Gostei tanto dessa continuação quanto do primeiro. Se esse peca por não ter a presença hilariante de Leslie Nielsen, para compensar as piadas estão bem mais ácidas e pesadas, pendendo bastante para o humor negro. São dois filmes para se assistir várias vezes. Com tanta piada por minuto, é impossível perceber todas elas logo de primeira.
Que Leo DiCaprio é um grande ator eu já tinha percebido desde os anos 90 (principalmente com Gilbert Grape e Diário de um Adolescente), então essa atuação estupenda não foge do que eu já esperava. Para fazer um paralelo entre O Regresso e O Lobo de Wall Street, em relação ao melhor momento de cada filme - e consequentemente ao ápice da atuação de DiCaprio em cada um - podemos dizer que a cena da paralisia cerebral está para este assim como a cena do urso está para aquele. Dois grandes momentos do cinema; um que nos faz gargalhar, outro que nos enche de agonia.
Pra mim, a verdadeira surpresa desse filme foi um tal de Jonah Hill - de quem eu me lembrava vagamente da comédia adolescente Superbad. É incrível ver como aquele moleque evoluiu e chegou até aqui com esse tremendo personagem coadjuvante de voz meio rouca e temperamento inconsequente. Fiquei curioso pra ver outros filmes dele.
Ainda não consigo achar o Fábio Porchat um grande ator, mas esse filme é bem interessante. Terminei sem ter entendido a metáfora e mesmo assim gostei. Li alguns comentários aqui e gostei ainda mais.
O enredo amoroso é muito familiar: a garota popular que para provocar o cara babaca - de quem ela gosta, porém quer se fazer de difícil - flerta com o pretendente mais improvável do lugar, o mais "loser". Finge que gosta do perdedor, brinca com os sentimentos dele, humilha-o perante sua turma e, no final, acaba se apaixonando por ele. Todo mundo já deve ter assistido algum filme, principalmente aquelas comédias românticas adolescentes, em que isso acontece. E esse roteiro foi escrito na década de 1920!
Venho desenvolvendo o hábito de procurar referências de um filme para outro, por mais que pareçam mera coincidência. Pois bem, na cena do primeiro baile, há uma momento em que Georgia se desvencilha das insistências de Jack e vai para longe dele. O rapaz a chama, fazendo gestos, como quem diz "Hey, come here!". A moça, do outro lado do salão, se faz de desentendida e responde, também gesticulando: "Are you talking to me?" (é possível fazer leitura labial). Bom, para quem assistiu Taxi Driver - ou pelo menos conhece a cena icônica em que o personagem Travis Bickle, interpretado magistralmente por Robert DeNiro, ensaia algumas frases em frente ao espelho - não é preciso dizer mais nada.
J. K. Simmons é aquele tipo de ator que eu conheço, gosto, mas não sei o nome. Foi assim por muitos anos com Steve Buscemi, por exemplo, até que eu finalmente aprendesse seu nome. E agora, depois de Whiplash, chegou a hora de eu enfim aprender que o (eterno) Vern Schillinger, da série OZ, se chama J. K. Simmons.
logo de cara fiquei meio confuso, sem saber se tinha gostado ou não. Pensando melhor depois, achei que terminar o filme abruptamente, naquele momento, foi a melhor escolha. Fletcher foi um cretino, mas seu método funcionou. Seu método funcionou, mas ele foi um cretino. Como lidar? Andrew deveria perdoá-lo, pois apesar de tudo conseguiu dar o seu melhor? Ou o fato de ter sido responsável pela morte de um aluno torna o professor execrável e mesmo com o sucesso do baterista ele não merece perdão? São questões difíceis. Terminando o filme ali, sem maiores explicações, o diretor, de certa forma, se isenta de ter que responder a essas perguntas. A interpretação de Simmons foi tão boa, que no final eu estava torcendo para que Andrew quebrasse alguma coisa bem pesada na cabeça dele. Encerrar o filme sem uma redenção propriamente dita de Fletcher me deu um certo alívio.
Bem menos divertido que Airplane!, mas ainda assim dá pra dar umas boas risadas. A paródia com Pulp Fiction ficou hilária, Leslie Nielsen com aquele rabo-de-cavalo grisalho, rs.
Depois de A Teoria de Tudo, Eddie Redmayne surge novamente com mais uma atuação maravilhosa. A Garota Dinamarquesa usa de muita sensibilidade ao tratar de um assunto tão delicado quanto a transgeneridade. Li que o filme ficou muito aquém da história verdadeira, mas enquanto obra cinematográfica isolada, só lhe cabem elogios.
O personagem Rex Kramer aparece como alguém com mais experiência e competência para resolver um problema. Sua personalidade é um pouco mais séria que a dos demais. Isso me lembrou do Mr. Wolf, de Pulp Fiction. Ainda mais pela cena de chegada desses dois personagens ser bem parecida: uma câmera na altura do asfalto, focando a frente de um carro que chega em alta velocidade. Em se tratando de Tarantino, desconfio de toda e qualquer coincidência, rs.
Preciso confessar que eu fazia mal juízo de filmes desse tipo. Mesmo sem nunca ter parado, de fato, para assistir prestando a devida atenção. Tinha uma vaga ideia de que Leslie Nielsen era apenas um ator de comédias sem-graça que passavam no SBT. Puro preconceito!
Pois assisti e fiquei boquiaberto com toda a genialidade de Airplane! Esse humor nonsense, muitas vezes ácido, ganhou meu respeito. Diferentemente das comédias mais contemporâneas, cheias de apelação a nudez e escatologia gratuitas, esse filme faz piadas muito mais pesadas de maneira sutil. O melhor exemplo é o piloto pedófilo, que provavelmente passava despercebido pela criançada que assistia na TV. Aliás, a sensação de que algo passou despercebido é recorrente. Em vários momentos eu ficava pensando se a piada não compreendida era simplesmente nonsense ou se havia alguma referência ali que me tinha escapado.
A versão que assisti foi a dublada, mas daqui a um tempo pretendo conferir a legendada, para apreciar as piadas linguísticas que se perderam na tradução.
