Tentaram criar uma franquia à la Scream e o resultado é no mínimo curioso (e engraçado). Quem sabe se tivesse mais força nos momentos sobrenaturais - que, conforme o filme avança, se tornam mais aleatórios, o que é legal, mas com menos impacto -, ele tivesse mais sucesso, porque a linguagem meta é interessante, o amontado de gêneros é bem trabalhado e a abordagem "por que ninguém transou no primeiro filme?" é bem engraçada e trabalhada, mas realmente faltou uma coisa pra tornar essa bagunça um pouco mais coerente.
É meio inacreditável que esse filme exista. Um pseudo-western sobre cidade pequena, mas que no fim é sobre... vermes gigantes (!) e sobre o Kevin Bacon aceitar gostar de uma mulher que não é uma "gostosona". Dá para falar como é um filme dinâmico que consegue sempre se reinventar na base de um gameplay de outrora (é praticamente uma sucessão de checkpoints em lugares distintos, com armas distintas), mas no fundo a cobra enorme de plástico, cheio de fantoche de meia dentro da boca e que quando morre explode num gore maravilhoso, só é linda demais mesmo.
Se Valerian tiver metade da habilidade que esse filme tem com o CGI eu serei um homem feliz. Quem sabe na mão de um diretor mais habilidoso tudo faça mais sentido (quem sabe o formalismo compense o non-sense), mas tem uma prisão espacial, o Guy Pearce surtado e uma mistura de ideais pontuais maravilhosa, então diverte bastante.
Vendo o filme me peguei pensando sobre o que me atraí tanto em assistir filmes. Acho que a grande questão é como o cinematográfico simplesmente emula uma realidade e dá a ela uma razão de existir, um objetivo - algo que não vejo na vida, ao menos não na minha. A realidade condensa tudo que existe e limita tudo isso, sendo tudo, mas nada ao mesmo tempo - já o cinema retira toda essa limitação permitindo sua expansão para todos os lados, para onde se desejar. Não é possível pautar uma vida em uma causa, em uma ideia, em uma imagem, mas com um filme você faz o que você quiser, como você quiser. Porém, pensando nas minhas últimas experiências com filmes, uma das coisas que mais me arrebata ao ver um filme é me deparar com a experiência da realidade - total mas vazia - dentro dele, ao invés de uma ideia ou ponto fixo. Seja com diretores que simplesmente dão uma vida inteira a seja lá o que estão retratando, como um John Ford da vida, ou seja com filmes que realmente condensam toda uma experiência de "Estar Vivo" dentro dele, como um Histoires Du Cinema, um Satantango ou esse filme aqui. Com abordagens distintas, são filmes que me passaram toda essa ideia do "Realidade = Tudo = Nada", no qual se ama, se luta, se produz, se ganha, se perde, mas sempre haverá o aqui e o agora: onde tudo se mistura e se transforma numa coisa só, ou em coisa alguma.
Mekas pode resmungar, graciosamente, o quanto ele quiser durante toda a duração do filme falando como "nada acontece" e como tudo é aleatório, mas no fundo ele sabe o que ele montou e o que ele queria com tudo aqui - que, no alto dessa aleatoriedade extremamente bem editada, se acharia a mais universal das experiências, o mais usual do Estar Vivo. Filmando por uns 20 anos tudo que o trazia felicidade, ele montou quem sabe o maior expositor da história de um Tudo/Nada que é bonito, lindo e singelo. Dos pequenos momentos que fazem a vida valer a pena, nos quais não há nada para estragá-lo e te impedir de apreciá-lo - ou nos quais o que tudo que há de ruim ou melancólico é o simples tempo, que não espera por ninguém, mas que Mekas via uma certa beleza inclusive nisso. É uma obra que abraça todo essa melancolia, na verdade, e tem nela seu grande tema. Não é porque nada tem sentido e tudo acaba que não vai existir beleza nisso tudo. O tempo só destrói tudo se você quiser. (realmente seguir essa filosofia que é o difícil)
Lendo esses comentários eu prefiro pensar que as pessoas aqui simplesmente estavam fazendo outra coisa quando viram o filme. Alegoria óbvia ao Capital e a como as pessoas se submetem a ele (cacete até uma máquina digna de revolução industrial soltando fumaça 24/7 tem) e sobre como isso virá uma semi-possessão. E aí ainda tem o Hooper se divertindo com seu filme mais experimental, formalmente falando - os sets desse filme são nada menos que espetaculares. Eu nunca vi um gênero, como o Terror, que as pessoas dizem amar tanto, mas, ao mesmo tempo, todo mundo parece odiar todos os filmes que ousam dentro dele.
