecida é adaptada para o cinema em um filme inspirador. "Estrelas além do tempo" narra a luta de três cientistas negras da Nasa cujo trabalho que exercem foi primordial para que os EUA obtivessem sucesso na corrida espacial em plena Guerra Fria.
A trama é convencional, assim como a moral da narrativa que surge ao final do longa após as protagonistas sofrerem com o forte preconceito racial da época. Entretanto, o que se torna motivador é a garra que todas têm em crescer na Nasa e ganhar respeito ao se superarem profissionalmente no campo da engenharia e da matemática.
Apesar da atmosfera ter um tom opressivo, as 'gênias indomáveis' têm a inteligência de não se abaterem e seguirem em frente sempre com determinação e bom humor. Fato que o roteiro descreve bem o acontecimento verídico e que o diretor Theodore Melfi realiza de forma burocrática, porém, correta. Destaque para a atuação de Octavia Spencer.
Em Ritmo de Fuga
4.0 1,9K Assista Agora"Em ritmo de fuga" é um exemplo de criatividade para o cinema contemporâneo. Tudo é convencional, mas é feito de maneira pouco comum. Méritos para o diretor e roteirista Edgar Wright que teve o cuidado de deixar o longa redondinho e com pouquíssimas falhas.
A trama mostra a vida do jovem Baby (em ótima atuação de Ansel Elgort), um excelente motorista de fuga que para de prestar seus serviços para o crime. Como diz o ditado, 'você sai do crime, mas o crime não sai de você', ele é convencido pelo seu ex-chefe a fazer outro trabalho. Quando um assalto dá errado, Baby deve fugir de bandidos e, também, da polícia para não ser preso. O curioso é que ele precisa ouvir músicas o tempo todo para silenciar o zumbido que o perturba decorrente de um acidente na infância.
"Em ritmo de fuga" é pulsante, esperto e divertido, tanto nas boas piadas situacionais como nas referências a cultura pop. Além disso, há ótimos diálogos, todo o elenco está muito bem, a edição é inventiva e as sequências de ação são empolgantes.
Outro destaque é o som. Será uma injustiça se o filme não for indicado ao Oscar nessa categoria. É um trabalho brilhante, tanto na escolha das músicas como na orquestração das mesmas como parte da narrativa. Isso faz o longa ter uma atmosfera cool, além de proporcionar ao espectador uma experiência sonora incrível.
Fazia tempo que não surgia um produto cinematográfico 'cult instantâneo'.
Dunkirk
3.8 2,0K Assista AgoraO diretor, roteirista e produtor, Christopher Nolan, é um dos poucos cineastas da atualidade que tem apoio de um grande estúdio (Warner) além de ter a liberdade de criação e execução. Ou seja, tem a grana necessária para fazer o filme que quiser. O que ele faz em "Dunkirk" é primoroso e, provavelmente, será a melhor experiência sensorial cinematográfica de 2017.
"Dunkirk" é um longa de guerra que possui uma estrutura narrativa que foge do convencional em relação ao gênero. É uma história de 'fuga/resgate' com premissa simples, mas que se torna interessante pela não linearidade do roteiro, que narra um evento com vários pontos de vista.
Baseado em fatos reais, Dunkirk é uma cidade portuária ao norte da França que presenciou uma debandada do exército britânico e francês na Segunda Guerra Mundial, em 1940. Esse acontecimento ficou conhecido como Operação Dínamo. Enquanto mais 300 mil soldados aguardavam navios em uma praia da região para voltarem à Grã-Bretanha, caças alemães sobrevoavam metralhando e bombardeando o local.
O que tornou a situação dramática foi o fato de a praia ser muito rasa, o que impedia a aproximação da frota. Isso fez com que o exército aliado ficasse, praticamente, encurralado sendo alvo fácil dos nazistas. Diante disso, há três perspectivas na história que se cruzam em determinados momentos da projeção: a de um soldado na praia, de um civil britânico que ajudou no resgate com seu barco e de um piloto de avião que deu suporte aéreo na operação.
"Dunkirk" é um filme de poucos diálogos e muito audiovisual. A dramaticidade em cena se constrói de modo mais sensorial do que pela atuação do elenco, no entanto isso não dispensa as interpretações dos atores. Embora não tenham um destaque, estão todos com performances convincentes e são fundamentais para retratar, não só o episódio, mas a estupidez da guerra, que pode gerar tragédias irreparáveis.
Entretanto, o que contagia o espectador é a harmonia técnica entre ritmo intenso, som e imagem. Há sempre uma sensação de ápice contínuo e isso se deve a edição esperta e, sobretudo, ao tom de urgência da excelente trilha sonora de Hans Zimmer. Aliada a isso, a engenharia de som é impecável, ao trabalhar cada ruído, tiros e explosões em sua devida faixa de áudio. Sem falar na inserção de sons repentinos (que ocasionam em sustos) e na utilização constante das caixas de subwoofer que fazem os espectadores vibrarem com os graves, ajudando ainda mais no exercício de tensão e na experiência de imersão.
A fotografia, assinada pelo holandês Hoyte Van Hoytema (o mesmo de "Interestelar"), cria uma eficiente atmosfera desoladora de tons acinzentados. Para maximizar a desesperança, 75% das cenas foram rodadas com câmeras Imax. Quando não estão na terra ou no mar, as lentes captam belas tomadas aéreas sempre com poucos cortes para que o espectador tenha tempo de apreciar toda a misancene.
"Dunkirk", ainda que tenha um vilão sempre oculto e careça da violência gráfica peculiares do gênero, é um dos melhores exemplares de guerra dos últimos anos. Certamente, será um forte candidato aos principais prêmios do cinema norte-americano.