Julianne Moore é maravilhosa! Não sei explicar muito bem, mas ela é daqueles artistas por quem sinto um certo carinho, mesmo sem nunca ter tido contato. Subestimei esse filme. Comecei achando que não verei nada muito além de alguns sustos gratuitos. O desenrolar da trama me surpreendeu e o final foi bem legal.
A ideia passada por esse filme é muito boa. Um objeto de consumo, que nunca existiu numa sociedade, de repente se torna essencial para as atividades do dia-a-dia e gera discórdia e briga entre as pessoas, pois só existe um exemplar dele. Nos faz pensar sobre consumismo, propriedade privada, qualidade de vida, e o fato de o objeto em questão ser uma garrafa de Coca-Cola, um dos símbolos máximos do capitalismo, só reforça essas reflexões. O personagem principal, Xixo, é adorável. Impossível não ser cativado por seu sorriso. Por outro lado achei que, como comédia, Os Deuses Devem Estar Loucos definitivamente não funciona. É uma cena mais sem-graça que a outra. Personagens que chegam a irritar, de tão chatos.
Outro problema é o fato do vilão ser um guerrilheiro comunista, enquanto o mocinho é um representante do colonialismo inglês. Nesse ponto, a ótima crítica do início do filme se esvazia um pouco. Mostra-se os problemas do capitalismo, enquanto limpa-se a barra dos responsáveis por tê-lo levado à África. É a velha história do colonizador que protege os nativos dos perigos do mundo, pois eles mesmos não conseguem se virar sozinhos.
Os comentários de quem gostou muito desse filme e quer criticar quem não gostou partem, quase sempre, da mesma premissa: quem não gostou é porque 1) não entendeu; 2) está acostumado com aquele terror batidão, sangue, tripas, sustos gratuitos. Entendo a revolta da galera que foi ao cinema e teve que aturar comentários, risadas e desrespeito do público presente. Eu também teria sentido vontade de matar os engraçadinhos. Precisa-se ter cuidado, no entanto, com essas generalizações. "Se não gostou do filme é porque...", como se houvesse uma verdade absoluta que prega que A Bruxa é uma obra maravilhosamente perfeita e quem não gostou só pode ter algum problema. Pessoas, por favor, baixem um pouco a bola e tentem ser mais tolerantes. Qualquer um pode gostar ou não de certo filme e isso não faz com que a pessoa seja melhor ou pior do que ninguém. Mesmo porque são argumentos muito falhos. "Não gostou porque não entendeu". Ora, quando terminei 2001 - Uma Odisseia no Espaço eu estava boiando e mesmo assim tinha adorado o filme. Entender não é pré-requisito para gostar. "Ah, então não gostou porque esperava sangue, sustos, gore". Bom, meu primeiro incômodo foi logo quando apareceu
aquela suposta bruxa, com a pele enrugada, se banhando com o sangue do bebê. Achei explícito demais. Esperava algo mais sutil e apenas sugestivo e o filme, logo no começo, já nos joga uma cena dessas na cara!
A primeira impressão que tive é que resolveram pegar todos os clichês sobre bruxas que o fanatismo religioso inventava antigamente e fazer um filme tecnicamente muito competente. Assim, temos
o banho em sangue puro e inocente para preservar a juventude e beleza; temos a sedução do homem (no caso, menino) pela mulher provocante da floresta; a acusação mútua de bruxaria entre os irmãos (à semelhança de As Bruxas de Salém); o corvo interpretado como mau-agouro; o diabo transmutado em bode; o sabbath na floresta - com mulheres nuas dançando e levitando.
Ao final, ficamos sabendo que o filme foi, de fato, baseado em relatos da época. Sendo assim, tudo que a princípio pareceu clichê se explica: as pessoas fantasiavam realmente todas aquelas coisas e a intenção foi mostrar uma história que seria perfeitamente tida como verdadeira por um protestante do século XVII. Mas e daí? O filme é bom por isso? Pra mim, continua apenas mediano.
Devo dizer que dei algumas chances à Bruxa. Cheguei ao final achando-o bem ruim, mas fiquei com aquela sensação de que precisava haver algo mais. Conversei com amigos, li opiniões aqui no Filmow e textos pela internet. Fala-se muito sobre as metáforas, a simbologia e os significados que não estão evidentes no nível superficial. Achei alguns muito válidos (como a maçã, que remete aos contos de fada e também à ideia do pecado original) e outros bem forçados, do tipo "Em tal mitologia pagã o elemento X, apesar de representar uma coisa, também pode representar outra, então reparem que naquela cena a personagem diz uma palavra que remete a isso, então...". Algumas referências não se sustentam, requerem uma reflexão muito além do que está sendo visto na tela. Claro que há camadas de significado em toda obra de arte, mas é preciso um limite, senão nossa imaginação é capaz de relacionar qualquer coisa com qualquer coisa.
Não vou ficar aqui dizendo que A Bruxa foi feito para esse ou aquele público, mas imagino que pessoas mais religiosas, que acreditam de verdade nessa presença constante do demônio em coisas do cotidiano, devem ter uma experiência bem interessante e muito mais intensa com esse filme do que os não-cristãos.
Após isso tudo, o que quero dizer é que achei o filme 'mais ou menos'. Não é terrível, mas está longe de ser bom. E essa opinião não tem nada a ver com não ter entendido ou ter assistido esperando sustos. Esse "ame ou odeie" não tem sentido. Há muito cinza entre o preto e o branco. Não descarto a possibilidade de assistir novamente daqui a um tempo. Pode ser que eu venha a gostar mais. Pode ser que alguém me convença das qualidades da obra. Por ora, entretanto, A Bruxa não conseguiu me pegar.
A cena em que a máscara do fantasma é arrancada, com a câmera nos dando uma visão frontal privilegiada, é daquelas que ficam pra sempre na memória. A sequência do baile, com o colorido em technicolor, é de fazer brilhar os olhinhos de qualquer amante de cinema antigo.
