Colocando em uma balança, "O Escândalo" tem mais glórias do que tragédias, mas imprime a impressão de que todo o potencial que a história poderia ter não foi atingido. Se sua opção mais importante enquanto filme é gerar um senso de urgência sobre o assédio sexual e a cultura do estupro, é um objetivo atingido. A produção funciona bem como aviso para a indústria, cada vez mais atenta para esse crime ainda tão difícil de ser revelado, porém, deixa um gosto amargo ao fim: mesmo com as mulheres envolvidas na história possuindo enfim voz, o problema não foi solucionado.
"Jojo Rabbit" não é superior aos convencionalismos intrínsecos do feel good movie ao não possuir a coragem de empurrar sua sátira para um nível mais ousado e inteligente. A fita é uma boa sessão por ser um filme que enche os olhos e pela forma como lida com o contexto. Não temos uma didática aula de como o Nazismo é uma mácula - isso já deveria ser óbvio -, e sim uma reformulação na maneira como a arte o critica, por meio da ridicularização. A produção deixa claro como ideologias são fundamentalmente inventadas e ensinadas, caso contrário, aquele pobre e ignorante menino de 10 anos não veria Adolf Hitler como um deus.
Entre diversos erros de produção, um grande acerto de "Dois Papas" é não tomar partido a partir da exposição da fé de seus personagens. No entanto, se o argumento é a exposição de brigas de poder versus a santidade do cargo, "Dois Papas" na verdade é uma cinebiografia caótica e mal feita que visa santificar o nosso atual e humilde papa, que recusa a pompa da posição, liga ele mesmo para a companhia de aviação para reservar uma passagem e toma Fanta laranja com pizza recém ungida.
"Entre Facas e Segredos" se sobressai por ser um "filme família" capaz de agradar a todas as faixas etárias sem ser genérico ou redutivo. Grandioso pelo seu batalhão de estrelas e pelo roteiro que estrutura a trama sabiamente, os excessos podem até diminuir a sessão - o filme se esforça para parecer mais complexo do que realmente é -, mas, mesmo sendo familiar e até previsível, é capaz de gerar interesse por todos os 130 minutos e terminar socialmente afiado, sem perdão pelo trocadilho. E Chris Evans como um personagem que odeia cachorros é aula de atuação.
"O Irlandês", se olhado de cima do nicho que se enquadra, é uma realização competente que nada difere dos padrões elevados já impostos por Martin Scorsese ao logo das décadas. Traz algo de novo para sua filmografia? Não exatamente. A partir disso, pela sua temática e sua duração, o apreço vai muito da maneira como cada um enxerga os elementos. Esse é um filme que coloca a subjetividade à flor da pele quando uns o enxergam como um épico sobre moralidades rachadas e brigas de poder, enquanto o mesmíssimo material para outros (e aqui me sento) denota pouco além do letárgico. Mas o mais incompreensível é pensar que Anna Paquin saiu de casa para isso.
"História de um Casamento" é um filme que deve ser visto pela dissecação palpável do quão complexo somos e como tudo vai para um limite além quando buscamos a utópica máxima de "juntos somos um só" dentro de um relacionamento. Assim como não dá para fugir que "História de um Casamento" é feito para fisgar multidões - até mesmo o genérico título, que não denota singularidade, resume a ideia -, não dá para fugir da particularidade de que prefiro muito mais uma fita que extrapole a realidade nas imensas possibilidades que a Sétima Arte nos agracia do que uma que seja expectadora da realidade pura e simples. E isso não é um problema de "História de um Casamento".
"As Golpistas" é escrito e dirigido por uma mulher, mas parece destinado para homens. Não surpreende ver Adam McKay como produtor do longa, que copia descaradamente o estilo de seus filmes (insuportavelmente masculinos). Não que "As Golpistas" mereça um troféu de machismo do mês, longe disso. Há forte sentimento de sororidade entre suas personagens, todavia, é uma decepção um universo tão objetificador não possuir uma voz ativamente feminina na maneira que é transposto para a arte.