Planeta dos Macacos: A Guerra
4.0 955 Assista AgoraMuita gente torceu o nariz quando surgiu a notícia de que haveria uma nova série de filmes baseada no clássico "Planeta dos Macacos" (1968). Não foi muito animador, tendo em vista o fracasso crítico de outras cinco produções sobre o tema que sucederam o original.
Mal sabiam os pessimistas que a nova trilogia agregaria valor ao longa de 1968 ao contar a origem do domínio símio na Terra. Em momento algum os recentes filmes tinham a pretensão de serem melhores ou superiores ao clássico, ao contrário do remake de Tim Burton (2001) que falhou ao reinventar o enredo com um novo plot twist.
Tudo começou com "Planeta dos Macacos - A Origem" quando cientistas descobrem que a droga que pode trazer a cura para o Alzheimer é a mesmo que desenvolve a inteligência e emoções humanas em macacos. É aí que conhecemos o chimpanzé César, a cobaia de um cientista, que é domesticado e possui grandes avanços intelectuais em relação aos outros de sua espécie.
Um incidente acontece com César e faz com que ele fique preso em um local com dezenas de macacos cobaias. Nessa ocasião, ele organiza uma rebelião e foge com todos os primatas. Isso gera o primeiro conflito entre humanos e símios. Ao mesmo tempo, uma epidemia viral se alastra no planeta exterminando milhões de humanos. Os sobreviventes ou são imunes ao vírus ou acabam perdendo suas funções intelectuais.
Em "Planeta dos Macacos - O Confronto", César é o grande líder e o mais evoluído da capela formada em São Francisco, nos Estados Unidos. Ele não é a favor da guerra, mas se vê obrigado a guerrear contra o seu braço direito Koba, macaco que o trai, toma seu posto de líder e provoca uma batalha sangrenta contra os humanos sobreviventes que estão fortemente armados.
"Planeta dos Macacos - A Guerra" inicia com uma tentativa 'diplomática' de paz entre as raças. No entanto, um coronel (brilhantemente interpretado por Woody Harrelson), que lidera uma resistência humana, não aceita tal trégua e ainda causa uma tragédia na vida pessoal de César. Isso faz com que o símio tenha ódio pelos humanos e saia em uma caçada ao coronel para se vingar.
O terceiro ato da nova trilogia é de uma beleza técnica e dramática impressionante. O diretor Matt Reeves, que também dirigiu "O Confronto", passeia por vários gêneros e referências do cinema para finalizar o arco dramático de César. Tudo está em harmonia e as situações, sejam elas em momentos de tensão, na ação e no humor, aparecem de forma pontuais na tela.
Reeves conduz os dramas de César com uma sensibilidade ímpar, assim como o ritmo do longa que é ora lento no desenvolvimento de personagens ora ágil nas boas sequências de ação. A fotografia trabalha com paisagens florestais em tons escuros e de aspectos frios e melancólicos. Os enquadramentos de câmeras, principalmente quando estão em primeiro e médio planos, destacam o visual gráfico dos macacos, que está em um nível de realismo que beira à perfeição.
Os efeitos gráficos, inclusive, dão verossimilhança à narrativa e ajudam a transcender a espetacular performance do ator Andy Serkis. Todos os seus trejeitos faciais, corporais e emocionais podem ser vistos com nitidez mesmo sob a maquiagem digital de César. Não é apenas uma simples captura de movimentos, mas uma interpretação apaixonada, convincentemente tocante e digna de Oscar.
O roteiro ainda traz, além de uma conexão satisfatória com o clássico de 1968, uma excelente reviravolta no clímax, que valoriza ainda mais a crítica social proposta pelo filme original. A metaforização da inversão de valores sobre o conceito de humanidade transforma o homem em um animal selvagem e intelectualmente fraco para resolver seus problemas de forma respeitosa e civilizada.
"Planeta dos Macacos - A Guerra" é o ponto final de uma das melhores, mais humanas e mais bem trabalhadas trilogias das últimas décadas. Certamente, será um dos melhores filmes de 2017.
Okja
4.0 1,3K Assista AgoraFilme bonitinho. Apesar de ter vários problemas de roteiro, o longa consegue transmitir sua bela mensagem, ainda que seja de maneira lúdica. Visualmente é bem feito. O super porco ficou convincente. Lamento, apenas, a atuação de Jake Gyllenhaal, caricata ao extremo. Chega a ser constrangedor em alguns momentos. Merece uma framboesa. No geral, é um bom passatempo.
Michelle e Obama
2.8 52 Assista Agora"Michelle e Obama", escrito e dirigido por Richard Tanne, tem a pegada da trilogia "Antes do Amanhecer", "Antes do Pôr-do-Sol" e "Antes da Meia-Noite", do diretor Richard Linklater, em que a narrativa acompanha os protagonistas em um dia de eventos. O longa, de ritmo lento, mostra o primeiro encontro do famoso casal, em 1989. O roteiro costura bons e longos diálogos que reforçam a personalidade e a breve história de cada um. No entanto, há uma carência de surpresas, mais por parte dele.
Vemos um Obama praticamente pronto. Se você espera ver como surgiram suas inspirações para se tornar o homem político que é, pode esquecer. Isso é subentendido no decorrer da história com um Obama, embora estudante, com grande potencial intelectual e já popular entre brancos e negros em seu 'micro ambiente'. Já a construção de Michelle é mais sutil. O apreço e a tímida paixão por ele, aliada a sua forte personalidade, aparecem de forma crescente, o que a torna mais interessante na trama.
A escolha dos atores, Parker Sawyers e Tika Sumpter, foi certeira e suas performances e trejeitos impressionam pelas semelhanças. Enfim, "Michelle e Obama" pode decepcionar aqueles que esperam reviravoltas políticas, entretanto pode agradar aos espectadores que compreendem que há mais política do que se imagina na construção de uma relação, principalmente se o vínculo for amoroso.