Melhor atuação do Will Smith que eu já vi! Que figura incrível foi Muhammad Ali: gênio do boxe e ativista dos direitos civis. Enquanto nosso maior nome do esporte, Pelé, adotava a postura do deixa-pra-lá quando era vítima de racismo, perdendo oportunidades de ouro de se fazer ouvir pelo peso de seu nome, Ali batia de frente com o sistema, arriscando, inclusive, a própria carreira. O mundo sente falta de mais esportistas assim.
Mesmo não tendo achado Seven Chances tão divertido quanto Sherlock Jr. (o segundo que vi de Keaton - e até agora meu favorito), é impossível não se impressionar com algumas cenas, principalmente a da corrida das noivas. Em alguns momentos parece que estamos assistindo a um desenho animado - e fica aqui a dúvida se teriam os criadores dos desenhos que vieram depois buscado inspiração nesse filme.
É o caso da cena em que Jimmie está prestes a investir em mais uma possível pretendente a esposa, mas desiste ao perceber que a mulher é negra. Ou quando a moça sentado num banco de praça é descartada ao abrir um jornal que evidencia sua origem judaica (embora aqui eu tenha ficado em dúvida se a questão é mesmo étnica ou apenas de idioma). Miscigenação não era uma coisa corriqueira na época, e devia parecer muito óbvio que um rapaz branco jamais pediria em casamento uma mulher negra ou judia (ou hispânica, asiática, etc). Enfim, são chagas que a sociedade norte-americana vem curando aos poucos.
Claro que não podemos simplesmente execrar um filme por apresentar conteúdo politicamente incorreto, sem levar em conta os quase cem anos que nos separam e o contexto sócio-histórico da época de sua criação. É nosso dever, entretanto, como bons cinéfilos do século XXI, apontar esses problemas, para que preconceitos como o racismo não sejam mais vistos como algo natural e/ou inofensivo.
Assisti O Encouraçado Potemkin pela primeira vez numa fase da vida em que eu torcia o nariz para tudo que fosse "de esquerda". Sendo assim gostei muito da técnica, mas fiquei com aquele incômodo ideológico que não me permitiu abraçar o filme como um todo. Bom, alguns anos depois - agora me interessando verdadeiramente por política, com uma bagagem ainda pequena porém valiosa de leituras, documentários e conversas, estando no 4º ano de um curso de humanas, com uma visão de mundo totalmente diferente, de senso crítico em relação ao capitalismo - eis que me sento novamente no sofá para apreciar esse clássico absoluto do cinema.
Naturalmente me envolvi mais dessa vez. Não sei se a trilha sonora do DVD é a mesma de quando o filme foi lançado, mas que primor! A música frenética em alguns momentos (como na cena final, que desafia qualquer ser humano a não ficar tenso), intercalados com outros onde a música praticamente desaparece e temos apenas imagens, contribuem para criar um clima que casa muito bem com a história, entre momentos de tempestade e de reflexão. A cena da escadaria é brilhante! E se torna ainda mais marcante se pensarmos que, apesar de se tratar de um massacre fictício, criado pelo diretor, era perfeitamente possível de se acontecer, dado o descaso com que Nicolau II tratava a população russa.
Entretanto, apesar da importância técnica e do forte apelo ideológico de luta contra a injustiça, ainda não consegui me envolver tanto com esse filme. Achei muito bom, mas não maravilhoso - como é o caso, por exemplo, de A Greve, do mesmo Sergei Eisenstein.
A ideia é muito boa: desmistificar essa imagem do comunista malvadão sulamericano que vai roubar nossas moedinhas e destruir nossa família. Incrível é saber que tanta gente ainda acredita nessas baboseiras propagadas pela grande mídia elitista, sem nunca se questionar a quem atendem esses interesses. Só acho que o doc peca por focar muito em Hugo Chávez em detrimento dos outros líderes do sul da fronteira.
Ben Affleck me surpreendeu. Confesso que fui na onda de descrença da internet em relação a ele interpretar o Batman quando a notícia saiu. A internet pagou a língua. Eu também. E adorei!
Muito triste assistir a esse documentário e ver como fomos (e ainda somos) enganados e manipulados por uma mídia a serviço dos interesses das elites e de potências estrangeiras. É a sina secular da América Latina: sempre que um governo dá sinais de diminuição da desigualdade social e rompimento com o imperialismo americano, já surgem os velhos bastiões da ordem social, os arautos da moralidade, os defensores da liberdade, com seu discurso hipócrita de "Tradição, família e propriedade", "Contra a corrupção", "Contra o comunismo", etc. Qualquer rompimento com o status quo, por menor que seja, causa incômodo e dificilmente se escapa ileso. Foi assim com o Brasil de 54, depois com o de 64 e agora com o de 2016. Foi assim com o Chile em 73, Venezuela em 2002, Honduras em 2009, Paraguai em 2012. Em maior ou menor escala, entre golpes militares e golpes brancos, todo e qualquer chefe de estado latino-americano que não siga à risca a cartilha do Tio Sam será difamado, perseguido e atacado.
Isso me faz pensar na situação cubana. Sinceramente não acredito que uma ditadura seja a solução, que censura da imprensa e prisão/exílio/execução de opositores políticos seja algo positivo. Que um país deva ter o mesmo governante por décadas. Mas pensando estrategicamente, Cuba se manteve de pé e pôde dar início às reformas sociais que pretendia graças ao escudo da ditadura. Tivessem os rebeldes de 59 agido de maneira mais branda e quem sabe em quanto tempo o governo americano teria conseguido estrangular a Revolução? Apesar de todos os problemas - e não vou dizer que são poucos - Fidel conseguiu, entre outras conquistas, alimentar e dar um teto a todo mundo, promover grandes avanços no campo da medicina e praticamente erradicar o analfabetismo da ilha. Não digo que o país caribenho seja necessariamente um exemplo a ser seguido ou que seu sistema de governo seja a melhor das opções, mas dentro daquele contexto talvez tenha sido a única opção. A História no mostra que o socialismo na América Latina é frágil, alvo fácil dos predadores capitalistas. É preciso ter isso em mente quando discutimos sobre Cuba. Parafraseando o Che, não se deve jamais perder a ternura; entretanto, às vezes, se faz necessário endurecer.