“A Despedida” não aborda temas novos e nem avança em terrenos inéditos em sua exploração da secular batalha do homem contra a única etapa inevitável da nossa existência, porém, é tudo posto com tanta beleza e honestidade que a sessão é um prazer. É uma daquelas obras que perfuram as defesas da plateia até, com muita coesão, arrancar uma lágrima ou duas pelas performances humanas e diálogos sensíveis. Curioso um filme sobre a antecipação da morte ser tão cheio de vida.
Robert Eggers solidifica seu cinema como mitológico quando condena seus personagens - e o algoz é a própria natureza. “O Farol” é um sucessor à altura de “A Bruxa” e não tem problemas em fotografar nossa existência como algo decrépito, fadado ao insucesso quando estamos tão preocupados em saciar nossos egoístas desejos. Somos de uma fragilidade tão aparente que, às vezes, a natureza nem precisa se esforçar para nos destruir. Nós mesmos nos encarregamos disto.
Karim Aïnouz, após a sessão, falou que a película não se tratava de um filme feminista, mas sim uma obra contra o machismo, e essa é uma boa definição. Forte quando foca nas intimidações do patriarcado e emocionante quando entra no amor incondicional de duas irmãs que se separam graças à maquiavélica união de homens, "A Vida Invisível" é, além de sensacional exemplo do nosso majestoso cinema nacional no Oscar, um garboso melodrama que se torna um documento da nossa sociedade que deve, e muito, à vida feminina.
“The Nightingale” é um filme que tem como objetivo deixar a plateia revoltada com as opressões racistas e patriarcais que deixam um rastro de sangue há séculos, todavia, a película literalmente se utiliza do sofrimento negro para dar força na jornada de uma mulher branca, tudo em nome de uma agenda feminista. Os bons aspectos são meras gotas d'água em meio a um oceano de escolhas desastrosas dessa pseudo odisseia de empoderamento que tem como lenha para sua vingança um perigoso discurso de "esse é um filme importante".
Aster priorizou, na versão de cinema, manter as cenas que colocam Dani em primeiro plano em detrimento do desenvolvimento de Christian, limado com a redução de 20 minutos, então, assistir à versão do diretor é uma experiência muito mais rica. Muito peso psicológico foi retirado, e ele é fundamental para entendermos com ainda mais afinco as decisões que nos levam até o clímax - o que torna a experiência ainda mais interessante. Com 20 minutos a mais do "director's cut", “Midsommar” se consagra como obra-prima.
"El Camino" é um epílogo, e se limita em exercer sua função de "capítulo final". Pouca coisa é acrescentada na linha temporal da história além do encerramento da jornada de Jesse Pinkman, que finalmente encontra um derradeiro final para a trama. Qualquer fã vai se sentir feliz com esse mimo pelos aspectos emocionais reascendidos pela nostalgia, porém, mesas não são viradas com os 122 minutos do filme. "El Camino" faz tudo o que há de bom em "Breaking Bad", mas não o que há de melhor.
Nenhum filme em 2019 sofreu tanto com a histeria coletiva quanto "Coringa". O que há de melhor aqui é a veia niilista de seus caminhos - dentro de uma sociedade tão enferma, desigual e que retira a dignidade de suas pessoas, é árduo não ceder ao cinismo. Só que o longa se espetaculariza ao máximo para tentar atingir voos épicos e grandiosos, sem conseguir efetivamente. "Coringa" é como Arthur contando piadas: gargalha o mais alto possível no intuito de fazer a plateia rir junto, e, mesmo sendo divertido, não há tanta graça assim.
“Predadores Assassinos” pode agradar quem espera uma sessão inteiramente moldada para matar o tédio e nada mais; fora isso, é mais um longa com bichos devoradores de gente que some com o rolar dos créditos – a atuação de Kaya Scodelario é o único ponto válido de apreço. É ironicamente raso esse filme que esconde seus monstros nas profundezas da água, tão cristalina que parece surgir de uma fonte termal e não pelas mãos de um furacão.