Homem-Aranha: De Volta ao Lar
3.8 1,9K Assista AgoraHomem-Aranha, o alter ego de Peter Parker, é um dos super-heróis mais populares no universo das histórias em quadrinho. Criado por Stan Lee e Steve Ditko, em meados dos anos 60, o personagem caiu na graça do público pela simplicidade de seus arcos dramáticos. A imaturidade, a timidez, a ingenuidade, a humildade, as trapalhadas, o descobrimento de seus poderes (juntamente com as dificuldades de lidar com eles) e o espírito 'nerd jovial escolar' fizeram muita gente se identificar com o 'amigão da vizinhança'.
Depois de conquistar o sucesso nas HQs da Marvel e nos desenhos animados, era questão de tempo para que o aracnídeo fizesse o mesmo no cinema. Apesar da desconfiança do subgênero, que quase foi enterrado pelos fracassos de "Batman Eternamente" (1995) e "Batman & Robin" (1997), os êxitos de "Blade - O Caçador de Vampiros" (1998) e "X-Men: O Filme" (2000) foram a motivação para que "Homem-Aranha" surgisse nas telonas em 2002, sob o comando de Sam Raimi e protagonizado por Tobey Maguire.
O sucesso foi absurdo. Orçado em US$ 139 milhões, o filme faturou em solo norte-americano mais de US$ 403 milhões. Somando com os US$ 418 milhões nas bilheterias ao redor do mundo, o longa finalizou a carreira nos cinemas com mais de US$ 821 milhões arrecadados. "Homem-Aranha", além de impulsionar duas sequências bem sucedidas financeiramente, foi a fagulha que faltava para incendiar o cinema com a retomada das adaptações cinematográficas das HQs de super-heróis.
Com o passar dos anos, a Sony, detentora dos direitos de Homem-Aranha nos cinemas, decidiu fazer uma releitura do personagem com "O Espetacular Homem-Aranha" (2012) e "O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro" (2014), ambos protagonizados por Andrew Garfield e dirigidos por Marc Webb. Os dois longas tiveram bons resultados nas bilheterias, mas foram fracassos críticos. Ao mesmo tempo, a Marvel Studios e a Disney estavam se dando bem ao criarem o Universo Cinematográfico Marvel. No entanto, a figura que faltava para deixar o tal universo ainda mais atrativo era o aracnídeo.
Um acordo histórico entre estúdios fez o sonho se tornar realidade. Em 2016, o Homem-Aranha roubou a cena em "Capitão América: Guerra Civil" e o melhor, teve seu comando intelectual à disposição da Marvel, que apresentou o personagem da forma que os fãs queriam. Em 2017, surge o esperado filme, com um título pra lá de adequado: "Homem-Aranha: De Volta ao Lar", protagonizado pelo excelente e carismático Tom Holland.
"Homem-Aranha: De Volta ao Lar" deixa de lado as origens do personagem, que todos já sabem, e dialoga com sua simplicidade e pureza. O filme começa após os eventos de "The Avengers - Os Vingadores" (2012) e logo conhecemos Adrian Toomes (otimamente interpretado pelo "Birdman" Michael Keaton), um sujeito que tem aversão a ricos e poderosos e se apodera de destroços alienígenas da batalha de Nova Iorque, para poder fabricar e vender poderosas armas no mercado negro. Anos mais tarde, aparece Peter Parker. Empolgado ao ser recrutado por Tony Stark para a batalha do aeroporto contra a trupe do Capitão América, Parker filma sua participação no confronto com seu celular e fica famoso na internet como Homem-Aranha.
De volta ao lar, no bairro do Queens, em Nova Iorque, onde mora com sua tia, May (novamente interpretada por Marisa Tomei), Parker vive à expectativa do contato de Stark para ser chamado para a ação novamente e tem que lidar com seus afazeres escolares e dilemas. Em uma de suas noites em que tenta 'ajudar a vizinhança' como Homem-Aranha, ele acaba entrando no caminho do vilão Abutre, alter ego de Adrian Toomes.
"Homem-Aranha: De Volta ao Lar" acerta em cheio ao desenvolver a personalidade e comportamento de Peter Parker, que são oriundos das HQs. Além disso, o filme possui uma atmosfera sempre alegre e nos diverte o tempo todo de inúmeras maneiras: seja por suas referências a outros filmes do teioso, pelo ambiente estudantil que nos remete aos anos 80 (essência inspirada nas produções de John Hughes), pelo relacionamento com o melhor amigo Ned, pelas trapalhadas e ingenuidades de Parker ou pelas gags pontuais do roteiro que brincam o tempo todo com o personagem e seu traje tecnológico.
A narrativa simples e descomplicada favorece a identificação do público com o protagonista, o que nos deixa com o desejo de ficar vendo somente as peripécias e enrascadas (vide a ótima reviravolta no início do terceiro ato) do 'jovem aranha'. O ritmo é tão delicioso que nem nos preocupamos com a aparição do Homem de Ferro. Tony Stark, diga-se de passagem, tem uma participação curta, porém crucial, no longa. Ele é quase uma figura paterna (que substitui o tio Ben no filme original) para Peter e é o responsável por inspirar a maturidade e a responsabilidade de um super-herói no garoto.
Tecnicamente falando, "Homem-Aranha: De Volta ao Lar" poderia ser melhor. Ainda que tenha bons efeitos visuais, as grandes cenas de ação não empolgam como deveriam. Há boas idéias para o desenvolvimento das sequências, mas nenhuma se torna memorável, o que deixa a sensação de falta criatividade na direção de Jon Watts.
"Homem-Aranha: De Volta ao Lar" não é o melhor filme de super-herói, mas, certamente, é um dos mais divertido deles, o que dá novo fôlego para as próximas aventuras de Peter Parker.
