"Eu Não Sou um Homem Fácil" não é lá uma sessão tão memorável, terminando mais como uma reflexiva, porém limitada obra. Seus convencionalismos, didatismos gritantes e críticas fáceis são superadas pela enorme boa vontade de fazer com que os homens experimentem o que as mulheres passam diariamente - opressão, subjugação, objetificação, silenciamento, sexualização e etc. Caso não abraçasse tanto a comédia e fosse um trabalho que se levasse mais a sério, sem dúvidas teria chances de figurar entre os melhores do ano ao mostrar que não importa qual gênero esteja no topo da pirâmide, de qualquer forma a desigualdade prejudicará o corpo social.
"Ingrid Vai Para o Oeste" fala nada de novo, todavia é um alerta espirituoso e modelado de maneira lúdica sobre os perigos da fixação pelo virtual e o quanto nossas novas e forjadas celebridades são cada vez mais fundadas sobre o número de seguidores do que de fato suas qualidades e talentos. A obra, uma pérola da nossa geração com um final irônico e gritante, supera os modismos passageiros para se tornar um trabalho sólido, incisivo e divertido que até nos faz questionar se não seria melhor desativar o Instagram por alguns dias. #pensativo 🤔💔🚫👋
Com atuações medianas e um roteiro fraco, o que aparentava ser uma obra-prima do afrofuturismo vai cada vez mais se revelando pouco inspirado e com saídas deveras elementares. É claro que há um apreço cinematográfico por trás de alguns aspectos da produção, todavia, os números musicais são muito mais requintados do que os momentos com a narrativa convencional, talvez por conta da diferença de direção/produção, o que é reflexo perfeito da obra geral: exemplar em suas partes, rasa como conjunto. Como um suposto álbum visual, "Dirty Computer" é um sucesso - os clipes são obras-primas. Como filme em si, que é a sua real proposta, é um computador defeituoso.
"Em Pedaços", a produção como um todo, não consegue atingir os altos níveis de suas partes, com destaque para a performance de Diane Kruger e o importante debate sobre intolerância e as sequelas do nazismo, que ainda infeccionam o corpo social quase um século depois do fim da Segunda Guerra. A dramatização do ódio é palpável e, infelizmente, relevante no contexto conservador e totalitário que estamos vivendo ao redor do planeta - motivo pelo qual a obra recebeu mais apreço do que realmente merecia como produto cinematográfico.
Produto na medida para o nicho geek, que consome bilhões anualmente, "Jogador Nº 1" talvez seja a maior explosão pop do cinema pipoca contemporâneo. Esse "A Fantástica Fábrica de Chocolate" sem o chocolate e com óculos de realidade virtual carrega demasiado saudosismo e construções visuais energéticas para carregar a plateia, mesmo com todas as falhas de roteiro e um último ato caótico e afundado em lugares-comuns. Mas fica difícil não ter uma ponta de empatia quando fazem sequência inspirada em "O Iluminado". Spielberg, você jogou pesado.
"Eu Não Sou Uma Feiticeira" é uma obra fundamentalmente sobre mais uma exploração feminina sob gananciosas mãos do homem, dessa vez em um contexto inédito no cinema, o que a faz ainda mais relevante. Há, nesse momento, mulheres reais sendo acusadas de bruxaria e tendo suas vidas interrompidas, mas o que é ser "bruxa"? O plano de fundo da produção pode extrapolar as tradições africanas e se encaixar em diversos modos de tratamento rebaixador e degradante que a figura da mulher passa em diversas sociedades até presente momento. Documento cultural necessário, "Eu Não Sou Uma Feiticeira" é realização cinematográfica que beira o status de "obra-prima".
A composição de "Um Lugar Silencioso" não é original, mas sua realização encontra demasiado sucesso pela expertise das partes, com o silêncio usado como ferramenta para o medo. Pérola para integrar o panteão dos bons nomes do terror moderno (e deixar a plateia respirando com o menor ruído possível), possui personalidade, autenticidade e várias cenas icônicas. Conseguindo aliar a qualidade da Sétima Arte com o apelo comercial nesse nosso tempo do terror fastfood, "Um Lugar" serve para lembrar às produtoras que nos entopem com porcarias cheias de sustos baratos que dá para construir um filme competente e ganhar dinheiro ao mesmo tempo.