Conferir O Regresso no cinema foi uma daquelas experiência cinematográficas únicas. Saí perplexo, maravilhado, embasbacado. Se precisasse escolher entre o filme como um todo ou a atuação de DiCaprio, ficaria com o filme. E isso de maneira alguma desmerece a atuação. Leo atuou maravilhosamente; Iñárritu dirigiu mais maravilhosamente ainda.
Além da (óbvia) cena do urso, tem outra que será difícil apagar da memória: o confronto de Glass e Fitzgerald no final, com direito a dedo decepado, mão perfurada e sangue colorindo a neve. É uma luta crua, realista ao extremo; dois sujeitos desesperados, um tentando ferir o outro a todo custo. Um soco no estômago do pobre espectador.
Oscar merecidíssimo para ator e diretor. E se pensarmos que até Al Pacino recebeu apenas uma premiação de melhor ator da Academia, DiCaprio não está nada mal.
Peguei esse filme por acaso, passando à noite na TV aberta. Muito bom! Extremamente pesado! Lembra um pouco Sobre Meninos e Lobos, que é bem mais conhecido.
O final feliz é realmente dispensável e é uma pena que Murnau tenha sido obrigado a incluí-lo. No mais, é incrível como esse filme consegue pegar algo a princípio tão pequeno e banal (o orgulho que um cidadão sente de seu emprego/uniforme) e transformar numa profunda e comovente análise da natureza humana.
O que eu pensava ser impossível aconteceu: Quentin Tarantino conseguiu me decepcionar. De maneira alguma a longa duração do filme, ou a extensão dos diálogos, ou mesmo a falta de ação contribuíram para isso. Filme longo nunca foi problema pra mim; diálogos verborrágicos constituem minha característica tarantinesca favorita; e a falta de ação já era esperada, afinal trata-se de um punhado de gente numa cabana no meio do nada, sem poder sair devido à neve.
Acho que o que me incomodou mesmo é algo cuja menção, em se tratando de Tarantino, soa até bizarra: o exagero. Sim, acredito que o diretor que fez sangue esguichar a metros de distância com membros mutilados em Kill Bill, neste Os Oito Odiados passou do limite em alguns aspectos. Foram três os momentos que julguei mais exagerados. Cabe elencá-los:
- A cena de sexo oral com o Major Warren, cuja importância dada pelo diretor dentro da história me pareceu forçada demais. Parece óbvio que sua intenção era chocar aquela parcela mais puritana de seu público, mas ao contrário, por exemplo, do estupro de Marcellus Wallace em Pulp Fiction, aqui faltou um pouco de finesse, pendendo mais para a vulgaridade; - A repentina camaradagem surgida do nada entre Warren e o Xerife Mannix, que mesmo explicada, em parte, pelo instinto de sobrevivência - dada a situação, passa do ponto ao retratar os dois quase como velhos companheiros de regimento depois que tudo acaba; - E por fim a lenta e sádica execução de Daisy Domergue. Quanto a isso não consigo aceitar as justificativas - do diretor e de fãs - para o que considero como misoginia. Uma coisa é esmurrar alguém que cuspiu na (suposta) carta de Lincoln, outra é passar o filme todo espancando uma mulher algemada. Sendo Daisy a única mulher dentro da cabana, esse excesso de violência gratuita não passa sem causar um desconforto que é coroado (no mau sentido) por sua morte. E quando acreditei que Taranta iria usar de sutileza, inventando uma desculpa para focar nos pés de Daisy no momento em que ela expira, vejo sua câmera deixando a conhecida podolatria de lado para nos fazer cúmplices de uma morte carregada de sadismo, como se nos convidasse a saborear, junto com seus algozes, cada segundo de olhos arregalados e músculos se contorcendo de uma mulher que, apesar de forte, sucumbiu ao poder dos homens. Vi mais sensacionalismo do que beleza na morte de Domergue.
Dizer que Os Oito Odiados é ruim seria, agora de minha parte, exagero. Acontece que em se tratando de Tarantino - e acredito que isso deve acontecer com muita gente - inevitavelmente já coloco as expectativas lá em cima quando surge um trabalho novo. É preciso, ainda que a custo, desmistificar certos diretores. Querer que eles nunca errem a mão aqui ou ali é esperar demais de quem, embora considerado gênio, ainda é humano. Que venham mais filmes de Tarantino, pois oito é um número muito aquém de sua capacidade.
Nunca fui fã de Star Wars. Não porque não gostava, mas simplesmente porque não conhecia. Pode parecer estranho mas até o começo de 2014 eu tinha assistido apenas ao episódio 1, no SBT, sem prestar muita atenção. Pois bem, comprei dois boxes (um com cada trilogia) e enfim me entreguei a essa saga tão famosa do cinema. Não me tornei um fã incondicional (como muitos e muitos que existem por aí), mas realmente adorei o que vi. Me diverti e vibrei bastante e considero-os ótimos filmes, principalmente O Império Contra-ataca.
E foi assim, na condição de "novo convertido" que fui ao cinema ver esse episódio VII. Novamente adorei, me diverti e vibrei bastante. Imagino que para os fãs das antigas a sensação deve ter sido completamente diferente - já que pra mim não havia o fator nostalgia - mas mesmo assim me senti feliz por ter podido viver esse momento. Achei O Despertar da Força do mesmo nível da segunda trilogia, portanto um pouco inferior à primeira que, provavelmente, continuará imbatível.
Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu! II
3.2 104 Assista AgoraGostei tanto dessa continuação quanto do primeiro. Se esse peca por não ter a presença hilariante de Leslie Nielsen, para compensar as piadas estão bem mais ácidas e pesadas, pendendo bastante para o humor negro.
São dois filmes para se assistir várias vezes. Com tanta piada por minuto, é impossível perceber todas elas logo de primeira.
O Lobo de Wall Street
4.1 3,4K Assista AgoraQue Leo DiCaprio é um grande ator eu já tinha percebido desde os anos 90 (principalmente com Gilbert Grape e Diário de um Adolescente), então essa atuação estupenda não foge do que eu já esperava.