Meu Malvado Favorito 3
3.4 404 Assista AgoraAs sequências de filmes surgem com vários propósitos e as principais vertentes disso são o retorno financeiro (tanto de bilheteria como de produtos licenciados) e a ampliação da história original. As continuações costumam pecar na qualidade da narrativa quando há um descuido dramático na tentativa de aumentar os graus de ameaças e ações para surpreender o público. A animação "Meu Malvado Favorito 3" compartilha dessa cartilha, no entanto, se destaca por não se preocupar somente com o lado financeiro.
A história de Gru recebe boas doses familiares, principalmente quando conhece Dru, seu irmão gêmeo que quer entrar para o universo dos vilões e fazer jus ao legado da família.
Paralelamente, Lucy tenta se adaptar a maternidade juntamente com as filhas adotivas Agnes, Margo e Edith. Em meio a isso, surge o vilão Balthazar Bratt, uma figura que foi astro mirim da televisão nos anos 80 e que ficou desprestigiado ao crescer fazendo o mesmo personagem. Além de manter o visual, ter objetos e costumes da cultura pop oitentista, ele viu na vilania uma saída para ganhar dinheiro e seu grande plano é roubar um enorme diamante. Entre uma ação e outra, ainda temos os deliciosos Minions, que abandonam Gru por não ser mais um vilão e saem em busca de outras figuras más.
As subtramas são diversas, mas nenhuma se perde. Apesar do ritmo frenético das ações, o bom humor, seja situacional, visual (como as ótimas referências aos anos 80), sarcástico ou com um viés mais rasteiro para as criançadas, continua equilibrado e agradarão a todos. Com tantas situações a serem exploradas, é uma pena que os Minions tenham um tempo de tela menor. Entretanto, as mensagens transmitidas são sempre bem vindas e estão longe de serem gratuitas, ainda que falte mais tempo para que elas tenham uma qualidade dramática melhor.
No geral, "Meu Malvado Favorito 3" agrada bastante, seja pelo divertido visual caricato multicolorido, pela harmonia cômica e pela atmosfera sempre simpática. Que venha a quarta parte!
Power Rangers
3.2 1,1K Assista AgoraA adaptação cinematográfica do seriado televisivo "Power Rangers" começa de maneira promissora com uma premissa interessante e surpreende pela parte técnica (o acidente de carro no início é muito bem feito). Os protagonistas, que aparecem aos poucos, são carismáticos, a direção é criativa em um primeiro momento, há uma boa atmosfera colegial e o roteiro gasta um certo tempo para desenvolver determinadas situações de origens.
Todo esse cuidado para falar dos heróis coloridos estava bom demais para ser verdade. Entretanto, tudo começa a ruir quando se inicia o segundo ato. Muitos furos de roteiro, ações mal coreografadas, questionamentos sem respostas e saltos temporais pipocam na tela. A qualidade do filme, em quase todos os aspectos, cai vertiginosamente.
O que seria algo promitente se rende aos exageros técnicos de produções televisivas que não se preocupam com a coerência narrativa e nem com a eficiência na edição. A impressão é que não houve dinheiro suficiente para se fazer um filme competente e o que sobrou depois de 40 minutos de projeção foi feito nas 'cochas', de forma econômica e de ritmo alucinante. É uma pena, pois o visual dos Power Rangers não ficou ruim e a idéia de retratá-los no cinema poderia proporcionar um longa melhor.
A Cura
3.0 707 Assista AgoraEsteticamente belo, excessivamente longo e narrativamente confuso.
Mulher-Maravilha
4.1 2,9K Assista AgoraFicou a cargo de Mulher-Maravilha recolocar o universo DC Comics/Warner no cinema de volta aos trilhos após os insucessos críticos de "Batman Vs Superman - A origem da justiça", filme em que roubou a cena, e "Esquadrão Suicida". A boa notícia é que ela conseguiu! A maior heroína de todos os tempos ganha um longa de origem competente e surpreende com eficiência narrativa e muita beleza em cena.
A conexão de "Mulher Maravilha" com o universo DC no cinema é a tal foto em que a protagonista aparece na época da Primeira Guerra Mundial e que intriga Bruce Wayne, em "Batman Vs Superman". O arco de origem é objetivo: com começo, meio e fim sem deixar pontas soltas sobre a heroína.
A introdução nos mostra o refúgio das mitológicas Amazonas, que moram em uma ilha paradisíaca chamada Themyscira que foi escondida pelos deuses do Olimpo. A história é sobre Diana (Gal Gadot), uma jovem princesa superprotegida pela mãe, Rainha Hippolyta (Connie Nielsen), que não a quer ver como guerreira. Sua insistência em se tornar uma lutadora aliada ao incentivo da tia Antiope (Robin Wright), faz com que ela se torne uma das maiores gladiadoras de sua terra. Sua missão começa quando o Capitão Steve Trevor (Chris Paine) cai na ilha em um avião e as Amazonas conhecem a temível grande guerra no começo do século 20. Isso inspira Diana a sair de seu refúgio para caçar Ares, o Deus da Guerra, com o intuito de tentar acabar com o conflito e evitar que mais inocentes morram.
A diretora Patty Jenkins não inova, mas faz um trabalho consistente e emblemático sobre a Mulher-Maravilha cuja essência remete a "Superman" (1978), dirigido por Richard Donner e protagonizado por Christopher Reeves. Jenkins acerta no bom ritmo e, também, no tom harmônico, principalmente ao retratar a forte personalidade de Diana e sua pureza em relação ao primeiro contato com a vida alheia dos humanos, o que gera leveza ao longa. A química e o carisma dos ótimos Gal Gadot e Chris Paine ajudam na descontração.