"Deus Não Está Morto" se utiliza do cinema da forma mais podre possível ao lançá-lo como tribunal forjado entre a existência ou não da tal divindade, algo ridículo por si só. A obra não está aqui para gerar um debate relevante sobre o tema, e sim ser uma propaganda parcialíssima e ufanista pró-cristianismo. Sem perceber, "Deus Não Está Morto" é exatamente igual ao professor que tanto critica: arrogante, intolerante, insuportável, odioso e, acima de tudo, burro. Exemplo de como não propagar uma ideologia e, principalmente, como não se fazer um filme. Deus deve estar morto. De vergonha.
Kyle, o sniper real, matou mais de 150 pessoas em suas operações. Incontáveis vezes durante a projeção de "Sniper Americano" ele é chamado de "lenda", "mito", "herói" (pelos compadres americanos, claro). A repetição é tanta que praticamente se torna um processo de ufanismo. Aqui vemos uma alarmante inversão do papel do herói: agora ele não luta em prol de vidas, ele as tira. Mas, de acordo com a ideologia impregnada pelos personagens, ele é um herói por tirar as vidas “certas”.
Simples em sua premissa e estrelar em concepção, o longa faz o que muitos terrores esquecem: o quanto nós mesmos somos estopins para o medo. Abrindo mão de qualquer traço fantasioso ou supernatural, o horror é gerado pelas mãos humanas, e isso, quando bem feito, é para causar a mais tangível agonia. É muito mais fácil aceitarmos o medo vindouro de algo que existe do que vampiros, lobisomens ou demônios - e em situações como a de "A Caverna", a pessoa do seu lado é seu inimigo mais do que qualquer alienígena invadindo o planeta.
A sensação presente no decorrer de "Aniquilação" é de que estamos assistindo à uma ficção-científica qualquer, e a resposta está na convergência dos materiais: é fato que os livros não são gritantemente inovadores em sua premissa, porém são proprietários de um clima austero de estranheza bem característico, não transposto para a tela. Alex Garland perde a oportunidade de criar um longa único, profundo e desafiador ao facilitar demais sua narrativa e se distanciar do que há de melhor das páginas seminais. Ao invés do estranho e sólido, recebemos uma grande dose de água com açúcar pronta para a degustação das massas.
“14 Estações de Maria” é um filme corajoso e controverso que não critica a religião católica em si, mas o mau uso que as pessoas fazem dela. O tapa na cara é para a forma como lidamos com nossos vizinhos, com aqueles distantes e diferentes de nós. A melhor definição do real sentido do filme parte do seu próprio diretor: "O que vemos todo dia no mundo é a força do fundamentalismo virando horror. Em nome de Deus, praticam-se coisas ignóbeis, dignas do Diabo. Um mundo sem tolerância, sem compaixão. Nada pode ser mais cruel". Afinal, quantas Marias temos nesse exato momento morrendo no mundo?
“Marguerite”, não satisfeito em nos colocar à força no meio do dilema principal, nos faz repensar diversas lições de vida. Sempre somos impulsionados a buscarmos os nossos sonhos e nos dedicarmos para que um dia eles se tornem realidade. Mas se, assim como Marguerite, nada disso valer a pena por simplesmente não sermos bons nesse sonho? É bastante volátil o conceito de ser “bom” ou “ruim”, entretanto, quando é absolutamente clara a nossa deficiência, é válido continuar na perseguição desse sonho, mesmo que nossas frustrações futuras possam nos destruir por completo?
Mesmo com doses cavalares de adrenalina em algumas cena (a do urso, por exemplo), “O Regresso” é, antes de tudo, um filme contemplativo. Sua duração é robusta, recheada com muitos silêncios e paisagens intermináveis, que cria o contraponto entre a beleza da natureza com a selvageria dos homens. Há sim momentos bem arrastados, principalmente no seu miolo, porém é tudo em nome da contemplação da finitude humana. Somos grãos de areia em meio ao gigante ambiente hostil, frágeis demais para conseguirmos vencê-lo. O percurso de Hugh Glass da quase morte para a vingança é longo, cruel e lento, mas jamais banal.