Meio que um "late masterpiece" gone wrong do Craven, mas não falha em momento algum em ser divertida. Ele tenta enfiar tudo que tratou a carreira inteira (pesadelo suburbano, filme colegial, confronto passado/presente, terror irônico, religião, família) em uma trama só e não dá pra dizer que deu certo, mas parece até que o filme é tão divertido por todas essas ideias darem tão errado - quem sabe o fator absurdo dos Scream que reinou no fim. A alegoria dos pássaros é horrível, a sub-trama colegial é sem sentido nenhum e a ideia final é meio boba, mas eu só sei que eu tive que pausar o filme de tanto que eu ri daquela piada de Jesus. O Craven sabe fazer como poucos essas coisas auto-conscientes que beiram o experimentalismo de tão malucas que elas são mesmo.
"Pelo menos ela esconde o rosto parcialmente bem, assim você tem a face aparente, a maçã, escondendo o visível mas oculto, o rosto da pessoa. É algo que acontece constantemente. Tudo que nós vemos esconde outra coisa, nós sempre queremos ver o que está escondido pelo o que nós vemos. Há um interesse naquilo que está escondido e no que o visível não nos mostra. Esse interesse pode tomar a forma de um sentimento relativamente intenso, um tipo de conflito, pode-se dizer, entre o visível que está escondido e o visível que está presente" Rene Magritte sobre Le fils de l'homme.
Mesmo que use um ponto meio fácil para isso (o bullying), o filme é realmente o apanhado de toda a dor existencial que existe em ser um adolescente. Na verdade, o filme aceita essa questão do bullying de uma forma tão onírica que ele acaba soando extremamente natural dentro dele - assim como tudo que ele propõe, principalmente com a Lily. O filme materializa tudo que a cerca, o amor e a escapatória que esse amor gera - e o imaterial acaba sendo tudo que envolve ser um adolescente. Medo, insegurança e solidão que não se apresentam como medo, insegurança e solidão. Atitudes ilógicas que escondem uma razão, atitudes cheias de razão que nunca se concretizam ou atitudes ilógicas que são realmente completamente aleatórias. Perambular por aí, ouvir música no meio da plantação de arroz e voltar pra casa, amanhã fazer tudo de novo, vai que algo muda. RELOAD. E ele ainda arranja espaço pra falar sobre os "perigos da internet", da melhor forma que já devo ter visto. Ser adolescente é uma droga, mas pelo menos gera umas coisas lindas como esse filme.
Muito mais sobre a incomunicabilidade entre os cidadãos e o Estado do que sobre ditaduras em si: Creonte é um personagem cego pelo poder, mas que tem esse poder dado a ele pelos supostos sábios do Conselho - representantes claro de um poder/conceito "superior" do governo. O poder se cega por mais poder e recorre àquele que pode trazer isso a ele, independente do seu custo. No jogo de encenações que é a vida política, o Estado sempre estará a um passo de se implodir.
Alien, mas o monstro é um homem. E parece um soft porn onde todo mundo transa em gravidade zero. Pena que é mais interessante na teoria do que na execução.
