Um crítico internacional analisando "Morto Não Fala" com certeza não vai receber o mesmo impacto que um brasileiro; afirmo pois, para alguém aquém da nossa indústria, não existirá a mesma sensação de glória ao ver uma produção verde-e-amarelo no mesmo nível do que é lançado quase diariamente no quintal deles. Saindo vencedor no drama, no suspense e no terror, "Morto Não Fala" é uma revelação que engrossa as colunas de um gênero cada vez mais visado dentro de um país ainda tão monotemático.
O Brasil do futuro é um cabaré gospel com música eletrônica e luzes neon. O ethos construído pelo roteiro une o conservadorismo hipócrita com os pecados da carne, vendo o fundamentalismo não ter vergonha ao se arvorar do bacanal como veículo de encontro com deus. Num país que parece não haver regras, justiça e equidade, sob o lema "deus acima de tudo", o bordel sagrado (e bizarro) de "Divino Amor" soa preocupantemente plausível.
É difícil um filme com a marca Pixar ser ruim, e, mesmo não pendurando no pescoço esse rótulo, "Toy Story 4" é quase tão descartável e reciclado quanto os materiais que deram vida ao Forky, ficando atrás de animações com o mesmo mote, como "Uma Aventura LEGO". Reabertura desnecessária de algo bem finalizado, a roda do capitalismo não se conteve e sua bilheteria já ultrapassou meio bilhão de dólares. O brinquedo do garfinho, inclusive, está sendo vendido pela bagatela de R$ 130 nas melhores lojas.
De uma forma bem estranha, "Annabelle 3" ainda é um dos melhores (ou menos piores) nomes do universo "Invocação do Mal", o que ilustra o nível baixo dessa saga fast-food: de qualidade ruim e cheia de gordura, mas feita rapidamente e apetitosa para os olhos. "Annabelle 3" nada mais é que um catálogo com vários novos demônios sendo expostos aleatoriamente, prontíssimos para render ainda mais spin-offs e, claro, aumentar os bolsos de seus produtores.
Comparando com os filmes modernos com o exato mesmo formato ("Lady Bird" e "Oitava Série", por exemplo), "Fora de Série" não é o melhor, porém sua principal meta é alcançada: abraçar cinematograficamente cada garota que se enxergar na tela. A obra não é tímida em gerar um sentimento de sororidade, exalado pela dupla protagonista que fortalece o cinema ao dar voz às garotas, mesmo não se levando tão a sério - e este é um dos charmes do filme, a forma como tantos dramas são lidados com humor e coração.
Cinema é uma arte que provoca, que incita, que questiona, e Gaspar Noé sempre fez isso de forma afiada, porém "Love" escorrega na proposta de celebrar uma relação por irresponsabilidades da abordagem. Com uma filmografia que trata de suicídio, estupro, drogas e violência, Noé, ao por a transsexualidade na tela, derrama marginalizações. "Love" é recheado com amor, sexo, 3D e transfobia.
"Cemitério Maldito" acaba sendo uma mercadoria didática, uma aula de como não construir um roteiro e quais caminhos devem ser evitados na busca de um sucesso criativo. Responsabilizar o material fonte não é justificativa para amenizar tantos erros juntos - pelo contrário: quando há um texto já pronto, é mais fácil saber quais os rumos podem ser mantidos e quais devem ser melhorados. Com poucos momentos que valham a pena, esperar algo competente de um filme à base de gatos zumbis e cemitérios não vigiados é, no mínimo, ingenuidade.
Sustentado pela nostalgia avassaladora criada por meio da magia das criaturas, todo o encantamento com o design dos pokémons (fofíssimos) vai sendo empalidecido por um roteiro que não entrega um momento de autenticidade, apenas reciclagens preguiçosas de histórias já esgotadas. A impressão que fica é que "Detetive Pikachu" é uma propaganda de 1h e meia para vender produtos licenciados da marca ao invés de uma mercadoria competente em audiovisual - tão verdade que eu quero uma pelúcia do Gyarados o mais rápido possível.