Quando nos adaptamos à narrativa de "Trama Fantasma", notamos que parece haver um grande filme ali do lado, inalcançável pelas escolhas de PTA ao transformar sua obra numa sessão quase insuportável sobre personagens doentes convivendo entre si. Os belos momentos e uma glamourosa produção são soterrados pelas motivações inertes que, ao invés de ser um rico estudo sobre relacionamentos abusivos enfeitados com roupas de grife, termina como um filme que parece se esforçar para fazer com que o espectador levante da cadeira e se retire - coisa que Alma deveria ter feito lá pela metade da duração.
"Spotlight: Segredos Revelados" é um filme corretíssimo que, mesmo possuindo familiaridades, seja pelo molde, seja pela condução, é uma grande denúncia filmada com competência e urgência, que o rendeu os Oscars de "Melhor Roteiro Original" e "Melhor Filme", em um ano dividido entre "Mad Mad: Estrada da Fúria" e "O Regresso": venceu o que unia todas as tribos. Regina George, Hulk, Batman e Dente de Sabre contra padres pedófilos. Melhor filme de super-heróis da década ou o quê? "Liga da Justiça" apenas sonha.
Recheado com muito sarcasmo e auto-ironia, “Birdman” é uma grande sátira da fama e do sucesso. Riggan está tão desesperado e alucinado por um reconhecimento passado que comete loucuras e se transforma numa Norma Desmond da era do Twitter. Todos foram grandes no passado, perderam fama e sucesso e buscam holofotes ao fim do filme, e é divertidíssimo assistir a essa corrida alucinante. Riggan, assim como Norma e assim como Keaton, está à espera do seu close-up.
"The Post: A Guerra Secreta" consegue criar uma boa ponte histórica sobre o poder massivo do jornalismo entre o governo Nixon e o atual governo Trump, entretanto, está (bem) longe de figurar no hall dos grandes filmes jornalísticos. Encontra sucesso ao não ser ufanista quando se preocupa em mostrar toda a corrupção e sujeita da América política, todavia só ganha maior destaque pelo selo spielberguiano, que ano após ano parece estar mais distante de uma relevância cinematográfica com real diferença. O número pífio de indicações na premiação que sempre o adorou é um dos merecidos reflexos.
"Projeto Flórida" é um retrato agridoce de uma fatia esmagada à margem e varrida para debaixo do tapete, engolidos pelo real vilão do filme: a crise do capitalismo. Enquanto os pequenos criam seus contos de fada, Sean Baker continua dando recibos de uma expertise absoluta no cinema, realizando filmes encantadores, reais e necessários. "Projeto Flórida" termina sendo uma esperançosa mensagem sobre as construções dos nossos próprios reinos, a manutenção dos sonhos e como podemos ser reis e rainhas das nossas vidas, apesar dos pesares.
"O Paradoxo Cloverfield" vem para comprovar a maldição do selo "Original Netflix" no cinema. O filme não foi produzido pela gigante, apenas distribuído, porém é uma obra que emula todas as artimanhas no subgênero espaço + alienígena, entregando mais um capítulo tenebroso ao catálogo, que precisa urgentemente rever suas escolhas de compra, afinal, é o nome "Netflix" que vem à frente. Ter o selo "Cloverfield" atrelado a isso e uma esperta jogada de marketing não faz com que o longa seja minimamente salvo do ostracismo. E por favor, quem quer que seja que tenha aprovado a ideia da trama com o braço merece ser demitido.
Recheado com cenas impiedosas até culminar num final sem redenção, “A Gangue” definitivamente não é uma obra para qualquer um por lidar de maneira cruel e até misantropa com a existência humana, não deixando de transmitir toda a sua carga emocional elevadíssima além de criar sensações únicas para o espectador cúmplice, numa experiência inimaginável. O filme coloca o Cinema num degrau acima ao burlar os limites da arte e conseguir de forma estratosfericamente genial fazer jus ao seu slogan: “O amor e o ódio não precisam de tradução".