Conto hiperbólico sobre o proto-fascismo de toda sociedade - ou sobre como todo governo falha em entender sua população. Na longa caminhada civilizatória com o Estado, a luta, a persistência ou o pacifismo só levam a uma coisa: repressão. Separe-se todos em dois grupos, amontam desiguais como iguais e, dali, querem partir direto para um julgamento. Sem escapatória, a tragédia esta feita para a população marginalizada. Relevante socialmente, relevante cinematograficamente - Watkins parece estar filmado um precursor do Chainsaw Massacre em momentos, criando uma atmosfera aterradora e fatalista que resulta na violência injustificável e extremamente ligada ao ambiente (lá apenas físico, aqui também social). Convulsões, convulsões, convulsões.
Maior ruminação sobre a própria carreira de um diretor moderno? Coppola joga fora qualquer senso de realidade - a ponto de tornar uma frase tão tola como aquela da terceira rosa em uma reflexão tão poderosa sobre a barreira realidade X cinematográfico - só para refletir sobre o que, ou quem, deixamos na Terra. Acaba sendo sobre a escolha de um ou de outro, também. O filme consegue encaixar tanto assunto e esquisitice dentro dessa proposta que parece até o que um filme do Wes Anderson seria se ele se preocupasse mais em seus filmes serem sobre alguma coisa além de sobre eles mesmos, porque tudo se encaixa, como nos filmes do Anderson, e parece ter seu local: religião, política, mídia, amor e a "obra" de cada um (para Dominic o trabalho sobre linguística e para Coppola seus próprios filmes). Dominic, que começa o filme vítima de uma frustração enorme, se torna um eremita que caminha por tudo isso, sem interferir e na espera de algo que nem ele sabe o que é - e que, ao encontrar, apenas se depara com a impossibilidade de toda a situação. Pelo menos, ao fim, ele encontra a humanidade, que deve ser também o que o Coppola busca com seu cinema.
Filme cartunesco sobre paranoia nuclear e herança maldita que se transforma num drama absurdo sobre busca da identidade e do amor durante a Guerra Fria. Lindo.
O filme concilia muito bem um espetáculo documental à la James Benning (em que ele transforma o simples registro em espetáculo) com uma visão completamente autoral e original, mas, se os momentos corriqueiros são interessantes, é na desconstrução e abstração da imagem que o filme ganha força. A natureza é cruel, e o trabalho humano aqui é mais natural do que nunca (instintivo, em plena sincronia com a maquina), logo, se mostra completamente cruel também. É como se o barco fosse apenas mais um elemento daquele ambiente hostil e escuro, daquela cadeia alimentar, funcionando como um organismo só - organismo este construído plenamente pela imagem crua e realista - que se coloca, forçadamente, acima de todos os outros participantes desse ambiente, com maneiras e motivos duvidosos. Vendo tanta água e tantos horrores, só posso dizer que é muito bom e muito ruim poder respirar livremente.
Uma dança em busca do equilíbrio. A cada reviravolta assumindo um novo significado (e novos riscos), o filme não falha em se renovar e em se fazer relevante e funcional - parecendo o tempo todo uma brincadeirinha do McTiernan, que empurra a ideia de mentiras e construções até onde a mídia permite. Em meio a um espetáculo de luzes, atuações exageradas, histórias contadas, descontadas, recontadas, com novos significados, novos personagens, novos atores e rostos, o grande mentiroso acaba sendo o próprio diretor. Não é a toa que ele foi preso.
A maior sinfonia do mau-gosto já feita? O filme assume a postura non-sense da última parte do primeiro filme de um forma que dá muito gosto de ver, tanto pela forma que ele aborda toda essa loucura, quanto por conseguir criar algo que é derivado, funciona como tal, mas renega as principais propostas de seu antecessor (lá há a atmosfera, aqui só existe a anarquia). E eu realmente não sei mais o que escrever sobre um filme que tem tanto orgulho de mostrar o Dennis Hopper tendo uma batalha de serra-elétrica com o Leatherface enquanto consegue segurar um clima tão bizarro, irônico e absurdo ao mesmo tempo. E ainda tem a sub-trama humanista do Leatherface. E tem o retrato dos Estados Unidos paranoico. E tem basicamente um Funhouse dentro dele (toda a questão dos cenários) que aqui funciona perfeitamente. O filme é realmente o que os slashers auto-irônicos dos anos 80 seriam se fossem mais dedicados.