Para fazer um paralelo entre O Regresso e O Lobo de Wall Street, em relação ao melhor momento de cada filme - e consequentemente ao ápice da atuação de DiCaprio em cada um - podemos dizer que a cena da paralisia cerebral está para este assim como a cena do urso está para aquele. Dois grandes momentos do cinema; um que nos faz gargalhar, outro que nos enche de agonia.
Pra mim, a verdadeira surpresa desse filme foi um tal de Jonah Hill - de quem eu me lembrava vagamente da comédia adolescente Superbad. É incrível ver como aquele moleque evoluiu e chegou até aqui com esse tremendo personagem coadjuvante de voz meio rouca e temperamento inconsequente. Fiquei curioso pra ver outros filmes dele.
Entre Abelhas
3.4 830Ainda não consigo achar o Fábio Porchat um grande ator, mas esse filme é bem interessante. Terminei sem ter entendido a metáfora e mesmo assim gostei. Li alguns comentários aqui e gostei ainda mais.
Em Busca do Ouro
4.4 276 Assista AgoraMARAVILHOSO, é a palavra que tenho para descrever esse filme. Chaplin realmente entendia dessa arte chamada cinema.
O enredo amoroso é muito familiar: a garota popular que para provocar o cara babaca - de quem ela gosta, porém quer se fazer de difícil - flerta com o pretendente mais improvável do lugar, o mais "loser". Finge que gosta do perdedor, brinca com os sentimentos dele, humilha-o perante sua turma e, no final, acaba se apaixonando por ele. Todo mundo já deve ter assistido algum filme, principalmente aquelas comédias românticas adolescentes, em que isso acontece. E esse roteiro foi escrito na década de 1920!
Venho desenvolvendo o hábito de procurar referências de um filme para outro, por mais que pareçam mera coincidência. Pois bem, na cena do primeiro baile, há uma momento em que Georgia se desvencilha das insistências de Jack e vai para longe dele. O rapaz a chama, fazendo gestos, como quem diz "Hey, come here!". A moça, do outro lado do salão, se faz de desentendida e responde, também gesticulando: "Are you talking to me?" (é possível fazer leitura labial). Bom, para quem assistiu Taxi Driver - ou pelo menos conhece a cena icônica em que o personagem Travis Bickle, interpretado magistralmente por Robert DeNiro, ensaia algumas frases em frente ao espelho - não é preciso dizer mais nada.
Whiplash: Em Busca da Perfeição
4.4 4,1K Assista AgoraJ. K. Simmons é aquele tipo de ator que eu conheço, gosto, mas não sei o nome. Foi assim por muitos anos com Steve Buscemi, por exemplo, até que eu finalmente aprendesse seu nome. E agora, depois de Whiplash, chegou a hora de eu enfim aprender que o (eterno) Vern Schillinger, da série OZ, se chama J. K. Simmons.
Sobre o final,
logo de cara fiquei meio confuso, sem saber se tinha gostado ou não. Pensando melhor depois, achei que terminar o filme abruptamente, naquele momento, foi a melhor escolha. Fletcher foi um cretino, mas seu método funcionou. Seu método funcionou, mas ele foi um cretino. Como lidar? Andrew deveria perdoá-lo, pois apesar de tudo conseguiu dar o seu melhor? Ou o fato de ter sido responsável pela morte de um aluno torna o professor execrável e mesmo com o sucesso do baterista ele não merece perdão? São questões difíceis. Terminando o filme ali, sem maiores explicações, o diretor, de certa forma, se isenta de ter que responder a essas perguntas.
A interpretação de Simmons foi tão boa, que no final eu estava torcendo para que Andrew quebrasse alguma coisa bem pesada na cabeça dele. Encerrar o filme sem uma redenção propriamente dita de Fletcher me deu um certo alívio.
Duro de Espiar
2.9 62 Assista AgoraBem menos divertido que Airplane!, mas ainda assim dá pra dar umas boas risadas. A paródia com Pulp Fiction ficou hilária, Leslie Nielsen com aquele rabo-de-cavalo grisalho, rs.
A Garota Dinamarquesa
4.0 2,2K Assista AgoraDepois de A Teoria de Tudo, Eddie Redmayne surge novamente com mais uma atuação maravilhosa. A Garota Dinamarquesa usa de muita sensibilidade ao tratar de um assunto tão delicado quanto a transgeneridade. Li que o filme ficou muito aquém da história verdadeira, mas enquanto obra cinematográfica isolada, só lhe cabem elogios.
Apertem os Cintos... O Piloto Sumiu
3.6 617 Assista AgoraO personagem Rex Kramer aparece como alguém com mais experiência e competência para resolver um problema. Sua personalidade é um pouco mais séria que a dos demais. Isso me lembrou do Mr. Wolf, de Pulp Fiction. Ainda mais pela cena de chegada desses dois personagens ser bem parecida: uma câmera na altura do asfalto, focando a frente de um carro que chega em alta velocidade. Em se tratando de Tarantino, desconfio de toda e qualquer coincidência, rs.
Apertem os Cintos... O Piloto Sumiu
3.6 617 Assista AgoraPreciso confessar que eu fazia mal juízo de filmes desse tipo. Mesmo sem nunca ter parado, de fato, para assistir prestando a devida atenção. Tinha uma vaga ideia de que Leslie Nielsen era apenas um ator de comédias sem-graça que passavam no SBT. Puro preconceito!
Pois assisti e fiquei boquiaberto com toda a genialidade de Airplane! Esse humor nonsense, muitas vezes ácido, ganhou meu respeito. Diferentemente das comédias mais contemporâneas, cheias de apelação a nudez e escatologia gratuitas, esse filme faz piadas muito mais pesadas de maneira sutil. O melhor exemplo é o piloto pedófilo, que provavelmente passava despercebido pela criançada que assistia na TV.
Aliás, a sensação de que algo passou despercebido é recorrente. Em vários momentos eu ficava pensando se a piada não compreendida era simplesmente nonsense ou se havia alguma referência ali que me tinha escapado.
A versão que assisti foi a dublada, mas daqui a um tempo pretendo conferir a legendada, para apreciar as piadas linguísticas que se perderam na tradução.
Identidade Paranormal
3.2 661 Assista AgoraJulianne Moore é maravilhosa! Não sei explicar muito bem, mas ela é daqueles artistas por quem sinto um certo carinho, mesmo sem nunca ter tido contato.