Tecnicamente, o filme é deslumbrante. O destaque é a fotografia que esbanja plasticidade, seja nas paisagens ora alegres em Themyscira ora sombria com os tons acinzentados e alaranjados da guerra; nas cenas de lutas empolgantes - um verdadeiro balé de socos e chutes; e nas boas e espetaculares tomadas em câmeras lentas (com toques de Zack Snyder) em que vemos todos os detalhes de movimentos muito bem coreografados pelos atores. Além disso, há muita beleza e vigor em cena que valorizam as ações simbólicas de Diana, vide os momentos em que a Mulher-Maravilha aparece confrontando os alemães no segundo ato do filme ao som da música tema de Junkie XL. É arrepiar de emoção!
O roteiro de Allan Heinberg, que fez um delicioso 'feijão-com-arroz' sobre a 'jornada do herói', deixou o caldo azedar no que diz respeito ao desenvolvimento dos vilões. Os antagonistas foram retratados de maneira superficiais e caricatos ao extremo. Os poucos argumentos em cena não convencem sobre suas motivações, especialmente quando surge Ares, responsável pela confusa reviravolta no terceiro ato do longa.
No geral, "Mulher-Maravilha" acerta mais do que erra e isso a faz figurar entre os melhores filmes de super-heróis já feitos e o melhor baseado nas histórias em quadrinhos da DC Comics. Esse sucesso traz tranquilidade ao Universo DC Comics/Warner nos cinemas e aumenta as expectativas para a "Liga da Justiça" que está por vir.
Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar
3.3 1,1K Assista Agora"Piratas do Caribe" foi de uma simples atração no parque na Disney para uma fonte de dinheiro no cinema de aventura. O primeiro filme, "A maldição do Pérola Negra" (2003), que custou US$ 140 milhões, faturou nos Estados Unidos cerca de US$ 350 milhões e US$ 654 milhões em todo o planeta. O sucesso de crítica e bilheteria, além de impulsionar ainda mais a carreira do astro Johnny Deep, que foi indicado ao Oscar por interpretar o hilário pirata Jack Sparrow (que se tornou um fenômeno midiático), fizeram com que os produtores investissem em continuações.
A ideia foi certeira. A sequência "O baú da morte" (2006), orçado em US$ 225 milhões, fez US$ 423 milhões em solo americano e alcançou a casa do bilhão na bilheteria mundial com exatos US$ 1,066 bi. O terceiro filme, "No fim do mundo" (2007), custou US$ 300 milhões e engordou menos os cofres da Disney ao render US$ 309 milhões na bilheteria doméstica, porém totalizou a carreira nos cinemas em US$ 963 milhões ao redor do mundo se tornando um sucesso. Em 2011, aportou o quarto longa, "Navegando em águas misteriosas" (2011), e o resultado foi insatisfatório nos Estados Unidos, mas compensatório no globo. Os US$ 241 milhões de bilheteria na terra estadunidense foi um fracasso, já que a produção custou US$ 250 milhões. O alento para a Disney foi o faturamento mundial de US$ 804 milhões totalizando US$ 1,045 bilhões.
Desde "No fim do mundo", a franquia dava sinais de cansaço. Os filmes eram longos demais, Deep estava repetitivo e as narrativas estavam caindo de qualidade. O quarto longa decretou a mesmice e o insucesso crítico era inevitável. Apesar do marasmo, "Piratas" ainda tinha muita demanda e o pensamento capitalista dos produtores falou mais alto. Para faturar mais um pouco e 'recuperar o prestígio da série', surgiu a quinta parte da aventura de Jack Sparrow: "Piratas do Caribe - A vingança de Salazar".
Assim como as duas últimas produções, "A vingança de Salazar" não empolga como os dois primeiros filmes. Deep, no piloto automático, já não consegue mais surpreender com o seu timing cômico e as trapalhadas de Sparrow até divertem, mas não são tão engraçadas como antes. Além disso, faltou um roteiro com foco e profundidade melhores, sobretudo no argumento para as ações principais, na subtrama que envolve o Capitão Barbosa (novamente interpretado pelo ótimo Geoffrey Rush) e na construção do vilão Salazar (boa atuação de Javier Bardem), que está sempre em segundo plano e em nenhum momento demonstrou ser ameaçador ou assustador.
No entanto, o longa se mostra uma aventura competente para uma 'sessão da tarde'. Ainda que tenha uma direção burocrática da dupla Espen Sandberg e Joachim Rønning, responsáveis pelo longa norueguês de sucesso "Expedição Kon Tiki" (indicado ao Oscar de Filme Estrangeiro em 2013), a narrativa nunca fica cansativa e as cenas de ação espalhadas de forma equilibrada durante a projeção não deixam o ritmo cair. Além disso, os bons efeitos gráficos são convincentes e a engenharia de som é um primor. O uso constante de subwoofers e a edição de som ajudam no realismo e na espetacularização das cenas. Tecnicamente, não há de se queixar da produção que sempre apresenta maquiagens, figurinos e direção de arte impecáveis.
O único ponto técnico ruim é a trilha sonora de Geoff Zanelli que não consegue dar uma 'nova identidade sonora' ao longa. Os bons momentos da trilha é quando o tema original de Klaus Badelt aparece para nos lembrar que o que vemos é um produto "Piratas do Caribe".
No desfecho, quem se lembrar dos filmes anteriores, vai logo perceber a ponta para uma sexta aventura que pode sair logo dependendo do sucesso de "A vingança de Salazar", que teve orçamento de US$ 230 milhões. Não saia da sala de cinema sem antes assistir uma cena após os créditos finais.
Corra!