O "Novo Mundo", na realidade, era o Europeu, a Londres e aquela sociedade padronizada e fechada que os nativos americanos encontraram com a chegada dos navios. Interessante como o Malick associa as dificuldades no amor com essa sociedade: com o Colin Farrell o relacionamento sucumbe perante o confronto de duas formas de se socializar, com o Christian Bale o relacionamento só funciona quando os dois se isolam do resto da sociedade colonizadora. É como se ele concretizasse, no amor que cerca a Pocahontas, aquele ideal de liberdade plena que o John Smith enxerga, em um primeiro momento, nos nativos (que dá ao filme um ar até meio anarquista/comunista) - já que este, tanto em relação aos nativos, quanto aos britânicos, se torna impossível devido ao embate. A verdadeira liberdade está no amor para Malick, assim como Deus (que é inseparável da natureza, se tratando do diretor). Podia ser um pouco mais curto (vi a versão de 180 minutos) e ter um pouco mais de cenas em Londres (a ideia dos arbustos cortados X a liberdade selvagem americana é maravilhosa), mas ainda sim é um filme extremamente impactante e cheio de alma do diretor.
Bruxa de Blair 2: O Livro das Sombras
2.0 488Tentaram criar uma franquia à la Scream e o resultado é no mínimo curioso (e engraçado). Quem sabe se tivesse mais força nos momentos sobrenaturais - que, conforme o filme avança, se tornam mais aleatórios, o que é legal, mas com menos impacto -, ele tivesse mais sucesso, porque a linguagem meta é interessante, o amontado de gêneros é bem trabalhado e a abordagem "por que ninguém transou no primeiro filme?" é bem engraçada e trabalhada, mas realmente faltou uma coisa pra tornar essa bagunça um pouco mais coerente.
O Ataque dos Vermes Malditos
3.3 676 Assista AgoraÉ meio inacreditável que esse filme exista. Um pseudo-western sobre cidade pequena, mas que no fim é sobre... vermes gigantes (!) e sobre o Kevin Bacon aceitar gostar de uma mulher que não é uma "gostosona". Dá para falar como é um filme dinâmico que consegue sempre se reinventar na base de um gameplay de outrora (é praticamente uma sucessão de checkpoints em lugares distintos, com armas distintas), mas no fundo a cobra enorme de plástico, cheio de fantoche de meia dentro da boca e que quando morre explode num gore maravilhoso, só é linda demais mesmo.
Sequestro no Espaço
2.9 305 Assista AgoraSe Valerian tiver metade da habilidade que esse filme tem com o CGI eu serei um homem feliz. Quem sabe na mão de um diretor mais habilidoso tudo faça mais sentido (quem sabe o formalismo compense o non-sense), mas tem uma prisão espacial, o Guy Pearce surtado e uma mistura de ideais pontuais maravilhosa, então diverte bastante.
Ao Caminhar Entrevi Lampejos de Beleza
4.6 32Vendo o filme me peguei pensando sobre o que me atraí tanto em assistir filmes. Acho que a grande questão é como o cinematográfico simplesmente emula uma realidade e dá a ela uma razão de existir, um objetivo - algo que não vejo na vida, ao menos não na minha. A realidade condensa tudo que existe e limita tudo isso, sendo tudo, mas nada ao mesmo tempo - já o cinema retira toda essa limitação permitindo sua expansão para todos os lados, para onde se desejar. Não é possível pautar uma vida em uma causa, em uma ideia, em uma imagem, mas com um filme você faz o que você quiser, como você quiser. Porém, pensando nas minhas últimas experiências com filmes, uma das coisas que mais me arrebata ao ver um filme é me deparar com a experiência da realidade - total mas vazia - dentro dele, ao invés de uma ideia ou ponto fixo. Seja com diretores que simplesmente dão uma vida inteira a seja lá o que estão retratando, como um John Ford da vida, ou seja com filmes que realmente condensam toda uma experiência de "Estar Vivo" dentro dele, como um Histoires Du Cinema, um Satantango ou esse filme aqui. Com abordagens distintas, são filmes que me passaram toda essa ideia do "Realidade = Tudo = Nada", no qual se ama, se luta, se produz, se ganha, se perde, mas sempre haverá o aqui e o agora: onde tudo se mistura e se transforma numa coisa só, ou em coisa alguma.