Tão diferente, mas ao mesmo tempo tão parecido com "Hereditário" ao usar o luto como pontapé de seu clima, é injusto comparar as duas obras quando seus objetivos (e luzes!) são tão discrepantes - e, convenhamos, superar "Hereditário" seria utópico. "Midsommar" é narcotizante e hipnótico ao reforçar o terror antropológico e cultural, além de mais uma comprovação (dessa vez colorida e vibrante) de que Ari Aster é um mestre no que faz e um dos mais bizarros términos de relacionamento que o Cinema já fez. Teria sido mais fácil terminar por mensagem.
A impressão que "It: Capítulo 2" desenha à plateia é que parece ser um filme andando com muletas: está preste a cair a qualquer momento, mesmo não indo ao chão de fato. Sempre será um prazer ver Bill Skarsgård encarnando um dos vilões mais icônicos da contemporaneidade cinematográfica, mas nosso retorno à Derry não é o prazer que foi a primeira vez que chegamos nessa cidadezinha infernal. Talvez, na próxima, o balão vermelho não estará tão murcho
Para alguém sem embasamento teórico de linguagem cinematográfica, Melanie Martinez realiza um competente filme. Se o roteiro por vezes falha - e as atuações, majoritariamente feita por não-profissionais, não sustentam como deveriam -, o "K-12" compensa em composições imagéticas fantásticas e músicas teatrais e socialmente engajadas . Aqui temos um estilo - visual e musical - que pode não ser tão saboroso em todos os paladares, porém, Melanie demonstra seu poder em autenticidade, relevância e olhar crítico, qualidades que todo artista busca, mas que nem sempre conseguem.
Se o povo de Bacurau, o vilarejo, dá o sangue para manter sua identidade viva contra quaisquer ameaças, "Bacurau", o filme, é uma dádiva que levanta a mão e grita "o cinema nacional resiste". Pondo seu local geográfico no protagonismo, é a terra que faz brotar o mandacaru que sabe onde estão os valores mais importantes de uma sociedade, e que não tem medo de descer a peixeira em quem tenta oprimi-la ou apagá-la. No faroeste psicodélico e distópico de "Bacurau", a mensagem é clara: o Nordeste não vai pensar duas vezes antes de cair na capoeira, então não se meta.
É uma surpresa ver o infortúnio de Tarantino ao abraçar um longa mais voltado para o drama - ele se saiu tão bem no subestimado "Jackie Brown". "Era Uma Vez em Hollywood" carrega os estilos que moldaram um cinema tão característico, porém, sua nova produção é uma inorgânica homenagem à fantasia hollywoodiana pela sua trama que vai matando a própria vida a cada minuto (e são muitos). Tarantino, pela primeira vez, não é cool, é só chato.
"Parasita" é um dos cumes de 2019 quando cria uma sessão bizarramente divertida sem, jamais, em momento algum, deixar com que o estudo social saia do ecrã. O filme enfia a faca em um sistema que fundamentalmente existe ao por um camada acima de outra, o que tira a dignidade do ser humana e comprova o insucesso da separação entre burguesia e marginalizados. Talvez a melhor luta de classe que tivemos no Cinema nessa década - e aqui estamos falando tanto no sentido figurado como no literal.
Almodóvar realiza um filme estritamente íntimo, o que ceifa a produção através da repetição de si mesmo. O rei espanhol talvez precise de uma renovação que quebre as paredes da caixa que ele mesmo se colocou - o patamar alcançado em "A Pele Que Habito", uma revolução dentro de sua carreira quando seus tópicos são levados a caminhos tão diferentes e inéditos. "Dor & Glória" é só mais um filme sobre crise artística e a jornada para o reencontro criativo que em nada enriquece os 40 anos de Almodóvar nas salas escuras mundo afora.