A maior discussão de "Fronteira" é o entendimento da natureza. Não apenas nossa conexão com a fauna e a flora, mas também nossa própria natureza. A resolução do roteiro é bem misantropa, aceitando que pendemos para o pior lado da nossa existência. É importante, também, os sentimentos que Tina consegue farejar; não é amor ou felicidade, mas sim medo, vergonha e culpa, sentimentos negativos e primários do animal que somos, e sua jornada a fim de encontrar seu lugar no mundo é reflexo perfeito de inúmeras jornadas particulares - por mais fantasioso que o filme seja.
"Temporada" é a epopeia do comum. Vemos pessoas normais vivendo dramas normais com suas lutas normais, e o filme soa ainda mais impressionante quando consegue extrair o extraordinário de algo que já está tão impresso na nossa realidade. Ao abrirmos nossas portas, vemos várias Julianas passarem pelas ruas, as heroínas do cotidiano que representam a batalha por uma vida melhor em meio a um Brasil em crise econômica, social e cultural. Contudo, o que "Temporada" mais almeja gritar aos quatro ventos é: o que há de melhor no nosso povo é sua garra.
A jornada do protagonista reflete com esmero a jornada do espectador diante do ecrã: o pesar está presente em quase todos os quadros, mas por fim aprendemos que temos que perder para nos libertar. Filmes como "Tinta Bruta" largam distantes do puro entretenimento quando levantam a bandeira da resistência e reflexão. E não apenas na abordagem da vivência LGBT, mas também por nascer no auge de um governo que mutila a cultura como vertente descartável de um país.
"Selvagem" já nasceu como marco dentro do cinema LGBT pelo seu olhar documental de uma condição que preferimos não encarar. Sua sinceridade brutal não é apenas motor de uma sessão de entretenimento, é ferramenta de comoção social fenomenal da difícil vida de um garoto de programa. Longe de qualquer glamourização, fetichismo e julgamento moral, o filme vira um documento do quão desumanizadora é a marginalização da prostituição e manifesto da intragável solidão de seu protagonista, uma mercadoria à baixo preço que está sedenta por qualquer demonstração de afeto. E não estamos todos nós?
"Nós" não atinge um nível medíocre pelo domínio gritante de Jordan Peele sobre suas imagens, que constrói um filme ainda mais imageticamente icônico que "Corra!", mesmo longe do incrível resultado anterior. "Nós" deixa o teor crítico escorrer pelos seus dedos quando abraça ideias demais, tornando a película num bolo abstrato que dá respostas contraditórias e entrega soluções ruins. O pontapé nos indicava um inovador filme de invasão, que se perde e termina como uma bagunça clichê, salva apenas pelo olho fantástico de seu realizador - mas ainda assim é tão frustrante quanto abrir uma caixa de quebra-cabeças e descobrir que várias peças estão faltando.
Com "O Anjo", um assassino é imortalizado pelo Cinema, e foi preocupante quando caiu a ficha de que, caso não tivesse matado onze pessoas, um filme sobre Carlos Puch não existiria. Não se trata de um filme inspirado em um caso policial, é baseado diretamente nos crimes, com o nome e a trajetória de Carlos Puch no palco principal. Não é isso o fator preponderante que define a forma como uma película passa longe da glória, mas é uma problemática relevante dentro dessa complexa arte que é o Cinema. O que pesa no saldo final é a transformação de um serial killer em uma caricatura, com um senso de justiça que não é compatível com seus próprios atos.
"O Grande Circo Místico" é uma produção deprimente que nem de longe merecia o título de melhor filme brasileiro do ano quando nos representou no Oscar 2019 - concorrendo com "Benzinho", "As Boas Maneiras", "Ferrugem", "O Nome da Morte" e "Aos Teus Olhos", é para chorar. O despreparo diante de um elenco tão diverso, capital para orquestrações visuais fabulosas e trilha sonora do Chico Buarque só afundam ainda mais esse espetáculo que não é grande nem místico - artificial, gratuito e machista, sim.