Mekas pode resmungar, graciosamente, o quanto ele quiser durante toda a duração do filme falando como "nada acontece" e como tudo é aleatório, mas no fundo ele sabe o que ele montou e o que ele queria com tudo aqui - que, no alto dessa aleatoriedade extremamente bem editada, se acharia a mais universal das experiências, o mais usual do Estar Vivo. Filmando por uns 20 anos tudo que o trazia felicidade, ele montou quem sabe o maior expositor da história de um Tudo/Nada que é bonito, lindo e singelo. Dos pequenos momentos que fazem a vida valer a pena, nos quais não há nada para estragá-lo e te impedir de apreciá-lo - ou nos quais o que tudo que há de ruim ou melancólico é o simples tempo, que não espera por ninguém, mas que Mekas via uma certa beleza inclusive nisso. É uma obra que abraça todo essa melancolia, na verdade, e tem nela seu grande tema. Não é porque nada tem sentido e tudo acaba que não vai existir beleza nisso tudo. O tempo só destrói tudo se você quiser. (realmente seguir essa filosofia que é o difícil)
life goes on --
Mangler: O Grito do Terror
2.7 60Lendo esses comentários eu prefiro pensar que as pessoas aqui simplesmente estavam fazendo outra coisa quando viram o filme. Alegoria óbvia ao Capital e a como as pessoas se submetem a ele (cacete até uma máquina digna de revolução industrial soltando fumaça 24/7 tem) e sobre como isso virá uma semi-possessão. E aí ainda tem o Hooper se divertindo com seu filme mais experimental, formalmente falando - os sets desse filme são nada menos que espetaculares. Eu nunca vi um gênero, como o Terror, que as pessoas dizem amar tanto, mas, ao mesmo tempo, todo mundo parece odiar todos os filmes que ousam dentro dele.
A Sétima Alma
2.5 618Meio que um "late masterpiece" gone wrong do Craven, mas não falha em momento algum em ser divertida. Ele tenta enfiar tudo que tratou a carreira inteira (pesadelo suburbano, filme colegial, confronto passado/presente, terror irônico, religião, família) em uma trama só e não dá pra dizer que deu certo, mas parece até que o filme é tão divertido por todas essas ideias darem tão errado - quem sabe o fator absurdo dos Scream que reinou no fim. A alegoria dos pássaros é horrível, a sub-trama colegial é sem sentido nenhum e a ideia final é meio boba, mas eu só sei que eu tive que pausar o filme de tanto que eu ri daquela piada de Jesus. O Craven sabe fazer como poucos essas coisas auto-conscientes que beiram o experimentalismo de tão malucas que elas são mesmo.
Thomas Crown: A Arte do Crime
3.4 103 Assista Agora"Pelo menos ela esconde o rosto parcialmente bem, assim você tem a face aparente, a maçã, escondendo o visível mas oculto, o rosto da pessoa. É algo que acontece constantemente. Tudo que nós vemos esconde outra coisa, nós sempre queremos ver o que está escondido pelo o que nós vemos. Há um interesse naquilo que está escondido e no que o visível não nos mostra. Esse interesse pode tomar a forma de um sentimento relativamente intenso, um tipo de conflito, pode-se dizer, entre o visível que está escondido e o visível que está presente" Rene Magritte sobre Le fils de l'homme.