"Rafiki" pode não exercer todo o potencial dramático que prometia, mas é uma exultação para o cinema LGBT pela doçura de sua abordagem, beleza de suas imagens e veracidade de seus temas. É uma das poucas obras que consegue tanto enaltecer quanto criticar um mesmo foco - no caso, a situação sócio-política do Quênia -, sem deixar de evocar todo o prisma feminista em meio de um local engolido pela miséria.
"O Rei Leão" depende da nostalgia para fazer o motor funcionar, porque o que é entregue, motivado pelas próprias mãos, é rasteiro. Eco letárgico de qualquer episódio de "Discovery Channel", a película já começa errada quando se vende como live-action - aqui não há sinal nem vida nem de ação -, uma alegoria faraônica sem alma desesperada para repetir o sucesso de seu original. Beyoncé, cantando, nos pergunta: "você consegue sentir o amor hoje à noite?". A resposta é "não".
O Escândalo
3.6 460 Assista AgoraColocando em uma balança, "O Escândalo" tem mais glórias do que tragédias, mas imprime a impressão de que todo o potencial que a história poderia ter não foi atingido. Se sua opção mais importante enquanto filme é gerar um senso de urgência sobre o assédio sexual e a cultura do estupro, é um objetivo atingido. A produção funciona bem como aviso para a indústria, cada vez mais atenta para esse crime ainda tão difícil de ser revelado, porém, deixa um gosto amargo ao fim: mesmo com as mulheres envolvidas na história possuindo enfim voz, o problema não foi solucionado.
Crítica completa: bit.ly/30AmNr7
Jojo Rabbit
4.2 1,6K Assista Agora"Jojo Rabbit" não é superior aos convencionalismos intrínsecos do feel good movie ao não possuir a coragem de empurrar sua sátira para um nível mais ousado e inteligente. A fita é uma boa sessão por ser um filme que enche os olhos e pela forma como lida com o contexto. Não temos uma didática aula de como o Nazismo é uma mácula - isso já deveria ser óbvio -, e sim uma reformulação na maneira como a arte o critica, por meio da ridicularização. A produção deixa claro como ideologias são fundamentalmente inventadas e ensinadas, caso contrário, aquele pobre e ignorante menino de 10 anos não veria Adolf Hitler como um deus.
Crítica completa: bit.ly/2uKTq9K
Dois Papas
4.1 962 Assista AgoraEntre diversos erros de produção, um grande acerto de "Dois Papas" é não tomar partido a partir da exposição da fé de seus personagens. No entanto, se o argumento é a exposição de brigas de poder versus a santidade do cargo, "Dois Papas" na verdade é uma cinebiografia caótica e mal feita que visa santificar o nosso atual e humilde papa, que recusa a pompa da posição, liga ele mesmo para a companhia de aviação para reservar uma passagem e toma Fanta laranja com pizza recém ungida.
Crítica completa: bit.ly/2MlV73p
Entre Facas e Segredos
4.0 1,5K Assista Agora"Entre Facas e Segredos" se sobressai por ser um "filme família" capaz de agradar a todas as faixas etárias sem ser genérico ou redutivo. Grandioso pelo seu batalhão de estrelas e pelo roteiro que estrutura a trama sabiamente, os excessos podem até diminuir a sessão - o filme se esforça para parecer mais complexo do que realmente é -, mas, mesmo sendo familiar e até previsível, é capaz de gerar interesse por todos os 130 minutos e terminar socialmente afiado, sem perdão pelo trocadilho. E Chris Evans como um personagem que odeia cachorros é aula de atuação.
Crítica completa: bit.ly/35zFFbn
O Irlandês
4.0 1,5K Assista Agora"O Irlandês", se olhado de cima do nicho que se enquadra, é uma realização competente que nada difere dos padrões elevados já impostos por Martin Scorsese ao logo das décadas. Traz algo de novo para sua filmografia? Não exatamente. A partir disso, pela sua temática e sua duração, o apreço vai muito da maneira como cada um enxerga os elementos. Esse é um filme que coloca a subjetividade à flor da pele quando uns o enxergam como um épico sobre moralidades rachadas e brigas de poder, enquanto o mesmíssimo material para outros (e aqui me sento) denota pouco além do letárgico. Mas o mais incompreensível é pensar que Anna Paquin saiu de casa para isso.