O filme é impactante não só pelo o que mostra, mas pelo o que gera como sensações, navegando pelas ansiedades, medos e momentos mais obscuros que um LGBT passa ao se ver em uma sociedade que não está capacitada para entendê-lo. Porém, a maior lição que retirei de "Garota" foi óbvia: o local de fala é importante, mas não garante coisa alguma, principalmente se tratando de expertises artísticas. Sua bagagem não vai, necessariamente, fazer um bom filme. Felizmente, não foi o caso de "Garota", um delicado filme baseado na vivência de uma real mulher trans, não uma fantasia erotizada de uma pessoa cis.
100 anos depois de "O Nascimento de Uma Nação", o Cinema pode já ter adquirido uma consciência de classe, mas a realidade do negro continua precária. Lee tem consciência da urgência de gritar seus discursos quando ainda temos movimentações racistas e a KKK voltado da tumba e mostrando suas garras. Se seu filme é afiado, é resposta da mesma espada que corta a pele negra diariamente, e o maior acerto de "Infiltrado na Klan" é não estar preocupado em educar brancos, mas sim empoderar negros.
"Se a Rua Beale Falasse" não abraça originalidade e identidade, nem mesmo quando entra nos quartos da população negra e sua luta diária por existir e manter o amor que os une. A sensação de frustração é iminente quando temos um "Moonlight" como antecessor, mas, mesmo analisando "Rua Beale" como produção unitária, são esquinas demais e história de menos. Se a rua Beale falasse, ela não teria tanto a dizer.
No meio da duração, tive que dar uma pausa para ver na ficha técnica se a "comédia" era listada como gênero, afinal, não fica claro se a palhaçada é proposital ou não. Sim, é proposital, mas vir como um "Todo Mundo em Pânico" gourmet não salva a sessão desse não-assumido filme B. Longe de mim querer ser Morf Vandewalt, mas "Velvet" termina soando como uma das obras que o roteiro critica: no alto da indústria do cinema sem trazer um mísero minuto de inventividade.
“Vice” nem tenta ser algo além de uma exibição de homens brancos brincando com o poder e fortalecendo o status quo. É assustador, ao término da fita, chegar à conclusão que basicamente nada pode ser retirado de um roteiro que não cala a boca um segundo. Jamais pensei que diria isso, mas o filme sobre um vice-presidente que eu queria assistir seria o de Michel Temer. Poderia até usar o mesmo slogan de "Vice": "Alguns vices são mais perigosos do que outros".
Apesar de termos uma personagem central, o protagonista de "Clímax" é o horror; a situação imposta e a manipulação dos sentidos são mais importantes. O filme não é uma produção recomendável (pelos motivos corretos) quando Noé filma uma experiência sensorial inacreditável. Se já houve uma festa que você pode ficar feliz em não ter sido convidado, é essa aqui. Porém, há quem prefira dançar em meio ao caos.
"Boy Erased" demanda a necessidade de sua sessão quando expõe as insanidades das criminosas terapias de conversão sexual, apesar de não conseguir seu lugar no panteão das obras-primas do Cinema LGBT. Bem mais voltado para os que acreditam que a religião é capaz de curar algo que não é uma doença, a produção mostra sádicos sendo alimentados pelo dinheiro de cristãos e expurgando seus ódios em cima de cabeças fáceis, tudo em nome de deus. A mensagem final é de suma importância: a verdade não pode ser anulada.
A grandeza de "Bohemian Rhapsody" mora exatamente naquilo que ele não fez, as músicas, enquanto suas qualidades cinematográficas são escassas. Como celebração da obra do Queen, o filme atinge a plateia com precisão. Como Cinema, no entanto, a história é outra. E não dá para fugir da esmagadora impressão de que, caso estivesse vivo, Freddie Mercury odiaria esse higienizado filme, que passa longe do espírito transgressor que ele era dentro e, especialmente, fora dos palcos.