Saber o quanto do real há em "O Destino de Uma Nação" fica à cabo dos historiadores, pois a dramatização dos eventos é feita de modo mais empolgante do que o esperado. A obra pode não ser uma dessas cinebiografias históricas irretocáveis e inestimáveis - como "A Lista de Schindler" -, porém possui valor cinematográfico pela realização competente que alcança níveis de interesses até mesmo para quem não curte o subgênero "aula de história no cinema". E essa aula não seria a mesma sem seu tresloucado professor Churchill.
"O Reino de Deus" está longe de ser um filme ruim: toda representação respeitosa sobre o amor gay é bem vinda no cinema, ainda uma parcela bem pequena diante do número absoluto de filmes produzidos anualmente. Mas sem tanta originalidade e personalidade, a obra soa mais como uma emulação de sucessos do subgênero ao invés de um material próprio e concreto. Apesar de carregar beleza em suas imagens, no fim é um filme sobre gays aprendendo a viver com os próprios sentimentos e sobrevivendo à base de miojo.
Eu Não Sou um Homem Fácil
3.5 737 Assista Agora"Eu Não Sou um Homem Fácil" não é lá uma sessão tão memorável, terminando mais como uma reflexiva, porém limitada obra. Seus convencionalismos, didatismos gritantes e críticas fáceis são superadas pela enorme boa vontade de fazer com que os homens experimentem o que as mulheres passam diariamente - opressão, subjugação, objetificação, silenciamento, sexualização e etc. Caso não abraçasse tanto a comédia e fosse um trabalho que se levasse mais a sério, sem dúvidas teria chances de figurar entre os melhores do ano ao mostrar que não importa qual gênero esteja no topo da pirâmide, de qualquer forma a desigualdade prejudicará o corpo social.
Crítica completa: goo.gl/SB5REH
Ingrid Vai Para o Oeste
3.3 234 Assista Agora"Ingrid Vai Para o Oeste" fala nada de novo, todavia é um alerta espirituoso e modelado de maneira lúdica sobre os perigos da fixação pelo virtual e o quanto nossas novas e forjadas celebridades são cada vez mais fundadas sobre o número de seguidores do que de fato suas qualidades e talentos. A obra, uma pérola da nossa geração com um final irônico e gritante, supera os modismos passageiros para se tornar um trabalho sólido, incisivo e divertido que até nos faz questionar se não seria melhor desativar o Instagram por alguns dias. #pensativo 🤔💔🚫👋
Crítica completa: goo.gl/6eVDht
Janelle Monáe: Dirty Computer
4.4 20Com atuações medianas e um roteiro fraco, o que aparentava ser uma obra-prima do afrofuturismo vai cada vez mais se revelando pouco inspirado e com saídas deveras elementares. É claro que há um apreço cinematográfico por trás de alguns aspectos da produção, todavia, os números musicais são muito mais requintados do que os momentos com a narrativa convencional, talvez por conta da diferença de direção/produção, o que é reflexo perfeito da obra geral: exemplar em suas partes, rasa como conjunto. Como um suposto álbum visual, "Dirty Computer" é um sucesso - os clipes são obras-primas. Como filme em si, que é a sua real proposta, é um computador defeituoso.
Crítica completa: goo.gl/j6iaXL
Em Pedaços
3.9 236 Assista Agora"Em Pedaços", a produção como um todo, não consegue atingir os altos níveis de suas partes, com destaque para a performance de Diane Kruger e o importante debate sobre intolerância e as sequelas do nazismo, que ainda infeccionam o corpo social quase um século depois do fim da Segunda Guerra. A dramatização do ódio é palpável e, infelizmente, relevante no contexto conservador e totalitário que estamos vivendo ao redor do planeta - motivo pelo qual a obra recebeu mais apreço do que realmente merecia como produto cinematográfico.
Crítica completa: goo.gl/1H3wTY
Jogador Nº 1
3.9 1,4K Assista AgoraProduto na medida para o nicho geek, que consome bilhões anualmente, "Jogador Nº 1" talvez seja a maior explosão pop do cinema pipoca contemporâneo. Esse "A Fantástica Fábrica de Chocolate" sem o chocolate e com óculos de realidade virtual carrega demasiado saudosismo e construções visuais energéticas para carregar a plateia, mesmo com todas as falhas de roteiro e um último ato caótico e afundado em lugares-comuns. Mas fica difícil não ter uma ponta de empatia quando fazem sequência inspirada em "O Iluminado". Spielberg, você jogou pesado.