Crítica completa: bit.ly/2E5TT7V
História de um Casamento
4.0 1,9K Assista Agora"História de um Casamento" é um filme que deve ser visto pela dissecação palpável do quão complexo somos e como tudo vai para um limite além quando buscamos a utópica máxima de "juntos somos um só" dentro de um relacionamento. Assim como não dá para fugir que "História de um Casamento" é feito para fisgar multidões - até mesmo o genérico título, que não denota singularidade, resume a ideia -, não dá para fugir da particularidade de que prefiro muito mais uma fita que extrapole a realidade nas imensas possibilidades que a Sétima Arte nos agracia do que uma que seja expectadora da realidade pura e simples. E isso não é um problema de "História de um Casamento".
Crítica completa: bit.ly/2LBqdU9
As Golpistas
3.5 538 Assista Agora"As Golpistas" é escrito e dirigido por uma mulher, mas parece destinado para homens. Não surpreende ver Adam McKay como produtor do longa, que copia descaradamente o estilo de seus filmes (insuportavelmente masculinos). Não que "As Golpistas" mereça um troféu de machismo do mês, longe disso. Há forte sentimento de sororidade entre suas personagens, todavia, é uma decepção um universo tão objetificador não possuir uma voz ativamente feminina na maneira que é transposto para a arte.
Crítica completa: bit.ly/2QXp8d1
A Despedida
4.0 298“A Despedida” não aborda temas novos e nem avança em terrenos inéditos em sua exploração da secular batalha do homem contra a única etapa inevitável da nossa existência, porém, é tudo posto com tanta beleza e honestidade que a sessão é um prazer. É uma daquelas obras que perfuram as defesas da plateia até, com muita coesão, arrancar uma lágrima ou duas pelas performances humanas e diálogos sensíveis. Curioso um filme sobre a antecipação da morte ser tão cheio de vida.
Crítica completa: bit.ly/2O51rMA
O Farol
3.8 1,6K Assista AgoraRobert Eggers solidifica seu cinema como mitológico quando condena seus personagens - e o algoz é a própria natureza. “O Farol” é um sucessor à altura de “A Bruxa” e não tem problemas em fotografar nossa existência como algo decrépito, fadado ao insucesso quando estamos tão preocupados em saciar nossos egoístas desejos. Somos de uma fragilidade tão aparente que, às vezes, a natureza nem precisa se esforçar para nos destruir. Nós mesmos nos encarregamos disto.
Crítica completa: bit.ly/2NDTRZn
A Vida Invisível
4.3 645Karim Aïnouz, após a sessão, falou que a película não se tratava de um filme feminista, mas sim uma obra contra o machismo, e essa é uma boa definição. Forte quando foca nas intimidações do patriarcado e emocionante quando entra no amor incondicional de duas irmãs que se separam graças à maquiavélica união de homens, "A Vida Invisível" é, além de sensacional exemplo do nosso majestoso cinema nacional no Oscar, um garboso melodrama que se torna um documento da nossa sociedade que deve, e muito, à vida feminina.
Crítica completa: bit.ly/2BRJ208
The Nightingale
3.6 181 Assista Agora“The Nightingale” é um filme que tem como objetivo deixar a plateia revoltada com as opressões racistas e patriarcais que deixam um rastro de sangue há séculos, todavia, a película literalmente se utiliza do sofrimento negro para dar força na jornada de uma mulher branca, tudo em nome de uma agenda feminista. Os bons aspectos são meras gotas d'água em meio a um oceano de escolhas desastrosas dessa pseudo odisseia de empoderamento que tem como lenha para sua vingança um perigoso discurso de "esse é um filme importante".