4.2 3,6K Assista Agora"Corra!" é um suspense repleto de mistério que mostra um jovem negro, Chris, que está prestes a conhecer a família da namorada caucasiana Rose. Ao conhecer os pais e o irmão de sua garota, que são carinhosamente receptivos, ele desconfia que algo está errado e precisa fugir dali o quanto antes. A partir daí, tudo que for dito sobre a história será spoiler.
O filme começa lento e ganha cada vez mais ritmo quando novas caras aparecem em cena. Isso é proposital, já que o diretor estreante e roteirista Jordan Peele procura inserir o espectador no ambiente familiar e aconchegante de Rose para dar mais eficiência ao suspense. À medida que a trama se aprofunda no relacionamento entre os personagens, o roteiro joga na tela sinais da reviravolta que o protagonista sofrerá em seu surpreendente e perturbador terceiro ato.
O sucesso de "Corra!" é que tudo é bem trabalhado, simples, equilibrado e nunca subestima a inteligência do espectador com subtramas frágeis, sustos fáceis ou tensão gratuita. Embora pareça um produto original, o longa recicla os clichês do gênero com maestria e entrega um bom entretenimento com críticas sociais e raciais pra lá de excêntricas.
A Autópsia
3.3 1,0K Assista AgoraUma misteriosa mulher é encontrada enterrada em uma cena de crime dentro de uma casa no interior dos Estados Unidos. Ela é levada pelo Xerife local para o necrotério da cidade para que seja feita uma autópsia. Quando os procedimentos médicos começam, os protagonistas se deparam com diversos acontecimentos estranhos que se intensificam com o avanço da necropsia.
A atmosfera claustrofóbica, sustos repentinos e muita tensão estão no filme que é bem dirigido por André Øvredal. O terror surge na tela de forma eficiente pela boa fotografia, pela maquiagem realista e, sobretudo, pela curiosa mitologia que cerca toda a pegada sobrenatural da trama.
O único problema é que o roteiro de Richard Naing possui argumentos dramáticos frágeis que não convencem, principalmente quando os arcos dos personagens se misturam com o fator sobre-humano da narrativa gerando alguns furos. No geral, "A autópsia" é uma boa pedida para quem curte o gênero.
Guardiões da Galáxia Vol. 2
4.0 1,7K Assista AgoraO primeiro "Guardiões da Galáxia" foi uma surpresa. Ninguém esperava que uma aventura cinematográfica sobre os heróis da prateleira de baixo da Marvel fosse dar tão certo a ponto de o filme ser melhor que muitas produções dos heróis da prateleira de cima. Foi um sucesso de público, crítica e de bilheteria faturando mundialmente, em 2014, mais de US$ 773 milhões (só nos Estados Unidos foram US$ 333 milhões). Isso fez aumentar as expectativas sobre o "Volume 2" e, como o time que está ganhando não se mexe, a continuação veio tão boa quanto o original.
O diretor e roteirista James Gunn é um dos responsáveis pelo triunfo de "Guardiões da Galáxia". Talvez ele seja a pessoa que melhor pratica a cartilha Marvel no cinema. Em "Guardiões da Galáxia Vol. 2", o cineasta mantém o tom da aventura, responde algumas questões não respondidas do longa anterior e valoriza ainda mais o carisma de seu elenco. Além disso, Gunn aumenta as inserções de humor, proporciona ainda mais grandiosidade na ação e dá mais plasticidade ao entregar um visual deslumbrante multicolorido. Tudo isso em um tema simples, mas que nunca fica démodé: família.
Desta vez, Peter Quill conhece seu pai Ego, um planeta vivo, e suas origens. Um segredo revelado em um determinado momento da trama faz Peter conhecer as intenções de Ego que colocam em risco a sua vida e a de seus amigos. A história central é de Peter, porém todos possuem tempos de tela semelhantes e arcos dramáticos ligados ao tema bem desenvolvidos pelo roteiro: o confronto entre Gamora e sua irmã Nebula; a relação quase sentimental entre Drax e Mantis (nova e importante personagem); o carinho e preocupação que todos possuem, principalmente Rocket, com baby Groot; e a lealdade de Kraglin com o chefe Yondu.
Falando em Yondu, há uma emocionante afetividade com Peter que poderá arrancar lágrimas do espectador.
Apesar de seus 137 minutos de projeção, "Guardiões da Galáxia Vol. 2" tem um excelente ritmo e nunca fica cansativo. A todo momento, cenas de ação ou situações hilárias (roubadas sempre por Groot e Drax) ou enxurradas de referências pipocam de maneiras pontuais para divertirem o público. As inúmeras citações são do universo das HQs Marvel e dos anos 80, sobretudo pela contagiante seleção de hits musicais que dá o tom na composição sonora e dramática do longa.
Falando em ação, as sequências são visualmente fantásticas e recheadas de câmeras lentas. Ainda que não fujam tanto do que estamos acostumados a ver em aventuras espaciais, as cenas são bem dirigidas por James Gunn , que trabalha com interessantes escalas de tamanho entre os perigos que os 'pequenos' personagens correm diante de ameaças gigantescas. Destaque para o espetacular plano sequência em uma das cenas de abertura que esbanja criatividade e originalidade perante aos outros filmes Marvel.
"Guardiões da Galáxia Volume 2" é um filme que não se conecta tanto com outros do Universo Cinematográfico Marvel. Claro, há alguma referência ao Thanos, mas nada mais. A pretensão de James Gunn é construir um universo próprio para os "Guardiões" com cores vibrantes, criaturas divertidamente bizarras e conteúdo de fácil entendimento com certa importância temática. Assim se faz um bom entretenimento, quando o trabalho técnico impecável se alia a uma essência de qualidade.
Assistam, se possível, em IMAX 3D ou em salas semelhantes. O filme foi pensado para esses formatos o que ajuda ainda mais na experiência de imersão. Não saia da sala sem antes ver todos os créditos finais. Diversas cenas estão lá para nos fazer desejar ainda mais por uma terceira parte. Que venha o Volume 3 e mais Groot!