Subestimei esse filme. Comecei achando que não verei nada muito além de alguns sustos gratuitos. O desenrolar da trama me surpreendeu e o final foi bem legal.
Os Deuses Devem Estar Loucos
3.8 299A ideia passada por esse filme é muito boa. Um objeto de consumo, que nunca existiu numa sociedade, de repente se torna essencial para as atividades do dia-a-dia e gera discórdia e briga entre as pessoas, pois só existe um exemplar dele. Nos faz pensar sobre consumismo, propriedade privada, qualidade de vida, e o fato de o objeto em questão ser uma garrafa de Coca-Cola, um dos símbolos máximos do capitalismo, só reforça essas reflexões. O personagem principal, Xixo, é adorável. Impossível não ser cativado por seu sorriso.
Por outro lado achei que, como comédia, Os Deuses Devem Estar Loucos definitivamente não funciona. É uma cena mais sem-graça que a outra. Personagens que chegam a irritar, de tão chatos.
Outro problema é o fato do vilão ser um guerrilheiro comunista, enquanto o mocinho é um representante do colonialismo inglês. Nesse ponto, a ótima crítica do início do filme se esvazia um pouco. Mostra-se os problemas do capitalismo, enquanto limpa-se a barra dos responsáveis por tê-lo levado à África. É a velha história do colonizador que protege os nativos dos perigos do mundo, pois eles mesmos não conseguem se virar sozinhos.
A Bruxa
3.6 3,4K Assista AgoraOs comentários de quem gostou muito desse filme e quer criticar quem não gostou partem, quase sempre, da mesma premissa: quem não gostou é porque 1) não entendeu; 2) está acostumado com aquele terror batidão, sangue, tripas, sustos gratuitos. Entendo a revolta da galera que foi ao cinema e teve que aturar comentários, risadas e desrespeito do público presente. Eu também teria sentido vontade de matar os engraçadinhos. Precisa-se ter cuidado, no entanto, com essas generalizações. "Se não gostou do filme é porque...", como se houvesse uma verdade absoluta que prega que A Bruxa é uma obra maravilhosamente perfeita e quem não gostou só pode ter algum problema. Pessoas, por favor, baixem um pouco a bola e tentem ser mais tolerantes. Qualquer um pode gostar ou não de certo filme e isso não faz com que a pessoa seja melhor ou pior do que ninguém.
Mesmo porque são argumentos muito falhos. "Não gostou porque não entendeu". Ora, quando terminei 2001 - Uma Odisseia no Espaço eu estava boiando e mesmo assim tinha adorado o filme. Entender não é pré-requisito para gostar. "Ah, então não gostou porque esperava sangue, sustos, gore". Bom, meu primeiro incômodo foi logo quando apareceu
aquela suposta bruxa, com a pele enrugada, se banhando com o sangue do bebê. Achei explícito demais. Esperava algo mais sutil e apenas sugestivo e o filme, logo no começo, já nos joga uma cena dessas na cara!
A primeira impressão que tive é que resolveram pegar todos os clichês sobre bruxas que o fanatismo religioso inventava antigamente e fazer um filme tecnicamente muito competente. Assim, temos
o banho em sangue puro e inocente para preservar a juventude e beleza; temos a sedução do homem (no caso, menino) pela mulher provocante da floresta; a acusação mútua de bruxaria entre os irmãos (à semelhança de As Bruxas de Salém); o corvo interpretado como mau-agouro; o diabo transmutado em bode; o sabbath na floresta - com mulheres nuas dançando e levitando.
Devo dizer que dei algumas chances à Bruxa. Cheguei ao final achando-o bem ruim, mas fiquei com aquela sensação de que precisava haver algo mais. Conversei com amigos, li opiniões aqui no Filmow e textos pela internet. Fala-se muito sobre as metáforas, a simbologia e os significados que não estão evidentes no nível superficial. Achei alguns muito válidos (como a maçã, que remete aos contos de fada e também à ideia do pecado original) e outros bem forçados, do tipo "Em tal mitologia pagã o elemento X, apesar de representar uma coisa, também pode representar outra, então reparem que naquela cena a personagem diz uma palavra que remete a isso, então...". Algumas referências não se sustentam, requerem uma reflexão muito além do que está sendo visto na tela. Claro que há camadas de significado em toda obra de arte, mas é preciso um limite, senão nossa imaginação é capaz de relacionar qualquer coisa com qualquer coisa.
Não vou ficar aqui dizendo que A Bruxa foi feito para esse ou aquele público, mas imagino que pessoas mais religiosas, que acreditam de verdade nessa presença constante do demônio em coisas do cotidiano, devem ter uma experiência bem interessante e muito mais intensa com esse filme do que os não-cristãos.
Após isso tudo, o que quero dizer é que achei o filme 'mais ou menos'. Não é terrível, mas está longe de ser bom. E essa opinião não tem nada a ver com não ter entendido ou ter assistido esperando sustos. Esse "ame ou odeie" não tem sentido. Há muito cinza entre o preto e o branco. Não descarto a possibilidade de assistir novamente daqui a um tempo. Pode ser que eu venha a gostar mais. Pode ser que alguém me convença das qualidades da obra. Por ora, entretanto, A Bruxa não conseguiu me pegar.
O Fantasma da Ópera
3.9 82 Assista AgoraEmbora O Fantasma da Ópera não figure entre meus filmes mudos favoritos, há que se elogiar alguns pontos:
A cena em que a máscara do fantasma é arrancada, com a câmera nos dando uma visão frontal privilegiada, é daquelas que ficam pra sempre na memória.
A sequência do baile, com o colorido em technicolor, é de fazer brilhar os olhinhos de qualquer amante de cinema antigo.
Ali
3.6 173 Assista AgoraMelhor atuação do Will Smith que eu já vi!
Que figura incrível foi Muhammad Ali: gênio do boxe e ativista dos direitos civis. Enquanto nosso maior nome do esporte, Pelé, adotava a postura do deixa-pra-lá quando era vítima de racismo, perdendo oportunidades de ouro de se fazer ouvir pelo peso de seu nome, Ali batia de frente com o sistema, arriscando, inclusive, a própria carreira. O mundo sente falta de mais esportistas assim.