Crítica completa: goo.gl/RtrQc9
Eu Não Sou uma Bruxa
3.9 50 Assista Agora"Eu Não Sou Uma Feiticeira" é uma obra fundamentalmente sobre mais uma exploração feminina sob gananciosas mãos do homem, dessa vez em um contexto inédito no cinema, o que a faz ainda mais relevante. Há, nesse momento, mulheres reais sendo acusadas de bruxaria e tendo suas vidas interrompidas, mas o que é ser "bruxa"? O plano de fundo da produção pode extrapolar as tradições africanas e se encaixar em diversos modos de tratamento rebaixador e degradante que a figura da mulher passa em diversas sociedades até presente momento. Documento cultural necessário, "Eu Não Sou Uma Feiticeira" é realização cinematográfica que beira o status de "obra-prima".
Crítica completa: goo.gl/nZQSxW
Um Lugar Silencioso
4.0 3,0K Assista AgoraA composição de "Um Lugar Silencioso" não é original, mas sua realização encontra demasiado sucesso pela expertise das partes, com o silêncio usado como ferramenta para o medo. Pérola para integrar o panteão dos bons nomes do terror moderno (e deixar a plateia respirando com o menor ruído possível), possui personalidade, autenticidade e várias cenas icônicas. Conseguindo aliar a qualidade da Sétima Arte com o apelo comercial nesse nosso tempo do terror fastfood, "Um Lugar" serve para lembrar às produtoras que nos entopem com porcarias cheias de sustos baratos que dá para construir um filme competente e ganhar dinheiro ao mesmo tempo.
Crítica completa: goo.gl/dfK4CL
Deus Não Está Morto
2.8 1,4K Assista Agora"Deus Não Está Morto" se utiliza do cinema da forma mais podre possível ao lançá-lo como tribunal forjado entre a existência ou não da tal divindade, algo ridículo por si só. A obra não está aqui para gerar um debate relevante sobre o tema, e sim ser uma propaganda parcialíssima e ufanista pró-cristianismo. Sem perceber, "Deus Não Está Morto" é exatamente igual ao professor que tanto critica: arrogante, intolerante, insuportável, odioso e, acima de tudo, burro. Exemplo de como não propagar uma ideologia e, principalmente, como não se fazer um filme. Deus deve estar morto. De vergonha.
Crítica completa: bit.ly/2EYkQL9
Sniper Americano
3.6 1,9K Assista AgoraKyle, o sniper real, matou mais de 150 pessoas em suas operações. Incontáveis vezes durante a projeção de "Sniper Americano" ele é chamado de "lenda", "mito", "herói" (pelos compadres americanos, claro). A repetição é tanta que praticamente se torna um processo de ufanismo. Aqui vemos uma alarmante inversão do papel do herói: agora ele não luta em prol de vidas, ele as tira. Mas, de acordo com a ideologia impregnada pelos personagens, ele é um herói por tirar as vidas “certas”.
Crítica completa: goo.gl/EzD3dt
A Caverna
3.4 142Simples em sua premissa e estrelar em concepção, o longa faz o que muitos terrores esquecem: o quanto nós mesmos somos estopins para o medo. Abrindo mão de qualquer traço fantasioso ou supernatural, o horror é gerado pelas mãos humanas, e isso, quando bem feito, é para causar a mais tangível agonia. É muito mais fácil aceitarmos o medo vindouro de algo que existe do que vampiros, lobisomens ou demônios - e em situações como a de "A Caverna", a pessoa do seu lado é seu inimigo mais do que qualquer alienígena invadindo o planeta.
Crítica completa: www.goo.gl/dZoK7X
Aniquilação
3.4 1,6K Assista AgoraA sensação presente no decorrer de "Aniquilação" é de que estamos assistindo à uma ficção-científica qualquer, e a resposta está na convergência dos materiais: é fato que os livros não são gritantemente inovadores em sua premissa, porém são proprietários de um clima austero de estranheza bem característico, não transposto para a tela. Alex Garland perde a oportunidade de criar um longa único, profundo e desafiador ao facilitar demais sua narrativa e se distanciar do que há de melhor das páginas seminais. Ao invés do estranho e sólido, recebemos uma grande dose de água com açúcar pronta para a degustação das massas.