É cristalino que o racismo é um horror, todos sabemos - ou deveríamos saber -, e é esta pontuação que faz a existência de "O Guia" ser ainda necessária. A produção, contudo, não tira vantagem dessa necessidade para desenvolver um filme que discuta algo de uma forma além do que já foi posta no ecrã centenas de vezes. Assim como não era preciso reinventar a roda, não cabia aceitar tanta passividade diante do que é óbvio e rasteiro, deixando a fita no âmbito do lugar-comum.
Morto Não Fala
3.4 386 Assista AgoraUm crítico internacional analisando "Morto Não Fala" com certeza não vai receber o mesmo impacto que um brasileiro; afirmo pois, para alguém aquém da nossa indústria, não existirá a mesma sensação de glória ao ver uma produção verde-e-amarelo no mesmo nível do que é lançado quase diariamente no quintal deles. Saindo vencedor no drama, no suspense e no terror, "Morto Não Fala" é uma revelação que engrossa as colunas de um gênero cada vez mais visado dentro de um país ainda tão monotemático.
Crítica completa: bit.ly/2LRBdxL
Divino Amor
3.4 241O Brasil do futuro é um cabaré gospel com música eletrônica e luzes neon. O ethos construído pelo roteiro une o conservadorismo hipócrita com os pecados da carne, vendo o fundamentalismo não ter vergonha ao se arvorar do bacanal como veículo de encontro com deus. Num país que parece não haver regras, justiça e equidade, sob o lema "deus acima de tudo", o bordel sagrado (e bizarro) de "Divino Amor" soa preocupantemente plausível.
Crítica completa: bit.ly/32gB4cV
Toy Story 4
4.1 1,4K Assista AgoraÉ difícil um filme com a marca Pixar ser ruim, e, mesmo não pendurando no pescoço esse rótulo, "Toy Story 4" é quase tão descartável e reciclado quanto os materiais que deram vida ao Forky, ficando atrás de animações com o mesmo mote, como "Uma Aventura LEGO". Reabertura desnecessária de algo bem finalizado, a roda do capitalismo não se conteve e sua bilheteria já ultrapassou meio bilhão de dólares. O brinquedo do garfinho, inclusive, está sendo vendido pela bagatela de R$ 130 nas melhores lojas.
Crítica completa: bit.ly/30iC1PZ
Annabelle 3: De Volta Para Casa
2.8 681 Assista AgoraDe uma forma bem estranha, "Annabelle 3" ainda é um dos melhores (ou menos piores) nomes do universo "Invocação do Mal", o que ilustra o nível baixo dessa saga fast-food: de qualidade ruim e cheia de gordura, mas feita rapidamente e apetitosa para os olhos. "Annabelle 3" nada mais é que um catálogo com vários novos demônios sendo expostos aleatoriamente, prontíssimos para render ainda mais spin-offs e, claro, aumentar os bolsos de seus produtores.
Crítica completa: bit.ly/2NnDGT4
Fora de Série
3.9 493 Assista AgoraComparando com os filmes modernos com o exato mesmo formato ("Lady Bird" e "Oitava Série", por exemplo), "Fora de Série" não é o melhor, porém sua principal meta é alcançada: abraçar cinematograficamente cada garota que se enxergar na tela. A obra não é tímida em gerar um sentimento de sororidade, exalado pela dupla protagonista que fortalece o cinema ao dar voz às garotas, mesmo não se levando tão a sério - e este é um dos charmes do filme, a forma como tantos dramas são lidados com humor e coração.