Sete Oportunidades
4.1 62Mesmo não tendo achado Seven Chances tão divertido quanto Sherlock Jr. (o segundo que vi de Keaton - e até agora meu favorito), é impossível não se impressionar com algumas cenas, principalmente a da corrida das noivas. Em alguns momentos parece que estamos assistindo a um desenho animado - e fica aqui a dúvida se teriam os criadores dos desenhos que vieram depois buscado inspiração nesse filme.
Por exemplo, quando as noivas passam correndo por um campo de futebol americano, deixando os jogadores atordoados e machucados, isso é Pica-Pau puro!
Em contrapartida ao divertimento, no entanto, alguns elementos que deviam funcionar como piada nos anos 20 causam desconforto nos dias de hoje.
É o caso da cena em que Jimmie está prestes a investir em mais uma possível pretendente a esposa, mas desiste ao perceber que a mulher é negra. Ou quando a moça sentado num banco de praça é descartada ao abrir um jornal que evidencia sua origem judaica (embora aqui eu tenha ficado em dúvida se a questão é mesmo étnica ou apenas de idioma). Miscigenação não era uma coisa corriqueira na época, e devia parecer muito óbvio que um rapaz branco jamais pediria em casamento uma mulher negra ou judia (ou hispânica, asiática, etc). Enfim, são chagas que a sociedade norte-americana vem curando aos poucos.
Claro que não podemos simplesmente execrar um filme por apresentar conteúdo politicamente incorreto, sem levar em conta os quase cem anos que nos separam e o contexto sócio-histórico da época de sua criação. É nosso dever, entretanto, como bons cinéfilos do século XXI, apontar esses problemas, para que preconceitos como o racismo não sejam mais vistos como algo natural e/ou inofensivo.
O Encouraçado Potemkin
4.2 343 Assista AgoraAssisti O Encouraçado Potemkin pela primeira vez numa fase da vida em que eu torcia o nariz para tudo que fosse "de esquerda". Sendo assim gostei muito da técnica, mas fiquei com aquele incômodo ideológico que não me permitiu abraçar o filme como um todo.
Bom, alguns anos depois - agora me interessando verdadeiramente por política, com uma bagagem ainda pequena porém valiosa de leituras, documentários e conversas, estando no 4º ano de um curso de humanas, com uma visão de mundo totalmente diferente, de senso crítico em relação ao capitalismo - eis que me sento novamente no sofá para apreciar esse clássico absoluto do cinema.
Naturalmente me envolvi mais dessa vez. Não sei se a trilha sonora do DVD é a mesma de quando o filme foi lançado, mas que primor! A música frenética em alguns momentos (como na cena final, que desafia qualquer ser humano a não ficar tenso), intercalados com outros onde a música praticamente desaparece e temos apenas imagens, contribuem para criar um clima que casa muito bem com a história, entre momentos de tempestade e de reflexão.
A cena da escadaria é brilhante! E se torna ainda mais marcante se pensarmos que, apesar de se tratar de um massacre fictício, criado pelo diretor, era perfeitamente possível de se acontecer, dado o descaso com que Nicolau II tratava a população russa.
Entretanto, apesar da importância técnica e do forte apelo ideológico de luta contra a injustiça, ainda não consegui me envolver tanto com esse filme. Achei muito bom, mas não maravilhoso - como é o caso, por exemplo, de A Greve, do mesmo Sergei Eisenstein.
Ao Sul da Fronteira
4.0 73A ideia é muito boa: desmistificar essa imagem do comunista malvadão sulamericano que vai roubar nossas moedinhas e destruir nossa família. Incrível é saber que tanta gente ainda acredita nessas baboseiras propagadas pela grande mídia elitista, sem nunca se questionar a quem atendem esses interesses.
Só acho que o doc peca por focar muito em Hugo Chávez em detrimento dos outros líderes do sul da fronteira.
Batman vs Superman - A Origem da Justiça
3.4 5,0K Assista AgoraBen Affleck me surpreendeu. Confesso que fui na onda de descrença da internet em relação a ele interpretar o Batman quando a notícia saiu.
A internet pagou a língua.
Eu também. E adorei!
O Dia que Durou 21 Anos
4.3 226Muito triste assistir a esse documentário e ver como fomos (e ainda somos) enganados e manipulados por uma mídia a serviço dos interesses das elites e de potências estrangeiras.
É a sina secular da América Latina: sempre que um governo dá sinais de diminuição da desigualdade social e rompimento com o imperialismo americano, já surgem os velhos bastiões da ordem social, os arautos da moralidade, os defensores da liberdade, com seu discurso hipócrita de "Tradição, família e propriedade", "Contra a corrupção", "Contra o comunismo", etc. Qualquer rompimento com o status quo, por menor que seja, causa incômodo e dificilmente se escapa ileso.
Foi assim com o Brasil de 54, depois com o de 64 e agora com o de 2016. Foi assim com o Chile em 73, Venezuela em 2002, Honduras em 2009, Paraguai em 2012. Em maior ou menor escala, entre golpes militares e golpes brancos, todo e qualquer chefe de estado latino-americano que não siga à risca a cartilha do Tio Sam será difamado, perseguido e atacado.
Isso me faz pensar na situação cubana. Sinceramente não acredito que uma ditadura seja a solução, que censura da imprensa e prisão/exílio/execução de opositores políticos
seja algo positivo. Que um país deva ter o mesmo governante por décadas. Mas pensando estrategicamente, Cuba se manteve de pé e pôde dar início às reformas sociais que pretendia graças ao escudo da ditadura. Tivessem os rebeldes de 59 agido de maneira mais branda e quem sabe em quanto tempo o governo americano teria conseguido estrangular a Revolução? Apesar de todos os problemas - e não vou dizer que são poucos - Fidel conseguiu, entre outras conquistas, alimentar e dar um teto a todo mundo, promover grandes avanços no campo da medicina e praticamente erradicar o analfabetismo da ilha. Não digo que o país caribenho seja necessariamente um exemplo a ser seguido ou que seu sistema de governo seja a melhor das opções, mas dentro daquele contexto talvez tenha sido a única opção. A História no mostra que o socialismo na América Latina é frágil, alvo fácil dos predadores capitalistas. É preciso ter isso em mente quando discutimos sobre Cuba. Parafraseando o Che, não se deve jamais perder a ternura; entretanto, às vezes, se faz necessário endurecer.