TOC: Transtornada Obsessiva Compulsiva
2.4 303 Assista AgoraMuito fraca essa tragicomédia. A essência dramática, que fala de celebridades deprimidas por causa da fama, é até interessante, mas não há quase nada de TOC, que seria o fio condutor do humor e que está totalmente deslocado na trama.
Velozes e Furiosos 8
3.4 745 Assista AgoraOs absurdos do roteiro deste oitavo longa incomodam, mas o que vale mesmo é o entretenimento. Ação, efeitos visuais de qualidade e o bom humor fazem valer a diversão. O sétimo ainda é o melhor e o mais espetacular da franquia.
A Cabana
3.6 828 Assista AgoraFilme tem boas idéias, mas o desenvolvimento dos dramas e do enredo são extremamente rasos.
Resident Evil 6: O Capítulo Final
3.0 952 Assista AgoraO pior filme da série disparado! Mal escrito e pessimamente dirigido. A edição frenética é irritante.
A Grande Muralha
2.9 583 Assista AgoraInvasão alienígena na China em pleno Século XV. Essa é a estranha premissa que define "A Grande Muralha", uma co-produção entre norte-americanos e chineses. Enquanto Hollywood traz a experiência em realizar blockbusteres, os orientais contribuem com o que sabem fazer de melhor: beleza e organização.
A narrativa recria a origem da muralha. O objetivo da grande barreira chinesa não seria apenas proteger a população de qualquer inimigo humano, mas servir de um forte de guerra para evitar que uma raça alienígena hostil, que caiu na Terra em um meteoro há centenas de anos, destrua o país.
O diretor Zhang Yimou ("Flores do Oriente", "O Clã das Adagas Voadoras" e "Herói") faz aqui uma das mais bonitas 'sessões da tarde'. Apesar de estar longe da essência filosófica de seus filmes anteriores, peculiaridade que o levou ao estrelato, o cineasta não economiza na estética apurada. Os design de produção e os figurinos são impecáveis. Além disso, o sincronismo da ação, os bons movimentos de câmera e a organização de elementos a cada tomada impressionam pela plasticidade.
Falando em ação, as sequências são bem coreografadas, tensas e espetaculares. Yimou equilibra tudo isso em um ritmo dinâmico que faz prender a atenção do espectador. Algumas cenas parecem reciclar a ideia de correria e ferocidade dos zumbis de "Guerra Mundial Z" e de proteção à Rainha de "Independence Day - O Ressurgimento". Os efeitos gráficos também são caprichados e ajudam a valorizar o belo visual multicolorido da produção.
Embora o desenrolar da temática seja convencional e previsível, o longa é bem feito dentro de sua proposta. Isso faz de "A Grande Muralha" um excelente exemplo de clichês bem trabalhados que proporcionam um bom e velho entretenimento despretensioso. De vez em quando é preciso desligar o cérebro e se divertir com bobagens como esta, principalmente em 3D e em IMAX. Ah, Matt Damon faz um mercenário que... não importa.
Aliados
3.5 452 Assista Agora"Aliados" é um filme de espionagem na Segunda Guerra Mundial que tem potencial para ser espetacular, mas não é. A trama gira em torno de dois espiões (Brad Pitt e Marion Cotillard) que se apaixonam e se casam após uma missão no Marrocos. A paz do casal acaba quando ele é informado por seus superiores que ela pode ser uma agente dupla.
Após um primeiro ato interessante e promissor, o frágil roteiro faz com que o restante do filme, repleto de mistério, se torne cansativo e pouco surpreendente. Se o script não ajuda tanto, uma direção mais criativa e menos burocrática poderia fazer a diferença, fato que, infelizmente, não acontece. E olha que estamos falando do ótimo Robert Zemeckis, o responsável por "Forrest Gump", "Náufrago", "O voo" entre outros!
O problema de "Aliados" é que tudo parece estar no piloto automático. Apesar de tantos renomes na produção, alguns bons momentos e de ser tecnicamente eficiente, vide a boa reconstituição de época promovida pela direção de arte e pelo figurino, a sensação de ter assistido a um filme mediano e caça níquel prevalece.
John Wick: Um Novo Dia Para Matar
3.9 1,1K Assista Agora"John Wick - Um novo dia para matar", continuação de "De volta ao jogo", traz o bom Keanu Reeves novamente na pele do pistoleiro mais perigoso do mundo do crime. O filme amplia ainda mais a matança promovida pelo protagonista e, também, aumenta os detalhes narrativos a cerca do universo criminoso proposto pelo longa original.
Logo no início, é apresentado o principal argumento que faz John Wick 'voltar ao jogo' outra vez. A aposentadoria que ele havia conquistado na história anterior se deu ao executar com perfeição uma missão 'impossível' dada pelo chefe da máfia russa. Neste segundo filme, descobrimos que Wick teve a ajuda de um mafioso italiano para cumprir a tal missão. O acordo entre os dois gerou uma promissória que Wick terá de pagar para não morrer: matar a chefe da máfia italiana.
O roteiro encaixa bem o argumento para prosseguir com a história de John Wick. Além disso, há bons diálogos, a cordialidade e a elegância entre criminosos são sempre interessantes e o exagero de detalhes no tal universo do crime insere bom humor na trama de forma pontual. A demasia, inclusive, faz com que o longa tenha uma atmosfera utópica divertida quase 'matrixiana', principalmente pela ponta de Laurence Fishburne, como o Rei dos mendigos (o reencontro de 'Neo e Morpheus' possui diálogos que remete a "Matrix") e do poder de Winston, o personagem mainframe organizador de regras responsável pela zona neutra entre matadores e mafiosos.