Crítica completa: bit.ly/2xoVO4d
Love
3.5 883 Assista AgoraCinema é uma arte que provoca, que incita, que questiona, e Gaspar Noé sempre fez isso de forma afiada, porém "Love" escorrega na proposta de celebrar uma relação por irresponsabilidades da abordagem. Com uma filmografia que trata de suicídio, estupro, drogas e violência, Noé, ao por a transsexualidade na tela, derrama marginalizações. "Love" é recheado com amor, sexo, 3D e transfobia.
Crítica completa: bit.ly/2XuTDHD
Cemitério Maldito
2.7 891"Cemitério Maldito" acaba sendo uma mercadoria didática, uma aula de como não construir um roteiro e quais caminhos devem ser evitados na busca de um sucesso criativo. Responsabilizar o material fonte não é justificativa para amenizar tantos erros juntos - pelo contrário: quando há um texto já pronto, é mais fácil saber quais os rumos podem ser mantidos e quais devem ser melhorados. Com poucos momentos que valham a pena, esperar algo competente de um filme à base de gatos zumbis e cemitérios não vigiados é, no mínimo, ingenuidade.
Crítica completa: bit.ly/2WfbKol
Pokémon: Detetive Pikachu
3.5 671 Assista AgoraSustentado pela nostalgia avassaladora criada por meio da magia das criaturas, todo o encantamento com o design dos pokémons (fofíssimos) vai sendo empalidecido por um roteiro que não entrega um momento de autenticidade, apenas reciclagens preguiçosas de histórias já esgotadas. A impressão que fica é que "Detetive Pikachu" é uma propaganda de 1h e meia para vender produtos licenciados da marca ao invés de uma mercadoria competente em audiovisual - tão verdade que eu quero uma pelúcia do Gyarados o mais rápido possível.
Crítica completa: bit.ly/2Qul8y9
Border
3.6 219 Assista AgoraA maior discussão de "Fronteira" é o entendimento da natureza. Não apenas nossa conexão com a fauna e a flora, mas também nossa própria natureza. A resolução do roteiro é bem misantropa, aceitando que pendemos para o pior lado da nossa existência. É importante, também, os sentimentos que Tina consegue farejar; não é amor ou felicidade, mas sim medo, vergonha e culpa, sentimentos negativos e primários do animal que somos, e sua jornada a fim de encontrar seu lugar no mundo é reflexo perfeito de inúmeras jornadas particulares - por mais fantasioso que o filme seja.
Crítica completa: bit.ly/2YfyJMB
Temporada
3.9 145 Assista Agora"Temporada" é a epopeia do comum. Vemos pessoas normais vivendo dramas normais com suas lutas normais, e o filme soa ainda mais impressionante quando consegue extrair o extraordinário de algo que já está tão impresso na nossa realidade. Ao abrirmos nossas portas, vemos várias Julianas passarem pelas ruas, as heroínas do cotidiano que representam a batalha por uma vida melhor em meio a um Brasil em crise econômica, social e cultural. Contudo, o que "Temporada" mais almeja gritar aos quatro ventos é: o que há de melhor no nosso povo é sua garra.
Tem algo mais Brasil do que isso?
Crítica completa: bit.ly/2ZEFnNZ
Tinta Bruta
3.5 87 Assista AgoraA jornada do protagonista reflete com esmero a jornada do espectador diante do ecrã: o pesar está presente em quase todos os quadros, mas por fim aprendemos que temos que perder para nos libertar. Filmes como "Tinta Bruta" largam distantes do puro entretenimento quando levantam a bandeira da resistência e reflexão. E não apenas na abordagem da vivência LGBT, mas também por nascer no auge de um governo que mutila a cultura como vertente descartável de um país.
Crítica completa: bit.ly/2UuUBRT
Selvagem
3.6 87 Assista Agora"Selvagem" já nasceu como marco dentro do cinema LGBT pelo seu olhar documental de uma condição que preferimos não encarar. Sua sinceridade brutal não é apenas motor de uma sessão de entretenimento, é ferramenta de comoção social fenomenal da difícil vida de um garoto de programa. Longe de qualquer glamourização, fetichismo e julgamento moral, o filme vira um documento do quão desumanizadora é a marginalização da prostituição e manifesto da intragável solidão de seu protagonista, uma mercadoria à baixo preço que está sedenta por qualquer demonstração de afeto. E não estamos todos nós?