Crítica completa: goo.gl/EEa4JP
14 Estações de Maria
4.0 77“14 Estações de Maria” é um filme corajoso e controverso que não critica a religião católica em si, mas o mau uso que as pessoas fazem dela. O tapa na cara é para a forma como lidamos com nossos vizinhos, com aqueles distantes e diferentes de nós. A melhor definição do real sentido do filme parte do seu próprio diretor: "O que vemos todo dia no mundo é a força do fundamentalismo virando horror. Em nome de Deus, praticam-se coisas ignóbeis, dignas do Diabo. Um mundo sem tolerância, sem compaixão. Nada pode ser mais cruel". Afinal, quantas Marias temos nesse exato momento morrendo no mundo?
Crítica completa: goo.gl/uwQy19
Marguerite
3.7 68 Assista Agora“Marguerite”, não satisfeito em nos colocar à força no meio do dilema principal, nos faz repensar diversas lições de vida. Sempre somos impulsionados a buscarmos os nossos sonhos e nos dedicarmos para que um dia eles se tornem realidade. Mas se, assim como Marguerite, nada disso valer a pena por simplesmente não sermos bons nesse sonho? É bastante volátil o conceito de ser “bom” ou “ruim”, entretanto, quando é absolutamente clara a nossa deficiência, é válido continuar na perseguição desse sonho, mesmo que nossas frustrações futuras possam nos destruir por completo?
Crítica completa: goo.gl/RuoMsx
O Regresso
4.0 3,5K Assista AgoraMesmo com doses cavalares de adrenalina em algumas cena (a do urso, por exemplo), “O Regresso” é, antes de tudo, um filme contemplativo. Sua duração é robusta, recheada com muitos silêncios e paisagens intermináveis, que cria o contraponto entre a beleza da natureza com a selvageria dos homens. Há sim momentos bem arrastados, principalmente no seu miolo, porém é tudo em nome da contemplação da finitude humana. Somos grãos de areia em meio ao gigante ambiente hostil, frágeis demais para conseguirmos vencê-lo. O percurso de Hugh Glass da quase morte para a vingança é longo, cruel e lento, mas jamais banal.
Crítica completa: goo.gl/S4vogZ
Wheels
3.6 20O filme deixa de existir com uma pergunta:
Por que o Mickey simplesmente não atirou em si próprio no começo?
Trama Fantasma
3.7 804 Assista AgoraQuando nos adaptamos à narrativa de "Trama Fantasma", notamos que parece haver um grande filme ali do lado, inalcançável pelas escolhas de PTA ao transformar sua obra numa sessão quase insuportável sobre personagens doentes convivendo entre si. Os belos momentos e uma glamourosa produção são soterrados pelas motivações inertes que, ao invés de ser um rico estudo sobre relacionamentos abusivos enfeitados com roupas de grife, termina como um filme que parece se esforçar para fazer com que o espectador levante da cadeira e se retire - coisa que Alma deveria ter feito lá pela metade da duração.
Crítica completa: goo.gl/UVnk4i
Spotlight - Segredos Revelados
4.1 1,7K Assista Agora"Spotlight: Segredos Revelados" é um filme corretíssimo que, mesmo possuindo familiaridades, seja pelo molde, seja pela condução, é uma grande denúncia filmada com competência e urgência, que o rendeu os Oscars de "Melhor Roteiro Original" e "Melhor Filme", em um ano dividido entre "Mad Mad: Estrada da Fúria" e "O Regresso": venceu o que unia todas as tribos. Regina George, Hulk, Batman e Dente de Sabre contra padres pedófilos. Melhor filme de super-heróis da década ou o quê? "Liga da Justiça" apenas sonha.
Crítica completa: goo.gl/QfZihy
Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
3.8 3,4K Assista AgoraRecheado com muito sarcasmo e auto-ironia, “Birdman” é uma grande sátira da fama e do sucesso. Riggan está tão desesperado e alucinado por um reconhecimento passado que comete loucuras e se transforma numa Norma Desmond da era do Twitter. Todos foram grandes no passado, perderam fama e sucesso e buscam holofotes ao fim do filme, e é divertidíssimo assistir a essa corrida alucinante. Riggan, assim como Norma e assim como Keaton, está à espera do seu close-up.