Crítica completa: bit.ly/2MOHlXI
Midsommar: O Mal Não Espera a Noite
3.6 2,8K Assista AgoraAster priorizou, na versão de cinema, manter as cenas que colocam Dani em primeiro plano em detrimento do desenvolvimento de Christian, limado com a redução de 20 minutos, então, assistir à versão do diretor é uma experiência muito mais rica. Muito peso psicológico foi retirado, e ele é fundamental para entendermos com ainda mais afinco as decisões que nos levam até o clímax - o que torna a experiência ainda mais interessante. Com 20 minutos a mais do "director's cut", “Midsommar” se consagra como obra-prima.
Crítica completa: bit.ly/2Jg6x7b
El Camino: Um Filme de Breaking Bad
3.7 843 Assista Agora"El Camino" é um epílogo, e se limita em exercer sua função de "capítulo final". Pouca coisa é acrescentada na linha temporal da história além do encerramento da jornada de Jesse Pinkman, que finalmente encontra um derradeiro final para a trama. Qualquer fã vai se sentir feliz com esse mimo pelos aspectos emocionais reascendidos pela nostalgia, porém, mesas não são viradas com os 122 minutos do filme. "El Camino" faz tudo o que há de bom em "Breaking Bad", mas não o que há de melhor.
Crítica completa: bit.ly/2IUSVhC
Coringa
4.4 4,1K Assista AgoraNenhum filme em 2019 sofreu tanto com a histeria coletiva quanto "Coringa". O que há de melhor aqui é a veia niilista de seus caminhos - dentro de uma sociedade tão enferma, desigual e que retira a dignidade de suas pessoas, é árduo não ceder ao cinismo. Só que o longa se espetaculariza ao máximo para tentar atingir voos épicos e grandiosos, sem conseguir efetivamente. "Coringa" é como Arthur contando piadas: gargalha o mais alto possível no intuito de fazer a plateia rir junto, e, mesmo sendo divertido, não há tanta graça assim.
Crítica completa: bit.ly/2M3MYkj
Predadores Assassinos
3.2 771 Assista Agora“Predadores Assassinos” pode agradar quem espera uma sessão inteiramente moldada para matar o tédio e nada mais; fora isso, é mais um longa com bichos devoradores de gente que some com o rolar dos créditos – a atuação de Kaya Scodelario é o único ponto válido de apreço. É ironicamente raso esse filme que esconde seus monstros nas profundezas da água, tão cristalina que parece surgir de uma fonte termal e não pelas mãos de um furacão.
Crítica completa: bit.ly/2odFWzY
Midsommar: O Mal Não Espera a Noite
3.6 2,8K Assista AgoraTão diferente, mas ao mesmo tempo tão parecido com "Hereditário" ao usar o luto como pontapé de seu clima, é injusto comparar as duas obras quando seus objetivos (e luzes!) são tão discrepantes - e, convenhamos, superar "Hereditário" seria utópico. "Midsommar" é narcotizante e hipnótico ao reforçar o terror antropológico e cultural, além de mais uma comprovação (dessa vez colorida e vibrante) de que Ari Aster é um mestre no que faz e um dos mais bizarros términos de relacionamento que o Cinema já fez. Teria sido mais fácil terminar por mensagem.
Crítica completa: bit.ly/2kLY8j1
It: Capítulo Dois
3.4 1,5K Assista AgoraA impressão que "It: Capítulo 2" desenha à plateia é que parece ser um filme andando com muletas: está preste a cair a qualquer momento, mesmo não indo ao chão de fato. Sempre será um prazer ver Bill Skarsgård encarnando um dos vilões mais icônicos da contemporaneidade cinematográfica, mas nosso retorno à Derry não é o prazer que foi a primeira vez que chegamos nessa cidadezinha infernal. Talvez, na próxima, o balão vermelho não estará tão murcho
Crítica completa: bit.ly/2lS4yNK
K-12
3.8 67Para alguém sem embasamento teórico de linguagem cinematográfica, Melanie Martinez realiza um competente filme. Se o roteiro por vezes falha - e as atuações, majoritariamente feita por não-profissionais, não sustentam como deveriam -, o "K-12" compensa em composições imagéticas fantásticas e músicas teatrais e socialmente engajadas . Aqui temos um estilo - visual e musical - que pode não ser tão saboroso em todos os paladares, porém, Melanie demonstra seu poder em autenticidade, relevância e olhar crítico, qualidades que todo artista busca, mas que nem sempre conseguem.