Crítica completa: bit.ly/2TVzKH8
Nós
3.8 2,3K Assista Agora"Nós" não atinge um nível medíocre pelo domínio gritante de Jordan Peele sobre suas imagens, que constrói um filme ainda mais imageticamente icônico que "Corra!", mesmo longe do incrível resultado anterior. "Nós" deixa o teor crítico escorrer pelos seus dedos quando abraça ideias demais, tornando a película num bolo abstrato que dá respostas contraditórias e entrega soluções ruins. O pontapé nos indicava um inovador filme de invasão, que se perde e termina como uma bagunça clichê, salva apenas pelo olho fantástico de seu realizador - mas ainda assim é tão frustrante quanto abrir uma caixa de quebra-cabeças e descobrir que várias peças estão faltando.
Crítica completa: bit.ly/2HGk1d9
O Anjo
3.6 190Com "O Anjo", um assassino é imortalizado pelo Cinema, e foi preocupante quando caiu a ficha de que, caso não tivesse matado onze pessoas, um filme sobre Carlos Puch não existiria. Não se trata de um filme inspirado em um caso policial, é baseado diretamente nos crimes, com o nome e a trajetória de Carlos Puch no palco principal. Não é isso o fator preponderante que define a forma como uma película passa longe da glória, mas é uma problemática relevante dentro dessa complexa arte que é o Cinema. O que pesa no saldo final é a transformação de um serial killer em uma caricatura, com um senso de justiça que não é compatível com seus próprios atos.
Crítica completa: bit.ly/2ULjKsz
O Grande Circo Místico
2.2 139"O Grande Circo Místico" é uma produção deprimente que nem de longe merecia o título de melhor filme brasileiro do ano quando nos representou no Oscar 2019 - concorrendo com "Benzinho", "As Boas Maneiras", "Ferrugem", "O Nome da Morte" e "Aos Teus Olhos", é para chorar. O despreparo diante de um elenco tão diverso, capital para orquestrações visuais fabulosas e trilha sonora do Chico Buarque só afundam ainda mais esse espetáculo que não é grande nem místico - artificial, gratuito e machista, sim.
Crítica completa: bit.ly/2JaVw9y
Girl
3.8 161 Assista AgoraO filme é impactante não só pelo o que mostra, mas pelo o que gera como sensações, navegando pelas ansiedades, medos e momentos mais obscuros que um LGBT passa ao se ver em uma sociedade que não está capacitada para entendê-lo. Porém, a maior lição que retirei de "Garota" foi óbvia: o local de fala é importante, mas não garante coisa alguma, principalmente se tratando de expertises artísticas. Sua bagagem não vai, necessariamente, fazer um bom filme. Felizmente, não foi o caso de "Garota", um delicado filme baseado na vivência de uma real mulher trans, não uma fantasia erotizada de uma pessoa cis.
Crítica completa: bit.ly/2NmZL07
Infiltrado na Klan
4.3 1,9K Assista Agora100 anos depois de "O Nascimento de Uma Nação", o Cinema pode já ter adquirido uma consciência de classe, mas a realidade do negro continua precária. Lee tem consciência da urgência de gritar seus discursos quando ainda temos movimentações racistas e a KKK voltado da tumba e mostrando suas garras. Se seu filme é afiado, é resposta da mesma espada que corta a pele negra diariamente, e o maior acerto de "Infiltrado na Klan" é não estar preocupado em educar brancos, mas sim empoderar negros.