Crítica completa: goo.gl/TsjdnY
The Post: A Guerra Secreta
3.5 607 Assista Agora"The Post: A Guerra Secreta" consegue criar uma boa ponte histórica sobre o poder massivo do jornalismo entre o governo Nixon e o atual governo Trump, entretanto, está (bem) longe de figurar no hall dos grandes filmes jornalísticos. Encontra sucesso ao não ser ufanista quando se preocupa em mostrar toda a corrupção e sujeita da América política, todavia só ganha maior destaque pelo selo spielberguiano, que ano após ano parece estar mais distante de uma relevância cinematográfica com real diferença. O número pífio de indicações na premiação que sempre o adorou é um dos merecidos reflexos.
Crítica completa: goo.gl/Ua4hmZ
Projeto Flórida
4.1 1,0K"Projeto Flórida" é um retrato agridoce de uma fatia esmagada à margem e varrida para debaixo do tapete, engolidos pelo real vilão do filme: a crise do capitalismo. Enquanto os pequenos criam seus contos de fada, Sean Baker continua dando recibos de uma expertise absoluta no cinema, realizando filmes encantadores, reais e necessários. "Projeto Flórida" termina sendo uma esperançosa mensagem sobre as construções dos nossos próprios reinos, a manutenção dos sonhos e como podemos ser reis e rainhas das nossas vidas, apesar dos pesares.
Crítica completa: goo.gl/xJ3WEp
O Paradoxo Cloverfield
2.7 779 Assista Agora"O Paradoxo Cloverfield" vem para comprovar a maldição do selo "Original Netflix" no cinema. O filme não foi produzido pela gigante, apenas distribuído, porém é uma obra que emula todas as artimanhas no subgênero espaço + alienígena, entregando mais um capítulo tenebroso ao catálogo, que precisa urgentemente rever suas escolhas de compra, afinal, é o nome "Netflix" que vem à frente. Ter o selo "Cloverfield" atrelado a isso e uma esperta jogada de marketing não faz com que o longa seja minimamente salvo do ostracismo. E por favor, quem quer que seja que tenha aprovado a ideia da trama com o braço merece ser demitido.
Crítica completa: goo.gl/15a92j
A Gangue
3.8 134Recheado com cenas impiedosas até culminar num final sem redenção, “A Gangue” definitivamente não é uma obra para qualquer um por lidar de maneira cruel e até misantropa com a existência humana, não deixando de transmitir toda a sua carga emocional elevadíssima além de criar sensações únicas para o espectador cúmplice, numa experiência inimaginável. O filme coloca o Cinema num degrau acima ao burlar os limites da arte e conseguir de forma estratosfericamente genial fazer jus ao seu slogan: “O amor e o ódio não precisam de tradução".
Crítica completa: goo.gl/E8u5uH
O Destino de Uma Nação
3.7 723 Assista AgoraSaber o quanto do real há em "O Destino de Uma Nação" fica à cabo dos historiadores, pois a dramatização dos eventos é feita de modo mais empolgante do que o esperado. A obra pode não ser uma dessas cinebiografias históricas irretocáveis e inestimáveis - como "A Lista de Schindler" -, porém possui valor cinematográfico pela realização competente que alcança níveis de interesses até mesmo para quem não curte o subgênero "aula de história no cinema". E essa aula não seria a mesma sem seu tresloucado professor Churchill.
Crítica completa: goo.gl/uXt4os
O Reino de Deus
4.1 337"O Reino de Deus" está longe de ser um filme ruim: toda representação respeitosa sobre o amor gay é bem vinda no cinema, ainda uma parcela bem pequena diante do número absoluto de filmes produzidos anualmente. Mas sem tanta originalidade e personalidade, a obra soa mais como uma emulação de sucessos do subgênero ao invés de um material próprio e concreto. Apesar de carregar beleza em suas imagens, no fim é um filme sobre gays aprendendo a viver com os próprios sentimentos e sobrevivendo à base de miojo.
Crítica completa: goo.gl/s7vKad