O Regresso
4.0 3,5K Assista AgoraConferir O Regresso no cinema foi uma daquelas experiência cinematográficas únicas. Saí perplexo, maravilhado, embasbacado.
Se precisasse escolher entre o filme como um todo ou a atuação de DiCaprio, ficaria com o filme. E isso de maneira alguma desmerece a atuação. Leo atuou maravilhosamente; Iñárritu dirigiu mais maravilhosamente ainda.
Além da (óbvia) cena do urso, tem outra que será difícil apagar da memória: o confronto de Glass e Fitzgerald no final, com direito a dedo decepado, mão perfurada e sangue colorindo a neve. É uma luta crua, realista ao extremo; dois sujeitos desesperados, um tentando ferir o outro a todo custo. Um soco no estômago do pobre espectador.
Oscar merecidíssimo para ator e diretor. E se pensarmos que até Al Pacino recebeu apenas uma premiação de melhor ator da Academia, DiCaprio não está nada mal.
O Inferno de São Judas
4.2 66Peguei esse filme por acaso, passando à noite na TV aberta.
Muito bom! Extremamente pesado! Lembra um pouco Sobre Meninos e Lobos, que é bem mais conhecido.
A Última Gargalhada
4.2 103 Assista AgoraO final feliz é realmente dispensável e é uma pena que Murnau tenha sido obrigado a incluí-lo.
No mais, é incrível como esse filme consegue pegar algo a princípio tão pequeno e banal (o orgulho que um cidadão sente de seu emprego/uniforme) e transformar numa profunda e comovente análise da natureza humana.
Os Oito Odiados
4.1 2,4K Assista AgoraO que eu pensava ser impossível aconteceu: Quentin Tarantino conseguiu me decepcionar.
De maneira alguma a longa duração do filme, ou a extensão dos diálogos, ou mesmo a falta de ação contribuíram para isso. Filme longo nunca foi problema pra mim; diálogos verborrágicos constituem minha característica tarantinesca favorita; e a falta de ação já era esperada, afinal trata-se de um punhado de gente numa cabana no meio do nada, sem poder sair devido à neve.
Acho que o que me incomodou mesmo é algo cuja menção, em se tratando de Tarantino, soa até bizarra: o exagero. Sim, acredito que o diretor que fez sangue esguichar a metros de distância com membros mutilados em Kill Bill, neste Os Oito Odiados passou do limite em alguns aspectos. Foram três os momentos que julguei mais exagerados. Cabe elencá-los:
- A cena de sexo oral com o Major Warren, cuja importância dada pelo diretor dentro da história me pareceu forçada demais. Parece óbvio que sua intenção era chocar aquela parcela mais puritana de seu público, mas ao contrário, por exemplo, do estupro de Marcellus Wallace em Pulp Fiction, aqui faltou um pouco de finesse, pendendo mais para a vulgaridade;
- A repentina camaradagem surgida do nada entre Warren e o Xerife Mannix, que mesmo explicada, em parte, pelo instinto de sobrevivência - dada a situação, passa do ponto ao retratar os dois quase como velhos companheiros de regimento depois que tudo acaba;
- E por fim a lenta e sádica execução de Daisy Domergue. Quanto a isso não consigo aceitar as justificativas - do diretor e de fãs - para o que considero como misoginia. Uma coisa é esmurrar alguém que cuspiu na (suposta) carta de Lincoln, outra é passar o filme todo espancando uma mulher algemada. Sendo Daisy a única mulher dentro da cabana, esse excesso de violência gratuita não passa sem causar um desconforto que é coroado (no mau sentido) por sua morte. E quando acreditei que Taranta iria usar de sutileza, inventando uma desculpa para focar nos pés de Daisy no momento em que ela expira, vejo sua câmera deixando a conhecida podolatria de lado para nos fazer cúmplices de uma morte carregada de sadismo, como se nos convidasse a saborear, junto com seus algozes, cada segundo de olhos arregalados e músculos se contorcendo de uma mulher que, apesar de forte, sucumbiu ao poder dos homens. Vi mais sensacionalismo do que beleza na morte de Domergue.
Dizer que Os Oito Odiados é ruim seria, agora de minha parte, exagero. Acontece que em se tratando de Tarantino - e acredito que isso deve acontecer com muita gente - inevitavelmente já coloco as expectativas lá em cima quando surge um trabalho novo. É preciso, ainda que a custo, desmistificar certos diretores. Querer que eles nunca errem a mão aqui ou ali é esperar demais de quem, embora considerado gênio, ainda é humano. Que venham mais filmes de Tarantino, pois oito é um número muito aquém de sua capacidade.
Star Wars, Episódio VII: O Despertar da Força
4.3 3,1K Assista AgoraNunca fui fã de Star Wars. Não porque não gostava, mas simplesmente porque não conhecia. Pode parecer estranho mas até o começo de 2014 eu tinha assistido apenas ao episódio 1, no SBT, sem prestar muita atenção.
Pois bem, comprei dois boxes (um com cada trilogia) e enfim me entreguei a essa saga tão famosa do cinema. Não me tornei um fã incondicional (como muitos e muitos que existem por aí), mas realmente adorei o que vi. Me diverti e vibrei bastante e considero-os ótimos filmes, principalmente O Império Contra-ataca.
E foi assim, na condição de "novo convertido" que fui ao cinema ver esse episódio VII. Novamente adorei, me diverti e vibrei bastante. Imagino que para os fãs das antigas a sensação deve ter sido completamente diferente - já que pra mim não havia o fator nostalgia - mas mesmo assim me senti feliz por ter podido viver esse momento.
Achei O Despertar da Força do mesmo nível da segunda trilogia, portanto um pouco inferior à primeira que, provavelmente, continuará imbatível.