O que importa mesmo em "John Wick" é a matança desenfreada. As cenas de ação estão excelentes! Os inúmeros tiroteios, com direito a muitos tiros à queima roupa, e as lutas otimamente coreografadas elevam o nível de violência em relação a produção anterior. As longas sequências possuem poucos cortes de câmera e isso valoriza a verossimilhança.
O diretor Chad Stahelski, que retorna ao cargo, ainda proporciona mais plasticidade em cena e deixa o balé com armas e lutas ainda mais bonitos. Embora seja um filme noturno e com muitos ambientes escuros, a fotografia proporciona uma luminosidade atraente, com muito neon, e as cenas são sempre nítidas. A beleza dos cenários, inclusive, hipnotiza o espectador e ajuda a aumentar o grau de tensão. Exemplo disso é o clímax que remete a "Operação Dragão".
Se você acha que está mais difícil se aposentar no Brasil de hoje é por que não conhece a história de John Wick! Certamente, "John Wick - Um novo dia para matar" será um dos melhores exemplares de ação de 2017.
A Chegada
4.2 3,4K Assista Agora“A chegada” parece um filme sobre invasão alienígena, mas não é. Se invasão é acompanhada sempre de hostilidade, então o longa passa longe do gênero ação. Não há guerras e nem tentativa para ‘dominar a Terra’, mas há muito mistério e reflexão. Só por não ter as características triviais envolvendo extraterrestres, a produção já se mostra uma ficção científica original.
Na trama, várias naves interplanetárias chegam a Terra. Nenhuma toca o solo e ficam estáticas, a poucos metros do chão, em diversos pontos do planeta. Um desses pontos, claro, é nos Estados Unidos, o que faz o exército contratar uma especialista em linguística, Dra. Louise Banks (em ótima atuação de Amy Adams), e um matemático, Ian Donnelly (Jeremy Renner), para se comunicarem com os desconhecidos seres que são, aparentemente, inofensivos. O objetivo de ambos é estudar e desvendar os estranhos sinais emitidos pelos ‘visitantes’ para saber se os mesmos representam uma ameaça ou não.
Tecnicamente, “A chegada” é de encher os olhos. O cineasta canadense Denis Villeneuve (“Sicário – Terra de Ninguém”) faz tudo ao seu estilo e com maestria. Ele impõe o tradicional ritmo lento que valoriza o desenvolvimento de personagens e situações. Além disso, Villeneuve conduz a dramaticidade da história de maneira sensível e abusa da excelente fotografia de Bradford Young para dar plasticidade ao longa (destaque para a iluminação precisa e os bons enquadramentos de câmera). A beleza, em muitos momentos, lembra muito o visual natural que o cineasta Terrence Malick tanto gosta de trabalhar.
O roteiro de Eric Heisserer joga para o espectador um quebra-cabeça não-linear repleto de tensão e mistério (lembra muito “Contato”, com Jodie Foster). É um enigma que só será desvendado por completo, provavelmente, em uma catarse pós-filme em boas reflexões. Heisserer insere signos e estudo de padrões de linguagem de forma pontuais na narrativa para transmitir, basicamente, que a humanidade está um caos e precisa ser reorganizada. É uma inteligente crítica sobre os seres humanos em uma ficção científica nada convencional.
Um Limite Entre Nós
3.8 1,1K Assista Agora"Um limite entre nós", produção baseada em peça teatral e dirigida e protagonizada por Denzel Washington, traz o drama de Troy, um jogador de beisebol aposentado e alcoólatra que sobrevive como coletor de lixo. Embora não seja pobre, ele vive de forma humilde em uma casa com sua esposa Rose e com seu filho Cory. Por causa de sua forte personalidade e de uma 'recaída', Troy acaba entrando em complexos conflitos familiares e pode pôr tudo a perder.
Ainda que a primeira hora seja chata e exaustiva, momentos em que vemos em cena a construção do personagem principal, o longa ganha forma e ritmo a partir de seu segundo ato quando acontecem as conversas litigiosas recheadas de excelentes diálogos e interpretações inspiradíssimas, em especial a performance emotiva de Viola Davis.
O roteiro de August Wilson, que impõe o tom teatral ao filme, trabalha as discussões de maneira quase poéticas trazendo à tona conceitos de respeito, hierarquia e patriarquismo. Embora isso fique contido entre as 'cercas' (tradução literal do título original) da casa, a moral familiar transmitida nos mostra que o legado de alguém pode nos ensinar ou nos encorajar a transcender limites.
A direção de Denzel Washington mostra-se burocrática, porém segura. Nunca há desvio de foco. Ele também está ótimo como protagonista em uma atuação convincente. Apesar da longa duração e de não ter um tema surpreendente, "Um limite entre nós" é um bom filme e pode provocar diversas reflexões.
Estrelas Além do Tempo
4.3 1,5K Assista AgoraUma história pouco conhecida é adaptada para o cinema em um filme inspirador. "Estrelas além do tempo" narra a luta de três cientistas negras da Nasa cujo trabalho que exercem foi primordial para que os EUA obtivessem sucesso na corrida espacial em plena Guerra Fria.
A trama é convencional, assim como a moral da narrativa que surge ao final do longa após as protagonistas sofrerem com o forte preconceito racial da época. Entretanto, o que se torna motivador é a garra que todas têm em crescer na Nasa e ganhar respeito ao se superarem profissionalmente no campo da engenharia e da matemática.
Apesar da atmosfera ter um tom opressivo, as 'gênias indomáveis' têm a inteligência de não se abaterem e seguirem em frente sempre com determinação e bom humor. Fato que o roteiro descreve bem o acontecimento verídico e que o diretor Theodore Melfi realiza de forma burocrática, porém, correta. Destaque para a atuação de Octavia Spencer.