Crítica completa: bit.ly/2lHaTv0
Bacurau
4.3 2,8K Assista AgoraSe o povo de Bacurau, o vilarejo, dá o sangue para manter sua identidade viva contra quaisquer ameaças, "Bacurau", o filme, é uma dádiva que levanta a mão e grita "o cinema nacional resiste". Pondo seu local geográfico no protagonismo, é a terra que faz brotar o mandacaru que sabe onde estão os valores mais importantes de uma sociedade, e que não tem medo de descer a peixeira em quem tenta oprimi-la ou apagá-la. No faroeste psicodélico e distópico de "Bacurau", a mensagem é clara: o Nordeste não vai pensar duas vezes antes de cair na capoeira, então não se meta.
Crítica completa: bit.ly/2zHMFoo
Era Uma Vez em... Hollywood
3.8 2,3K Assista AgoraÉ uma surpresa ver o infortúnio de Tarantino ao abraçar um longa mais voltado para o drama - ele se saiu tão bem no subestimado "Jackie Brown". "Era Uma Vez em Hollywood" carrega os estilos que moldaram um cinema tão característico, porém, sua nova produção é uma inorgânica homenagem à fantasia hollywoodiana pela sua trama que vai matando a própria vida a cada minuto (e são muitos). Tarantino, pela primeira vez, não é cool, é só chato.
Crítica completa: bit.ly/2zeUNfM
Parasita
4.5 3,6K Assista Agora"Parasita" é um dos cumes de 2019 quando cria uma sessão bizarramente divertida sem, jamais, em momento algum, deixar com que o estudo social saia do ecrã. O filme enfia a faca em um sistema que fundamentalmente existe ao por um camada acima de outra, o que tira a dignidade do ser humana e comprova o insucesso da separação entre burguesia e marginalizados. Talvez a melhor luta de classe que tivemos no Cinema nessa década - e aqui estamos falando tanto no sentido figurado como no literal.
Crítica completa: bit.ly/2N6eNtm
Dor e Glória
4.2 619 Assista AgoraAlmodóvar realiza um filme estritamente íntimo, o que ceifa a produção através da repetição de si mesmo. O rei espanhol talvez precise de uma renovação que quebre as paredes da caixa que ele mesmo se colocou - o patamar alcançado em "A Pele Que Habito", uma revolução dentro de sua carreira quando seus tópicos são levados a caminhos tão diferentes e inéditos. "Dor & Glória" é só mais um filme sobre crise artística e a jornada para o reencontro criativo que em nada enriquece os 40 anos de Almodóvar nas salas escuras mundo afora.
Crítica completa: bit.ly/2Kex2Le
Rafiki
4.0 110 Assista Agora"Rafiki" pode não exercer todo o potencial dramático que prometia, mas é uma exultação para o cinema LGBT pela doçura de sua abordagem, beleza de suas imagens e veracidade de seus temas. É uma das poucas obras que consegue tanto enaltecer quanto criticar um mesmo foco - no caso, a situação sócio-política do Quênia -, sem deixar de evocar todo o prisma feminista em meio de um local engolido pela miséria.
Crítica completa: bit.ly/2JUdETo
O Rei Leão
3.8 1,6K Assista Agora"O Rei Leão" depende da nostalgia para fazer o motor funcionar, porque o que é entregue, motivado pelas próprias mãos, é rasteiro. Eco letárgico de qualquer episódio de "Discovery Channel", a película já começa errada quando se vende como live-action - aqui não há sinal nem vida nem de ação -, uma alegoria faraônica sem alma desesperada para repetir o sucesso de seu original. Beyoncé, cantando, nos pergunta: "você consegue sentir o amor hoje à noite?". A resposta é "não".
Crítica completa: bit.ly/2JW8SDF