Tudo Sobre Lily Chou-Chou
4.1 59 Assista AgoraMesmo que use um ponto meio fácil para isso (o bullying), o filme é realmente o apanhado de toda a dor existencial que existe em ser um adolescente. Na verdade, o filme aceita essa questão do bullying de uma forma tão onírica que ele acaba soando extremamente natural dentro dele - assim como tudo que ele propõe, principalmente com a Lily. O filme materializa tudo que a cerca, o amor e a escapatória que esse amor gera - e o imaterial acaba sendo tudo que envolve ser um adolescente. Medo, insegurança e solidão que não se apresentam como medo, insegurança e solidão. Atitudes ilógicas que escondem uma razão, atitudes cheias de razão que nunca se concretizam ou atitudes ilógicas que são realmente completamente aleatórias. Perambular por aí, ouvir música no meio da plantação de arroz e voltar pra casa, amanhã fazer tudo de novo, vai que algo muda. RELOAD. E ele ainda arranja espaço pra falar sobre os "perigos da internet", da melhor forma que já devo ter visto. Ser adolescente é uma droga, mas pelo menos gera umas coisas lindas como esse filme.
Antígona
3.6 8Muito mais sobre a incomunicabilidade entre os cidadãos e o Estado do que sobre ditaduras em si: Creonte é um personagem cego pelo poder, mas que tem esse poder dado a ele pelos supostos sábios do Conselho - representantes claro de um poder/conceito "superior" do governo. O poder se cega por mais poder e recorre àquele que pode trazer isso a ele, independente do seu custo. No jogo de encenações que é a vida política, o Estado sempre estará a um passo de se implodir.
Supernova
2.4 64 Assista AgoraAlien, mas o monstro é um homem. E parece um soft porn onde todo mundo transa em gravidade zero. Pena que é mais interessante na teoria do que na execução.
Parque da Punição
4.3 18Conto hiperbólico sobre o proto-fascismo de toda sociedade - ou sobre como todo governo falha em entender sua população. Na longa caminhada civilizatória com o Estado, a luta, a persistência ou o pacifismo só levam a uma coisa: repressão. Separe-se todos em dois grupos, amontam desiguais como iguais e, dali, querem partir direto para um julgamento. Sem escapatória, a tragédia esta feita para a população marginalizada. Relevante socialmente, relevante cinematograficamente - Watkins parece estar filmado um precursor do Chainsaw Massacre em momentos, criando uma atmosfera aterradora e fatalista que resulta na violência injustificável e extremamente ligada ao ambiente (lá apenas físico, aqui também social). Convulsões, convulsões, convulsões.
Devorado Vivo
3.1 65 Assista AgoraPsicose para um público psicótico.
Velha Juventude
3.1 12Maior ruminação sobre a própria carreira de um diretor moderno? Coppola joga fora qualquer senso de realidade - a ponto de tornar uma frase tão tola como aquela da terceira rosa em uma reflexão tão poderosa sobre a barreira realidade X cinematográfico - só para refletir sobre o que, ou quem, deixamos na Terra. Acaba sendo sobre a escolha de um ou de outro, também. O filme consegue encaixar tanto assunto e esquisitice dentro dessa proposta que parece até o que um filme do Wes Anderson seria se ele se preocupasse mais em seus filmes serem sobre alguma coisa além de sobre eles mesmos, porque tudo se encaixa, como nos filmes do Anderson, e parece ter seu local: religião, política, mídia, amor e a "obra" de cada um (para Dominic o trabalho sobre linguística e para Coppola seus próprios filmes). Dominic, que começa o filme vítima de uma frustração enorme, se torna um eremita que caminha por tudo isso, sem interferir e na espera de algo que nem ele sabe o que é - e que, ao encontrar, apenas se depara com a impossibilidade de toda a situação. Pelo menos, ao fim, ele encontra a humanidade, que deve ser também o que o Coppola busca com seu cinema.
Elogio ao Amor
3.9 24the breath of the morning
I keep forgetting
the smell of the warm summer air
Combustão Espontânea
2.9 34Filme cartunesco sobre paranoia nuclear e herança maldita que se transforma num drama absurdo sobre busca da identidade e do amor durante a Guerra Fria. Lindo.
Tetro
4.0 209Abelardo, words are not important. Language is dead.