Crítica completa: bit.ly/2DTDyCB
Se a Rua Beale Falasse
3.7 284 Assista Agora"Se a Rua Beale Falasse" não abraça originalidade e identidade, nem mesmo quando entra nos quartos da população negra e sua luta diária por existir e manter o amor que os une. A sensação de frustração é iminente quando temos um "Moonlight" como antecessor, mas, mesmo analisando "Rua Beale" como produção unitária, são esquinas demais e história de menos. Se a rua Beale falasse, ela não teria tanto a dizer.
Crítica completa: bit.ly/2SANRWp
Toda Arte é Perigosa
2.6 496 Assista AgoraNo meio da duração, tive que dar uma pausa para ver na ficha técnica se a "comédia" era listada como gênero, afinal, não fica claro se a palhaçada é proposital ou não. Sim, é proposital, mas vir como um "Todo Mundo em Pânico" gourmet não salva a sessão desse não-assumido filme B. Longe de mim querer ser Morf Vandewalt, mas "Velvet" termina soando como uma das obras que o roteiro critica: no alto da indústria do cinema sem trazer um mísero minuto de inventividade.
Crítica completa: bit.ly/2GlbKee
Vice
3.5 488 Assista Agora“Vice” nem tenta ser algo além de uma exibição de homens brancos brincando com o poder e fortalecendo o status quo. É assustador, ao término da fita, chegar à conclusão que basicamente nada pode ser retirado de um roteiro que não cala a boca um segundo. Jamais pensei que diria isso, mas o filme sobre um vice-presidente que eu queria assistir seria o de Michel Temer. Poderia até usar o mesmo slogan de "Vice": "Alguns vices são mais perigosos do que outros".
Crítica completa: bit.ly/2RNZxzK
Clímax
3.6 1,1K Assista AgoraApesar de termos uma personagem central, o protagonista de "Clímax" é o horror; a situação imposta e a manipulação dos sentidos são mais importantes. O filme não é uma produção recomendável (pelos motivos corretos) quando Noé filma uma experiência sensorial inacreditável. Se já houve uma festa que você pode ficar feliz em não ter sido convidado, é essa aqui. Porém, há quem prefira dançar em meio ao caos.
Crítica completa: bit.ly/2G8LRy6
Boy Erased: Uma Verdade Anulada
3.6 402 Assista Agora"Boy Erased" demanda a necessidade de sua sessão quando expõe as insanidades das criminosas terapias de conversão sexual, apesar de não conseguir seu lugar no panteão das obras-primas do Cinema LGBT. Bem mais voltado para os que acreditam que a religião é capaz de curar algo que não é uma doença, a produção mostra sádicos sendo alimentados pelo dinheiro de cristãos e expurgando seus ódios em cima de cabeças fáceis, tudo em nome de deus. A mensagem final é de suma importância: a verdade não pode ser anulada.
Crítica completa: www.bit.ly/2Bd6jtq
Bohemian Rhapsody
4.1 2,2K Assista AgoraA grandeza de "Bohemian Rhapsody" mora exatamente naquilo que ele não fez, as músicas, enquanto suas qualidades cinematográficas são escassas. Como celebração da obra do Queen, o filme atinge a plateia com precisão. Como Cinema, no entanto, a história é outra. E não dá para fugir da esmagadora impressão de que, caso estivesse vivo, Freddie Mercury odiaria esse higienizado filme, que passa longe do espírito transgressor que ele era dentro e, especialmente, fora dos palcos.
Crítica completa: www.bit.ly/2CPcx2V
Green Book: O Guia
4.1 1,5K Assista AgoraÉ cristalino que o racismo é um horror, todos sabemos - ou deveríamos saber -, e é esta pontuação que faz a existência de "O Guia" ser ainda necessária. A produção, contudo, não tira vantagem dessa necessidade para desenvolver um filme que discuta algo de uma forma além do que já foi posta no ecrã centenas de vezes. Assim como não era preciso reinventar a roda, não cabia aceitar tanta passividade diante do que é óbvio e rasteiro, deixando a fita no âmbito do lugar-comum.
Crítica completa: www.bit.ly/2DrLFY5