Two Years At Sea
3.5 4other people's lives seem more interesting cause they ain't mine
Além do Arco-Íris Negro
3.0 91a e s t h e t i c s eats itself
Leviathan
3.7 9 Assista AgoraO filme concilia muito bem um espetáculo documental à la James Benning (em que ele transforma o simples registro em espetáculo) com uma visão completamente autoral e original, mas, se os momentos corriqueiros são interessantes, é na desconstrução e abstração da imagem que o filme ganha força. A natureza é cruel, e o trabalho humano aqui é mais natural do que nunca (instintivo, em plena sincronia com a maquina), logo, se mostra completamente cruel também. É como se o barco fosse apenas mais um elemento daquele ambiente hostil e escuro, daquela cadeia alimentar, funcionando como um organismo só - organismo este construído plenamente pela imagem crua e realista - que se coloca, forçadamente, acima de todos os outros participantes desse ambiente, com maneiras e motivos duvidosos. Vendo tanta água e tantos horrores, só posso dizer que é muito bom e muito ruim poder respirar livremente.
Violação de Conduta
3.4 119 Assista AgoraUma dança em busca do equilíbrio. A cada reviravolta assumindo um novo significado (e novos riscos), o filme não falha em se renovar e em se fazer relevante e funcional - parecendo o tempo todo uma brincadeirinha do McTiernan, que empurra a ideia de mentiras e construções até onde a mídia permite. Em meio a um espetáculo de luzes, atuações exageradas, histórias contadas, descontadas, recontadas, com novos significados, novos personagens, novos atores e rostos, o grande mentiroso acaba sendo o próprio diretor. Não é a toa que ele foi preso.
O Massacre da Serra Elétrica 2
2.8 346A maior sinfonia do mau-gosto já feita? O filme assume a postura non-sense da última parte do primeiro filme de um forma que dá muito gosto de ver, tanto pela forma que ele aborda toda essa loucura, quanto por conseguir criar algo que é derivado, funciona como tal, mas renega as principais propostas de seu antecessor (lá há a atmosfera, aqui só existe a anarquia). E eu realmente não sei mais o que escrever sobre um filme que tem tanto orgulho de mostrar o Dennis Hopper tendo uma batalha de serra-elétrica com o Leatherface enquanto consegue segurar um clima tão bizarro, irônico e absurdo ao mesmo tempo. E ainda tem a sub-trama humanista do Leatherface. E tem o retrato dos Estados Unidos paranoico. E tem basicamente um Funhouse dentro dele (toda a questão dos cenários) que aqui funciona perfeitamente. O filme é realmente o que os slashers auto-irônicos dos anos 80 seriam se fossem mais dedicados.
O Novo Mundo
3.2 240 Assista AgoraO "Novo Mundo", na realidade, era o Europeu, a Londres e aquela sociedade padronizada e fechada que os nativos americanos encontraram com a chegada dos navios. Interessante como o Malick associa as dificuldades no amor com essa sociedade: com o Colin Farrell o relacionamento sucumbe perante o confronto de duas formas de se socializar, com o Christian Bale o relacionamento só funciona quando os dois se isolam do resto da sociedade colonizadora. É como se ele concretizasse, no amor que cerca a Pocahontas, aquele ideal de liberdade plena que o John Smith enxerga, em um primeiro momento, nos nativos (que dá ao filme um ar até meio anarquista/comunista) - já que este, tanto em relação aos nativos, quanto aos britânicos, se torna impossível devido ao embate. A verdadeira liberdade está no amor para Malick, assim como Deus (que é inseparável da natureza, se tratando do diretor). Podia ser um pouco mais curto (vi a versão de 180 minutos) e ter um pouco mais de cenas em Londres (a ideia dos arbustos cortados X a liberdade selvagem americana é maravilhosa), mas ainda sim é um filme extremamente impactante e cheio de alma do diretor.
Montanha da Liberdade
3.7 10Cartas, cinema e sentimentos que se misturam. Realmente, no fim só nos resta beber e esperar.
Nocturama
3.2 45"Motherfucker you can live at the mall" // "Little boys with their porno".